Os Novos Baianos são um ícone da década de 70. Em uma época de revolução, eles marcaram um novo estilo de produção musical que ainda é lembrado e serviu como inspiração para novas gerações de artistas brasileiros. De 1969 a 1979, eles deixaram sua marca na música nacional.
Por que não revisitamos alguns dos grandes sucessos dos anos passados?
1. O Mistério do Planeta
Vou mostrando como sou e vou sendo como posso.
Jogando meu corpo no mundo,
andando por todos os cantos
e pela lei natural dos encontros,
eu deixo e recebo um tanto.
E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas.
Passado, presente,
participo sendo o mistério do planeta.
A letra de "Mistério do Planeta" aborda o tema da identidade. O narrador da canção faz uma reflexão sobre quem ele é e qual é sua finalidade neste mundo.
Através de palavras, o sujeito poético busca por si próprio um lugar que possa habitar. Aceitando todas as experiências que a vida traz para ele, ele adota um estilo de vida jovial e aventureiro.
A obra trata da necessidade de união, de encontro, de cooperação e de solidariedade com o próximo. Só assim a figura poética acredita que tem um propósito na Terra: se abraçando ao outro.
2. A Dança da Menina
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
Com a letra de Luiz Galvão e a música de Moraes Moreira, nasceu uma canção destinada à voz de Baby Consuelo. Ela retrata uma jovem que possui autoridade sobre si mesma, se sentindo completa e com a força para conseguir o que deseja.
A música aborda o tema da independência e da liberdade, especialmente da mulher, mas também pode ser interpretada de forma a abranger o ser humano em geral.
Durante o período de ditadura militar no Brasil, o governo impôs uma rigorosa censura e repressão. Foi aí que a canção se tornou especialmente significativa, pois representava um ato de coragem e revolução.
3. A Pequena Preta
Enquanto eu corria, assim eu ia
eu ia lhe chamar enquanto corria a barca
Por minha cabeça não passava
Só, só, somente só
Assim vou lhe chamar, assim você vai ser
Lá iá lá lá iá, lá lá lá iá, lá iá
Preta, preta, pretinha
eu ia lhe chamar enquanto corria a barca
O compositor do conjunto, Luiz Galvão, escreveu a música Preta Pretinha em homenagem a uma jovem que ele conhecera e com quem tivera um romance. Ela o apresentou a seu pai, mas, posteriormente, desistiu dele para voltar para seu namorado.
A travessia da Ponte Rio-Niterói é evocada na canção "Barca", interpretada por Moraes Moreira. A música conta a história de um amor proibido entre uma menina do outro lado da Baía de Guanabara e um rapaz que morava no apartamento dos Novos Baianos, em Botafogo, Rio de Janeiro. Esta canção tornou-se um dos clássicos mais reconhecidos da música popular brasileira.
A música original possuía sete minutos de duração, porém foi criada uma versão alternativa mais curta.
4. Dançando Swing em Campo Grande
Minha carne é de carnaval
O meu coração é igual
Minha carne é de carnaval
O meu coração é igual
Minha carne é de carnaval
O meu coração é igual
Aqueles que têm uma seta
e quatro letras de amor
por isso onde quer que
eu ande em qualquer pedaço
eu faço
Swing de Campo Grande é a expressão perfeita para a euforia e animação que são marcas dos Novos Baianos. A canção, com suas metáforas, remete ao carnaval baiano, que é a terra natal dos membros da banda.
A letra da música tem um tom místico e espiritual que remete à geração hippie dos anos setenta. É possível perceber também um sentimento de celebração e união entre os membros do grupo, que era característico desta cultura.
5. Tu És a Besta
Besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu.
Não viver nesse mundo, se não há outro mundo.
(Por que não viver?)
Não viver nesse mundo.
(Porque não viver?)
Se não há outro mundo.
(Por que não viver?)
Não viver outro mundo.
A letra de Moraes Moreira é carregada de um mote simples, que se repete ao longo de toda a canção. Esta servia como um tipo de mantra a ser completado pelos jovens em suas reuniões sociais.
O autor próprio assumiu que aquela geração consomeu LSD, e que a música foi resultado de uma dessas viagens em grupo.
Também aqui somos apresentados a descrições de situações comuns, mas cheias de significado e trazendo à tona questões existenciais. Uma tentativa de responder aos questionamentos filosóficos que nos acompanham.
6. O Choro Chegou ao Fim
Talvez pelo buraquinho
Invadiu-me a casa
Me acordou na cama
Tomou o meu coração
E sentou na minha mão.
Abelha, abelhinha...
Acabou chorare
Faz zunzum pra eu ver
A composição de "1972", que deu nome ao disco lançado naquela época, é a faixa mais importante do conjunto. Escrita por Luiz Galvão e com musica de Moraes Moreira, ela foi inspirada em uma situação real.
Luiz Galvão ficava surpreendido com a mesma situação que acontecia com certa regularidade quando vivia com os Novos Baianos no sítio Casinha do Vovô: uma abelha entrava pela janela e parava na sua mão. Esta curiosa ocorrência despertou em Luiz uma oportunidade de desenvolver uma canção.
João Gilberto é considerado pelos jovens como a grande inspiração para a profunda estética da música, que utiliza variados ruídos. Ele é considerado o guru espiritual por esses seguidores.
7. Tocando o Brasil no Pandeiro
Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, Pendura a saia eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá
Em "Brasil Pandeiro", há um tributo ao samba vindo dos Novos Baianos. Composta por Assis Valente em 1940, ela foi originalmente para Carmen Miranda, mas foi recusada pela artista. Assis Valente era um amigo de João Gilberto.
Ao ser recusado, João Gilberto pensou nos seus discípulos e decidiu enviar a música para os Novos Baianos. Estes, por sua vez, aceitaram de imediato a proposta.
A música Brasil Pandeiro aborda a diversificação da cultura brasileira, resultado da interação com o exterior. Com uma sonoridade cheia de energia e vigor, ela retrata nosso universo cultural, rico em múltiplas influências e nuances.
Explorando os Novos Baianos
Começando a Jornada
Em 1969, o projeto O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal foi realizado no Teatro Vila Velha, em Salvador (Bahia), marcando o início da formação do grupo.
Durante o período de ditadura militar, os Novos Baianos, um grupo grandemente influenciado pela Tropicália, marcaram a história por meio da sua mistura única de ritmos, que incluíam bossa nova, frevo, baião, rock e choro.
Moraes Moreira, como vocalista e violonista, encabeçava a formação, juntamente com Luiz Galvão, compositor. Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo (vocalista) e Pepeu Gomes (guitarrista) completavam o grupo.
O álbum de estreia, É Ferro na Boneca, foi marcado pela sonoridade intensa do rock com elementos regionais.
Qual é o Significado do Nome Novos Baianos?
"É o Boca Livre!". Quando Marcos Antônio Riso, coordenador do V Festival de Música Popular Brasileira em 1989, não encontrou um nome apropriado para os músicos que se inscreveram no evento, ele decidiu berrar na hora da apresentação: "É o Boca Livre!". Assim, a banda ganhou seu nome de forma curiosa.
“Chama esses novos baianos”
O grupo foi batizado com êxito. Confira o vídeo da ocasião de seu baptizo:
Vivendo Juntos
Os Novos Baianos mudaram-se da Bahia para São Paulo, estabelecendo-se em uma comunidade anárquica de forma unida e solidária.
Todos decidiram seguir para o Rio de Janeiro - especificamente Jacarepaguá - para aproveitar ainda mais o tempo juntos. A ideia era viver de forma hippie, a fim de criar um interação ainda mais forte. Parece que o plano deu certo.
A Ascensão e a Decadência
A revista Rolling Stones elegeu o terceiro álbum da banda Acabou Chorare (1972) como o melhor disco já produzido na história da música brasileira.
Em 1973, os Novos Baianos lançaram seu álbum F.C., sendo seguido no ano seguinte pelo álbum Novos Baianos.
Durante algum tempo, o conjunto criativo manteve suas apresentações, porém decidiram por sua dissolução definitiva em 1979.
Após Moraes Moreira anunciar a desistência do projeto para seguir carreira solo, os demais integrantes acabaram por optar por fazer o mesmo.
Em 1997, os Novos Baianos se reuniram para lançar o disco duplo Infinito Circular. Mais de dez anos depois, em 2016, eles se juntaram novamente para realizar uma série de shows.
Ouça os Novos Baianos no Spotify
A Cultura Genial preparou uma seleção especial de músicas para este artigo. Confira!
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