Explicação dos 8 Personagens de Alice no País das Maravilhas


Escrito por Sónia Cunha

Lewis Carroll, escritor inglês, escreveu uma das obras infantis mais conhecidas de todos os tempos: Alice no País das Maravilhas. Publicada em 1865, ela ganhou fama ainda maior em 1951 com o lançamento do longa-metragem animado produzido pela Disney.

A trama, repleta de mistérios e símbolos, é constituída por personagens emblemáticas que necessitam de uma análise mais detalhada.

1. A Lenda de Alice

A personagem principal da obra é Alice Liddell, uma menina inglesa de apenas sete anos de idade, cuja vida serviu de inspiração para a criação do personagem. Alice é extremamente inteligente e articulada para a sua idade, demonstrando sabedoria e maturidade para além da sua faixa etária. Ela tem a convicção que já sabe tudo e tenta imitar a postura dos adultos que convivem ao seu redor.

Quando ela avista um Coelho Branco no jardim, usando um colete e segurando um relógio, ela é imediatamente tomada pela curiosidade. Não há tempo para pensar nas possíveis consequências, ela precisa seguir o Coelho Branco e descobrir o que ele tem a lhe dizer.

Alice

Ela se aventura num mundo onde tudo é diferente, ao encarnar a imaginação peculiar da infância. Enfrentando os comportamentos absurdos dos moradores daquele lugar, sente-se apreensiva, desiludida e até irritada pelo caos e desordem existentes.

À medida que avança, a menina é confrontada com as possibilidades irracionais que o lugar lhe oferece. Assim, ela precisa reexaminar tudo o que aprendeu até então. Embora algumas de suas crenças permaneçam inalteradas, ela luta contra o mundo para ser ouvida e se revolta contra as injustiças que vê.

2. O Sorriso Enganador do Gato de Cheshire

O Gato de Cheshire é uma figura icônica cujo sorriso é inesquecível. Empolgando o leitor, ele é capaz de assustar até mesmo seus companheiros de jornada. Ele não se intimidou com a poderosa Rainha de Copas, conseguindo desaparecer e reaparecer quando mais lhe convém.

Com uma postura confiante, o Gato se torna quase um observador deste mundo, ao mesmo tempo em que faz parte da ação. Quando Alice se encontra completamente perdida, ela busca orientação para descobrir o melhor caminho a seguir. Embora as respostas não sejam claras, o animal age como um guia, oferecendo um pouco de luz para ela.

Gato de Cheshire (ou Gato Risonho)

O discurso do Gato revela certa consciência: ele explica como funciona o País das Maravilhas. Para sobreviver ali, Alice não pode seguir as regras e o pensamento lógico habituais, mas aceitar tudo o que é estranho e insano.

Portanto, o Gato de Cheshire é capaz de perceber que a realidade de Alice é regida pela loucura, destruindo qualquer tentativa de racionalidade. Com o passar do tempo, Alice começa a adotar os mesmos atos bizarros do país, esquecendo das suas experiências anteriores.

O personagem serve para lembrar que a saúde mental e a loucura são definições relativas. No cenário escolhido, é Alice que se destaca pela sua abordagem inquisitiva e racional, que parece estranha.

3. O Coelho Branco

O Coelho Branco é um animal que se comporta de forma semelhante a um ser humano: visto com roupas e com um grande relógio pendurado, ele corre sem parar.

O personagem sempre chega atrasado para os compromissos com a Rainha, o que o deixa nervoso e desorientado. Quando passa pelo jardim, desperta a curiosidade da protagonista que embarca em uma jornada que mudará sua vida para sempre.

Coelho Branco

Ao seguir o Coelho Branco, Alice vai à procura de conhecimento e sabedoria no País das Maravilhas. É como se ela estivesse empenhada em descobrir novos insights, mesmo quando se depara com os desafios mais difíceis. Assim, torna-se uma metáfora para todos nós, que devemos nos esforçar para ter sempre novas aprendizagens.

A obsessão com o tempo é um dos principais elementos que caracterizam o personagem, evidenciando a angústia humana diante da brevidade da vida.

Algumas teorias afirmam que o Coelho Branco foi inspirado no pai de Alice Lidell, o Pastor. Ele era conhecido por ser muito ocupado e frequentemente atrasar para as missas.

4. A Corrida da Lebre em Março

Lebre de Março

Alice fica chocada com a bagunça que reina no encontro, pois várias normas sociais são desconsideradas. A Lebre que interage com ela se comporta de forma estranha, questionando até mesmo a inteligência de Alice. Esta figura tem uma forte ligação com o idioma inglês e seus significados.

Nos tempos em que a obra foi criada, a expressão "louco como uma lebre de março" era muito utilizada para descrever alguém que estava com comportamento estranho. Isto se dava pelo fato de que durante a temporada de acasalamento desse animal, ele ficava bastante agitado, pulando e correndo em círculos, demonstrando muita energia.

5. O Chapeleiro Maluco

O provérbio "louco como um chapeleiro" tem suas origens no idioma inglês e descreve pessoas com problemas de saúde mental. A expressão se refere aos trabalhadores que produziam chapéus e eram expostos a altas doses de mercúrio, o que poderia ter contribuído para a deterioração de sua saúde mental.

Chapeleiro Louco

No livro, o personagem é retratado como tendo lutado contra o tempo; por isso, celebra os "desaniversários". Ele é uma sátira das etiquetas e regras sociais britânicas. A "cerimônia do chá das cinco", uma das mais antigas tradições do país, é desconstruída por ele, transformando-a em algo sem significado.

Alice foi atraída para um evento onde se esperava uma formalidade e cumprimento de regras, mas acabou caindo no meio de uma grande bagunça. O comportamento bizarro do anfitrião era ao mesmo tempo amigável e grosseiro, fazendo com que ela se sentisse mal-acolhida.

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6. A Lagarta

A Lagarta é a primeira figura que Alice encontra no País das Maravilhas, e ela parece ser um símbolo da metamorfose. Ao fazer a questão "Quem é você?" a ela, Alice é colocada em uma posição de questionar a sua própria identidade. A Lagarta gerou muitas teorias ao longo dos anos, mas para a maioria dos estudiosos, seu significado mais óbvio é a representação da metamorfose.

Lagarta

Enquanto fumava de um narguilé, a Lagarta tinha uma postura um tanto altiva e arrogante, como se não compreendesse as angústias de Alice. No entanto, ela estava tentando ajudar a visitante a lidar com as circunstâncias desafiadoras do local, sugerindo que ela comer o cogumelo que a faria crescer ou encolher. Esta etapa pode ser interpretada como uma metáfora para o processo da puberdade e as mudanças corporais e emocionais que ela traz.

A "Absolem" é a figura que vem ensinar que mudanças são algo benéfico que não devemos temer. Esta personagem foi adaptada para o filme de 2010 levando este nome. Ela ensina que devemos aceitar as mudanças como parte do nosso processo de crescimento.

7. Rei e Rainha de Copas

A Rainha de Copas é uma figura temida no País das Maravilhas, pois detém o poder absoluto. Ela é mimada, egocêntrica e infantil, características que a tornam ainda mais assustadora. O Rei, seu marido, mal ousa desobedecer-lhe, pois teme por sua vida. Somadas ao seu gosto por humilhar os outros, suas constantes ameaças e gritos acabam por reforçar o medo que todos sentem por ela.

A única preocupação do ditador é controlar a população, governando com o terror e mostrando os terríveis efeitos de um poder absoluto e não contestado.

Rainha de Copas

A Rainha traz consigo a imagem de uma justiça inversa, baseada em julgamentos irracionais e sem regras, refletindo a vulnerabilidade e a obediência dos seus súditos.

Esta crítica à monarquia e nobreza britânicas é evidente. Aqueles que circundam a Rainha são da mesma casta, partilhando as mesmas características.

Nesta leitura, o País das Maravilhas pode ser interpretado como uma alegoria da Inglaterra de Lewis Carroll. Esta tese é reforçada pela sua obsessão por rosas vermelhas, o que remete à Guerra das Rosas, um série de conflitos pelo trono inglês.

8. O Encanto do Arganaz

O Arganaz, também conhecido como pequeno rato do campo, é o terceiro elemento da mesa de chá do Chapeleiro Louco. Ele está constantemente adormecido, como se estivesse subjugado por alguma força hipnótica.

Arganaz

O Arganaz, quase não se pronunciando, quando tenta falar, é sempre interrompido ou simplesmente ignorado. Dessa forma, acaba sendo dominado pelas outras figuras – a Lebre e o Chapeleiro, que são mais fortes e representam a superioridade. Por isso, é possível dizer que o bichinho simboliza a classe trabalhadora, que sofre com a opressão e não consegue reagir.

Outras Estrelas de Destaque

Apesar de possuir uma relevância menor, uma outra figura do imaginário de Alice é sua irmã mais velha, cujo nome não é revelado. Ela simboliza o caráter responsável e sério dos adultos, mas parece se encantar com o mundo fantástico descrito pela irmã mais moça, talvez evocando lembranças de sua própria infância.

Mesmo não aparecendo com frequência no filme animado de 1951, o Valete de Copas possui grande destaque no livro original e nos outros filmes baseados na obra. Ele é funcionário da Rainha de Copas e acaba tendo sua inocência questionada quando é acusado de furtar as tortas da monarca, sendo vítima de um julgamento injusto.

Tweedledee e Tweedledum foram incluídos tanto na versão clássica da Disney quanto na versão dirigida por Tim Burton (2010). Esses gêmeos surgiram no livro subsequente de Lewis Carroll, intitulado Alice Através do Espelho. Apesar de suas aparências idênticas, os dois também pensam da mesma forma, impossibilitando-os a brigar, mesmo quando tentam.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.