Lygia Clark, uma mulher de destaque da arte contemporânea, nasceu em 1920 e faleceu em 1988. Ela foi uma artista, professora e terapeuta brasileira, cujo trabalho busca investigar relações espaciais e uma arte interativa e sensorial.
Pionero do neoconcretismo, Hélio Oiticica foi fundamental para sua abordagem de experimentação e implicação do público no contexto artístico.
Lygia foi responsável por uma produção artística que convidava o público a se envolver ativamente nas obras, culminando na fusão entre arte e processos terapêuticos. Por essa razão, apelidou-se de "não-artista" e declarou:
A arte não consiste mais em um objeto para você olhar, achar bonito, mas para uma preparação para a vida.
Veja 10 obras-primas da artista para entender sua história e importância.
1. Os Bichos de 1960
Em 1960, a artista Lygia Clark criou uma série de trabalhos que ficou conhecida como Bichos. Esta série de obras foi honrada com o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo.
Ao manipular as placas de metal unidas por dobradiças, o público pode explorar diversas possibilidades de criar novas formas, mesmo experimentando alguma resistência do objeto.
Ao analisar a fala da artista, podemos entender melhor os Bichos.
É um organismo vivo, uma obra essencialmente atuante. Entre você e ele se estabelece uma integração total, existencial. Na relação que se estabelece entre você e o Bicho não há passividade, nem sua nem dele.
2. Casulos: Ano de 1959
Lygia Clark começou a trabalhar com a noção de espaço em composições anteriores à criação dos Bichos, exemplificado em Casulo (1959).
A obra feita em metal foi fixada na parede, formando elementos que se projetam em três dimensões. Estes criam fendas e recantos, permitindo que a obra se expanda para além de seus limites originais bidimensionais.
No ano seguinte, o trabalho se desenvolveu na série Bichos.
3. Escalando (1963)
A partir de 1963, o artista criou a série de obras conhecidas como Trepantes. Estas esculturas versáteis são elaboradas em metal, bem como em outros materiais, como borracha.
A obra de Lygia consistia em objetos em formato de espiral, que se entrelaçavam e podiam ser apoiados em variadas superfícies. Sua ideia era criar algo livre e orgânico, que pudesse explorar todas as possibilidades de um espaço, sem a necessidade de um suporte predeterminado.
4. Passeando em 1964
Em 1964, Lygia criou a obra "Caminhando" baseada em um conceito matemático para convidar o público à ação. Ela usou uma Fita de Moebius, um objeto desenvolvido em 1858 pelo matemático alemão August Ferdinand Möbius.
Ao se torcer e unir as pontas da fita, é criada uma tira com apenas uma face. Esta característica pode ser entendida como uma representação do infinito, por ilustrar a ideia de um ciclo eterno.
Ao realizar sua obra, a artista pede para as pessoas cortarem uma das fitas de papel ao meio, o que resulta em uma redução cada vez maior do seu tamanho. Chega um ponto, porém, em que a fita se torna tão pequena que torna-se impossível continuar o procedimento.
O público não se limita a ser um espectador passivo: pelo contrário, participa ativamente da ação. Assim, tem a oportunidade de refletir sobre questões importantes que têm impacto na vida particular.
5. Série Roupa-Corpo-Roupa: O Eu e o Tu (1967)”
Para a proposição O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa, de 1967, foram criados dois macacões a serem usados por um homem e uma mulher. Estes foram concebidos para serem usados juntos e serviram como um meio para explorar a interação entre os gêneros.
A artista usou materiais como plástico, borracha e espuma para criar peças que proporcionam uma experiência de investigação entre as pessoas. Estas peças possuem cavidades que permitem tocar o corpo da outra pessoa, proporcionando um contato físico que estimula a exploração sensorial.
Há um tubo que liga as pessoas que querem experimentar a vivência.
6. Abismo Mascarado com Tapa-Olhos (1968)
Lygia usa objetos sensoriais para criar situações incomuns para o público. Uma destas peças é a Máscara abismo com tapa-olho, que faz parte de um grupo de trabalhos desenvolvidos por ela.
Esta máscara é confeccionada com um saco de material sintético no formato de uma malha, abraçando um recipiente de plástico contendo ar. Ao vestir a máscara, é como se estivesse havendo uma extensão do usuário, dando a sensação de que parte do corpo está sendo alongada.
Os visitantes usam máscaras para cobrir os olhos, aumentando a experiência de tato.
7. Labirinto (1968): A Casa como Corpo
Ao entrar nos espaços, a pessoa é convidada a vivenciar uma experiência sensorial que simula o processo de criação da vida, desde o início com a penetração, passando pela ovulação, seguido pela germinação e finalizando com a expulsão.
"Tentei usar o tempo como material escultural". Lygia Clark afirmou que pretendia usar o tempo como "material escultural", quando refletia sobre a obra e seu conceito.
A casa… era mais que uma pele, já que ela era todo o conteúdo do corpo também e, portanto, um organismo tão vivo como o nosso próprio!
8. Antropofagia Babilônica (1973)
Em 1973, o artista idealizou a obra Baba Antropofágica e também criou outro trabalho intitulado Canibalismo.
Os participantes recebem cada um um carretel de linhas coloridas, enquanto outra pessoa é posicionada no chão. Os carretéis são então colocados na boca dos envolvidos, que devem desenrolá-los e depositar as linhas com saliva sobre o corpo do deitado.
Após o término das linhas, todos os fios se entrelaçam formando um enredo complexo.
A ideia aqui é proporcionar uma experiência de apropriação do corpo de outra pessoa, onde quem remove as linhas da boca sente a sensação de arrancar do seu interior algumas partes do próprio corpo.
Ao mesmo tempo, quem está oferecendo seu corpo como suporte sente que uma trama está se desenrolando e precisa lidar com o que não foi previsto.
9. Viagem ao Túnel de 1973
Em 1973, Lygia criou a proposição Túnel. O que a obra consiste é em um tubo elástico feito de tecido, com 50 metros de comprimento. As pessoas devem entrar por uma das extremidades e sair do outro lado depois de percorrer todo o "túnel".
Esse trajeto pode ser percorrido tanto sozinho quanto acompanhado. Os sentimentos vivenciados costumam variar entre o sufocamento e o alívio da libertação. Por outro lado, muitos podem interpretar essa obra como uma metáfora do parto.
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10. Relações entre Objetos (1976)
A partir de 1976, Lygia Clark passou a utilizar "objetos relacionais" em sessões terapêuticas com pessoas.
Produtos criados com o objetivo de despertar sensações em pessoas, as quais são chamadas de "clientes", para que possam experimentar uma experiência corporal que os faça sentir vários tipos de emoções e possa contribuir para uma recuperação.
Conheça no vídeo abaixo um pouco mais sobre o trabalho envolvendo diversos tipos de materiais, como colchões de plástico com bolinhas de isopor, lençóis, entre outros.
Lygia Clark: Uma Vida e um Legado
Lygia Clark nasceu como Lygia Pimentel Lins em Belo Horizonte (MG) no dia 23 de outubro de 1920.
Aos 27 anos, em 1947, Regina Vater começa a estudar arte, tendo aulas com Roberto Burle Marx. Posteriormente, ela se mudou para a França, onde permaneceu por dois anos estudando com Fernand Léger e outros artistas.
Ao retornar ao Brasil, Lygia ingressou no movimento concretista por meio da participação no Grupo Frente, ideia do artista Ivan Serpa.
Em 1959, a artista assinou o Manifesto Neoconcreto, buscando uma arte mais livre da razão, mais emotiva e perceptível. Nesse mesmo ano, ela realizou sua primeira mostra.
Em 1970, Lygia regressou a Paris, França, onde lecionou na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, na Sorbonne. Ela também desenvolveu um projeto interativo durante essa época. Ao regressar ao Brasil em 1976, ela passou a dedicar-se mais intensamente à arte, em particular, a investigação terapêutica.
Lygia possui uma trajetória fascinante: ela passou de um trabalho artístico tradicional para um trabalho terapêutico proativo, em que a interação entre arte e público é essencial para que a arte exista. Assim, ela conecta a arte com a vida, tanto individual quanto socialmente.
Hélio Oiticica (1937-80) é um artista contemporâneo de Lygia Clark que costuma ser associado a seu trabalho. Ele participou do movimento concreto e neoconcreto, tendo os mesmos desejos que Lygia, buscando uma alternativa para uso dos espaços, e convidando outras pessoas a se envolver em sua arte.
No dia 25 de abril de 1988, o Rio de Janeiro viu o falecimento de Lygia Clark, aos 67 anos, devido a um ataque cardíaco.
Em 2012, o curador de arte Felipe Scovino foi o responsável por uma exposição da artista Lygia no Instituto Itaú Cultural. Ele fez uma breve retrospectiva sobre a arte da artista e destacou sua importância.