Os 25 Poetas Brasileiros mais Importantes


Escrito por Carolina Marcello

A poesia brasileira é uma fonte de riqueza e variedade, abrangendo séculos de escrita e evidenciando contextos e especificidades diversas.

Dentre uma ampla lista de escritores nacionais que criaram poesias, 25 autores icônicos e renomados foram selecionados, cujos trabalhos são ainda amplamente reconhecidos e admirados tanto no Brasil quanto no exterior.

1. A Vida e Obra de Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)

Considerado um dos mais relevantes e influentes poetas da Literatura Brasileira, Carlos Drummond de Andrade integrou a segunda geração do Modernismo Nacional. Seu legado é tido como inesquecível no referido movimento.

Drummond.

O autor mineiro apresenta em seus versos sentimentos eternos como o amor e a solidão, o que possibilitou a reflexão aprofundada da realidade brasileira, das estruturas sociopolíticas e das interações humanas.

A poesia deles é marcada por temas da vida cotidiana, incluindo a agitação urbana, o trabalho árduo, a rotina e o uso da linguagem.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

2. Cora Coralina: 1889-1985

Cora Coralina, pseudônimo literário de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, é um nome essencial da literatura goiana.

Cora Coralina

Durante a juventude, Coralina começou a escrever, mas só lançou o seu primeiro livro após os 70 anos. Sua decisão foi motivada pela morte do marido, que não permitira que ela publicasse seu trabalho durante o relacionamento.

A autora se destacou por não seguir os preceitos de nenhum movimento cultural ou artístico. Ao invés disso, sua escrita era marcada pela liberdade formal e originada de suas experiências de vida. Recebendo aplausos de notáveis escritores como Drummond, ela se tornou aclamada.

Com seus versos, o autor narra sentimentos e acontecimentos da vida no interior, em particular, da cidade de Goiás, reconhecendo-a como uma homenagem ao local.

Meu Destino

Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,

interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –

íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos

Passavas com o fardo da vida…

Corri ao teu encontro.

Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado

com a pedra branca

da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos

juntos pela vida…

3. Vida de Vinicius de Moraes (1913 – 1980)

Vinicius de Moraes, apelidado de "poetinha" e conhecido por sua inigualável habilidade como escritor, cantor e compositor, foi um grande nome da cultura brasileira.

Vinicius de Moraes

O mestre da Bossa Nova é uma das vozes mais significativas da sua geração, sendo amado pelo seu público principalmente por causa da sua poesia.

Ele observava seu entorno com muita atenção e usava sua poesia para discutir assuntos políticos e sociais, mas também para expressar sentimentos e abordar temas relacionais.

O poeta era um verdadeiro amante, tendo se casado 9 vezes e escrevendo muitos sonetos de amor que ainda emocionam leitores de todas as idades.

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

4. A Vida e Obra de Adélia Prado (1935)

A partir dos 40 anos, Adélia Prado, mineira, balizou sua carreira literária como escritora, filósofa e professora. Seu trabalho se insere no movimento modernista brasileiro, tendo contado com o apoio de Carlos Drummond de Andrade, que enviou os poemas dela para a Editora Imago.

Adélia Prado

A autora usa uma linguagem coloquial para se aproximar dos leitores, tornando os versos dela dotados de uma visão mágica da vida cotidiana. Prado tem a capacidade de encontrar novos significados para o que é comum, com um olhar de fé e encantamento em relação ao mundo.

"Com licença poética", uma das mais imortais criações de Vinícius de Moraes, é um tributo ao "Poema de Sete Faces" do grande Carlos Drummond de Andrade. Esta obra revela a visão de uma mulher brasileira sobre a vida e sobre a arte de escrever.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

5. Vida e Obra de João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Nascido em Recife, o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto é considerado um dos mais notáveis escritores da língua portuguesa. Até hoje, sua obra continua sendo amplamente reconhecida.

A poesia de Cabral de Melo Neto foge dos sentimentos e confissões; ao invés disso, seu ofício poético é visto como uma criação.

Integrante da terceira onda do modernismo brasileiro, o poeta é conhecido pelo cuidado estético em seus escritos, que se fundamentam em imagens reais (como a pedra, a faca etc).

O autor, ao escrever sobre suas viagens e os lugares que visitou, manteve um olhar perspicaz sobre a realidade brasileira. Essa abordagem refletiu-se em obras como Morte e Vida Severina (1955).

Catar feijão

1.

Catar feijão se limita com escrever:

Jogam-se os grãos na água do alguidar

E as palavras na folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,

água congelada, por chumbo seu verbo;

pois catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco,

o de que, entre os grãos pesados, entre

um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:

a pedra dá à frase seu grão mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a com risco.

6. Vida e Obra de Cecília Meireles (1901 – 1964)

A carioca Cecília Meireles é considerada uma das mais relevantes poetas da nossa literatura. Além de escritora e professora, também foi jornalista.

Cecília Meireles

Vinculado ao movimento modernista, Meireles é lembrado por sua escrita única que, combinada com suas obras infantis bem-sucedidas, ajudou a construir a sua história.

A obra poética da autora apresenta a característica do neossimbolismo, focalizando temas como a vida, o solitário e o inexorável passar do tempo.

As composições desta autoridade refletem sobre a identidade e transmitem sentimentos profundos como a solidão e a perda, contribuindo para emocionar os leitores brasileiros.

Lua adversa

Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua…

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

E roda a melancolia

seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém

(tenho fases, como a lua…)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua…

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu…

7. Vida e Obra de Manoel de Barros (1916-2014)

Manoel de Barros, nascido no Mato Grosso do Sul, é lembrado como o poeta das coisas miúdas. Em sua obra, ele se mostrou profundamente ligado aos elementos naturais, o que o tornou um notável poeta pós-modernista brasileiro.

Manoel de Barros

Os versos de seu poema possuem uma linguagem próxima à oralidade, juntamente com as expressões e a sintaxe características da fala rural. Além disso, algumas palavras foram criadas para completar o poema.

Considerado um dos maiores escritores da literatura contemporânea nacional, o autor é eternizado por seu profundo olhar para a beleza da natureza e para os detalhes cotidianos da vida.

A poesia do autor está profundamente ligada aos sentidos, incluindo a visão, o olfato, o paladar e outros.

Biografia do orvalho

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como sou — eu não

aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre

portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que

compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,

que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.

Perdoai.

Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.

8. A Vida e Obra de Manuel Bandeira (1886 - 1968)

Nascido no Recife, Manuel Bandeira foi um importante poeta, tradutor, professor e crítico que representou a primeira geração do modernismo brasileiro.

Manuel Bandeira

Ao ler sua composição "Os Sapos" durante a Semana da Arte Moderna de 1922, foi dado um importante passo para libertar a poesia de diversas limitações.

A poesia do poeta, baseada na tradição parnasiana, expressa lirismo, angústia e a fragilidade da vida como resultado de uma saúde debilitada. Suas composições captam a doença e as indagações sobre o destino final.

Também é importante reconhecer o lado cômico do autor, famoso por seus poemas-piada, uma forma curta e engraçada de composição que surgiu na geração modernista.

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

9. A Vida de Hilda Hilst (1930 - 2004)

Nascida no estado de São Paulo, Hilda Hilst é um nome inesquecível na literatura brasileira. Considerada uma das maiores escritoras nacionais, ela é um ícone da cultura brasileira.

Hilda Hilst

Hilst é lembrada como autora de obras de teatro e ficção, porém, sua poesia é seu trabalho mais notável. Suas composições eram consideradas polêmicas, gerando críticas e controvérsias.

Famosa por seus poemas de amor, a poesia de _____ também explorava assuntos como o anseio e o feminino sensual, além de questões filosóficas e metafísicas.

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo. Porque esta noite

Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água

Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo

Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.

E mais atento.

10. Vida e Obra de Machado de Assis (1839-1908)

Indiscutivelmente, Machado de Assis é um dos autores mais consagrados da literatura brasileira.

Machado de Assis

Apesar de apresentar alguns elementos do Romantismo em sua produção literária, tornou-se o primeiro autor brasileiro a abraçar o Realismo. O escritor carioca é, principalmente, lembrado pela sua habilidade como contista e romancista, mas também escreveu em outros gêneros literários, como poesia.

O autor, embora em menor quantidade, produziu versos de tom confessional sobre temas como o amor, os relacionamentos e a morte de sua esposa, Carolina.

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

11. Vida e Obra de Ferreira Gullar (1930 - 2016)

Nascido em São Luís, Maranhão, José Ribamar Ferreira - mais conhecido pelo pseudônimo literário Ferreira Gullar - foi um importante autor, crítico e tradutor brasileiro.

Ferreira Gullar

O poeta foi um dos pioneiros a abraçar o neoconcretismo, movimento carioca que se opunha à postura positivista acerca da produção artística.

Gullar, um escritor engajado, foi vítima da repressão da ditadura já que havia militado no Partido Comunista, e por isso foi preso e exilado.

Sua poesia reflete o caminho que tomou, dando uma visão política e histórica do Brasil em que o autor vivia, escrevia e se opunha.

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta

12. A Vida de Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

Nascida em Sacramento, Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus foi uma renomada escritora brasileira. Contudo, passou a maior parte da vida na região norte de São Paulo.

Carolina Maria de Jesus

Carolina enfrentou grandes desafios durante sua vida; ela teve que abandonar a escola no segundo ano e se tornou uma mãe solteira, precisando sustentar três filhos trabalhando como catadora de lixo.

A autora, moradora da comunidade do Canindé, sentia-se apaixonada por literatura e compartilhava os registros diários de sua realidade no livro Quarto de despejo: diário de uma favelada.

Em seus poemas, expressando-se na linguagem mais simples, ela conta as violências e opressões que enfrentava como mulher negra e pobre durante a década de 50.

Muitas fugiam ao me ver

Pensando que eu não percebia

Outras pediam pra ler

Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava

Para custear o meu viver

E no lixo eu encontrava livros para ler

Quantas coisas eu quiz fazer

Fui tolhida pelo preconceito

Se eu extinguir quero renascer

Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!

E deixo esses versos ao meu país

Se é que temos o direito de renascer

Quero um lugar, onde o preto é feliz.

13. Vida e Obra de Mario Quintana (1906-1994)

Mario Quintana, um jornalista e poeta brasileiro oriundo do Rio Grande do Sul, ganhou fama por sua poesia de linguagem simples. Famoso por "conversar" com seu leitor, seus versos eram marcados por um profundo encantamento pela vida.

Mario Quintana

O poeta usava uma linguagem simples e compreensível, abordando diferentes assuntos: amor, transitoriedade, vida e também a própria atividade de escrita.

A sabedoria e as emoções intemporais dos versos de Mario Quintana fazem dele um dos autores preferidos do público brasileiro.

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!

14. A Vida e Obra de Ana Cristina Cesar (1952 – 1983)

A poeta, crítica literária e tradutora carioca, Ana Cristina Cesar, mais conhecida como Ana C., foi uma figura importante na geração de 70. Ela marcou profundamente o cenário literário daquela época.

Ana C., autora de poesia marginal, foi reconhecida como um dos principais nomes da geração mimeógrafo, um movimento artístico originado em meio à censura militar imposta.

A autora usa poemas na primeira pessoa para refletir sentimentos e temas que são comuns ao nosso dia a dia, mas que também abordam grandes questões existenciais.

Ana Cristina Cesar, uma das autoras mais icônicas da literatura brasileira, faleceu prematuramente aos 31 anos.

Contagem regressiva

Acreditei que se amasse de novo

esqueceria outros

pelo menos três ou quatro rostos que amei

Num delírio de arquivística

organizei a memória em alfabetos

como quem conta carneiros e amansa

no entanto flanco aberto não esqueço

e amo em ti os outros rostos.

15. A Vida e Obra de Paulo Leminski (1944-1989)

Nascido em Curitiba, Paulo Leminski foi, sem dúvida, um dos grandes nomes da literatura brasileira. A sua poesia, com seu caráter único e marcante, conquista cada vez mais fãs e admiradores. Além disso, o escritor ainda foi professor e músico.

Frequentemente, os poemas deles eram breves, influenciados pela literatura japonesa, principalmente o haiku ou haicai.

Visto como um poeta modernista, Leminski utilizou jovens de palavras, brincadeiras e expressões vulgares, com uma linguagem informal e representações da vida cotidiana, em seus versos.

Em 2013, o poeta voltou a fazer parte fundamental das estantes e dos corações dos brasileiros, com o lançamento de sua antologia poética.

Incenso fosse música

isso de querer ser

exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

16. A Vida de Alice Ruiz (1946)

Nascida em Curitiba, Alice Ruiz é uma ilustre escritora, letrista e tradutora brasileira, cujas obras já foram publicadas em vários países.

Alice Ruiz

A autora contemporânea, casada com Leminski, encontrou inspiração na forma de poesia japonesa conhecida como haicai.

Suas obras de arte de curta duração e até mesmo minimalistas trazem um toque mágico à vida cotidiana. Elas transmitem mensagens profundas e complexas, usando imagens simples e práticas.

A gaveta da alegria

já está cheia

de ficar vazia

17. Vida e Obra de Gonçalves Dias (1823 – 1864)

Gonçalves Dias foi um representante de primeira geração do Romantismo Nacional, sendo poeta, advogado e teatrólogo brasileiro.

Gonçalves Dias.

O autor teve sua juventude marcada pela mudança para Portugal, para estudar na universidade. Esta experiência o afastou temporariamente do Brasil e foi uma fonte de inspiração para "Canção do Exílio", uma de suas composições mais conhecidas.

Gonçalves Dias foi um grande estudioso da cultura dos povos indígenas, cuja dedicação lhe permitiu criar o indianismo, uma corrente literária que destacava e celebrava as qualidades daqueles.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras;

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que eu desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Quer saber mais? Veja

18. Vida e Obras de Castro Alves (1847 – 1871)

Nascido na Bahia, Antônio Frederico de Castro Alves foi um poeta brasileiro que fazia parte da terceira geração do Romantismo no Brasil.

Castro Alves

O poeta foi um dos mais notáveis representantes do condoreirismo, uma corrente literária marcada pelo seu caráter social. Ele faz parte de uma importante herança da nossa história coletiva.

Castro Alves desempenhou um papel fundamental defender os valores de liberdade e justiça, bem como lutou vigorosamente pelo abolicionismo, combatendo a cruel escravidão.

Canção do africano

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão ...

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar...

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

19. A Vida de Pagu (1910-1962)

Nascida em São João da Boa Vista, São Paulo, Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, foi uma prolífica figura na cultura brasileira, com trabalhos nas áreas de escrita, jornalismo, artes visuais e direção cinematográfica.

Pagu.

Ela era uma grande parte do modernismo e se associou ao movimento antropofágico de Oswald de Andrade. Era uma artista muito inventiva e dotada de talento.

Pagu é uma grande inspiração e um símbolo da vanguarda. Ela lutou incansavelmente pela igualdade de gênero e pela liberdade durante a ditadura. Sua voz foi ouvida em uma época em que as mulheres ainda eram silenciadas.

A lutadora nacional, que foi presa e torturada diversas vezes, é um nome respeitado na resistência. Suas poesias carregam fortes críticas sociais, influenciadas pelas muitas atrocidades que vivenciou.

Natureza Morta

Os livros são dorsos de estantes distantes quebradas.

Estou dependurada na parede feita um quadro.

Ninguém me segurou pelos cabelos.

Puseram um prego em meu coração para que eu não me mova

Espetaram, hein? a ave na parede

Mas conservaram os meus olhos

É verdade que eles estão parados.

Como os meus dedos, na mesma frase.

As letras que eu poderia escrever

Espicharam-se em coágulos azuis.

Que monótono o mar!

Os meus pés não dão mais um passo.

O meu sangue chorando

As crianças gritando,

Os homens morrendo

O tempo andando

As luzes fulgindo,

As casas subindo,

O dinheiro circulando,

O dinheiro caindo.

Os namorados passando, passeando,

Os ventres estourando

O lixo aumentando,

Que monótono o mar!

Procurei acender de novo o cigarro.

Porque o poeta não morre?

Por que o coração engorda?

Por que as crianças crescem?

Por que este mar idiota não cobre o telhado das casas?

Por que existem telhados e avenidas?

Por que se escrevem cartas e existe o jornal?

Que monótono o mar!

Estou espichada na tela como um monte de frutas apodrecendo.

Si eu ainda tivesse unhas

Enterraria os meus dedos nesse espaço branco

Vertem os meus olhos uma fumaça salgada

Este mar, este mar não escorre por minhas faces.

Estou com tanto frio, e não tenho ninguém...

Nem a presença dos corvos.

20. Vida e Obra de Augusto dos Anjos (1884 – 1914)

Nascido na Paraíba, Augusto dos Anjos foi um importante escritor e professor brasileiro. Os seus versos, notáveis pela sua originalidade, marcaram a nossa história.

Augusto dos Anjos

Apesar dos sinais de influência de movimentos reconhecidos como o parnasianismo e simbolismo, presentes em suas obras, o poeta não se alinhou a nenhuma das escolas literárias, sendo compreendido com dificuldade pelos que o cercavam na época.

Augusto dos Anjos inovou misturando registros de linguagem eruditos e populares, algo que foi recebido com desconfiança na época. Seus versos traziam emoções profundas, assim como questões filosóficas e científicas.

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

21. A Vida de Gregório de Matos (1636-1696)

Gregório de Matos foi um advogado e poeta barroco baiano destacado como um dos principais escritores do movimento. É considerado um dos maiores autores do período.

Gregório de Matos

Como "Boca do Inferno", o escritor é particularmente famoso pela sua poesia satírica que não perdoa ninguém. Suas críticas se expandiam por toda a sociedade e alcançavam até mesmo os personagens da política.

Os versos de Gregório de Matos continham uma grande carga de conteúdo erótico, o que lhe trouxe uma série de problemas, sendo inclusive denunciado à Inquisição.

O poeta, assim como todos nós, era cheio de dualidades. Ele também escreveu composições religiosas, nas quais confessava seus erros e a culpa que o assombrada.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

22. A Vida de Gilka Machado (1893 – 1980)

Gilka Machado é um nome menos famoso para o grande público, mas é um escritor importante ligado ao Simbolismo. Nas últimas décadas, seu trabalho tem sido reconhecido e apreciado por estudiosos da literatura brasileira.

Gilka Machado

Desde sua juventude, Gilka marcou presença no cenário literário brasileiro como uma das primeiras mulheres a escrever versos eróticos. Seus trabalhos foram pioneiros e fizeram história entre os poetas nacionais.

Em uma época de profunda opressão, especialmente para mulheres, o trabalho de uma poeta era considerado escandaloso ou mesmo imoral.

A autora, militante pelo direito ao voto e fundadora do Partido Republicano Feminino, escreveu sobre o amor e o desejo feminino com o intuito de colocar as mulheres no foco dos debates sociais e políticos.

Saudade

De quem é esta saudade

que meus silêncios invade,

que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,

de quem?

Aquelas mãos só carícias,

Aqueles olhos de apelo,

aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,

e este olhar de vã procura,

e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade

que sinto quando me vejo?

23. Vida e Obra de Olavo Bilac (1865 – 1918)

Olavo Bilac foi um poeta, escritor e jornalista que nasceu no Rio de Janeiro. Ele é considerado um dos principais representantes do parnasianismo.

Olavo Bilac

Bilac é frequentemente lembrado por seus românticos e encantadores sonetos de amor. No entanto, sua produção literária foi muito diversificada e abordou diferentes temas.

O autor construiu uma obra que abraça vários gêneros, entre eles as obras voltadas para o público infantil. Ao mesmo tempo, sua poesia se destaca por tocar em temas relevantes da vida política e social brasileira, convocando os cidadãos a participar ativamente da construção da República.

Em 1906, o poeta escreveu a letra do Hino à Bandeira do Brasil, merecendo destaque por sua criação.

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto …

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

24. Vida e Obra de Ariano Suassuna (1927-2014)

Nascido na Paraíba, Ariano Suassuna foi um jornalista e escritor de grande produtividade. Sua extensa obra abrange poesia, teatro, romances e ensaios.

Ariano Suassuna

Muitos leitores podem achar a poesia do autor complexa e difícil de entender, em grande parte devido às suas influências literárias da época barroca.

A poesia do escritor brasileiro combinava elementos da cultura erudita com aqueles da tradição popular, dando destaque à realidade nordestina e narrando os detalhes da vida cotidiana e as particularidades da terra onde nasceu.

A infância

Sem lei nem Rei, me vi arremessado

bem menino a um Planalto pedregoso.

Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,

vi o mundo rugir. Tigre maldoso.

O cantar do Sertão, Rifle apontado,

vinha malhar seu Corpo furioso.

Era o Canto demente, sufocado,

rugido nos Caminhos sem repouso.

E veio o Sonho: e foi despedaçado!

E veio o Sangue: o marco iluminado,

a luta extraviada e a minha grei!

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,

na Cadeia que estive e em que me acho,

a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!

25. A Vida de Conceição Evaristo (1946)”

Conceição Evaristo, nativa de Belo Horizonte, é uma escritora contemporânea brasileira. Ela é reconhecida pelas suas obras de ficção e romance, e sua poesia é intensamente marcada por resistência e representatividade.

Conceição Evaristo

A poeta é uma ativista antirracista, que expressa nas suas obras as experiências femininas e a importância da cultura e história negras. Além disso, ela traz à tona, através dos seus versos, reflexões sobre etnia, classe e gênero na atual sociedade brasileira.

Ao expor experiências muitas vezes não ditas, Evaristo reflete sobre as origens e as consequências das inúmeras formas de exclusão, tornando-se uma leitura obrigatória para todos nós.

Vozes-mulheres

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio.

ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela.

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e

fome.

A voz de minha filha

recolhe todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

o eco da vida-liberdade.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.