Os 12 Poemas mais Conhecidos da Literatura Brasileira


Escrito por Rebeca Fuks

Compilar uma lista de doze poemas consagrados da literatura brasileira é uma tarefa bastante desafiadora, pois existe uma imensa quantidade de versos poéticos que abordam temas como amor, soledade, amizade e tristeza. Estas obras são produzidas por autores contemporâneos, modernos e românticos, tornando ainda mais difícil a escolha de doze poemas destacados.

1. Vinicius de Moraes e o Soneto de Fidelidade (1946)

O poema de amor de Vinicius de Moraes é muito querido por muitos apaixonados ao longo de gerações. Uma das características mais marcantes deste poema é que o eu-lírico não faz nenhuma promessa de amor eterno ou de que o sentimento não mudará com o passar do tempo.

O sujeito poético promete amar com toda sua força enquanto o afeto durar. No entanto, é consciente de que esse amor não é eterno, assim como o fogo se apaga com o tempo. Por isso, assume a entrega, mas não a longevidade da relação.

O fato de se tratar de um sentimento provisório não diminui sua beleza, mas ao contrário, a torna ainda mais interessante. Isso porque, por ser efêmero, ele é uma motivação para que aproveitemos cada momento e o tornemos o mais intenso possível.

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

2. Carlos Drummond de Andrade e o Poema 'No Meio do Caminho' (1928)

Em 1928, Carlos Drummond de Andrade publicou um poema altamente polêmico, que foi mal compreendido e até mesmo rechaçado por causa da grande quantidade de repetições, já que sete dos dez versos contêm a expressão "tinha uma pedra".

O poema tornou-se famoso rapidamente, pois trata de um assunto que todos conhecemos bem: quem nunca se deparou com uma pedra no seu caminho?

Ao longo do nosso caminho, encontramos obstáculos que nos fazem desviar do nosso trajeto desejado. O poema fala de como nós escolhemos como lidar com essas pequenas (ou grandes) surpresas da vida.

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

3. Manuel Bandeira e sua Viagem à Pasárgada em 1930

Ao longo dos tempos, todos nos sentimos tentados a fugir em meio a uma situação complicada. O poema de 1930, “Pasárgada”, é a expressão desses desejos de abandonar tudo e partir em busca de um lugar idealizado e distante.

Pasárgada é a cidade onde o eu-lírico deseja escapar quando a sua realidade presente fica muito opressiva. Esta cidade era a capital do Império Persa, na época do Primeiro Império Persa, e existiu de fato.

O poema de Bandeira é caracterizado por um anseio de liberdade, um desejo de escapar para um lugar onde tudo funciona em perfeita harmonia. O sujeito poético aspira a um repouso e descanso deste mundo.

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe - d’água.

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

- Lá sou amigo do rei -

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

4. Ferreira Gullar e seu Poema Sujo de 1976

O Poema sujo, de Ferreira Gullar, é considerado seu trabalho mais famoso e foi criado em 1976, quando o poeta estava exilado em Buenos Aires.

Esta extensa composição, que compreende mais de dois mil versos, abarca uma vasta área de temas, como a proveniência do poeta, a sua opinião política, a sua própria jornada tanto individual como laboral e a sua visão de um país livre.

Com forte inspiração na autobiografia, o Poema sujo descreve, também, a realidade política e social no Brasil durante a ditadura militar dos anos setenta.

Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís

do Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos

e pais dentro de um enigma?

mas que importa um nome

debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre

cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de

garfos e facas e pratos de louças que se quebraram já

um prato de louça ordinária não dura tanto

e as facas se perdem e os garfos

se perdem pela vida caem pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos

e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira

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5. Cora Coralina: Aprendendo a Viver

A simplicidade e a singeleza são elementos marcantes na poesia da goiana Cora Coralina. Apesar de ter começado a publicar seus versos com 76 anos de idade, a sabedoria presente em seu trabalho é a de alguém que já vivenciou muito e reuniu uma vasta experiência ao longo do seu caminho.

"Saber Viver" é um poema escrito pela autora. Em poucos versos, ela expressa sua poética, refletindo sobre a vida. Seu uso de palavras simples e sintaxe informal tornam essa leitura próxima ao leitor. É como se o eu-lírico estivesse sentado ao seu lado, compartilhando o que ele aprendeu ao longo do caminho.

Nos versos, destacamos a vida em comunidade, a partilha, a entrega e a comunhão com o outro. A partir deste encontro, é possível experimentar momentos de grande prazer.

Não sei…

se a vida é curta

ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos

tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

colo que acolhe,

braço que envolve,

palavra que conforta,

silêncio que respeita,

alegria que contagia,

lágrima que corre,

olhar que sacia,

amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela

não seja nem curta,

nem longa demais,

mas que seja intensa,

verdadeira e pura…

enquanto durar.

6. Cecília Meireles e sua Obra "Retrato" (1939)

A poesia de Cecília é marcada por uma atmosfera íntima, com uma forte presença autobiográfica e autorreflexiva. O seu tom é quase de uma conversa a dois, que cria um laço de intimidade com o leitor. O seu lirismo também aborda questões ligadas à efemeridade do tempo e às mais profundas indagações acerca do sentido da vida.

No poema Retrato, o eu-lírico é apresentado de forma autocentrada, congelado no tempo e espaço através de uma fotografia. A imagem é o ponto de partida para questionamentos sobre sentimentos como melancolia, saudade e arrependimento. É a partir daí que o leitor pode refletir.

Nos versos pares, o poeta busca compreender a contradição entre o passado e o presente, entre o sentimento de outrora e a sensação de desamparo atual, entre o aspecto que se tinha e o que se tem. A jornada de autocompreensão envolve a reflexão acerca das mudanças rápidas que ocorreram e sobre como lidar com elas.

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?

7. Adélia Prado: Com Licença Poética (1976)

Adélia Prado é uma escritora mineira cujo poema mais conhecido é Com licença poética. Esta obra foi publicada em seu livro de estreia intitulado Bagagem.

Até então desconhecida do grande público, a autora se apresenta rapidamente por meio de poucas palavras no poema.

Os versos falam de si mesma, mas também abordam a condição da mulher na sociedade brasileira.

Adélia Prado escreveu um poema em homenagem ao ídolo literário Carlos Drummond de Andrade. O poema, muito similar ao consagrado Poema das Sete Faces, era uma forma de reconhecer tudo que Drummond significava para ela, tanto como um grande escritor, quanto como um amigo e mentor que a incentivou ao começo de sua carreira.

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

8. Música Fosse Incenso (1987), de Paulo Leminski

Recentemente redescoberto pelo grande público, o poeta Leminski provocou encantamento imediato de sua audiência. A lírica dele é baseada em uma sintaxe simples, usando um vocabulário cotidiano, para criar uma conexão com o leitor e criar um espaço de comunhão.

Situado no livro Distraídos venceremos, o poema "Incenso fosse música" é, sem dúvida, um dos mais apreciados. Composto por cinco versos, é como se transmitisse uma dose de sabedoria, condensando ensinamentos e lições num curto espaço.

Neste texto, o eu-lírico incentiva o leitor a encontrar sua própria identidade e a não se deixar desanimar diante dos problemas que surgem. Ele garante que, se continuarmos em frente com esse foco, as portas do futuro se abrirão para nós.

isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

9. A Obra de João Cabral de Melo Neto: Morte e Vida Severina (1954-1955)

Morte e Vida Severina é um ícone da literatura brasileira, escrita pelo poeta do Recife, João Cabral de Melo Neto. O poema conta a história do retirante Severino, que segue em busca de melhores condições de vida, como acontece com tantos outros brasileiros. A obra é conhecida mundialmente por seus versos poéticos.

Uma série de imigrantes nordestinos, liderada por Severino, foi forçada a deixar suas respectivas regiões de origem, o sertão, para buscarem melhores condições de trabalho na capital e litoral.

Conhecido pela sua forte pegada social, o poema trágico é considerado uma das obras-primas do regionalismo brasileiro.

Veja um excerto do poema extenso:

— O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

10. Mario Quintana e o Tempo de 1980

A popularidade de Mario Quintana entre os poetas da literatura brasileira se deve, provavelmente, à simplicidade de suas composições e à facilidade com que o público se identifica com o seu trabalho.

O originalmente intitulado poema 'Seiscentos e Sessenta e Seis' é famoso por seus versos que captam a imparável passagem do tempo. O título também refere-se ao número do mal presente na Bíblia.

O eu-lírico, já próximo ao fim de sua vida, olha para trás e tenta extrair ensinamentos de tudo o que viveu. Não podendo mudar o passado, ele passa adiante o aprendizado das suas experiências, incentivando as pessoas a aproveitarem o melhor das oportunidades, sem se preocupar com aspectos desnecessários.

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

11. A Obra de Hilda Hilst: 'Amavisse' (1989)”

A poeta brasileira Hilda Hilst vem sendo cada vez mais divulgada. Seus poemas costumam explorar os sentimentos amorosos e também abordam temas como o medo, a possessividade e o ciúme.

Amavisse é um excelente exemplo da poesia do eu-lírico, pois aborda seu tema central, bem como evidencia a entrega do poeta.

A palavra latina escolhida para o título, "amatus", significa "ter amado". Os versos expressam um amor intenso e uma paixão total, que toma conta completamente do sujeito poético.

Como se te perdesse, assim te quero.

Como se não te visse (favas douradas

Sob um amarelo) assim te apreendo brusco

Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,

A mim me fotografo nuns portões de ferro

Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima

No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações

Ou contornando um círculo de águas

Removente ave, assim te somo a mim:

De redes e de anseios inundada.

12. Augusto dos Anjos e seus Versos Íntimos (1912)

"Versos Íntimos", o poema mais famoso de Augusto dos Anjos, foi publicado no único livro do autor chamado "Eu". O soneto, escrito quando ele tinha 28 anos, transmite um sentimento profundamente triste e pessimista. A obra é extremamente profunda e carrega um tom de desolação.

Nos versos, vemos como o sujeito se relaciona com aqueles que o cercam e como ele fica frustrado com o comportamento desagradecido.

Em Versos Íntimos, Augusto dos Anjos compôs versos completamente sombrios, não oferecendo nenhuma chance de esperança.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de sua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Rebeca Fuks
Escrito por Rebeca Fuks

É graduada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutorado em Estudos de Cultura pelas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).