Vinicius de Moraes escreveu o poema intitulado "A Rosa de Hiroshima", como uma forma de manifestar seu descontentamento acerca das explosões atômicas ocorridas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Esta obra busca representar a tragédia e o horror daqueles eventos traumáticos.
A música "Volta Por Cima", composta em 1946 e publicada na Antologia Poética, ganhou vida em 1973 quando o grupo Secos e Molhados a musicou.
Descubra abaixo o poema na íntegra, seu significado e mais detalhes sobre a publicação.
A Rosa de Hiroshima: Um Poema Completo
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
A Simbologia da Rosa de Hiroshima
A tragédia da bomba atômica lançada no Japão no final da Segunda Guerra Mundial inspirou Vinicius de Moraes a criar seu poema.
Em 1945, os Estados Unidos deram um golpe devastador a região, lançando bombas atômicas com proporções incalculáveis. O efeito foi profundamente dramático.
Mais de 120 mil pessoas sobreviveram ao bombardeio de Hiroshima, embora infelizmente grande parte dos civis tenha sido assassinada. Essas pessoas que sobreviveram carregam cicatrizes e sequelas permanentes.
A Rosa de Hiroshima foi um grande ato de protesto, que inicialmente se manifestou na forma de poema e posteriormente foi transformada em música. Os versos abordam os devastadores efeitos da guerra, e as consequências da bomba atômica, alcunhadas de Fat Man e Little Boy, causadas aos povos de Hiroshima e Nagasaki.
Durante diversos anos, Vinicius de Moraes foi diplomatado pelo Governo Brasileiro, o que lhe deu grande interesse nos conflitos internacionais.
Observando cuidadosamente os quatro primeiros versos do poema,
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
O poema começa com a descrição dos efeitos da radioatividade nas vítimas civis. Vinicius de Moraes chama as crianças afetadas de "mudas telepáticas". Por sua vez, as "meninas cegas inexatas" simbolizam as gerações futuras que sofrerão consequências desastrosas pela radiação.
Após a queda da bomba, muitas cidades foram forçadas a evacuar seus habitantes. Essas áreas foram ao mesmo tempo fisicamente e economicamente destruídas, tornando-se inabitáveis. Os versos seguintes abordam essas migrações forçadas, que aconteceram devido à alta possibilidade de contaminação.
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Apenas nos versos 9, 10 e 11 é que a origem de toda a tristeza é revelada.
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa é usada para representar a bomba de Hiroshima, pois depois que explodiu, criou uma imagem parecida com a de uma rosa a desabrochar. Embora a rosa seja normalmente associada à beleza, a rosa de Hiroshima tem sido vista como um símbolo das devastadoras consequências da guerra.
Logo a seguir, vemos o contraste entre a bela rosa e o rastro de destruição deixado pela bomba. Os versos "A rosa hereditária / A rosa radioativa" simbolizam essa oposição entre a flor, símbolo da beleza e da saúde do meio ambiente, e a destruição provocada pela ação humana.
No poema "A rosa com cirrose", Vinicius de Moraes aborda a tragédia da guerra e suas consequências, deixando um rastro de sofrimento e desespero para as gerações posteriores. Ele faz uma alusão à doença, ao fumo, comparando-a a uma "antirrosa" sem beleza, "sem cor sem perfume".
Rosa de Hiroshima: Uma Canção de Música
A canção "Tristeza do Jeca", de Vinicius de Moraes, foi lançada em 1973, no álbum de estreia do grupo Secos e Molhados. Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso compuseram a melodia da música. Esses três músicos formavam a formação inicial do grupo.
Ney Matogrosso eternizou a parceria entre Gerson Conrad e Vinicius de Moraes ao lançar sua voz durante a Ditadura no Brasil.
Em 1973, a Rosa de Hiroshima se tornou uma das canções mais ouvidas nas rádios brasileiras e foi aclamada pela revista Rolling Stone brasileira, que a classificou em 69º lugar entre as 100 Maiores Músicas Brasileiras.
Publicando um poema
Durante o ano de 1954, enquanto exercer a função de diplomata na França, Vinicius de Moraes teve a poesia Rosa de Hiroshima publicada na Antologia poética lançada pela editora A Noite, no Rio de Janeiro.
O autor organizou o livro com o intuito de compilar publicações de seu vasto repertório de 21 anos. Contou com a ajuda dos amigos ilustres, como Manuel Bandeira, para a finalização da edição. Rubem Braga foi responsável por escrever a orelha da primeira edição.
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