Análise dos 15 Melhores Poemas de Olavo Bilac


Escrito por Laura Aidar

Apontado como o maior nome do parnasianismo nacional, Olavo Bilac (1865—1918) foi um destacado poeta, escritor e jornalista brasileiro.

O autor foi reconhecido por sua produção diversificada, que incluiu poemas de amor, contos infantis, ensaios políticos e sociais.

1. Homenagem a um Poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego,

Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço: e trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua

Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio

Do mestre. E natural, o efeito agrade

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade

Este soneto de Olavo Bilac é celebrado como um dos mais conhecidos. Nele, o poeta transmite a sua visão e ensinamentos sobre a prática da escrita, como se fosse um recado a outro poeta.

Ele descreve o processo de composição poética como um trabalho difícil e doloroso. Apesar disso, ele argumenta que o resultado final não deve refletir esses esforços.

O eu-lirico defendia que o "suplício do mestre" deveria ficar escondido do leitor. Então, ao contrário dos modelos poéticos da época, ele acreditava que o resultado final da obra deveria parecer um processo fluente e natural.

Ele acreditava que a beleza estava na simplicidade, a despeito do processo envolvido na sua criação ser extremamente complexo. Para ele, os artifícios estavam ausentes e o que era aparentemente simples era o que possuía beleza.

2. Viver a Velhice

O neto:

Vovó, por que não tem dentes?

Por que anda rezando só.

E treme, como os doentes

Quando têm febre, vovó?

Por que é branco o seu cabelo?

Por que se apóia a um bordão?

Vovó, porque, como o gelo,

É tão fria a sua mão?

Por que é tão triste o seu rosto?

Tão trêmula a sua voz?

Vovó, qual é seu desgosto?

Por que não ri como nós?

A Avó:

Meu neto, que és meu encanto,

Tu acabas de nascer…

E eu, tenho vivido tanto

Que estou farta de viver!

Os anos, que vão passando,

Vão nos matando sem dó:

Só tu consegues, falando,

Dar-me alegria, tu só!

O teu sorriso, criança,

Cai sobre os martírios meus,

Como um clarão de esperança,

Como uma benção de Deus!

"Velhice" é uma composição poética que cativa o público infantil. Ela retrata duas visões distintas e complementares acerca da vida, da passagem do tempo e dos laços familiares. É uma peça emocionante e profunda.

No início, o neto, uma criança, faz diversas perguntas, inclusive algumas desconfortáveis, pois não compreende a velhice nem as dificuldades que a avó enfrenta.

A segunda metade da mensagem é uma profunda declaração de amor da mulher idosa. Apesar de ter vivido muito e experimentado grandes dificuldades, seu amor e força se intensificaram ao ver o seu neto chegar ao mundo.

A composição fornece aos jovens leitores a lição de ter mais paciência e compreensão com seus avós, pois eles são origens de felicidade e esperança.

3. Escutar as Estrelas!

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto …

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

"Via Láctea", um dos poemas mais célebres de Olavo Bilac, faz parte de uma coleção de sonetos. Abordando um tema sempre atual - a paixão -, o sujeito poético parece responder às objeções dos que o cercam. Até hoje, muitos ainda o consideram um dos escritos mais relevantes do autor.

Aquele que é apaixonado fala com as estrelas, mas é visto como um sonhador ou até como um louco. O eu-lirico explica que aqueles que não entendem ou criticam, simplesmente precisam passar pela experiência de se apaixonar.

O amor é algo mágico, capaz de conferir encanto à vida cotidiana. Ele desperta o desejo de descobrir uma realidade própria dos apaixonados, que só eles conseguem compreender, e que pode parecer absurda aos outros.

4. Uma Tarde de Outono

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas

Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.

Outono... Rodopiando, as folhas amarelas

Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,

Visitaste este mar inabitado e morto,

Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,

Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos

A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...

Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,

E contemplo o lugar por onde te sumiste,

Banhado no clarão nascente do arrebol...

Ao olhar pela janela da natureza, o sujeito do poema projeta seus sentimentos: as cores vibrantes e a melancolia do outono se assemelham a ele.

Sua tristeza é consequência de uma partida e o narrador sinta um desgosto profundo pela ausência de um amor que se foi, representado pela metáfora de um navio no oceano. Logo, a amada seria o "lindo barco" e ele o "mar calmo" que foi navegado por curto espaço de tempo.

Ao relembrar o relacionamento fugaz com a outra pessoa, o sujeito é tocado por um sentimento de tristeza. Porém, os bons momentos passados juntos ainda permanecem em sua memória: os beijos, os risos, a felicidade do encontro. Tudo isso parece ter sido levado pelo vento quando a outra partiu.

5. Um Toque de Amor

Foste o beijo melhor da minha vida,

ou talvez o pior... Glória e tormento,

contigo à luz subi do firmamento,

contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:

queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,

e do teu gosto amargo me alimento,

e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,

batismo e extrema-unção, naquele instante

por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,

beijo divino! e anseio delirante,

na perpétua saudade de um minuto...

O sujeito poético narra com profundidade a paixão inesquecível que marcou uma passagem decisiva de sua vida. Os sentimentos que alimenta são tão intensos que o beijo trocado foi, ao mesmo tempo, o melhor e o pior momento vivido por ele.

Apesar de a saudade de sua amada ser infinita, o sujeito poético ainda deseja estar com ela e sofre muito com a sua ausência. O seu envolvimento é tão intenso que pode ser comparado a uma subida aos céus e posterior descida aos infernos. Tão grande é a sua tristeza que ele chega a querer ter morrido junto com ela.

6. O Coração Ferido

Ao coração que sofre, separado

Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,

Não basta o afeto simples e sagrado

Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,

Nem só desejo o teu amor: desejo

Ter nos braços teu corpo delicado,

Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem

Não me envergonham: pois maior baixeza

Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem

Ser de homem sempre e, na maior pureza,

Ficar na terra e humanamente amar.

Neste soneto, o sujeito confessa seu sofrimento de estar separado da pessoa que ama. Ele confessa que seu amor vai além do platônico, e que necessita senti-lo presente para abraçá-lo e beijá-lo, a fim de experienciar a paixão de perto.

O eu-lírico chega à conclusão de que seus sentimentos e pensamentos são naturais, corretos e humanos, assim não se sente envergonhado por seus desejos.

De acordo com sua opinião, não há necessidade de abdicar das experiências da vida terrena, dos prazeres materiais, em prol da ética religiosa. Por isso, não é recomendável trocar "a terra pelo céu".

Aceitando a sua humanidade, e com ela, a sua imperfeição, é natural querer encontrar e viver o amor. Não há nada de errado nisso.

7. A Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,

Deixei dormir a minha maldição,

- Hoje, velha e cansada da amargura,

Minh'alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,

Sobre a tua cabeça ferverão

Vinte anos de silêncio e de tortura,

Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo Ideal perdido!

Pelo mal que fizeste sem querer!

Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!

Pela tristeza do que eu tenho sido!

Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...

Esta composição apresenta um sentimento de revolta face à rejeição amorosa, diferentemente dos poemas que foram examinados.

Ele manteve-se dentro de si por muito tempo, mas agora precisa deixar sair aquilo que está sentindo, como se fosse lava a sair de um vulcão.

Ele confessou que há duas décadas guarda uma mágoa - a "maldição" - que lhe foi imposta pela mulher a quem se dirige no poema. Chama-a de "maldita" porque ela causou-lhe dor ao rejeitar o seu amor. Esta situação de sofrimento mudou o estado de espírito deste homem, os seus dias não têm alegria e ele sente-se condenado por culpa dela.

8. Cantemos o Hino à Bandeira do Brasil

Salve, lindo pendão da esperança,

Salve, símbolo augusto da paz!

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas

Este céu de puríssimo azul,

A verdura sem par destas matas,

E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever;

E o Brasil, por seus filhos amado,

Poderoso e feliz há de ser.

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Sobre a imensa Nação Brasileira,

Nos momentos de festa ou de dor,

Paira sempre, sagrada bandeira,

Pavilhão da Justiça e do Amor!

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Em 1906, Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro, encomendou ao poeta parnasiano o Hino à Bandeira do Brasil. Posteriormente, o compositor Francisco Braga musicou a letra, dando a oportunidade ao povo brasileiro de conhecer a nova bandeira nacional.

Esta composição exprime um sentimento de amor ao Brasil, trazendo uma mensagem de esperança e otimismo ao país. Baseada nas cores e elementos da bandeira, ela mostra o quanto o povo brasileiro ama a sua terra e mantém a fé que um futuro promissor espera por nós - um Brasil "forte" e "feliz".

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9. Árvores Antigas

Olha estas velhas árvores, mais belas

Do que as árvores novas, mais amigas:

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas

Vivem, livres de fomes e fadigas;

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!

Envelheçamos rindo! envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,

Agasalhando os pássaros nos ramos,

Dando sombra e consolo aos que padecem!

O sujeito poético descobre na natureza uma espécie de reflexo de suas emoções. Além disso, ao notar as árvores mais antigas, ele se encanta com sua resistência e beleza, pois elas sobreviveram a muitas vicissitudes ao longo dos anos.

Falando com um amigo, o interlocutor expressa uma ideia otimista sobre como o envelhecimento pode trazer paz e sabedoria. Ele usa uma metáfora para refletir sobre como a juventude é algo que se perde, mas que há recompensas ao envelhecer.

10. A Dança do Fogo-fátuo

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma

A esta tortura de homem e de artista:

Desdém pelo que encerra a minha palma,

E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma

E logo me enregela; esta conquista

De idéias, ao nascer, morrendo na alma,

De mundos, ao raiar, murchando à vista:

Esta melancolia sem remédio,

Saudade sem razão, louca esperança

Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida

Para fugir o que o meu sonho alcança,

Para querer o que não há na vida!

O poema se intitula "Fogo-fátuo", uma alusão a um fenômeno da natureza que sempre inspirou mistério e criou lendas e mitos. Trata-se de uma chama azul de curta duração que surge nos cadáveres em estado de putrefação.

O sujeito poético encontra-se na velhice, algo bem evidente pelos seus cabelos brancos. Nesta fase, ele ainda busca uma tranquilidade que nunca lhe foi dada, expondo seu estado de inquietude tanto como indivíduo quanto como poeta.

Em meio a uma enorme mistura de sentimentos, a vontade de adquirir o que deseja e não consegue, mantém-no como um "eterno insatisfeito" até o fim.

11. Aurora do Amor

Um horror grande e mudo, um silêncio profundo

No dia do Pecado amortalhava o mundo.

E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo

Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,

Disse:

"Chega-te a mim! entra no meu amor,

E à minha carne entrega a tua carne em flor!

Preme contra o meu peito o teu seio agitado,

E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!

Abençôo o teu crime, acolho o teu desgosto,

Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!

Vê! tudo nos repele! a toda a criação

Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...

A cólera de Deus torce as árvores, cresta

Como um tufão de fogo o seio da floresta,

Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios;

As estrelas estão cheias de calefrios;

Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...

Vamos! que importa Deus? Desata, como um véu,

Sobre a tua nudez a cabeleira! Vamos!

Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;

Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos;

Surjam feras a uivar de todos os caminhos;

E, vendo-te a sangrar das urzes através,

Se emaranhem no chão as serpes aos teus pés...

Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,

Ilumina o degredo e perfuma o deserto!

Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,

Levo tudo, levando o teu corpo querido!

Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:

- Tudo renascerá cantando ao teu olhar,

Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,

Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas!

Rosas te brotarão da boca, se cantares!

Rios te correrão dos olhos, se chorares!

E se, em torno ao teu corpo encantador e nu,

Tudo morrer, que importa? A Natureza és tu,

Agora que és mulher, agora que pecaste!

Ah! bendito o momento em que me revelaste

O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime!

Porque, livre de Deus, redimido e sublime,

Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,

- Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!"

A Alvorada do Amor é uma obra-prima. Ela retrata o momento em que Adão e Eva são expulsos do Paraíso depois que Eva mordeu o fruto proibido, dando início ao pecado original. Fora do Éden, eles encontram o desconhecido, a descrença e a punição divina.

Adão se encontra em um estado de êxtase ao lado da sua amada. Apesar da raiva divina e dos elementos da natureza que se opõem ao casal, ele não está bravo ou com medo, mas sim cheio de alegria.

Adão encarou o pecado de Eva como "bendito", pois o seu significado deu-lhe a perceção de que o paraíso era insubstituível para o amor que sentia por ela. Olavo Bilac celebra assim a verdade do ser humano e os seus desejos íntimos.

12. A Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac escreveu um dos sonetos mais marcantes que se debruça sobre a história da língua portuguesa. O poema relembra que o idioma tem suas origens no latim vulgar, dando-nos a chance de nos conectar com nossa história.

A língua, que é caracterizada por ser suave e bruta, tem usos e finalidades variadas. Ela atravessou o oceano Atlântico para chegar ao território brasileiro.

Lembrando que o idioma que seus ouvidos conheciam desde a infância era o mesmo usado por Camões, não apenas nas suas obras magistrais, mas também nos momentos de desolação enquanto ele chorava no exílio.

13. Explorando o Dualismo

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...

Vives ansiando, em maldições e preces,

Como se, a arder, no coração tivesses

O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;

E, rolando num vórtice vesano,

Oscilas entre a crença e o desengano,

Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,

Não ficas das virtudes satisfeito,

Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,

Residem juntamente no teu peito

Um demônio que ruge e um deus que chora.

Refletindo sobre a sua humanidade e imperfeição, o sujeito da lírica de Olavo Bilac é apresentado como um ser cheio de defeitos e angustiado, a viver numa ânsia eterna. O eu-lírico descreve seus conflitos interiores e observa suas alterações de humor e comportamento, examinando a sua dualidade interna.

Ele tem altos e baixos, indo da incredulidade à otimismo. Aprendeu que pode cometer os piores e os melhores atos. É como se fosse uma entidade dual, contendo dentro de si o anjo e o diabo.

14. Enxergar o Mundo com Outros Olhos

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse

Teu grande amor que é teu maior segredo!

Que terias perdido, se, mais cedo,

Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo

Aos homens, afrontando-os face a face:

Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio

Deste amor, que minhalma se consome

De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:

E, fatigado de calar teu nome,

Quase o revelo no final de um verso.

Desafiando as normas da época, o sujeito expressa o quanto se cansou de esconder o seu amor. Ele provoca a sua amada, questionando o que eles perderiam ao assumirem o relacionamento e sublinhando que isso provocará inveja nos outros homens.

O sentimento amoroso que domina o eu-lírico é tão intenso que é difícil para ele conter-se. A amada ocupa tanto espaço em sua mente que o nome dela quase escapou em seu poema.

15. Olha para Mim!

Olha-me! O teu olhar sereno e brando

Entra-me o peito, como um largo rio

De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando

O ermo de um bosque tenebroso e frio.

Fala-me! Em grupos doudejantes, quando

Falas, por noites cálidas de estio,

As estrelas acendem-se, radiando,

Altas, semeadas pelo céu sombrio.

Olha-me assim! Fala-me assim! De pranto

Agora, agora de ternura cheia,

Abre em chispas de fogo essa pupila...

E enquanto eu ardo em sua luz, enquanto

Em seu fulgor me abraso, uma sereia

Soluce e cante nessa voz tranqüila!

Início do soneto, o sujeito faz um apelo a quem ouve: "olha-me". A seguir, ele repete o pedido, dizendo agora: "fala-me".

O eu-lírico suplica à mulher amada que preste atenção a ele, afirmando que seu olhar e sua voz exercem um grande poder sobre si.

Apesar de tanta tristeza e revolta, o sujeito não consegue evitar sentir ternura quando confessa que está sofrendo e sendo devorado pela luz dela. É como se ela fosse uma sereia, seduzindo-o e destruindo-o ao mesmo tempo.

A Poesia Parnasiana de Olavo Bilac

Nascido em 16 de dezembro de 1865 no Rio de Janeiro, Olavo Bilac foi incentivado por seu pai médico a começar a estudar Medicina aos 15 anos. Contudo, ele acabou optando pela carreira de Direito, desistindo da faculdade.

Em meio ao passar dos dias, o jovem desenvolveu um grande amor pelas letras e passou a trabalhar como redator na Gazeta Acadêmica. Assim, colocou seu pé no caminho do jornalismo.

Bilac foi uma figura importante para o panorama artístico e político do seu tempo. Ao frequentar a vida boêmia carioca, interagiu com vários personagens marcantes. Além disso, defendeu as ideias republicanas e nacionalistas assumindo cargos escolares. No entanto, foi com a poesia que ele alcançou a fama e se eternizou na história.

Apelidado de "príncipe dos poetas brasileiros", o escritor foi reconhecido como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tornando-se assim um dos principais nomes da literatura brasileira.

Ilustração de Olavo Bilac.

Sua poesia foi destaque no cenário nacional principalmente devido à influência do Parnasianismo, uma escola literária de origem francesa caracterizada pelo rigor e preciosismo de suas composições.

Nos seus poemas, observa-se a presença da metrificação fixa, típica da escola parnasiana, além da preferência por versos alexandrinos. O uso de vocabulário rebuscado, rimas invulgares e a predominância do soneto são outras características que podem ser notadas no trabalho de poesia de autores parnasianos.

No que diz respeito à lírica de Bilac, assuntos universais como o amor, as emoções humanas e a passagem do tempo são o que mais se destacam, apesar dos cuidados tomados durante sua criação.

Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.