Análise e Comentário dos 13 Melhores Livros Infantis da Literatura Brasileira


Escrito por Carolina Marcello

Você talvez já tenha tido a oportunidade de conhecer alguns dos clássicos da literatura infantil e, quem sabe, foi através deles que você desenvolveu um gosto pela leitura.

A partir da metade do século XVIII, o gênero literário da escrita para jovens começou a se desenvolver. No início do século XIX, esse tipo de escrita se tornou acessível no Brasil, despertando o interesse de vários autores importantes da literatura brasileira. Eles empenharam muito trabalho para criar obras que agradassem o público jovem.

A leitura desde cedo contribui para a formação de um indivíduo consciente e curioso. Além disso, ela desperta o interesse pela literatura e possibilita ao pequeno a oportunidade de experimentar vivências e sentimentos mais profundos, que certamente serão úteis na vida adulta.

Conheça as onze histórias infantis que se tornaram verdadeiros clássicos e fazem parte do nosso imaginário coletivo.

1. Ana Maria Machado: Bisa Bia, Bisa Bel (1981)”

Bisa Bia, Bisa Bel

Em 1981, a autora deu vida ao seu desejo de contar sobre a sua família para os seus filhos. Assim surgiu a obra literária, cuja protagonista é uma menina que, ao assistir às arrumações de sua mãe, achou um retrato de Bisa Bia como criança.

A menina ficou encantada ao ver a fotografia da bisavó Beatriz, mas lamentou não ter tido a oportunidade de conhecê-la. Por isso, ela pediu para a mãe emprestar a fotografia.

— Não posso, minha filha. Pra que é que você quer isso? Você nem conheceu sua bisavó...

— Por isso mesmo, para eu ficar com ela para cima e para baixo, até conhecer bem. Levar para a escola, para a praça, para a calçada, pra todo canto. Dá pra mim, dá...

Ana Maria Machado aborda a memória em sua obra infantil, ensinando às novas gerações como vivenciar e se relacionar com o passado da família.

Ao investigar a genealogia da família, Bisa Bia, Bisa Bel promove na menina a reflexão acerca da origem da sua família. É uma oportunidade para compreender melhor ancestralidade, mesmo que alguns antepassados não tenham sido conhecidos pessoalmente. Assim, isso se torna fundamental para o desenvolvimento da identidade da menina.

O livro defende a igualdade de gênero com a representação de personagens femininas tanto na família quanto na sociedade.

2. Eva Furnari - A Bruxinha Atrapalhada (1982)

capa do livro A bruxinha Atrapalhada

A obra A Bruxinha Atrapalhada, de Eva Furnari, é um dos clássicos da literatura infantil brasileira. A autora, nascida na Itália, veio para o Brasil durante a infância.

Lançado em 1982, este livro não necessita de leitura para ser entendido. Seu conteúdo é transmitido através de desenhos, o que o torna acessível a qualquer público, incluindo crianças que ainda não sabem ler. Desta forma, as histórias se tornam disponíveis para um número maior de indivíduos.

A bruxinha está em busca de desenvolver suas habilidades mágicas, às vezes cometendo erros. Esta abordagem é muito interessante para estabelecer uma conexão com o universo infantil, pois as crianças ainda estão em formação e os tropeços fazem parte do processo de autodescoberta.

O livro foi tão bem recebido pelo público e pela crítica que venceu o Prêmio Melhor Livro de Imagem para o Jovem de 1982, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

3. Maria Clara Machado: Pluft, o Fantasminha (1955)

capa do livro Pluft, o fantasminha

O primeiro texto de destaque da autora Maria Clara Machado foi seu livro, originado de uma peça de teatro de 1955. Ela era dramaturga e atriz.

Maribel e Pluft tornaram-se grandes amigos. A história se centra no relacionamento que surge entre eles, quando Maribel, uma jovem, conhece Pluft, um fantasma que vive em uma velha casa e tem medo das pessoas. Juntos, eles vão se divertir e superar o medo de Pluft das pessoas.

Pluft era tímido e inseguro, mas, quando viu que Maribel precisava de sua ajuda, decidiu enfrentar seus medos e salvá-la.

Nesta trama bem humorada, Maria Clara Machado aborda suavemente alguns dos desafios enfrentados pelos seres humanos, tais como o conflito, o auto-aperfeiçoamento e a companheirismo.

4. Marina Colasanti: Uma Ideia Totalmente Azul (1979)

Uma ideia toda azul

O livro de contos de 1979 de Marina Colasanti reúne dez narrativas situadas em mundos paralelos. Estas histórias, que abordam castelos, reinos distantes e bosques encantados, foram ilustradas pela própria escritora.

um mundo mágico. No início do livro, um rei descobre algo inacreditável: um mundo mágico. Lá ele encontra todos os seres místicos que são afastados da nossa realidade, como gnomos, fadas, reis e unicórnios.

Um dia o Rei teve uma ideia. Era a primeira da vida toda, e tão maravilhado ficou com aquela ideia azul, que não quis saber de contar aos ministros. Desceu com ela para o jardim, correu com ela nos gramados, brincou com ela de esconder entre outros pensamentos, encontrando-a sempre com igual alegria, linda ideia dele toda azul.

As obras da escritora Colasanti transportam as crianças a um mundo mágico e maravilhoso, aumentando sua capacidade de imaginar. Com narrativas curtas e envolventes, ela incita os pequenos a explorarem essa realidade paralela.

A autora buscou inspiração nos contos de fadas clássicos para compor a sua criação, muitas vezes reinterpretando histórias que já fazem parte do imaginário coletivo.

Ela optou por parágrafos curtos ao escrever suas narrativas um pouco mais complexas e com poucos diálogos. O objetivo foi proporcionar fôlego aos leitores (tanto aos pequenos quanto aos maiores) e garantir maior facilidade para a leitura.

5. Ziraldo e o Filme 'O Menino Maluquinho' (1980)

O menino maluquinho

Ziraldo escreveu e ilustrou o livro Menino Maluquinho nos anos oitenta, em formato de quadrinhos. A obra narra a travessia e a criatividade do protagonista, repleta de energia, que mais tarde foi adaptada para diversos meios, como televisão, teatro e cinema.

Nos contos de Ziraldo, o protagonista é um garoto que está sempre se metendo em encrencas, o que faz com que as crianças se identifiquem com ele.

Como todas as crianças de dez anos, ele tem uma imaginação profunda, é curioso e sempre disposto a explorar o mundo ao seu redor. Não tem medo de experimentar coisas novas.

Como era hiperativo, o maior defeito do garoto eram suas travessuras, pois ele não conseguia ficar parado.

Ele era muito sabido

ele sabia de tudo

a única coisa que ele não sabia

era como ficar quieto.

Ziraldo deseja que as crianças agitadas se sintam compreendidas e acolhidas quando se deparam com o seu "Menino Maluquinho". Assim, ele espera que elas possam usufruir do convívio com o personagem.

Ver o menino enfrentar uma série de desafios e situações estressantes é algo que pode fortalecer a autonomia e identidade dele.

6. Clarice Lispector e a Mulher que Matou os Peixes (1968)

A mulher que matou os peixes

Clarice é amplamente reconhecida pelo seu estilo literário intenso e profundo. Seus livros sobre literatura adulta são motivo de celebração.

Seus livros infantis são extremamente preciosos. Inicialmente escritos para os próprios filhos, eles foram depois publicados com o intuito de se tornarem uma referência na literatura infantil brasileira. Atualmente, são considerados como tais.

Nesta narrativa, conhecemos uma protagonista repleta de culpa por ter acidentalmente matado dois peixes vermelhos que eram os animais de estimação dos seus filhos. A Mulher que Matou os Peixes nos traz uma história sobre a dor da culpa e o peso que ela carrega.

Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra. Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce: perto de mim nunca deixo criança ou bicho sofrer.

A narradora conta sua história para provar sua inocência, pois não foi intencionalmente que os peixes morreram. O que aconteceu foi que, por estar tão ocupada, ela se esqueceu de alimentá-los.

Ao contar histórias sobre os animais de estimação que teve durante a sua infância, Clarice espera que o seu público consiga colocar-se no seu lugar e compreender a sua inocência. Ela usa a sua própria infância como uma prova de sua inocência, assumindo o seu lugar como uma criança para que o seu público possa se identificar melhor com ela.

Ao longo de vinte e poucas páginas, a narradora ensina ao leitor, seja ele pequeno ou não, como lidar com a dor e o luto bem como o desenvolvimento da compreensão e da capacidade de perdoar.

7. O Filme "Chapeuzinho Amarelo" (1970), de Chico Buarque

Chapeuzinho amarelo

A menina protagonista da história de Chico Buarque, ilustrada por Ziraldo, é marcada por grandes medos. Ela tem medo de tudo.

Com uma referência a Chapeuzinho Vermelho da história contada pelos Irmãos Grimm, Chapeuzinho Amarelo temia a realidade muito comum para as crianças: cair, se machucar e passar mal.

Ela era apavorada por animais, trovões, mesmo comunicando teve medo de se engasgar. Esse medo a impedia de avançar e consequentemente a tornava a sua rotina extremamente difícil.

Ao contar uma história, as crianças são encorajadas a não temer seus medos e a alcançar o que desejam. A narrativa os empoderam e os estimulam a seguir em frente.

Não tem mais medo de chuva nem foge de carrapato. Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato, trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro, com a sobrinha da madrinha e o neto do sapateiro.

8. Cecília Meireles: Escolha entre 'Ou Isto ou Aquilo' (1964)

Em "Ou Isto Ou Aquilo", Cecília Meireles ilustra a necessidade de tomar decisões ao longo do caminho. Ela usa exemplos simples do dia a dia para nos mostrar que não é possível escapar das escolhas que temos de fazer.

Ter consciência da necessidade de decidir é fundamental. Seja qual for a opção, há sempre uma perda. Ao optar por algo, significa que não se poderá ter a outra hipótese.

Nos poemas, a personagem tenta se relacionar com o mundo infantil, descrevendo situações que as crianças certamente irão se identificar pelas suas vivências diárias.

Ou se tem chuva e não se tem sol

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

Versos são, geralmente, bastante musicais, e costumam usar rimas para tornar a memória e o interesse dos leitores mais fáceis.

9. Pedro Bandeira - Papo de Sapato (2005)

Papo de sapato

A ideia criativa de Pedro Bandeira, no livro Papo de Sapato, é: e se os sapatos pudessem contar histórias? O autor é extremamente popular na literatura infantil brasileira.

Encontram-se no lixão sapatos velhos e sem uso. Desde as botas de um general que testemunharam batalhas até a sapatilha de uma bailarina e as chuteiras de um futebolista famoso, tudo pode estar ali.

Os sapatos, todos agora em um estado de abandono, compartilham entre si as memórias de suas experiências com seus respectivos donos.

- E eu? - lamentou-se uma voz aristocrática. -

Pode não parecer, mas eu fui um brilhante sapato de verniz.

Uma noite enluarada como esta me faz lembrar as festas em que estive, nos pés de um cavalheiro de alta linhagem, rodopiando pelos salões da aristocracia, roçando no ritmo das valsas, as pontas dos sapatinhos mais elegantes, calçados pelas mais belas mulheres do mundo!

A obra de Pedro Bandeira nos incita a pensar na cultura consumista que incentiva a aquisição e, posteriormente, a descartagem de produtos. Além disso, convida o público a refletir acerca de um universo mais equilibrado e justo.

À ocasião dos 25 anos de publicação da obra, Ziraldo deu-lhe vida com suas ilustrações.

10. Ruth Rocha - Marcelo, Marmelo, Martelo (1976)

Marcelo Marmelo Martelo

Marcelo é o personagem central desta narrativa de Ruth Rocha, publicada em 1976. Ele, como toda criança cheia de curiosidade, questiona seus pais, algo que promove a ligação imediata entre aqueles que leem e as personagens.

— Papai, por que é que a chuva cai?

— Mamãe, por que é que o mar não derrama?

— Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas?

As pessoas grandes às vezes respondiam.

Às vezes, não sabiam como responder.

Marcelo estava inquieto com uma das maiores indagações: por que as coisas têm os nomes que recebem? Não satisfeito, ele resolveu nomear outro, que considerava mais adequado, para aquilo que lhe causava incômodo.

Marcelo estava inquieto, então seu pai tentou acalmá-lo argumentando que usar as mesmas palavras é importante, pois, caso contrário, o mundo seria caótico.

Marcelo não fica satisfeito com a resposta e continua exercitando a sua criatividade para dar novos nomes a tudo ao seu redor.

Ruth Rocha explora a curiosidade e o desejo de aprender das crianças no seu livro infantil. Ela aborda o gesto de questionar o que já foi previamente definido.

Mais sobre o assunto

11. José Mauro de Vasconcelos e o Seu Pé de Laranja Lima (1968)

O Meu Pé de Laranja Lima

Em 1968, durante a ditadura militar no Brasil, foi publicada a obra autobiográfica de José Mauro de Vasconcelos. O livro teve tanto destaque que foi adaptado para a telona e para a TV.

Zezé era um garoto repleto de energia, e como costumava-se dizer, "tinha o diabo no corpo". Os adultos, porém, frequentemente não compreendiam as necessidades do menino, punindo-o de forma injusta.

Quando o pai de Zezé perdeu o emprego, sua rotina mudou drasticamente. A família, que vivia em um subúrbio do Rio de Janeiro, já não era capaz de manter o mesmo padrão de vida e teve que se mudar.

Mesmo com três irmãos ao seu lado (Glória, Totoca e Luís), Zezé sentia-se profundamente solitário e sem compreensão, motivo pelo qual se aproximou do Pé de Laranja Lima que tinha no quintal. Com ele, partilhava todas as suas inquietações e sofrimentos.

O Meu Pé de Laranja Lima trata de um tema difícil: as injustiças sofridas durante a infância, bem como a negligência. Por meio dele, as crianças podem entender melhor esses assuntos.

Os livros podem mostrar como as crianças se isolam em seu próprio mundo quando se sentem ameaçadas ou apreensivas.

12. Monteiro Lobato e a Obra 'Reinações de Narizinho' (1931)

Reinações de narizinho

Muitos se lembram das aventuras passadas no sítio do Picapau Amarelo, a partir do lançamento de Reinações de Narizinho em 1931. Esse lugar, de fato, foi inspirado em um sítio que existe no interior de São Paulo.

Monteiro Lobato fez a escolha de um cenário que deu vida a personagens marcantes, tais como Dona Benta, Tia Nastácia, Emília e Pedrinho.

Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando:

— Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto...

Mas engana-se.

Nesta publicação, existe uma visão de dois mundos diferentes unidos em harmonia: o real, com personagens como Pedrinho, Dona Benta e Tia Nastácia, e o imaginário, com criaturas como saci, cuca e princesas encantadas.

O autor tinha como objetivo principal fazer com que as crianças se envolvam na história. Lobato desejava que a leitura se tornasse um hábito agradável e comum entre os mais jovens.

O autor emprega o livro para promover a cultura nacional, incentivando os jovens a entender melhor suas origens e contos tradicionais.

13. Vinícius de Moraes e a Arca de Noé (1970)

A arca de noe

Vinicius usa a história bíblica da Arca de Noé para conquistar os corações dos leitores e leitoras.

O poeta inicialmente compôs poesias para seus filhos, em particular Susana, nascida em 1940, e Pedro, em 1942.

Vinicius teve a ideia de musicar seus poemas, e para isso, solicitou ajuda a Paulo Soledade (1919-1999). Em 1970, com o nascimento da filha Maria, ele fez parceria com seu grande amigo Toquinho para musicar os poemas infantis.

Apesar de ser ateu, Vinicius homenageou diversos personagens bíblicos em seus versos destinados as crianças. O conceito do álbum se tornou extremamente atraente para a editora, pois os poemas reunidos eram antigos e diferentes, abordando assuntos relacionados a animais.

A arca desconjuntada

Parece que vai ruir

Entre os pulos da bicharada

Toda querendo sair

Afinal com muito custo

Indo em fila, aos casais

Uns com raiva, outros com susto

Vão saindo os animais

A lenda da arca de Noé é conhecida em todo o mundo, tanto por adultos quanto por crianças. O poema sobre a arca abre o livro, reunindo todas as espécies que estavam a bordo.

Ele é acompanhado por poemas que retratam uma grande variedade de animais, como o Pinguim, o Leão, o Cachorro, o Pato, a Galinha d'Angola e o Peru.

O mito do dilúvio ensina às crianças o valor da renovação, transmitindo-lhes a mensagem de que existe esperança mesmo após uma grande catástrofe.

Ela refletem sobre a vida em comunidade e a consciência de que compartilhamos o planeta com outras criaturas, devido à presença dos animais.

Todos os animais têm características únicas, tanto positivas quanto negativas. Conviver com eles nos ensina a ser tolerantes uns com os outros, pois a cooperação entre eles é essencial.

O álbum "A Arca de Noé", com poemas musicados de Vinicius, está disponível para compra e streaming online.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.