O geógrafo, professor e intelectual brasileiro negro Milton Santos (1926-2001) foi altamente reconhecido.
Repensar a maneira como o ser humano se relaciona com o território é fundamental para refletir sobre a vida social e política.
Ele era um ferrenho oponente à globalização e à forma como ela foi implementada, pois acreditava que ela gerava cada vez mais desigualdade.
Ele propunha uma reorganização da sociedade, dando às regiões marginais maior liberdade e autoridade para tomar decisões.
A Vida de Milton Santos
No dia 3 de maio de 1926, Milton Santos nasceu na Bahia, em Brotas de Macaúba. Ele era filho de Adalgisa Umbelina de Almeida Santos e de Francisco Irineu dos Santos.
Desde criança, foi alfabetizado pelos próprios pais, que eram professores. Tendo parte de sua infância no Instituto Baiano de Ensino, um colégio interno, foi possível crescer com uma base sólida na educação.
O interesse do garoto pela geografia aflorou cedo, e aos 15 anos já estava ensinando os colegas. Em 1948, aos 22 anos, ele finalizou seus estudos de direito na Universidade Federal da Bahia.
Depois de lecionar geografia por 10 anos, ele obteve o título de doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo, na França.
Milton estava envolvido em várias atividades de esquerda e lutava contra o racismo durante todo esse período.
Durante sua carreira como jornalista, ele trabalhou para o periódico de Salvador A tarde e para a Folha de São Paulo. Em 1960, ele viajou para Cuba em companhia de Jânio Quadros, o presidente na época, em função de seu trabalho de reportagem.
Após algum tempo, o intelectual foi nomeado sub-chefe da Casa Civil e representante estadual da Bahia no governo.
No ano de 1964, ocupou a cadeira de presidência na Comissão Estadual de Planejamento Econômico e apresentou a ideia de instituir um imposto direcionado para fortunas consideráveis, causando algumas divergências. Ainda na mesma data, exerceu a função docente na Universidade Federal da Bahia.
Devido à ditadura militar que estava sendo vivida no Brasil, Milton Santos foi despedido da universidade por causa de sua postura de defender os pensamentos da esquerda e os direitos humanos.
Após sua prisão, o geógrafo ficou por dois meses no encarceramento, sendo liberado devido a complicações de saúde.
Após ter sido libertado, ele decidiu por um auto-exílio e ministrou aulas em diversas partes do planeta, como a Europa, América do Norte, América Latina e África.
Em 1977, Milton retornou ao Brasil, oferecendo um grande contributo para a instalação de uma nova metodologia de ensino geopolítico no país.
Em 1994, o intelectual brasileiro foi o único a receber o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, um reconhecimento de grande prestígio que se equipara ao Prêmio Nobel de Geografia.
Milton Santos faleceu aos 75 anos, no dia 24 de junho de 2001, devido a um câncer de próstata que já vinha tratando há 7 anos.
Herança de Milton Santos
O geógrafo brasileiro de mais renome é sem dúvida um intelectual. Sua obra reflete um posicionamento crítico diante da realidade mundial e propõe uma visão renovada, que dá prioridade ao ser humano.
O estudo do território, da paisagem, do lugar e do espaço geográfico foram essenciais para o trabalho de Milton, que dedicou sua vida ao ensino sobre esses temas, que eram pouco abordados na geografia. Por meio deles, o entendimento dos povos, de suas lutas e resistências foi ampliado.
O professor se debruçou sobre a realidade sócio-econômica de países que eram considerados como "países de terceiro mundo" ou "subdesenvolvidos". Ele acreditava que um progresso dessas nações poderia resultar em grandes transformações sociais.
Ele foi um dos innovadores no entendimento da geografia, combinando a economia, a filosofia e a sociologia.
A Globalização e Milton Santos
Milton, um geógrafo, criticava a globalização, pois acreditava que ela só beneficiava um pequeno grupo de pessoas ricas. Para ele, essas pessoas aproveitavam-se dos espaços, territórios e mão de obra de maneira injusta, causando uma miséria generalizada em várias regiões do mundo.
Milton identificou três modos de compreensão da globalização. O primeiro deles é o "globalização como fábula", uma representação fantasiosa divulgada pela mídia ao público.
Por outro lado, a "globalização como perversidade" é mais realista, resultando em desemprego, miséria e falta de recursos básicos para grande parte da população mundial.
Uma abordagem diferente da globalização é proposta para a criação de um mundo novo. Esta possibilidade pode ser alcançada se os povos se unirem e usarem os recursos materiais já existentes.
Principais Obras de Milton Santos
Milton Santos foi extremamente produtivo na sua carreira, tendo dedicado seu trabalho a mais de 40 publicações literárias, que foram traduzidas para os idiomas inglês, espanhol, japonês e francês.
"A história da civilização ocidental" e "A grande história mundial". Entre seus trabalhos de maior relevância, destacam-se os títulos: "A história da civilização ocidental" e "A grande história mundial".
- O Centro da Cidade de Salvador (1959)
- A Cidade nos Países Subdesenvolvidos (1965)
- Espaço e Sociedade (1979)
- Ensaios sobre a Urbanização Latino-Americana (1982)
- Espaço e Método (1985)
- A Urbanização Brasileira (1993)
- Por uma outra Globalização: Do pensamento único à consciência universal (2000)
Os trabalhos do geógrafo têm sido fundamentais para a compreensão de seu pensamento e contribuíram para a disseminação de uma consciência mais ampla acerca das relações humanas com as dimensões territoriais, culturais e econômicas.
Milton delineou algumas linhas de ação para resolver a profunda desigualdade que está acontecendo no mundo.
Em Por uma outra Globalização: Do pensamento único à consciência universal, o autor oferece ao leitor um olhar profundo sobre os processos da contemporaneidade e uma nova perspectiva sobre a história mundial, a fim de proporcionar condições para um mundo mais equitativo.
Conteúdo interessante
- As Cinco Obras Mais Notáveis de Graciliano Ramos
- Leia 12 escritoras negras
- Vida, Obra e Características do Escritor Machado de Assis
Citações de Milton Santos
A partir de frases de um grande intelectual baiano, selecionamos algumas e incluímos comentários sobre elas.
O homem deixou de ser o centro do mundo. O que vemos hoje é o dinheiro como o centro do mundo. Isso por conta da política que se instalou, proposta pelos economistas e imposta pela mídia.
Milton Santos debate a inversão de valores que temos na nossa sociedade. O capitalismo atual prioriza o poder e o lucro de grandes empresas ao invés do bem estar coletivo. Assim, ele sugere que deveríamos dar mais atenção às necessidades sociais.
A economia, embora sugira políticas que negligenciam o bem-estar humano, é propagada como sendo benéfica pelos meios de comunicação, deixando as pessoas em segundo plano.
Nunca na história da humanidade houve condições técnicas e científicas tão adequadas a construir o mundo da dignidade humana, apenas essas condições foram expropriadas por um punhado de empresas que decidiram construir um mundo perverso.
O geógrafo destaca a disparidade entre o progresso tecnológico e o acesso restrito a uma existência satisfatória para muitas pessoas.
A responsabilidade pela desigualdade social recai sobre as grandes corporações, grupos de empresas que usam a tecnologia apenas para procurar o lucro. Embora o conhecimento tecnológico possa ajudar a humanidade a seguir um caminho mais equitativo e solidário, essas empresas não o exploram dessa forma.
A globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada.
Milton Santos refere-se à ideia de que, pelo mecanismo econômico atual, as empresas se aproveitam do planeta da forma que mais as beneficia. Isso vem afetando os valores humanos como a cooperação e a solidariedade, que foram enfraquecidos.
Com isso, a individualidade e o egocentrismo passam a predominar, pois cada um luta para sobreviver.
A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une.
O intelectual aqui sugere que a alienação, a falta de compreensão da realidade, se intensifica quando os indivíduos focam nas diferenças entre eles, aumentando ainda mais a distância entre eles.
Assim, se as pessoas tiverem consciência das forças que atuam contra elas, entenderem seus sofrimentos, alegrias e necessidades em comum, pode haver um aumento na capacidade do povo de se erguer contra a opressão.