O soneto "Ouvir Estrelas" é parte da coleção Via Láctea, do livro de estreia do escritor brasileiro Olavo Bilac.
O soneto XIII de “Via Láctea” tornou-se célebre ao ser destacado na antologia “Poesias”, que foi publicada em 1888.
A lírica parnasiana é exemplificada por meio dos versos de Bilac.
Ouvindo Estrelas em Sua Plenitude
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
Examinando a Análise
O soneto nº XIII de Poesias, intitulado Ouvir Estrelas, encontra-se na coletânea Via Láctea, entre Panóplias e Sarças de Fogo.
A poesia de Bilac foi inspirada pela paixão pel a poetisa Amélia de Oliveira (1868-1945), irmã de Alberto de Oliveira (1857-1937). O tema do amor, característico da obra do poeta, é resultado dessa relação.
Apaixonado, o eu-lírico dialoga com as estrelas, transparecendo seu afeto. Quem o ouve entende o sonho como um devaneio.
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”
O eu-lírico não se importa com a acusação e continua a sua necessidade de dialogar com as estrelas, mesmo deixando as janelas abertas para ouvir melhor suas vozes. A conversa com os astros se estende por toda a noite, nunca minguando.
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
Quando o sol nasce, a tristeza invade o coração do apaixonado. Torna-se impossível suportar essa dor, então ele se recolhe ao abraço da sua tristeza e agonia, aguardando a chegada do anoitecer.
No meio do poema, aspas são usadas para indicar a presença de alguém que acusa o eu-lírico de desconectar-se da realidade para falar com as estrelas. A resposta dada a esse argumento foi inequívoca:
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
O poema trata do sentimento do enamoramento, mas é concebido de forma universal para que qualquer pessoa cujo coração já tenha vibrado com o encantamento de uma amada possa se sentir tocado.
Estes versos são inabaláveis, preservando-se intactos ao longo do tempo, pois refletem os sentimentos tão peculiares ao ser humano, não sendo dependentes de qualquer contexto temporal ou geográfico.
Apesar de não sabermos o nome da amada que é mencionada nos versos de Ora (direis), nem mesmo qualquer característica física sobre ela, é possível ouvir as estrelas.
O poeta canta amor com contenção neoclássica, evitando o sentimentalismo excessivo característico da época romântica.
Bilac é um representante típico do Parnasianismo, caracterizado pelo rigor formal e estilístico. Em seu poema Via Láctea, podemos notar a presença da rima.
Declamação de Poesia
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Descubra a Via Láctea na íntegra
A Vida e Obra de Olavo Bilac
Nascido no Rio de Janeiro no dia 16 de dezembro de 1865, Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac - mais conhecido nas rodas literárias como Olavo Bilac - faleceu na mesma cidade aos 53 anos, em 28 de dezembro de 1918.
Influenciado pelo pai – que fora médico e serviu o Exército na Guerra do Paraguai –, Olavo Bilac ingressou no curso de Medicina em 1881. Porém, desistiu ao final do quarto ano, trocando a formação médica pela literatura e jornalismo.
Em 1883, Olavo Bilac publicou seus primeiros poemas no jornal dos estudantes da Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. No ano seguinte, o seu soneto Neto foi publicado na Gazeta de Notícias. A partir daí, Bilac conseguiu que muitos de seus versos sejam divulgados por meio de publicações regionais e nacionais. Cinco anos depois, em 1888, seu livro Poesias foi lançado.
Em 1885, o poeta romântico começou a ter um relacionamento com Amélia, que se tornou uma grande inspiração para os seus poemas de amor. O sucesso do rapaz na área artística durante as duas primeiras décadas do século XX foi tão grande que seus sonetos eram muitas vezes recitados em saraus e eventos literários.
A poesia de Olavo Bilac apresenta-se no âmbito do Parnasianismo, mas o autor teve o cuidado de criar versos híbridos, unindo a tradição francesa à lusitanidade.
Olavo Bilac foi um dos integrantes fundadores da Academia Brasileira de Letras, tendo criado a cadeira nº 15, que tem como patrono o poeta Gonçalves Dias.
Hino à Bandeira, cuja letra foi escrita pelo poeta, é uma curiosidade.
As obras poéticas de Olavo Bilac incluem as seguintes publicações:
- Poesias, 1888
- Crônicas e novelas, 1894
- Sagres, 1898
- Crítica e fantasia, 1904
- Poesias infantis, 1904
- Conferências literárias, 1906
- Tratado de versificação, com Guimarães Passos, 1910
- Dicionário de rimas, 1913
- Ironia e piedade, 1916
- Tarde, 1919