Descobrindo a Semana de Arte Moderna


Escrito por Sónia Cunha

A Semana de Arte Moderna foi um momento significativo na história da cultura brasileira, pois foi quando o nosso país alcançou a sua independência cultural e também se destacou no cenário do modernismo.

Os artistas que abraçaram a ideia de vanguarda, tendo como exemplo as modernas experiências estéticas europeias, almejavam mostrar o Brasil tal como era de fato: um mosaico de diversas culturas e estilos.

O Theatro Municipal de São Paulo foi o anfitrião de um evento memorável que reuniu escritores, artistas plásticos e músicos. Uma oportunidade única para conhecer as obras de cada um deles.

Explorando a Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna foi realizada em São Paulo, no Theatro Municipal.

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, aconteceram os eventos daquilo que foi chamado de Semana.

O Theatro Municipal de São Paulo foi palco para a Semana de Arte Moderna

Ao escolher o ano de 1922, os modernistas buscaram simbolizar o processo de independência do Brasil, que aconteceu exatamente 100 anos antes. Dessa forma, a data foi escolhida de maneira estratégica para dar vida ao relevante evento.

Financiado pela elite cafeeira do Estado de São Paulo, o evento contou com a presença da elite intelectual e artística do Brasil, que se reuniram para debater formas modernas de produzir cultura.

Durante os três dias do evento, foram exibidas exposições, realizadas leituras, palestras e recitais de música. Ele abrangia variadas formas de arte: pintura, escultura, música e literatura.

Capa do catálogo da exposição feita por Di Cavalcanti

Assistentes

Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade. Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade foram os destaques da Semana de Arte Moderna.

  • Literatura:
  • Graça Aranha, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti del Picchia
  • Pintura:
  • Anita Malfatti, Di Cavalcanti
  • Escultura:
  • Victor Brecheret
  • Música:
  • Villa-Lobos

Grupo de modernistas na escadaria liderado por Oswald de Andrade (sentado a frente)

13 de Fevereiro de 1922 - A Primeira Noite

No dia 13 da Semana de Arte Moderna, Graça Aranha iniciou a programação lendo um texto intitulado A emoção estética na arte moderna. O autor deste célebre romance Canaã foi quem deu início àquela noite.

Ele já é um grande nome na cultura nacional e sua consolidação como artista deu peso ao grupo.

A primeira noite de encontro foi extremamente concorrida. Várias apresentações e exposições aconteceram, e destacou-se entre eles o quadro "A estudante russa", pintado por Anita Malfatti.

Quadro A estudante russa, de Anita Malfatti.

15 de fevereiro de 1922 - Segunda Noite

O grupo de modernistas compartilhava um sentimento comum: uma profunda antipatia pelo Parnasianismo. Na percepção deles, a poesia parnasiana era hermética, metrificada e, mais profundamente, vazia.

Os artistas cansados da produção no Brasil de uma arte antiquada e embotada resolveram tomar as rédeas da situação e começaram a realizar várias experiências para encontrar uma maneira nova de arte.

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiro

É bem martelado.

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.

O tom do poema de Manuel Bandeira denota um desprezo artístico expresso por ele e outros modernistas em relação aos artistas anteriores.

Ao ler seus versos polêmicos, Ronald de Carvalho foi alvo de grandes manifestações de paixão que o conduziram ao vaiar.

17 de fevereiro de 1922: Terceira Noite

Na última noite da Semana de Arte Moderna, destacou-se o compositor Heitor Villa-Lobos, que apresentou uma inovadora obra a partir da combinação de diversos instrumentos.

No último dia, ele deu o seu melhor espetáculo. Ele já se apresentara nas noites anteriores, mas reservou para o encerramento o seu trabalho mais especial.

O músico se apresentou no palco vestido com um casaco e chinelos, causando uma grande surpresa na plateia. O público, então, vaiou o artista, desaprovando a sua indumentária. No entanto, mais tarde, descobriu-se que a razão desta escolha incomum teria sido um calo que o obrigava a usar chinelos e o motivo não seria de forma alguma provocativo.

Cartaz da última noite

Metas dos Artistas

Os modernistas que tomaram parte na Semana de Arte Moderna tinham como meta desenvolver uma identidade nacional, retirando a cultura brasileira da era pré-existente.

Eles queria que os artistas contemporâneos seguissem adiante, buscando o novo e experimentando formas diferentes para produzir suas obras.

A intenção era dar uma nova cara à estética brasileira e criar uma arte inovadora e contemporânea.

O evento foi uma oportunidade excelente para que os criadores trocassem suas experiências e para que a nova geração, que deseja produzir algo inovador em diversas áreas culturais, se aproximasse.

Avaliação do Evento

Esta ocasião foi mais do que as três noites em que aconteceu e alcançou um grande número de pessoas que não estavam presentes no Theatro Municipal.

Durante a Semana de Arte Moderna, três revistas foram lançadas: Klaxon (São Paulo, 1922), A Revista (Belo Horizonte, 1925) e Estética (Rio de Janeiro, 1924). Após isso, elas foram divulgadas.

Capa da Revista Klaxon.

o Manifesto Futurista (1909), o Manifesto do Surrealismo (1924), o Manifesto dadaísta (1918) e o Manifesto da Geração de 27 (1927). Os modernistas, persistentes e ideais, redigiram quatro manifestos importantes que nos auxiliaram a compreender melhor as aspirações daquela geração: o Manifesto Futurista (1909), o Manifesto Surrealista (1924), o Manifesto Dadaísta (1918) e o Manifesto da Geração de 27 (1927).

História do País: Uma Perspectiva

Antes da Semana de Arte Moderna, houve um crescimento da burguesia industrial no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo. O desenvolvimento do país atraiu um grande número de imigrantes europeus, principalmente italianos, o que possibilitou uma amalgamação da cultura brasileira com outras culturas.

Anos antes do evento, artistas começaram a se reunir, guiados pela vontade de transformar o cenário artístico com inspiração nas vanguardas europeias. As aspirações compartilhadas eram a construção de um novo patamar cultural.

o chamado “modernismo brasileiro” não podia ser mais do que o que já tinha sido vivido na Europa. Ao regressar da Europa, Oswald de Andrade - certamente um dos principais líderes do movimento modernista brasileiro - foi influenciado pelas artes cubistas e futuristas. No entanto, ao chegar ao Brasil, ele se deu conta de que o "modernismo brasileiro" não seria diferente do que já tinha sido visto na Europa.

Estamos atrasados cinquenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo.

A Semana de Arte Moderna e seus Desencadeadores

A Semana de Arte Moderna não foi isolada, como se costuma pensar: ela foi o resultado de um longo processo de movimentações artísticas que se desenvolveram nos anos anteriores.

É preciso ter em mente três eventos transformadores que culminaram na Semana de 22: o Manifesto dos Pioneiros da Pátria, em 1817; o Grito do Ipiranga, em 1822; e o Plano Olivarista, em 1831. Esses episódios foram fundamentais para a independência do Brasil.

  • Exposição de Lasar Segall (1913), Exposição de Anita Malfatti (1917) e Maquete do Monumento das Bandeiras de Victor Brecheret (1920).

Mais sobre o assunto

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.