O Renascimento é caracterizado por ter iniciado meados do século XIV e se estender até finais do século XVI, sucedendo assim à Idade Média. Não há um marco, acontecimento ou data específica para o início deste período, que ocorreu de forma natural e gradual.
O Início de Tudo
Petrarca, nascido em 1304 em Arezzo, Itália, é considerado como o precursor do Renascimento. Com sua veia revolucionária, ele encorajou o respeito e veneração à Antiguidade Clássica, período anterior à Idade Média. Ele morreu em 1374 em Arquà Petrarca, Itália.
Durante a Idade Média, este apelo foi feito várias vezes, porém só então as pessoas ouviram seu eco e sentiram sua repercussão.
A Era do Humanismo marcou uma mudança no pensamento da sociedade, pois passou-se do teocentrismo para o antropocentrismo. Devido a isso, houve um resgate dos ideais e cânones clássicos, que foram revividos da época Greco-Romana. Assim, o Homem foi estabelecido como o centro de todo o universo.
Apesar de a Era Romana ser agora vista como um período de luz e prosperidade, a Idade Média - época cristã - tem sido descrita como um tempo de trevas. O Renascimento surge então como uma tentativa de restaurar a luz perdida.
No século XV, ocorreu um renascimento da Antiguidade Clássica, sendo que, para os entusiastas daquela época, foi alcançado o auge na arte criativa.
A Beleza do Renascimento
O Renascimento sucedeu ao Gótico e foi marcado pela busca de aproximação à Antiguidade. No entanto, o objetivo dos artistas desta época não era simplesmente copiar a arte Clássica, mas sim igualar as suas criações.
Esta mudança de percepção em relação ao artista das Belas-Artes fez com que fossem considerados intelectuais ao invés de meros artesãos. O colecionismo de obras de arte também ganhou destaque, uma vez que tudo que era produzido por um mestre passou a ser valorizado.
Como consequência da oficina, surgiram as academias, onde os artistas tiveram mais autonomia para se desenvolverem. Eles até mesmo passaram a agir como empreendedores, liderando os seus próprios negócios.
Explorando a Arquitetura
Filippo Brunelleschi (1377-1446, Florença, Itália) é considerado o responsável pelo início da arquitetura renascentista. Apesar de ter iniciado sua carreira como escultor, seu maior destaque foi como arquiteto.
Em torno de 1417-19, Brunelleschi competiu com Lorenzo Ghiberti (1381-1455, escultor italiano) na construção de uma cúpula, após ter perdido alguns anos antes o concurso para as portas do Baptistério.
A famosa cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore foi iniciada na Idade Média, tendo a obra sido concluída ao longo do século XIX. O imponente edifício foi construído e decorado com muito esmero e hoje se destaca como um dos pontos turísticos mais visitados de Florença.
Apesar de terem sido encontradas dificuldades para a construção da cúpula do edifício, Brunelleschi foi capaz de desenvolver uma solução viável e assim erigir a que é considerada a primeira grande obra da renascença italiana.
A solução de Brunelleschi para a cúpula massiva foi inovadora, sendo considerada uma grande conquista da engenharia. Dois cascos separados foram construídos e inseridos um dentro do outro, de tal forma que um reforçasse o outro, permitindo que o peso da estrutura fosse distribuído de forma equilibrada.
Brunelleschi não quis usar as técnicas de transporte de materiais comuns e em vez disso, desenvolveu invenções próprias para levantar os materiais necessários, como máquinas capazes de içar os objetos.
Brunelleschi é considerado o primeiro grande arquiteto da época moderna, pois suas contribuições para o Renascimento foram fundamentais: além da cúpula de grande porte, trouxe a perspectiva linear, enquanto aos arcos de volta-perfeita e colunas substituíram os pilares.
Brunelleschi nasceu e iniciou sua carreira em Florença, mas foi em Roma que o seu futuro foi delineado. Juntamente com Donatello, ele viajou para a cidade e ali estudou as obras da Antiguidade Clássica. Mais tarde, adaptou métodos de construção da Roma Antiga aos seus próprios edifícios, mas com proporções variadas.
Fazendo uso da matemática e da geometria para projetar o espaço, Brunelleschi contribuiu para a elevação das Belas-Artes com conquistas científicas que foram aplicadas à arte. Ele é responsável pela criação da perspectiva matemática e diversas outras descobertas.
Leon Battista Alberti (1404-1472) foi o responsável pela primeira compilação escrita das descobertas de Brunelleschi. Ele também escreveu os primeiros tratados de pintura, dedicados a seu amigo comum Brunelleschi, além de também ter escrito um tratado sobre escultura. A obra de Alberti foi responsável pelo despertar da arquitetura no Renascimento.
Depois da morte de Brunelleschi, Alberti, homem extremamente culto, humanista e bem relacionado, decidiu dedicar-se à arquitetura, tornando-se um dos grandes nomes do Renascimento.
Alberti era um grande admirador das formas perfeitas e, em especial, do círculo, que para ele se aproximava ao divino. Por isso, foi inspirado pelo Panteão de Roma ao desenvolver sua planta centrada para as igrejas, mesmo que essa não fosse a mais adequada para o culto católico. Ainda assim, seu tratado tornou-se conhecido e a planta centrada acabou sendo aceita durante o Renascimento Pleno, tendo sido muito usada nessa época.
Em geral, a arquitetura do Renascimento é marcada por um retorno às formas clássicas, trazendo de volta as ordens arquitetônicas (dórica, jônica, coríntia, toscana e compósita), além do arco de volta-perfeita.
A projeção e construção de edifícios exige exatidão matemática, separando-se, assim, a arquitetura da escultura e pintura. A grandiosidade da nova Arquitetura não permitia a escultura e pintura se destacarem, pois brilhava sozinha sem qualquer assistência.
Arte Escultórica
Durante o Gótico, a escultura arquitetônica quase chegou a desaparecer, sendo centradas na criação de imagens de devoção e sepulcros. No entanto, com a chegada do Renascimento a escultura recuperou a sua autonomia, tornando-se independente da arquitetura.
Donatello (1386-1466, Florença, Itália) deu o primeiro passo para o Proto-Renascimento com sua obra San Marcos, uma escultura em mármore. Esta obra não necessita do enquadramento arquitetônico para se destacar, apesar de ter sido criada para ser inserida em um nicho de uma catedral Gótica.
Donatello foi o responsável por dar aos trabalhos escultóricos a flexibilidade e padrões de beleza próximos dos encontrados na antiguidade Clássica, dando assim um fim à rigidez que havia no estilo Gótico.
O artista Donatello melhorou a técnica de schiacciato (achatado), um baixo-relevo com pouca profundidade, porém com uma profundidade pictórica significativa.
A Escultura Renascentista reviveu a sensualidade do corpo nu típica da época clássica, como indicado pelo primeiro grande exemplo, o Davi de Donatello. Esta foi a primeira peça de tamanho real totalmente descoberta desde a Antiguidade.
Andrea Del Verrocchio (1435-1488), um grande escultor do Proto-Renascimento, foi responsável por esculturas de grande vulto, como a estátua equestre de Bartolomeo Colleoni. Além disso, ele era também pintor e mestre de Leonardo da Vinci - o que significa que seus trabalhos pictóricos nunca puderam escapar de comparações com seu pupilo.
Durante o Renascimento, a escultura recuperou a sua independência, adquirindo grandiosidade, volume e realismo. O busto-retrato típico da Antiguidade passou a ser produzido em maiores quantidades devido ao crescente colecionismo. Por esse motivo, muitos artistas começaram a criar bustos, baixos-relevos e pequenos bronzes, que eram mais fáceis de transportar.
Criando Obra de Arte com Pintura
O Renascimento começou com o desenvolvimento da escultura e da arquitetura, cerca de 10 anos depois a pintura também foi afetada. As composições retratavam os feitos desses movimentos anteriores.
A trágica morte de Masaccio aos 27 anos de idade marcou o início da pintura no Renascimento. Nascido em 1401 em San Giovanni Valdarno, Itália, ele foi uma grande influência na arte da época e, infelizmente, não viveu o suficiente para ver o impacto que causou.
Nas primeiras obras de Masaccio, foi possível notar que ele se aproximava de Donatello e se distanciava de Giotto, mestre do Gótico e seu conterrâneo. Além disso, as roupas eram representadas como verdadeiro tecido, sem estar ligadas aos corpos, e os cenários arquitetônicos tinham como característica a perspectiva científica desenvolvida por Brunelleschi.
Masaccio foi o precursor da pintura renascentista, que privilegiou a representação do real, ao contrário do que era praticado na arte gótica, que favorecia a representação imaginar das coisas.
A pintura renascentista caracteriza-se por retratar profunda dimensão nos interiores que sugere que os personagens podem mover-se livremente.
Andrea Mantegna foi um gênio precoce e um importante pintor do Proto-Renascimento. Ele nasceu em 1431, na República de Veneza, e aos dezessete anos já estava realizando trabalhos por conta própria. Em 1506, faleceu em Mântua, Itália.
Sandro Botticelli (1445-1510, Florença, Itália) foi responsável por dar movimento e graciosidade à pintura, apesar de não aderir à visão anatômica musculosa característica do Renascimento. Seus corpos eram etéreos, porém, possuíam sensualidade e voluptuosidade.
Lourenço de Médici, grande mecenas da arte renascentista e governante de Florença, tinha um gosto especial pelo pintor Botticelli. Foi para ele que Botticelli pintou a famosa obra O Nascimento de Vênus (ver primeira imagem deste artigo).
Em geral, a técnica do óleo possui mais destaque do que o fresco, permitindo que as pinturas fossem mais facilmente móveis. Além disso, os retratos passaram a se tornar cada vez mais populares.
A aplicação de princípios arquitetônicos como as proporções matemáticas e a perspectiva são observadas também na pintura. Figuras são enfeitadas dentro de paisagens ou arquiteturas artificiais em miniatura, em que as proporções de cada elemento são observadas, o que confere maior realismo e profundidade à obra.
A Plena Renascença
O Renascimento Pleno - etapa final do Renascimento Italiano - expressa o que foi desenvolvido até então. Nesta fase, o culto ao gênio estimulou alguns artistas a tentarem algo que parecia impossível: a conquista da perfeição absoluta.
Nessa época, os artistas estavam mais preocupados em produzir obras capazes de suscitar emoções nos espectadores do que com a aderência à racionalidade ou às tradições clássicas. Por isso, muitas das obras-primas dos grandes mestres do Renascimento Pleno foram logo reconhecidas como únicas, incomparáveis e inimitáveis.
O Renascimento Pleno é um momento singular e muito peculiar, herdado do Proto-Renascimento. Embora tenha influenciado a arte posterior, este foi um período de estagnação sem qualquer possibilidade de transformação.
Leonardo da Vinci é considerado como o primeiro grande mestre do Renascimento Pleno. Ele nasceu em 1452, na Itália, e morreu em 1519, em Château Du Clos Lucé, em Amboise, França. Inicialmente, foi aprendiz na oficina de Verrocchio e depois se aventurou em diversas áreas como escultura, arquitetura e engenharia militar. No entanto, foi a pintura que o tornou imortal, elevando-o à categoria de gênio e mito.
A luz é extremamente significativa nas obras de Leonardo da Vinci. Ao longo da sua carreira artística, ele desenvolveu e refinou o uso do claro-escuro (chiaroscuro). O uso do sfumato também é notável na sua pintura, conferindo às suas composições uma mistura de formas e um desvanecimento dos contornos na paisagem, em contraste com os artistas do Proto-Renascimento, que apreciavam o destaque dos limites.
Leonardo da Vinci aperfeiçoou a perspectiva aérea, e suas pinturas contêm muitas figuras andróginas e enigmáticas. O gesto desempenha um papel importante na obra de Leonardo; muitas vezes, as figuras expressam seus sentimentos por meio de gestos fortes e decisivos.
Donato Bramante (1444-1514), nascido em Fermignano, na Itália, é considerado um dos principais arquitetos do Renascimento. Ele aplicou o princípio de "parede esculpida" de Brunelleschi com maestria, dando aos seus edifícios uma aparência imponente e distinta. Durante sua carreira, Bramante trabalhou na cidade de Roma, na Itália, até o seu falecimento.
Quando o Papa Júlio II lhe deu a incumbência de construir uma nova Basílica de São Pedro, Bramante viu isso como uma chance única para criar um projeto amplo que superasse até mesmo os dois maiores monumentos da Antiguidade, o Panteão e a Basílica de Constantino.
Para este grandioso projeto, devido a questões de logística e orçamento, Bramante recorreu a uma antiga técnica romana, a construção usando betão, que acabou por se tornar uma revolução para a arquitetura. Embora tenha passado por várias alterações até ao início das obras, a única coisa que resta da ideia original de Bramante é uma gravura da planta.
Após a morte de Bramante, as obras da Basílica de São Pedro foram lentas. Arquitetos treinados por Bramante assumiram o projeto, mas somente em 1546, depois que Michelangelo se tornou responsável, a construção chegou à sua fase final.
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, nascido em 1475 na Caprese Michelangelo, Itália, foi um artista excepcional conhecido por sua multifaceta de talentos: pintor, escultor, poeta e arquiteto. Ele se destacou como o artista que mais representou a ideia de gênio inspirado por uma força celestial. Ao mesmo tempo, sua obra e vida foram marcadas por drama e tragédia, transformando Michelangelo no protótipo de artista solitário e sofrido, até sua morte em Roma em 1564.
Michelangelo acreditava que a escultura era a mais nobre das artes e se considerava um escultor acima de tudo. Em sua busca por alcançar o divino e a perfeição absoluta, ele chegou à conclusão de que não havia alcançado nem um nem outro, embora seu nome seja hoje em dia lembrado como um dos - senão o maior - artista de todos os tempos.
Para Michelangelo, o corpo humano era um meio de expressar o divino, e por isso, desenhar seus trabalhos sem vestimentas era a forma ideal de absorver essa divindade. Por conta disso, suas obras são repletas de corpos fortes e nus. A diferença entre Michelangelo e Leonardo até então era que enquanto o trabalho de Leonardo parecia ser permeado por um feminino latente, os de Michelangelo eram mais masculinos.
Rafael Sanzio nasceu em 1483, em Urbino, Itália, e faleceu em 1520, em Roma, Itália. Ele foi um importante artista e membro da sociedade, tendo alcançado fama equiparável à de seu contemporâneo Michelangelo durante o Renascimento. Apesar disso, a História acabou relegando Rafael para algo de menor importância em relação a Michelangelo.
Rafael não tem uma história marcada por um grande dramatismo ou tragédia, assim como Michelangelo, e poucas foram as inovações decorrentes de sua obra. No entanto, seu gênio é incontestável, e ele foi o melhor representante de um estilo que propagou mundialmente.
A obra de Rafael reúne os melhores elementos do Renascimento Pleno, sendo um híbrido entre a candura e lirismo de Leonardo da Vinci e a força e dramatismo de Michelangelo. Além disso, ele foi igualmente um mestre na produção de retratos.
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