A partir do início do século XX, o Realismo Fantástico, também conhecido como Realismo Mágico, vem conquistando o público e mantém seu encantamento até os dias de hoje.
Você gostaria de saber mais a respeito da corrente artística, suas principais características e o contexto histórico em que ela surgiu? A seguir, trazemos informações relevantes para esclarecer tal curiosidade.
Entendendo o Realismo Fantástico
O Realismo Fantástico é uma manifestação artística presente não só na literatura, mas também na pintura e no cinema. É um estilo que toma conta de diversas formas de cultura.
O Realismo Fantástico une elementos mágicos ao cotidiano, criando uma visão realista do mundo que inclui essas características.
Na década de 1940, o Realismo Maravilhoso - também conhecido como Realismo Mágico - começou a despontar na América Latina, atingindo seu auge nos anos 60 e 70.
O estilo literário latino-americano está intimamente ligado ao seu contexto sociopolítico daquela época, provocando grandes mudanças na literatura da região. Embora não tenha tido o mesmo alcance no Brasil, ainda assim foi extremamente significativo para o país.
O Realismo Fantástico tornou a magia comum em ambientes distópicos, tornando-a parte integral da vida.
Dessa forma, a arte é capaz de romper nossa rotina melancólica e de nos permitir sonhar com outras possibilidades. Ela nos permite repensar nossa forma de encarar a vida e a realidade.
Explorando o Realismo Fantástico
Apesar de assumir diferentes configurações nos variados contextos e expressões artísticas, o Realismo Fantástico possui algumas características básicas que podem ser identificadas.
- Elementos do fantástico são inseridos em ambientes realistas, como se fossem comuns e encarados com naturalidade;
- Não há explicação racional para estes eventos, que são abertos a interpretações subjetivas;
- A narrativa trata o tempo de forma não linear, estabelecendo ligações entre o presente e o passado;
- Os temas ou figuras presentes remetem ao imaginário comum do local, muitas vezes incorporando suas crenças e mitos.
O Realismo Fantástico na Literatura
O conceito de "Realismo Fantástico" ou "Realismo Mágico" foi introduzido no início do século XX, tendo sido originado na pintura alemã. Analisaremos com mais detalhes posteriormente.
No ano de 1949, Alejo Carpentier, um escritor cubano, relançou o uso do termo para se referir ao movimento literário que se verificava na América Latina.
A palavra "fantasia-realismo" passou a ser usada para descrever uma escola literária e um estilo de ficção que combinava elementos de ambos os gêneros. Esta combinação resulta em obras que misturam elementos surreais com elementos vinculados à realidade.
A corrente artística que surgiu como resposta às obras da literatura fantástica europeia transformou os mitos e lendas dos povos da América Latina em diversos tipos de brincadeiras. Essas superstições foram reproduzidas nas diversas obras artísticas criadas nessa corrente.
Tudo, desde o mais comum até o mais insignificante, pode ser um portal para um mundo de fantasia, ligando a realidade à imaginação.
O Realismo Mágico tem por foco o aspecto estilístico da escrita, dando ênfase às emoções e aos sentidos do leitor. A sua característica principal é a presença de acontecimentos inusitados, que são, no entanto, envoltos em um manto de verossimilhança.
À medida que o tempo passava, a corrente literária se espalhou por todo o mundo. Suas influências alcançaram grandes escritores europeus, como Franz Kafka e Milan Kundera, cujas obras são marcadas por seus ensinamentos.
Cem Anos de Solidão: Uma Obra-Prima do Realismo Fantástico
O escritor colombiano Gabriel García Márquez é, indiscutivelmente, um dos principais nomes do Realismo Fantástico. Sua fama é incontestável.
Cem Anos de Solidão, publicado em 1967, é considerado um dos mais célebres livros da literatura hispânica e é visto como o exemplo máximo do Realismo Mágico.
A família Buendía é o foco da narrativa. Começando com José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, eles vivem em Macondo, uma povoação fictícia. Úrsula é testemunha de sete gerações de seus descendentes, já que ela vive por mais de 115 anos.
Seu olhar é capaz de perceber o tempo como algo circular, encontrando pontos em comum entre membros de diversas gerações que se assemelham pelo nome e características.
O livro mistura fatos históricos da Colômbia, as rotinas de uma família e situações fictícias: personagens que morrem e renascem, reencarnação, perda da memória e insônia coletiva.
História em Contexto
O fascínio por narrativas mágicas era cada vez maior nos países da América Latina. Não era por acaso que eles estavam tão atraídos.
A partir da década de 1950, muitos povos sofreram com regimes ditatoriais que impuseram às suas nações uma época difícil na história.
Durante um período de medo e repressão, vários países da América Latina, como a Guatemala, o Paraguai, a Argentina, o Brasil, o Peru, o Uruguai e o Chile, entre outros, viram surgir a literatura como uma resposta a essa realidade. Esta foi uma forma de reação, servindo como um meio de expressar sentimentos tensos e revolta, tornando-se uma ferramenta para lutar contra o autoritarismo.
O estilo, carregado de esperança, oferece ao leitor uma perspectiva otimista e quase mágica da vida. Há a sensação de que algo encantador pode acontecer a qualquer momento e transformar tudo.
Autores Notáveis do Realismo Fantástico
- Arturo Uslar Pietri (1906 - 2001, Venezuela)
- Alejo Carpentier (1904 - 1980, Cuba)
- Gabriel García Márquez (1927 - 2014, Colômbia)
- Isabel Allende (1942, Chile)
- Julio Cortázar (1914 - 1984, Argentina)
- Jorge Luis Borges (1899 - 1986, Argentina)
- Manuel Scorza (1928 - 1983, Peru)
- Mario Vargas Llosa (1936, Peru)
- Miguel Ángel Asturias (1899 - 1974, Guatemala)
- Carlos Fuentes (1928 - 2012, México)
- Laura Esquivel (1950, México)
Fantasia Realista no Brasil
Apesar de não ter tido a mesma força no Brasil como outros países da América Latina, o Realismo Fantástico também contou com alguns representantes nacionais.
Murilo Rubião (1916 - 1991) foi o responsável por introduzir o estilo no Brasil, através de contos que utilizavam elementos fantásticos para refletir sobre a realidade. Em 1947, ele lançou seu primeiro livro intitulado O Ex-Mágico.
Um nome incontestável no realismo fantástico de língua portuguesa é José J. Veiga (1915 — 1999). Nascido em Goiás, o escritor deixou a sua marca na literatura brasileira.
Os Cavalinhos de Platiplanto (1959), uma das obras de ficção de seu autor, é conhecida por mesclar preocupações estilísticas com comentários críticos sobre a sociedade e a política.
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Pintura Realista Fantástica
Em 1925, o crítico de arte alemão Franz Roh cunhou o termo "Realismo Fantástico" ou "Realismo Mágico" para descrever uma tendência artística na pintura alemã.
Antes do regime nazista de Hitler, artistas tinham o hábito de criar obras de arte que misturavam elementos reais e imaginários. As telas eram geralmente ambientadas em locais cotidianos, mas com a presença de alguma figura ou representação fantástica.
A sua influência foi sentida ao redor do globo, espalhando-se por toda a Europa e Américas, servindo de inspiração para artistas contemporâneos.
Os quadros marcaram presença ao incorporarem o fantástico sem qualquer explicação, como se fizesse parte do real. Esta característica surpreendeu e intrigou a plateia, encantando-a.
A medida que o tempo passava, o termo "Expressionismo" foi ficando para trás e outra rotulagens como a Nova Objetividade foram surgindo, tornando mais difícil a identificação dos artistas associados a esse movimento.
Alguns dos principais expoentes do Realismo Fantástico nas artes visuais são Caspar Walter Rauh, Wojtek Siudmak e Conrad Felixmüller.
Explorando o Realismo Fantástico por meio da Pintura
- Alexander Kanoldt (Alemanha, 1881 — 1939)
- Carl Grossberg (Alemanha, 1894 — 1940)
- Christian Schad (Alemanha, 1894 — 1982)
- Franz Radziwill (Alemanha, 1895 — 1983)
- Georg Schiriptf (Alemanha, 1889 — 1938)
- Conrad Felixmüller (Alemanha,1897 — 1977)
- Caspar Walter Rauh (Alemanha,1912 — 1983)
- Pyke Koch (Holanda, 1901 — 1991)
- Dick Ket (Holanda,1902 — 1940)
- Carel Willink (Holanda,1900 — 1983)
- Wojtek Siudmak (Polônia, 1942)
Magia Realista no Cinema
Desde que foi criado, o cinema tem sido um meio para expressar o Realismo Fantástico. Ele continua a ser usado para retratar histórias de fantasia e magia, bem como narrar eventos e personagens reais. Esta forma de arte permite que os diretores explorem temas que não seriam possíveis de se contar de outra maneira, dando ao público a chance de sair da realidade e embarcar num mundo mágico.
Ainda que nosso mundo seja cinza e às vezes triste, o gênero consegue conquistar os corações do público, com histórias capazes de trazer a magia para a vida de todos.
No filme "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas" (2003), dirigido por Tim Burton, o protagonista possui uma visão encantada da vida cotidiana, cheia de fantasia e imaginação.
O trabalho do diretor mexicano Guillermo del Toro tem sido fundamental para a promoção do cinema de horror, alcançando o sucesso internacional com filmes como O Labirinto do Fauno (2006).
A Forma da Água (2017) conta a história de um romance entre uma mulher e um misterioso ser aquático. Assista ao trailer do filme: