O Amor Total de Vinicius de Moraes: Um Soneto


Escrito por Carolina Marcello

O poeta Vinicius de Moraes é famoso por sua obra intitulada Soneto do Amor Total. Escrito em 1951 para sua companheira Lila Bôscoli, este poema é considerado como um dos mais importantes da sua carreira.

Neste poema, o autor aborda as nuances do amor, sua complexidade e entrega. Os versos também destacam as contradições inerentes à paixão.

Descubra o que o poetinha transmitiu através desta obra-prima.

Amor Total em Soneto

Amo-te tanto, meu amor... não cante

O humano coração com mais verdade...

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

Explorando o Soneto do Amor Total: Uma Análise e Interpretação

No poema Soneto do Amor Total, o eu-lírico expressa um profundo amor romântico. Ele se compromete a oferecer entrega total e incondicional, compreendendo, ao mesmo tempo, que o amor possui uma índole temporal.

Examinemos a composição de estrofe a estrofe.

Introdução à Primeira Estrofe

Amo-te tanto, meu amor… não cante

O humano coração com mais verdade…

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade.

O sujeito poético exprime seus sentimentos de forma verdadeira e absoluta. Ele se dirige à amada com a promessa de sinceridade. Talvez o sentimento humano mais genuíno seja o que ele sente.

O amor é algo que tem múltiplas facetas, pois nos permite ver o outro como um aliado, ou seja, como um companheiro que podemos desfrutar e ao qual podemos recorrer a todo o momento.

A partir da leitura dos primeiros versos, o eu-lírico conclui que a relação amorosa pode se basear tanto na sensualidade quanto na amizade.

Segunda Verso

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante,

E te amo além, presente na saudade.

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante.

A poesia da segunda estrofe se debruça sobre o tempo do amor - que é vivido agora e também na esperança de um futuro melhor.

Enquanto agora está com a amada, aproveitando ao máximo a sensação de aconchego e plenitude, o eu-lírico também se prepara para a inevitável ausência. Mesmo com esse sentimento de saudades, ele garante que sentirá amor.

Estrofe 3

Amo-te como um bicho, simplesmente,

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente.

Neste poema, um tom sensual permeia os versos. O leitor é lembrado de que o amor contém elementos vorazes e irracionais, pois a natureza animal é usada como comparação.

Durante estes três versos, percebemos que o amor é algo instintivo, sem necessidade de qualquer justificativa. Não sabemos de onde vem essa força, pois ela não está associada a nenhum mérito ou explicação racional.

A ideia de constância é equilibrada por uma ideia de descontrole na estrofe: "um desejo maciço e permanente/como um bicho, simplesmente". Esta contradição provoca uma curiosa reflexão sobre o amor.

Estrofe Quatro

E de te amar assim muito e amiúde,

É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.

Durante a quarta estrofe, tornamo-nos cientes de que o amor é uma emoção que se esgota.

Embora saiba que o amor tem como destino sua finitude, o sujeito poético se mantém resignado diante disso, pois reconhece toda a força desse sentimento.

É importante perceber que, apesar de estar ciente do destino do amor, o sujeito poético vive o sentimento na sua plenitude, aproveitando ao máximo a beleza que essa emoção pode oferecer.

Veja também

Análise da Estrutura do Poema

Vinicius de Moraes cria suas obras usando uma estrutura clássica - o soneto, uma das formas de poesia de maior tradição.

A composição é constituída por dois quartetos e dois tercetos, somando um total de catorze versos decassilábicos regulares.

As rimas são organizadas de forma ordenada.

Amo-te tanto, meu amor... não cante (A)

O humano coração com mais verdade... (B)

Amo-te como amigo e como amante (A)

Numa sempre diversa realidade (B)

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante, (A)

E te amo além, presente na saudade. (B)

Amo-te, enfim, com grande liberdade (B)

Dentro da eternidade e a cada instante. (A)

Amo-te como um bicho, simplesmente, (C)

De um amor sem mistério e sem virtude (D)

Com um desejo maciço e permanente. (C)

E de te amar assim muito e amiúde, (D)

É que um dia em teu corpo de repente (C)

Hei de morrer de amar mais do que pude. (D)

Soneto do Amor Total: Publicação

Em 1951, aos 38 anos, o poeta teve uma paixão intensa por Lila Bôscoli (bisneta de Chiquinha Gonzaga), que na época tinha apenas 19. Ela foi a musa que inspirou o famoso Soneto do Amor Total.

O sentimento entre eles foi tão intenso que se casaram no mesmo ano e compartilharam sete anos juntos. A união deles foi abençoada com duas lindas meninas: Georgiana e Luciana.

A partir da publicação do livro Novos Poemas, a segunda fase da poesia de Vinicius de Moraes é caracterizada pelos pesquisadores. Soneto do Amor Total faz parte desta etapa.

Escute a Recitação do Poema do Poeta

Que tal escutar o Soneto do Amor Total interpretado pelo poeta?

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.