Luís Vaz de Camões, um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, escreveu o soneto "Amor é fogo que arde sem se ver", publicado na segunda edição da obra Rimas, lançada em 1598.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
Explorando Análise e Interpretação
Camões faz uso de ideias antagônicas para escrever seu poema de amor: o sofrimento se contrapõe à indiferença, a satisfação é incompatível com a insatisfação.
Usando o recurso de aproximação, o poeta tenta explicar um conceito tão profundo quanto o amor.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
O poeta nos oferece antíteses para exprimir a complexidade do amor. Estas afirmações, aparentemente contraditórias, são a essência do sentimento amoroso. Assim, por meio da aproximação dos opostos, é possível retratar a realidade do amor.
O mestre português construiu seu poema apoiado em uma lógica que leva a uma conclusão definida. Esta forma de raciocínio fundamentado com afirmações lógicas é conhecida como silogismo.
Nos dois quartetos e no primeiro terceto do poema de Camões, afirmações são feitas, culminando na última estrofe, onde é apresentada a conclusão do silogismo.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
O conteúdo do poema está diretamente relacionado ao formato do soneto clássico e à sua sonoridade. As onze primeiras estrofes constituem o desenvolvimento de um raciocínio. Isso se potencializa pela maneira como o poema é composto, com rimas e a pausa na sexta sílaba métrica.
Camões: Um Poeta Falando sobre o Amor
O tema do amor é explorado há séculos por vários escritores, sendo particularmente caro à poesia. Camões usa o pensamento lógico para expressar um sentimento humano profundo e complexo.
O amor e a lealdade ao amado são temas frequentes na poesia medieval. O autor deste poema usa a antítese para destacar esses sentimentos, explorando-os em seu trabalho. A lealdade para com o amado está presente, assim como o tema do amor em suas palavras.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
A obra de Camões retrata a dualidade deste sentimento de modo exemplar, captando o núcleo de um dos mais complexos e contraditórios sentimentos que existem: um que traz tanto prazer e dor ao mesmo tempo.
Poesia Eterna
Enquanto o tema abordado é universal, a figuração usada para desenvolver o poema é complexa e bela, dando-lhe assim um caráter atemporal.
O amor é complexo demais para ser explicado de maneira direta. No entanto, poetas têm a capacidade de expressar esses sentimentos de forma única. A vida é um jogo de dualidades e ambiguidades, e o amor não é diferente.
Camões é um dos poetas mais notáveis. Seu soneto é uma demonstração magistral do uso preciso da palavra e de metáforas e imagens criadas, contribuindo para um melhor entendimento de nossas próprias vidas.
A Beleza da Estrutura Poética
O soneto italiano de Camões descrito acima é um poema que deixa os leitores encantados.
O soneto é um tipo de poesia de estrutura fixa, geralmente dividido em quatro estrofes: duas com quatro versos (quartetos) e duas com três versos (tercetos). Normalmente, a estrutura do soneto apresenta um tema no início e desenvolve esse tema ao longo do poema, culminando em uma conclusão no último verso.
A poesia de Camões é construída segundo a fórmula do soneto clássico: dez sílabas poéticas (ou métricas) compondo cada estrofe. Ao contrário da sílaba gramatical, a poética é caracterizada pela sonoridade. Portanto, a contagem das sílabas culmina na última sílaba tônica.
Há um contentamento descontente.
Nestas onze primeiras estrofes, notamos uma cesura na sexta sílaba poética. Esta é uma quebra rítmica ao longo da estrofe. O poema apresenta ainda um padrão clássico de rimas, formado por ABBA, ABBA, CDC, DCD.
Er ente ade or as práticas de cuidado com a saúde e a prevenção de doenças.
Conheça o poeta Luís de Camões
Luís Vaz de Camões é reconhecido como um dos maiores poetas de língua portuguesa, graças ao seu trabalho em Os Lusíadas.
Nascido em Lisboa por volta de 1524, o rapaz foi testemunha das grandes conquistas marítimas do Império Português, que resultaram na aquisição de colônias.
Após ter estudado num convento, Camões passou a lecionar história, geografia e literatura. Inicialmente, pensou em seguir Teologia, entretanto, optou por Filosofia, abandonando a ideia anterior.
O boêmio Camões teve uma vida tumultuada, cheia de escândalos e romances. Uma de suas mais fervorosas paixões foi por D. Catarina de Ataíde, cortesã da rainha D. Catarina da Áustria, consorte de D. João III.
Em 1547, devido às inimizades que havia criado, Camões se voluntariou para servir como soldado na África. Sendo preso e desterrado durante um ano de Lisboa, o poeta embarcou em uma jornada de combate contra os mouros em Ceuta. Infelizmente, essa jornada o custou a perda do olho direito; no entanto, a experiência lhe proporcionou material para suas obras durante os dois anos de serviço.
Depois de servir no exército, Camões voltou para a Lisboa, onde retomou seus hábitos desregrados e suas dificuldades.
No dia 10 de junho de 1580, Camões faleceu na cidade de Lisboa.
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