Explicação do Príncipe de Maquiavel


Escrito por Sónia Cunha

Publicada em 1532, a obra "O Príncipe", escrita por Nicolau Maquiavel (1469-1527), é considerada um dos mais influentes ensaios de política da cultura ocidental. Estudada frequentemente nas áreas do direito, da filosofia e da sociologia, ela tem se tornado uma grande referência nas ciências humanas.

Em sua obra clássica, Maquiavel escreveu sobre mais do que a forma como um político deve obter o poder; ele também tratou de como devem ser tomadas medidas para que a figura de liderança seja mantida.

Análise da obra O Príncipe

Em sua obra mais famosa, Maquiavel escreveu sobre a política na prática, e não exclusivamente na teoria. Seu trabalho, dividido em 26 capítulos, apresenta uma visão real sobre como a política é praticada, além de ideias que podem ser encontradas em livros.

Durante muitos anos, o escritor viveu nos bastidores do poder de Florença e reuniu coragem para expressar em palavras aquilo que considerava adequado e adequado e inadequado para um político assumir o poder. Ele expressou os seus pontos de vista sobre o que é ético e condenável.

Maquiavel obteve sua compreensão da moralidade na política através de uma observação direta das circunstâncias políticas de Florença. Ao escrever O Príncipe, ele buscava transmitir seu profundo conhecimento de assuntos políticos à família Médici, a fim de recuperar seu antigo cargo público.

Com a saída de Soderini do poder, Maquiavel afastou-se do cenário público de Florença. Ainda assim, o autor conseguiu demonstrar, através dos seus escritos, que acompanhava as questões políticas da corte florentina e dos principais centros da Europa.

Lorenzo di Piero de Médici (1492-1519) era o destinatário do livro de Maquiavel. Ele governou Florença durante três anos, sendo o alvo de tentativas de impressionar por parte de Maquiavel.

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Segundo Maquiavel, em O Príncipe, a organização é fundamental para que as sociedades sejam saudáveis, pois sem ela haverá anarquia e, consequentemente, conflitos.

O escritor acredita que, por natureza, o ser humano é egoísta e corruptível, tendendo a pensar em seu próprio prazer primeiro. Por isso, cabe ao Estado controlar as relações entre as pessoas e aos líderes buscar o bem-estar da sociedade, impedindo que ações egoístas individuais causem prejuízo ao todo.

Organizar a cidade é fundamental para assegurar o bem-estar da sociedade. Para isso, é necessário garantir que os destruidores não tenham controle sobre o espaço público. Com isso, o controle político se torna essencial para alcançar o interesse comum.

De acordo com Maquiavel, a vida política é necessária para que os homens não causem destruição uns aos outros. Esta perspectiva contraria a tese dos filósofos gregos que diziam que o bem comum e a felicidade eram fundamentais para criar a vida política. Assim, pode-se concluir que a postura de Maquiavel a respeito do assunto é pessimista se comparada à daqueles filósofos.

Atributos de um Príncipe

De acordo com Nicolau Maquiavel, para que um príncipe seja capaz de governar e alcançar a estabilidade no poder, é necessário que ele possua cinco características: piedade, lealdade, humanidade, honestidade e espiritualidade.

O líder não precisa necessariamente ter todas essas características, porém o povo precisa ter a impressão de que ele as possui. Para isso, o príncipe terá de simular esses atributos e assim conseguir persuadir as pessoas a mantê-lo no cargo, mesmo que seja uma apresentação enganosa de suas qualidades.

O líder deve ter sempre uma postura de autoridade e confiança, porém deve ter em mente que os seres humanos pensam primeiramente em seu auto interesse. Portanto, o líder deve ter cuidado em relação a lealdade dos seus súditos, mantendo sempre um postura de desconfiança. Dessa forma, pode-se evitar que seus seguidores um dia se torne seu rival.

Governando com Sucesso

Para liderar, um príncipe necessita acumular boa sorte e desenvolver habilidades de administração e negociação.

Maquiavel dizia que governantes deveriam ter "jogo de cintura". Isto não se tratava de um significado malicioso ou cruel, mas sim de ter uma característica diplomática, habilidade de "saber estar" e de ser capaz de mediar.

Maquiavel defende que um bom príncipe deve estar em constante vigilância, pronto para agir de acordo com a dinâmica da política. Além disso, essa figura necessita apresentar firmeza para manter a segurança do país, até mesmo com a possibilidade de entrar em conflitos e guerras.

De acordo com Maquiavel, o líder político deveria ser ao mesmo tempo amado e temido. No entanto, se não for possível possuir ambas as qualidades, o intelectual recomenda que seja priorizado o medo, em detrimento do amor.

Maquiavel escreve que, às vezes, mesmo que um político não consiga honrar sua palavra, deve ser imponente para que o povo o respeite. Deve haver um senso de temor por parte dos súditos, mas o líder não deve sucumbir às suas medidas.

"É necessário para o príncipe ser amado e temido; mas, é melhor ser temido do que amado, pois o amor é frágil e o temor é duradouro". Maquiavel destaca, em sua obra, a importância de um líder ser simultaneamente amado e temido pelo seu povo. Essa ideia é amplamente conhecida pela sua citação: "O príncipe deve ser amado e temido; contudo, é preferível ser temido do que amado, pois o amor é frágil e o temor é duradouro".

Daí nasce uma controvérsia, qual seja: se é melhor ser amado ou temido. Pode-se responder que todos gostariam de ser ambas as coisas; porém, como é difícil conciliá-las, é bem mais seguro ser temido que amado, caso venha a faltar uma das duas. Porque, de modo geral, pode-se dizer que os homens são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, avessos ao perigo, ávidos de ganhos; assim, enquanto o príncipe agir com benevolência, eles se doarão inteiros, lhe oferecerão o próprio sangue, os bens, a vida e os filhos, mas só nos períodos de bonança, como se disse mais acima; entretanto, quando surgirem as dificuldades, eles passarão à revolta, e o príncipe que confiar inteiramente na palavra deles se arruinará ao ver-se despreparado para os reveses.

Ética na Política

Mentir, distorcer os fatos, ameaçar os opositores, tirar dinheiro e poder dos ricos e dar aos pobres, usar de charme, palavras bonitas e de efeito… para manter-se no poder!

De acordo com Maquiavel, em O Príncipe, a habilidade de manipular a realidade é uma característica fundamental para um político, podendo isso incluir mentir ou iludir a fim de se manter no poder.

Muitos interpretam Maquiavel como um escritor que defende a desonestidade. Na realidade, ele queria mostrar como a máquina política funciona, mesmo que para isso muitos líderes optem por um comportamento que é eticamente duvidoso. O objetivo final é sempre o mesmo: se manter no poder.

Embora Maquiavel não tenha escrito a frase “os fins justificam os meios”, ela ajuda a compreender a essência de sua obra O Príncipe.

A palavra maquiavélico, que hoje em dia é usada pejorativamente para se referir a quem age com astúcia e manipulação para alcançar seus objetivos, é uma herança do forte estigma que cercava os escritores de época.

Histórico Contexto

A família Médici foi um grande império na região de Florença, governando por cerca de 100 anos. Durante esse longo período, a cidade de Florença foi o berço do humanismo, a capital do Renascimento, e foi um foco de atividade cultural, social e política.

Embora a Itália não estivesse ainda unificada, havia uma grande incerteza na região, o que resultava em numerosos conflitos. Estes conflitos geravam uma série de batalhas sangrentas.

Florença não seguia o modelo monárquico típico de muitos Estados europeus daqueles tempos. Ao contrário, era uma República, cujo poder era controlado pelas mãos de algumas famílias de extrema riqueza.

Nascido e falecido em Florença, Nicolau Maquiavel era um forte apoiador da República, desempenhando papéis importantes na política como, por exemplo, chanceler, embaixador e conselheiro.

Vendo a estrutura política que acreditava ser a ideal ruir, Maquiavel sofreu severas consequências: foi preso, torturado e exilado no campo devido ao fim da República.

Maquiavel acreditava que o futuro de Florença estava nas mãos de Lorenzo di Piero de Médici e, por isso, dirigiu-se a ele para reaver sua função como conselheiro. Ele decidiu escrever um livro para mostrar de forma clara e acessível seu profundo conhecimento sobre a sociedade.

Maquiavel e sua Influência na Vida Política Italiana

Maquiavel criou O Príncipe em 1513, com a intenção de que o livro fosse lido por Lorenzo di Piero de Médici (1492-1519). Lorenzo governava Florença na época e era o neto de Lourenço de Médici, o Magnífico. O Príncipe foi publicado em 1532, cinco anos depois da morte de Maquiavel.

A família de Lorenzo era influente na região há décadas, mas Lorenzo por si só esteve no poder por apenas três anos.

Durante o período que vai do século XV ao XVI, Nicolau Maquiavel presenciou uma etapa significativa na política, em que os governos pós Idade Média começaram a se consolidar de forma mais sólida.

Em 1498, Maquiavel foi nomeado secretário e segundo chanceler da República Florentina, sendo considerado um dos mais influentes nomes da vida pública naquela região.

Maquiavel acompanhou Júlio II na sua eleição para o papado, em 1503, e também liderou a formação de uma força de infantaria durante a conquista da cidade de Pisa, em 1509.

Em 1512, Maquiavel foi privado de seu poder, e teve que sofrer tortura e prisão. Ele buscou abrigo junto à sua esposa e seus seis filhos, no campo. Esta experiência de reclusão foi fonte para suas maiores obras, dentre elas O Príncipe.

A Atemporalidade da Obra 'O Príncipe'

Através de sua obra, Maquiavel dialoga conosco até os dias de hoje, retratando o comportamento comum entre aqueles que escolhem a vida política. Apesar de ter sido escrito num contexto histórico totalmente diferente, seus ensinamentos ainda são importantes para compreendermos o mundo atual.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.