Biografia de Nicolau Maquiavel e Suas Obras Mais Importantes


Escrito por Rebeca Fuks

O intelectual italiano do Renascimento, Nicolau Maquiavel (1469 — 1527), deixou um grande legado no pensamento político moderno.

Niccolò Machiavelli, nascido na República Florentina, foi reconhecido por sua contribuição às áreas da filosofia, diplomacia, história, poesia e música. Além disso, destacou-se em outras áreas.

O livro O Príncipe é hoje a principal lembrança do autor, assim como o adjetivo "maquiavélico" criado para caracterizar a sua obra e as interpretações que ela foi capaz de suscitar.

Uma Breve Biografia de Maquiavel

Carreira Política na Juventude

Nascido em 1469, em Florença, na República Florentina, Nicolau Maquiavel foi o terceiro de quatro irmãos de Bartolomea e Bernardo de' Nelli. Apesar de não serem ricos, seus pais o apoiaram em seus estudos, o que o permitiu frequentar a Universidade de Florença, onde aprendeu línguas clássicas e cálculo.

Não são conhecidos muitos detalhes sobre o início da vida deste grande pensador. A partir dos 29 anos, a sua história passa a ser escrita, quando entra na política como secretário da Segunda Chancelaria.

Retrato de Nicolau Maquiavel

Embora não existam provas a respeito do que motivou a escolha de Maquiavel para o cargo, algumas fontes afirmam que ele já teria exercido funções naquela área anteriormente, enquanto outras acreditam que foi por meio da indicação de Marcelo Virgilio Adriani, um antigo professor.

Após essa ocasião, Nicolau Maquiavel começou suas tarefas diplomáticas em nome da Republica Florentina por vários locais da Europa. Durante esse tempo, ele teve contato e viu de perto as ações dos grandes governantes daquela época.

César Bórgia, o Duque Valentino, é o nome mais conhecido entre eles. Filho do Papa Alexandre VI, ficou famoso por sua violência.

Maquiavel se casou com Marietta Corsini em 1501. Ele teve seis filhos, porém apenas cinco chegaram à idade adulta.

A Influência de Maquiavel na Dinastia Médici

A família Médici exerceu grande influência na Itália durante o Renascimento. O destino de Nicolau Maquiavel, durante aquela época, foi entrelaçado com o destino desta família. Na península italiana, numerosos estados rivais disputavam entre si os territórios, criando um cenário de luta contínua.

Em meio às muitas incertezas, Lourenço de Médici conseguiu unir os estados italianos em face aos perigos externos. Sua destituição, no entanto, acabou abrindo caminho para a República, durante a qual Maquiavel foi nomeado.

Quando Médici voltou ao poder, Maquiavel acabou sendo destituído, punido com uma multa e exilado da cidade. Além disso, seu nome apareceu na lista de inimigos do estado e ele foi preso e submetido a torturas.

Após incríveis reviravoltas, Maquiavel encontrou uma brecha de esperança graças à família Médici. Em 1513, João de Lourenço de Médici, filho do influente estadista, tomou a posição de Papa Leão X e concedeu a Maquiavel uma anistia especial.

Literatura do Exílio e os Anos Finais

Depois de ser libertado, Maquiavel deixou Florença e foi para a província, onde se dedicou integralmente à escrita através do seu exílio.

Neste período, o autor compôs várias obras notáveis, tais como O Príncipe, e também redigiu a História de Florença, a solicitação de Clemente VII, que sucedeu Leão X na Papado.

Estatua de Nicolau Maquiavel

Após a República de Florença ter sido restaurada em 1527, após o ciclo dos Médici ter acabado, Maquiavel não era bem-vindo na cidade devido à sua ligação ao antigo governo.

Em 2020, ele faleceu devido a severas dores intestinais e foi enterrado na Basílica de Santa Cruz.

Principais Livros de Maquiavel

Nicolau Maquiavel foi uma pessoa típica de seu período histórico, no entanto, seus escritos causaram grande impacto e desafiaram a moral estabelecida.

Durante a segunda metade do século XV, os estados italianos foram palco de um embate entre duas ideias opostas: de um lado, a Igreja Católica; do outro, o pensamento renascentista.

No Renascimento, a visão do Homem como centro do universo foi recuperada, desafiando a supremacia da Igreja. Nas obras de Nicolau Maquiavel, o poder político foi considerado algo dissociado da moral religiosa.

Devido às suas antigas ideias e posições, o diplomata foi visto como uma ameaça para a religião e até relacionado com o diabo.

Da obra "O Príncipe", de Niccolò Machiavelli, surgiu o adjetivo "maquiavélico". Segundo o dicionário, ele significa "pérfido", "astucioso" ou "sem escrúpulos" e ainda é usado até hoje.

Ao analisarmos o contexto histórico no qual Maquiavel estava inserido, bem como aquilo que contribuiu para a sua "famosa maldade", torna-se claro que é importante não perder de vista essas questões.

O Herdeiro Real

O Príncipe, obra do renomado Maquiavel, é, sem dúvida, a mais conhecida de suas obras e a que causou mais polêmica. Escrito em 1513 e publicado apenas vinte anos mais tarde, após a morte do autor, quando já estava exilado, seu conteúdo despertou muita controvérsia.

Esta obra é formada por vinte e seis capítulos, abordando temas ligados ao governo, ao estado e à ética. Trata-se, na realidade, de uma obra de orientação política para governantes, destinada a lhes ensinar como manter e ampliar o seu domínio.

Ao longo de sua carreira como diplomata, Maquiavel teve contato com reis e estadistas, fato que contribuiu para suas reflexões. Acredita-se que seu livro tenha sido escrito com o intuito de agradar a família Médici e, assim, voltar a Florença.

Capa do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.

Maquiavel, um pensador do Renascimento, defendia a postura humanista que enfatizava o Homem como medida de todas as coisas. Isso levou a questionar o domínio absoluto da Igreja sobre a política.

Num contexto de instabilidade na península italiana, o filósofo acreditava que os governantes deveriam se moldar às circunstâncias do momento e fazer o que for necessário para conservar sua posição. Portanto, não era aconselhável que a moral religiosa determinasse as ações de um rei ou estadista.

Maquiavel refletiu sobre a necessidade de uma "razão de estado", com a intenção de separar a ética religiosa da política. Esta perspectiva busca promover e dar prioridade aos interesses do governo.

No livro O Príncipe, Maquiavel foge das ideias idealistas e estabelece uma abordagem realista para a análise dos acontecimentos políticos. Por essa razão, é frequentemente considerado um dos precursores da Ciência Política.

A Estética da Batalha

A obra de Maquiavel intitulada "O Príncipe", composta entre 1519 e 1520, expressa o seu pensamento político. Esta obra, junto com outras produzidas pelo autor, é considerada marco na história do pensamento político moderno.

No seu trabalho, o filósofo examina a relevância das forças militares e sua adequada organização. Para isso, oferece um prefácio e sete capítulos com referências clássicas.

Capa do livro A Arte da Guerra, de Maquiavel.

Nicolau Maquiavel, num contexto de lutas e disputas pelo domínio de territórios, refletiu sobre a relação entre o exército e o Estado. A sua análise apontava para a necessidade de existência de exércitos fortes para a manutenção da estabilidade política de uma organização governamental.

Para Maquiavel, o povo precisava de liberdade, mas também de proteção. Para isso, era necessária a presença de forças armadas, que estivessem preparadas para defender e atacar, se necessário.

Citações de Nicolau Maquiavel

O desejo de conquista é algo muito natural e comum; aqueles que obtêm êxito na conquista são sempre louvados, e jamais censurados; os que não têm condições de conquistar, mas querem fazê-lo a qualquer custo, cometem um erro que merece ser recriminado.

Chegamos assim à questão de saber se é melhor ser amado do que temido. A resposta é que seria desejável ser ao mesmo tempo amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito mais seguro ser temido, se for preciso optar.

É um vício comum a todos os homens, o não se importar com a tempestade no perdurar da bonança.

Quando os homens não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição.

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Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).