Famosa autora brasileira, Cecília Meireles (1901 – 1964) é reconhecida por seu trabalho literário, especialmente por sua poesia infantil e sua genialidade.
Suas composições usam jogos de palavras e humor para despertar o interesse e a paixão das crianças pela leitura. Usando uma linguagem acessível e abordando assuntos do cotidiano, elas buscam despertar a curiosidade dos pequenos.
Os poemas de seu autor estimulam a imaginação de quem os lê e são apropriados para o aprendizado das crianças, pois contêm lições preciosas e mensagens sábias que nos convidam a refletir.
1. As Meninas da Escola
Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.
Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
Cecília Meireles nos apresenta, em "As meninas", três garotas que eram vizinhas e se encontravam por meio da janela. Com uma nota de humor, a poesia é construída com rimas que não são nada difíceis de adivinhar: Arabela, Carolina e Maria.
As três irmãs, Arabela, Carolina e Maria, são vistas todas as manhãs. Enquanto Arabela e Carolina realizam atividades simples, como abrir a janela ou erguer a cortina, Maria apenas as cumprimenta com um "Bom dia". Elas são elogiadas por suas diversas qualidades - Arabela pela sua beleza e Carolina pela sua sabedoria - mas apenas Maria as saúda todos os dias.
O eu-lírico, testemunha de tudo aquilo, se recorda de cada jovem. Mesmo elogiando as outras garotas, Maria é quem mais lhe faz falta, com sua doçura e simpatia.
2. Escolha entre isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo …
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
"Ou isto ou aquilo" é um dos poemas infantis mais conhecidos da nossa literatura. Através de exemplos do cotidiano, Cecília Meireles ensina aos seus leitores a lição fundamental de que estamos sempre tomando decisões.
É necessário tomar decisões mesmo que isso signifique deixar algumas coisas de lado. Ainda em fase de desenvolvimento, o indivíduo está aprendendo a lidar com as consequências de suas escolhas.
Ele percebe que, infelizmente, não podemos ter tudo ao mesmo tempo; é necessário fazer escolhas e, inevitavelmente, abrir mão de algo, o que pode nos deixar com sentimentos de incerteza ou insatisfação.
3. A Beleza da Bailarina
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
Um poema singelo e muito conhecido na literatura brasileira, o eu-lírico descreve uma criança que deseja ser bailarina. Ela dança e rodopia, mas não tem conhecimento das notas musicais que o narrador enumera.
A menina, apesar de sua idade, tem a capacidade de sentir a música e dançar quase por instinto, mesmo não conhecendo as notas. É possível notar isso quando ela fica na ponta dos pés e gira sem se sentir tonta ou perder o equilíbrio.
Mesmo tendo sonhos ambiciosos, ela ainda é uma criança. Após longas horas de dança, ela está cansada, desejando apenas descansar. Por enquanto, pode esquecer um pouco dos seus planos para o futuro, pois ainda existe muito tempo para que isso aconteça.
4. A escrita do mosquito
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome
O mosquito é o foco de atenção no poema. O sujeito poético observa como o inseto desenha letras com seu corpo ao voar. Cada manobra desse diminuto ser vai soletrando seu próprio nome. É fascinante como um detalhe tão comum no cotidiano pode se tornar motivo de inspiração.
Após realizar a "lição de casa", que consiste na aprendizagem da escrita e da leitura, o mosquito fica exausto. Para se recuperar, é necessário que ele ingira alimento. Estas tarefas são essenciais para as crianças, pois possibilitam seu desenvolvimento.
É interessante notar que o inseto não é visto como um antagonista aqui. Ele apenas precisa picar alguém por causa da fome que sente depois de ter voado e estudado por um longo período.
5. Voyage à la Lune
Enquanto não têm foguetes
para ir à Lua
os meninos deslizam de patinete
pelas calçadas da rua.
Vão cegos de velocidade:
mesmo que quebrem o nariz,
que grande felicidade!
Ser veloz é ser feliz.
Ah! se pudessem ser anjos
de longas asas!
Mas são apenas marmanjos.
Nas ruas, um grupo de meninos fantasiava, de patinete, viajando para longe. A imaginação os levava aos mais improváveis destinos, como a Lua. A alegria de se sentirem livres, de sentirem a força de sua criatividade, era tanta que nenhum deles conseguia conter o sorriso. "Para ir à Lua" era um poema que contava a história destas crianças e de sua incansável aventura.
Os garotos divertindo-se sem levar em conta os perigos que possam existir à sua volta é como se a autora retratasse a infância como um período de despreocupação, aventura e liberdade. Não importa que não possam voar como anjos, eles conseguem brincar e desfrutar do jeito deles.
6. Sonhos de uma Menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?
A noite é descrita como um momento mágico, onde realidade e fantasia se fundem. Quando a menina dorme, seus sonhos misturam elementos reais e outros imaginosos, que não seriam possíveis no mundo real.
Através de sua criatividade, o que era banal torna-se algo místico e inusitado. O produto final desta composição é a perfeita fusão entre o sonho e a realidade: a fronha torna-se a lua e o sonho adquire características de linho.
7. A Criança de Azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Uma vez mais, a Cecília Meireles - professora e poeta - nos lembra da relevância da alfabetização por meio do seu poema sobre um menino azul que procura um burrinho para ser seu companheiro.
A cor azul do menino talvez represente seus sonhos e a imaginação da infância ou até certa melancolia. Por que ele quer tanto o burrinho? Possivelmente para conversar, conhecer os nomes de tudo o que vê, ouvir as mais incríveis histórias e partir em uma grande aventura junto a ele.
No final da poesia, fica claro o motivo: o garoto não conhecia a leitura. Logo, ele necessitava de alguém para auxiliá-lo; no entanto, aprendendo a ler, ele poderia alcançar seus objetivos sozinho.
8. Ascensão ao Topo
No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.
O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.
Todo o céu fica a noite inteira
sobre o último andar.
É lá que eu quero morar.
Quando faz lua, no terraço
fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.
Os passarinhos lá se escondem,
para ninguém os maltratar:
no último andar.
De lá se avista o mundo inteiro:
tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:
no último andar.
O eu-lírico deste poema é descrito como uma criança que deseja alcançar o alto de um edifício, onde teria a chance de desfrutar de uma bela vista.
O sujeito tem o objetivo de chegar ao último andar, que está longe e é difícil de alcançar. É lá que ele acredita que estará mais próximo do céu, da lua e dos passarinhos.
Cecília Meireles sugere que até mesmo uma criança pode ter sonhos de ambição ao descrever o último andar como um lugar idílico. Esta representação dá às pessoas a esperança de que eles também podem aspirar a mais.
O eu-lírico está disposto a enfrentar as dificuldades que possam surgir, de forma a alcançar seu objetivo.
9. Carolina's Necklace
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
A música de "Carolina's Choker" contém elementos linguísticos interessantes, como jogos de palavras e aliterações (repetição de consoantes C, R, L e N). O resultado são versos que se assemelham a trava-línguas.
O poema captura como a beleza da garota é inspirada pela beleza da natureza e como ela se mescla com os elementos que a circundam. O sujeito expressa a forma como a menina e o mundo natural parecem se fundir em harmonia.
10. O Cavalo Branco
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:
mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.
O cavalo sacode a crina
loura e comprida
e nas verdes ervas atira
sua branca vida.
Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos
a alegria de sentir livres
seus movimentos.
Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!
Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!
No poema de Cecília Meireles, há uma evidente proximidade entre as ações dos seres humanos e dos animais. É nítido o esforço da poetisa em humanizar o comportamento dos animais através de sua poesia.
O cavalo branco trabalhou durante todo o dia, merecendo um merecido descanso. O eu-lírico explica ao leitor que o animal cansado merece um momento de relaxamento.
Após realizar todas as tarefas necessárias, a satisfação de ter cumprido um dever surge. Nesta poesia, a autora sugere que devemos nos esforçar para sermos produtivos, mas é igualmente importante aprender a relaxar e desfrutar da vida.
11. Licitação para Jardinagem
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
O sujeito poético da composição parece ser uma criança que brinca de leiloeiro, observando com atenção os diversos elementos da natureza diante de si. Os versos mostram-nos esse olhar cuidadoso, apresentando e contando tudo o que a criança vê.
Talvez, para um adulto, estas coisas pareçam banais e insignificantes, mas para o eu-lírico são uma forma de riqueza. Tais pedaços da natureza são vistos como verdadeiras obras de arte, abundantes em valor.
Ouça a versão cantada por Julia Bueno, com a música de Marcelo Bueno.
12. O Som do Eco
O menino pergunta ao eco
Onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: Onde? Onde?
O menino também lhe pede:
Eco, vem passear comigo!
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.
Pois só lhe ouve dizer: Migo!
O Eco é um poema divertido que fala sobre a ligação entre uma criança e o surpreendente fenômeno sonoro.
O menino fica confuso e fascinado sem entender como o som se repete. Parece que, do outro lado, tem outra voz que repete os finais das suas palavras.
A infância é retratada na composição como um período encantador, uma jornada cheia de descobertas onde objetos comuns podem parecer enigmáticos ou extraordinários.
13. Uma Visita à Chácara do Chico Bolacha
Na chácara do Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!
Quando chove muito,
O Chico brinca de barco,
porque a chácra vira charco.
Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.
Por isso, com o Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha.
Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorrinho coxo
que se chama Caxambu.
Outras coisas, ninguém procura,
porque não acha.
Coitado do Chico Bolacha!
Na chácara do Chico Bolacha, o poema traz à tona o lugar onde tudo é meio estranho. Ele brinca com as palavras e as sonoridades para criar uma atmosfera cheia de humor e fantasia.
A composição dos poemas, além das rimas, também é bastante atraente para as crianças, pois ela destaca a existência de palavras com sons semelhantes, porém, significados completamente diferentes, como "enxada" e "inchada".
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14. O Lagarto Assustado
O lagarto parece uma folha
verde e amarela.
E reside entre as folhas, o tanque
e a escada de pedra.
De repente sai da folhagem,
depressa, depressa
olha o sol, mira as nuvens e corre
por cima da pedra.
Bebe o sol, bebe o dia parado,
sua forma tão quieta,
não se sabe se é bicho, se é folha
caída na pedra.
Quando alguém se aproxima,
— oh! Que sombra é aquela? —
o lagarto logo se esconde
entre folhas e pedra.
Mas, no abrigo, levanta a cabeça
assustada e esperta:
que gigantes são esses que passam
pela escada de pedra?
Assim vive, cheio de medo,
intimidado e alerta,
o lagarto (de que todos gostam)
entre as folhas, o tanque e a pedra.
Cuidadoso e curioso,
o lagarto observa.
E não vê que os gigantes sorriem
para ele, da pedra.
Assim vive, cheio de medo,
intimidado e alerta,
o lagarto (de que todos gostam)
entre as folhas, o tanque e a pedra.
Em seu poema infantil, Cecília Meireles aborda mais uma vez a natureza, desta vez centrada em um lagarto.
O sujeito poético reflete sobre a capacidade de camuflagem do animal, que é usada para defesa, baseando-se em seu comportamento e fisiologia.
O eu-lírico considera que é errado temer o mundo; e isso é refletido na metáfora do animal medroso que teima em se esconder, mesmo sendo muito amado. Esta metáfora possui um importante recado para todos nós: viver com medo não é a melhor escolha.
15. Tantas Palavras
Ah! Menina tonta,
toda suja de tinta
mal o sol desponta!
(Sentou-se na ponte,
muito desatenta…
E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?…)
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta…
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta da ponte!
Ao ser lida em voz alta, essa poesia da autora ganha vida. Possui rimas e aliterações (utiliza repetições de consoantes como "t" e "p"), o que resulta em um "trava-línguas" que desperta o lado divertido da poesia. Tanta tinta é um exemplo disso.
O ator Paulo Autran oferece uma maravilhosa leitura para conferirmos!
16. Lima à venda - Oferta do Vendedor
Lima rima
pela rama
lima rima
pelo aroma.
O rumo é que leva o remo.
O remo é que leva a rima.
O ramo é que leva o aroma
porém o aroma é da lima.
É da lima o aroma
a aromar?
É da lima-lima
lima da limeira
do auro da lima
o aroma de ouro
do ar!
O pregão do vendedor de limas inspirou esta poesia. Qualquer coisa pode servir como mote poético - desta vez foi o trabalho desse vendedor.
O vendedor começa a rimar sobre os frutos, jogando com palavras da mesma maneira como se fosse alguém poético.
17. A Roupa de Laura
O vestido de Laura
é de três babados,
todos bordados.
O primeiro, todinho,
todinho de flores
de muitas cores.
No segundo, apenas
borboletas voando,
num fino bando.
O terceiro, estrelas,
estrelas de renda
– talvez de lenda…
O vestido de Laura
vamos ver agora,
sem mais demora!
Que as estrelas passam,
borboletas, flores
perdem suas cores.
Se não formos depressa,
acabou-se o vestido
todo bordado e florido!
Apesar de falar sobre algo básico, como o vestido de uma garota, este poema tem um tema bem mais complexo: a fluidez do tempo.
Laura possui uma roupa mágica, composta por borboletas e estrelas que os leitores devem observar. Ela é tão bonita que seus detalhes devem ser admirados.
Nosso alerta é que tudo, inclusive o que é bonito, é passageiro e devemos aproveitar ao máximo enquanto ainda podemos.
18. A Melodia da Flor de Pimenta
A flor da pimenta é uma pequena estrela,
fina e branca,
a flor da pimenta.
Frutinhas de fogo vêm depois da festa
das estrelas.
Frutinhas de fogo.
Uns coraçõezinhos roxas, áureos, rubras,
muito ardentes.
Uns coraçõezinhos.
E as pequenas flores tão sem firmamento
jazem longe.
As pequenas flores…
Mudaram-se em farpas, sementes de fogo
tão pungentes!
Mudaram-se em farpas.
Novas se abrirão,
leves,
brancas,
puras,
deste fogo,
muitas estrelinhas…
Nesta simples composição, a flor de pimenta é o foco de atenção. Os versos expressam sua aparência, mostrando sua forma e cor.
A pintura aborda o ciclo de vida da planta, desde o nascimento dos frutos (pimentas) até a queda das folhas.
19. O Menino e sua Avó
A avó
vive só.
Na casa da avó
o galo liró
faz "cocorocó!"
A avó bate pão-de-ló
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.
O sujeito poético descreve a relação entre ele e sua avó, que vive sozinha e tem uma rotina rígida. No entanto, o garoto acrescenta que ela sempre se alegra com as suas visitas. O poema é um tributo à família, ilustrando o amor entre o neto e a avó.
É interessante perceber que todas as linhas desta poesia terminam em "ó", com a última letra tônica, como se estivesse imitando o canto do galo.
20. Explorando a Língua de Nhem
Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.
E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,
ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Cecília Meireles usou mais uma vez seu talento poético para abordar o tema da solidão entre as pessoas mais velhas. A velhinha se lamentava com ter que suportar a solidão, como se fosse um discurso próprio.
Gradualmente, os animais do bairro começaram a se aproximar, permanecendo ao nosso lado. Esta passagem enfatiza a forma como os bichos nos ajudam a nos sentirmos acompanhados e como eles parecem entender o que dizemos.
A Vida e a Obra de Cecília Meireles
Em 1919, a carreira literária de Cecília Meireles começou com a publicação de seu primeiro livro de poemas, Espectros. A obra foi muito bem recebida por seus pares e abriu as portas para que a autora fosse reconhecida como poeta, pintora, jornalista e professora brasileira, sendo natural do Rio de Janeiro.
Cecília Meireles é reconhecida por sua produção literária para o público infantil. Em 1924, ela lançou seu primeiro trabalho destinado aos mais jovens, Criança, Meu Amor, escrito na forma de prosa poética.
Meireles era uma educadora muito próxima às crianças, e ela sabia como se comunicar com elas e despertar a imaginação delas.
A produção de poemas infantis foi extremamente produtiva, destacando-se clássicos da literatura brasileira, tais como Ou isto ou aquilo, A bailarina e As meninas.