Análise e Significado do Poema "No Meio do Caminho" de Carlos Drummond de Andrade


Escrito por Sónia Cunha

Uma das obras-primas do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade é o poema No Meio do Caminho.

Os versos, publicados em 1928 na Revista de Antropofagia, apontam para as barreiras cotidianas com que as pessoas se deparam em seu trajeto pela vida, representadas pelas "pedras".

Ao Longo do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

A Interpretação do Poema 'No Meio do Caminho'

Nesta poesia, as pedras são utilizadas para retratar os problemas da vida, que surgem no caminho. Estes podem dificultar o progresso, impossibilitando que alguém siga adiante. Estes desafios da vida são inevitáveis, porém, é necessário superá-los para alcançar o objetivo que se tem em mente.

Os versos "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas" passam uma sensação de exaustão por parte do autor e do fato que permanecerá para sempre na memória do poeta. Esta menção às pedras também pode significar um momento importante e significativo para a vida de alguém.

Análise do poema

No momento de sua publicação, No Meio do Caminho, de Drummond de Andrade, foi severamente condenado pelo seu conteúdo simples e pela sua repetição. Apesar das iniciais críticas, o poema foi progressivamente entendido pelo público e pela crítica. Hoje em dia, o poema é amplamente reconhecido como um dos mais importantes de sua obra.

Apesar das críticas e ofensas que No Meio do Caminho, obra do autor, vem enfrentando, alguns consideram-no um produto de um gênio, enquanto outros, um poema monótono e sem sentido. Estas opiniões podem ser vistas como pedras no caminho do escritor.

Análise Biográfica

Segundo a teoria, a gênese do poema No Meio do Caminho está relacionada à biografia de Carlos Drummond de Andrade.

Em 26 de fevereiro de 1926, Drummond se uniu à sua amada Dolores Dutra de Morais em matrimônio. Infelizmente, por uma tragédia do destino, o primeiro filho do casal, Carlos Flávio, viveu apenas por meia hora.

Em 1927, o escritor Carlos Drummond de Andrade foi commissionado para escrever um poema para o primeiro número da Revista de Antropofagia. “No Meio do Caminho” foi a obra polêmica que ele enviou, mesmo imerso na sua dor pessoal. O lançamento da revista ocorreu em 1928, fazendo com que o trabalho poético de Drummond fosse consagrado.

Gilberto Mendonça Teles aponta para a presença de hipértese no fato de a palavra "pedra" conter as mesmas letras que "perda". O poema de Carlos Drummond de Andrade seria, assim, um meio de enterrar a dor da perda e também uma lição sobre como o poeta conseguiu lidar com o infortúnio.

Resistindo ao Parnasianismo: o Poema

A obra "No Meio do Caminho" de Carlos Drummond de Andrade é uma homenagem ao poeta parnasiano Olavo Bilac, inspirada em seu soneto "Nel mezzo del camin..." (1865-1918).

O Soneto de Olavo Bilac conta com a técnica da repetição, aplicada com elegância e refinamento. A linguagem usada é adornada e a estrutura muito bem traçada.

A poesia de Drummond é caracterizada pela utilização de uma linguagem simples, comum, clara e desprovida de rimas, musicalidade ou métrica. Assim, o poeta modernista buscou criar uma poesia ainda mais autêntica, que se direcionasse à verdadeira essência. Ao fazer isso, ele realizou um deboche ao estilo parnasiano.

Muitos teóricos acreditam que o principal obstáculo para o desenvolvimento de uma arte acessível e inovadora por parte de Drummond era o movimento Parnasiano, que se opunha a essa ideia.

A frase "No meio do caminho" é um verso famoso presente no Canto I da Divina Comédia, escrita em 1317 pelo italiano Dante Alighieri (1265-1321). Esta obra foi fonte de inspiração para os poemas de Drummond e Olavo Bilac.

Publicação de um Poema

No mês de julho de 1928, o poema No Meio do Caminho foi publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia dirigida por Oswald de Andrade e causou grande controvérsia, recebendo diversas críticas desfavoráveis.

Muitas críticas se deram em relação à utilização do poeta ao recurso da redundância e repetição: o uso da expressão "tinha uma pedra" foi explorada em 7 dos 10 versos da composição.

"Alguma poesia" (1930), o primeiro livro do poeta Carlos Drummond de Andrade, inclui o poema que apresenta uma linguagem simples, coloquial e acessível, característica de sua obra.

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Leia o Poema "No Meio do Caminho

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Explorando a Obra de Carlos Drummond de Andrade

No dia 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais, nasceu Carlos Drummond de Andrade, o que o tornou um dos maiores nomes da poesia brasileira.

Na infância, Carlos Drummond de Andrade passou grande parte do tempo no interior de Itabira, junto a seus pais, Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Em reconhecimento à mãe, ele optou por dar o segundo nome de sua filha como homenagem a ela.

Carlos Drummond de Andrade e a filha única, Maria Julieta.

Com 14 anos, Drummond mudou-se para Belo Horizonte para cursar o ensino em um colégio interno. Quatro anos depois, ele optou por migrar para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, visando aproveitar melhores oportunidades de aprendizado.

Apesar de ter começado a investir na carreira literária e jornalística desde 1921, o jovem poeta conseguiu se formar no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte.

Em 1925, A Revista foi publicada e tornou-se essencial para o modernismo mineiro. Mário de Andrade também começou a escrever no Diário de Minas, onde posteriormente se tornou redator. Ele mais tarde se tornou funcionário público.

Inicialmente, trabalhou como auxiliar de gabinete na Secretaria do Interior. Logo depois, foi nomeado chefe do gabinete do Ministério da Educação. Por quase 20 anos, de 1945 a 1962, foi um funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional.

Como um dos mais notáveis nomes do modernismo brasileiro, Carlos Drummond de Andrade delinearam as inquietações inerentes ao ser humano de forma inspiradora ao longo de sua produção literária, marcando a literatura brasileira.

O poeta formou uma família ao se casar com Dolores Dutra de Morais. Desta união nasceram dois filhos: Maria Julieta e Carlos Flávio Drummond de Andrade.

O poeta faleceu no Rio de Janeiro, em 1987. Acredita-se que a trágica morte de sua filha, que veio a óbito apenas uma semana antes, tenha tido algum tipo de influência sobre o desenlace de seu próprio destino.

Publicações lançadas

  • No Meio do Caminho, 1928
  • Alguma Poesia, 1930
  • Poema da Sete Faces, 1930
  • Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, 1930
  • Brejo das Almas, 1934
  • Sentimento do Mundo, 1940
  • Poesias e José, 1942
  • Confissões de Minas (ensaios e crônicas), 1942
  • A Rosa do Povo, 1945
  • Poesia até Agora, 1948
  • Claro Enigma, 1951
  • Contos de Aprendiz (prosa), 1951
  • Viola de Bolso, 1952
  • Passeios na Ilha (ensaios e crônicas), 1952
  • Fazendeiro do Ar, 1953
  • Ciclo, 1957
  • Fala, Amendoeira (prosa), 1957
  • Poemas, 1959
  • A Vida Passada a Limpo, 1959
  • Lições de Coisas, 1962
  • A Bolsa e a Vida, 1962
  • Boitempo, 1968
  • Cadeira de Balanço, 1970
  • Menino Antigo, 1973
  • As Impurezas do Branco, 1973
  • Discurso da Primavera e Outras Sombras, 1978
  • O Corpo, 1984
  • Amar se Aprende Amando, 1985
  • Elegia a Um Tucano Morto, 1987
Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.