Cantoras Brasileiras: 10 Músicas Famosas


Escrito por Laura Aidar

Algumas vozes femininas ficaram marcadas na história da música e da cultura brasileira. Elas têm canções que se tornaram parte dos nossos momentos mais memoráveis e que ainda fazem parte do nosso dia a dia.

Descubra a seleção das músicas mais famosas interpretadas por cantoras brasileiras que separamos para você!

1. Herdando os Valores de Nossos Pais: Elis Regina

A música "Como Nossos Pais", de Belchior, interpretada por Elis Regina, é um documento cultural importante que reflete a angústia da geração vencida pela ditadura militar e o conservadorismo no Brasil. É uma representação significativa do período conturbado da história brasileira.

A necessidade que os jovens sentem de descobrir coisas por meio da experiência faz com que viver se torne algo urgente. Ao contrário de sonhos e desejos, a vida é mais importante que tudo isso.

Os sinais estão lá; avisos de "cuidado" e "perigo" que nos previnem do piores dos resultados: "eles venceram".

O ser humano foi feito para se relacionar com os outros, para demonstrar amor e afeto, como abraços e beijos. Isto é o que nos torna verdadeiramente humanos, expresso em uma atmosfera que não deve ser marcada por repressão ou ameaça, mas pelo amor e paz.

A ideia central do movimento hippie foi a de paz e amor, uma geração de jovens se reunindo em busca de liberdade, suas cabeças e cabelos ao vento. Uma reminiscência a tempos recentes de luta e perseverança.

A instauração da ditadura militar roubou bruscamente o seu quotidiano e estilo de vida, causando um profundo retrocesso social e cultural no Brasil.

Elis canta sobre a tristeza da juventude cercada por fronteiras inexploradas. Embora tenham lutado e se esforçado, esta geração se viu presa ao seu passado, condenada ao mundo dos seus pais. "O sinal está fechado" - eles não têm nenhuma escolha senão aceitar o destino que lhes foi imposto.

Não quero lhe falar meu grande amor

Das coisas que aprendi nos discos

Quero lhe contar como eu vivi

E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar

Eu sei que o amor é uma coisa boa

Mas também sei

Que qualquer canto é menor do que a vida

De qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem

Há perigo na esquina

Eles venceram e o sinal

Está fechado pra nós

Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão

E beijar sua menina, na lua

É que se fez o seu braço,

O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta pela minha paixão

Digo que estou encantada como uma nova invenção

Eu vou ficar nesta cidade não vou voltar pro sertão

Pois vejo vir vindo no vento cheiro da nova estação

Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração...

Já faz tempo eu vi você na rua

Cabelo ao vento, gente jovem reunida

Na parede da memória essa lembrança

É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber

Que apesar de termos feito tudo o que fizemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Como os nossos pais...

Nossos ídolos ainda são os mesmos

E as aparências não enganam não

Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer que eu tô por fora

Ou então que eu tô inventando...

Mas é você que ama o passado e que não vê

É você que ama o passado e que não vê

Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei que quem me deu a ideia

De uma nova consciência e juventude

Tá em casa, guardado por Deus

Contando vil metal...

Minha dor é perceber que apesar de termos

Feito tudo, tudo, tudo o que fizemos

Nós ainda somos os mesmos e vivemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Ainda somos os mesmos e vivemos

Como os nossos pais...

2. Ferida Fera: Maria Bethânia

Roberto Carlos e Erasmo Carlo são responsáveis pela composição da famosa música brasileira, Fera Ferida, que aborda o término complicado de um relacionamento.

A letra expressa a jornada do sujeito para sair de uma relação tóxica que o prejudicava. Embora ele tenha conseguido escapar da situação, ainda sente os efeitos do trauma. Mesmo assim, ele persiste, mantendo sua força e resistência.

Com tantas cicatrizes do passado, ele achava que tinha perdido a esperança e seus sonhos estavam desfeitos. Antigamente, se via como um animal "domesticado", acorrentado e sem a capacidade de lutar, mas agora se encara como um "bicho livre".

Apesar de tentar superar o desgosto amoroso que experimentou, não consegue deixar de lembrar e se sente como se suas "cicatrizes falassem". Assim, optou pela liberdade incondicional e decidiu viver sozinho e sem destino, assegurando que não vai mudar.

Acabei com tudo

Escapei com vida

Tive as roupas e os sonhos

Rasgados na minha saída

Mas saí ferido

Sufocando meu gemido

Fui o alvo perfeito

Muitas vezes no peito atingido

Animal arisco

Domesticado esquece o risco

Me deixei enganar

E até me levar por você

Eu sei quanta tristeza eu tive

Mas mesmo assim se vive

Morrendo aos poucos por amor

Eu sei, o coração perdoa

Mas não esquece à toa

E eu não me esqueci

Não vou mudar

Esse caso não tem solução

Sou fera ferida

No corpo, na alma e no coração

Não vou mudar

Esse caso não tem solução

Sou fera ferida

No corpo, na alma e no coração

Eu andei demais

Não olhei pra trás

Era solto em meus passos

Bicho livre, sem rumo, sem laços

Me senti sozinho

Tropeçando em meu caminho

À procura de abrigo

Uma ajuda, um lugar, um amigo

Animal ferido

Por instinto decidido

Os meus rastros desfiz

Tentativa infeliz de esquecer

Eu sei que flores existiram

Mas que não resistiram

A vendavais constantes

Eu sei que as cicatrizes falam

Mas as palavras calam

O que eu não me esqueci

Não vou mudar

Esse caso não tem solução

Sou fera ferida

No corpo, na alma e no coração

3. Maravilhoso Divindade, Todo Mundo Adora

No ano de 1968, o país se encontrava no auge da repressão militar, desencadeada pelo Ato Institucional Número Cinco, concedendo autorização para a supressão de direitos, tortura e censura. Nesse mesmo período, Caetano Veloso e Gilberto Gil compuseram um tema que foi eternizado pela voz de Gal Costa, marcando a época da tropicália.

A música popular brasileira exerceu um papel importante na crítica, denúncia e resistência ao regime autoritário. Por exemplo, em Divino Maravilhoso, o protagonista alerta seus companheiros para que prestem atenção e mantenham suas visões vigilantes, pois "tudo é perigoso".

Esta música conhecida mundialmente é um hino de resistência que nos lembra que devemos lutar, nunca desistir e nos manter sempre "alerta e forte".

Reclamando para que prestem atenção ao refrão, ao palavrão e à palavra de ordem, um povo que sofria com a opressão manifestava seu descontentamento em diversos âmbitos, inclusive na música e nas artes.

A violência, a ameaça e o sangue são temas que a canção aborda de forma recorrente. Porém, ela também destaca a ideia de que "tudo é divino maravilhoso", mostrando que, mesmo diante da tragédia, há esperança de que as coisas possam melhorar.

Insista na necessidade de perseverar: "Não podemos nos dar ao luxo de ter medo da morte".

Atenção ao dobrar uma esquina

Uma alegria, atenção menina

Você vem, quantos anos você tem?

Atenção, precisa ter olhos firmes

Pra este sol, para esta escuridão

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino maravilhoso

Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

Atenção para a estrofe e pro refrão

Pro palavrão, para a palavra de ordem

Atenção para o samba exaltação

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino maravilhoso

Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

Atenção para as janelas no alto

Atenção ao pisar o asfalto, o mangue

Atenção para o sangue sobre o chão

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino maravilhoso

Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

4. Clementina de Jesus na Linha do Mar

A partir dos 60 anos, Clementina de Jesus começou sua carreira como cantora brasileira de samba. Apelidada de "mãe" e admirada por muitos artistas, ela gravou diversos álbuns de MPB. Usando influências dos cânticos tradicionais que aprendeu com sua mãe, filha de escravos, ela se tornou um símbolo de representatividade.

Clementina alcançou grande sucesso na música brasileira, com uma voz e estilo únicos que desafiou os padrões da época. Sua música "Na Linha do Mar", composta por Paulinho da Viola, foi um elemento fundamental para alavancar a carreira da cantora e torná-la uma artista importante na cena musical brasileira.

Sujeito agradece o novo amanhecer, apesar de insatisfeito com a realidade e o "mundo de ilusão". Vê a importância de manter o pensamento positivo, conservar o sorriso e ter uma boa atitude diante da vida e das outras pessoas.

Com sabedoria, ele relata os atos de ingratidão e traição sofridos, mas também deixa claro que as coisas boas em sua vida o protegeram como um escudo. Através do seu amor e coragem, ele afirma que pode vencer qualquer veneno que possa surgir.

Galo cantou às quatro da manhã

céu azulou na linha do mar

vou-me embora desse mundo de ilusão

quem me ver sorrir

não há de me ver chorar

flechas sorrateiras, cheias de veneno

querem atingir o meu coração

mas o meu amor sempre tão sereno

serve de escudo pra qualquer ingratidão

5. A Criança do Rio: Baby Consuelo

A voz de Baby Consuelo, atualmente Baby do Brasil, dá vida a uma linda ode de Caetano Veloso aos jovens cariocas. Num tom de admiração e alegria, fala sobre o espírito jovial, descontraído e 'vadio' desses garotos sempre presentes nas praias da cidade.

A música foi inspirada pelo surfista carioca Petit (José Artur Machado), famoso na praia de Ipanema. O sujeito da canção declara que adora vê-lo passar e expressa seu amor, esperando que seja recebido "como um beijo".

A canção "Menino do Rio" é muito querida pelos cariocas. Infelizmente, o destino de Petit foi triste. Ele sofreu um acidente e, posteriormente, cometeu suicídio. As palavras de Caetano perpetuam a memória deste artista brilhante.

Menino do rio

Calor que provoca arrepio

Dragão tatuado no braço

Calção, corpo aberto no espaço

Coração de eterno flerte, adoro ver-te

Menino vadio

Tensão flutuante do rio

Eu canto para Deus proteger-te

Menino do rio

Calor que provoca arrepio

Dragão tatuado no braço

Calção corpo aberto no espaço

Coração de eterno flerte, adoro ver-te

Menino vadio

Tensão flutuante do rio

Eu canto para Deus proteger-te

O Havaí, seja aqui, o que tu sonhares

Todos os lugares

As ondas dos mares

Pois quando eu te vejo

Eu desejo o teu desejo

Menino do rio

Calor que provoca arrepio

Toma esta canção como um beijo

6. Rita Lee: A Ovelha Negra

Rita Lee é considerada uma das grandes figuras do cenário musical brasileiro. Sua atitude rebelde e suas músicas, características da década de 70, ajudaram a transformar o Brasil. Ovelha Negra se tornou um grande sucesso, emblemático da carreira da cantora a solo.

"Tudo Mudou", de Rita Lee, simboliza o que ela representa: desobediência e pensamento crítico. A canção conta a história de uma jovem que, repentinamente, é arrancada de sua atmosfera de paz e segurança doméstica.

A moça sofre com a rejeição do pai, que se mostra conservador e não aceita os seus comportamentos. Desse modo, ele a repudia, posicionando-a como "a ovelha negra da família". Esse conflito revela o abismo de mentalidades que separa pais e filhos.

A cantora inspira que é possível para qualquer um se desviar de tudo que é conhecido e buscar a própria trilha, encontrando o seu caminho. Uma narrativa de desenvolvimento e decisões individuais, ela mostra que é possível passar por essa jornada.

Levava uma vida sossegada

Gostava de sombra e água fresca

Meu Deus quanto tempo eu passei

Sem saber

Foi quando meu pai me disse filha

Você é a ovelha negra da família

Agora é hora de você assumir

E sumir

Baby baby

Não adianta chamar

Quando alguém está perdido

Procurando se encontrar

Baby baby

Não vale a pena esperar, oh não

Tire isso da cabeça

Ponha o resto no lugar

Levava uma vida sossegada

Gostava de sombra e água fresca

Meu Deus quanto tempo eu passei

Sem saber

Foi quando meu pai me disse filha

Você é a ovelha negra da família

Agora é hora de você assumir

E sumir

Baby baby

Não adianta chamar

Quando alguém está perdido

Procurando se encontrar

Baby baby

Não vale a pena esperar, oh não

Tire isso da cabeça

Ponha o resto no lugar

7. Veneno Suave, Nana Caymmi

Suave Veneno, música de amor marcante composta por Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi interpretada por Nana Caymmi, e fala de um relacionamento complexo, com sentimentos de amor e ódio misturados no título mesmo.

O sujeito associa a paixão a uma "doença", a qual pode "curar" ou "matar". Suas recaídas o fazem ter consciência de que precisa se manter longe desse amor, mas sua resistência é em vão.

Vivo encantado de amor

Inebriado em você

Suave veneno que pode curar

Ou matar sem querer por querer

Essa paixão tão intensa

Também é meio doença

Sinto no ar que respiro

Os suspiros de amor com você

Suave veneno você

Que soube impregnar

Até a luz de outros olhos

Que busquei nas noites pra me consolar

Se eu me curar deste amor

Não volto a te procurar

Minto que tudo mudou

Que eu pude me libertar

Apenas te peço um favor

Não lance nos meus

Esses olhos de mar

Que eu desisto do adeus

Pra me envenenar

8. Mantenha o Samba Vivo, Alcione

A canção "Não Deixe o Samba Morrer" foi composta por Edson Conceição e Aloísio Silva e foi gravada pela artista Alcione, tornando-se o primeiro grande êxito da cantora.

Declarando seu amor pela música e pela profissão de sambista, o sujeito afirma que quando não for mais capaz de desfilar junto à sua escola na avenida, o seu lugar será passado para quem o merecer.

O seu último desejo para os mais jovens é que guardem as tradições. Como um adeus, ele deseja deixar seu legado, seus conhecimentos e vê-los da plateia.

Os mais novos devem lembrar-se que o samba não vai desaparecer, pois é um produto da sua cultura, uma parte fundamental da história e da identidade do seu povo.

Quando eu não puder

Pisar mais na avenida

Quando as minhas pernas

Não puderem aguentar

Levar meu corpo

Junto com meu samba

O meu anel de bamba

Entrego a quem mereça usar

Eu vou ficar

No meio do povo espiando

Minha Escola perdendo ou ganhando

Mais um carnaval

Antes de me despedir

Deixo ao sambista mais novo

O meu pedido final

Antes de me despedir

Deixo ao sambista mais novo

O meu pedido final

Não deixe o samba morrer

Não deixe o samba acabar

O morro foi feito de samba

De Samba, pra gente sambar

9. Valente Maria Rita, Cara Amada

Composta por Marcelo Camelo e gravada por Maria Rita em 2003, Cara Valente tornou-se um dos maiores sucessos do primeiro álbum da cantora. Esta música, que apresenta uma sátira e uma crítica social bem humorada, conta a história de um homem teimoso e egoísta, destinado à solidão.

Depois de se afastar da pessoa que amava, está vivendo com as consequências de suas escolhas. Sozinho, inseguro e incapaz de expressar seus sentimentos, ele precisa fingir que é forte, ameaçador, na tentativa de se defender do mundo. O indivíduo dirige-se ao recipiente da mensagem, dizendo que não há mais necessidade de mentir, pois não está iludindo mais ninguém.

Comportamentos como a antipatia, a "cara amarrada" e a brutalidade são usados como mecanismos para afastar os outros e se alimentar das próprias mágoas. A música nos lembra de pensar sobre o estilo de vida que escolhemos e as consequências que isso poderia trazer.

Não, ele não vai mais dobrar

Pode até se acostumar

Ele vai viver sozinho

Desaprendeu a dividir

Foi escolher o mal-me-quer

Entre o amor de uma mulher

E as certezas do caminho

Ele não pôde se entregar

E agora vai ter de pagar

Com o coração

Olha lá!

Ele não é feliz

Sempre diz

Que é do tipo cara valente

Mas veja só

A gente sabe

Esse humor

É coisa de um rapaz

Que sem ter proteção

Foi se esconder atrás

Da cara de vilão

Então, não faz assim, rapaz

Não bota esse cartaz

A gente não cai não

Ê! Ê!

Ele não é de nada

Oiá!

Essa cara amarrada

É só!

Um jeito de viver na pior

Ê! Ê!

Ele não é de nada

Oiá!

Essa cara amarrada

É só!

Um jeito de viver

Nesse mundo de mágoas

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10. A Elza Soares, Mulher do Fim do Mundo

Mulher do Fim do Mundo, lançado em 2015, significou um marco na carreira de Elza Soares. Ela abordou assuntos que lhe são significativos neste álbum de músicas inéditas, como a defesa dos direitos das mulheres e dos cidadãos negros.

Ao longo da letra de Mulher do Fim do Mundo podemos perceber a transformação de caos e euforia em algo positivo. A narrativa nos mostra como a mulher enfrenta dificuldades e as supera com alegria, música e dança. O Carnaval surge como um cenário apocalíptico que permite que haja catarse coletiva, união e celebração.

Após a devastação do mundo, ela – que assistiu e conseguiu sobreviver a tudo - ainda canta.

Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá

A pele preta e a minha voz

Na avenida, deixei lá

A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar

Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida

Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo

Eu sou e vou até o fim cantar

Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá

A pele preta e a minha voz

Na avenida, deixei lá

A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar

Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida

Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo

Eu sou, eu vou até o fim cantar

Mulher do fim do mundo

Eu sou, eu vou até o fim cantar, cantar

Eu quero cantar até o fim

Me deixem cantar até o fim

Até o fim, eu vou cantar

Eu vou cantar até o fim

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Laura Aidar
Escrito por Laura Aidar

É arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Possui licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formação em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.