Publicado em 1875, no Porto, O Crime do Padre Amaro, primeiro romance de Eça de Queirós, possui influências naturalistas e se caracteriza como uma obra de tese - aquela com o intuito de comprovar uma teoria científica ou filosófica.
O livro de Eça de Queirós, publicado há mais de um século, gerou grande polêmica devido ao seu conteúdo crítico à Igreja e à Burguesia da época. Uma obra documental que marcou a chegada do Realismo à literatura portuguesa, transformou-se numa das obras-primas da língua.
Personalidades
- Amaro - Conduzido ao sacerdócio por vontade de sua madrinha, cedo descobre o desejo pelas mulheres e a vontade de viver como um homem comum. Ao chegar a Leiria, se apaixona por Amélia e vai, gradualmente, deixando de lado todos os comportamentos esperados de um padre.
- Amélia - Descrita como uma moça “de vinte e três anos, bonita, forte, muito desejada”, Amélia é filha da dona da pensão onde Amaro fica hospedado. Noiva de João Eduardo, se apaixona por Amaro. Abre mão de casar e construir uma família por amor ao padre.
- Cônego Dias - Professor de moral no seminário enquanto Amaro era estudante, recebe o jovem em Leiria e o coloca vivendo em casa de Dona Joaneira, com quem tem um caso. Ajuda Amaro a esconder o seu envolvimento com Amélia.
- Senhora Joaneira - Augusta Caminha, "a quem chamavam a Dona Joaneira, por ser natural de S. João da Foz", é mãe de Amélia. Recebe Amaro em sua casa e não desconfia da paixão entre o padre e a sua filha. Embora fosse uma mulher religiosa, era amante de Cônego Dias.
- João Eduardo - Noivo de Amélia, começa a desconfiar da sua proximidade com Amaro. Os ciúmes despertam em si uma forte raiva perante todos os membros do clero, sendo autor do artigo de jornal que expõe as inúmeras falhas dos padres da região.
- Dionísia - Quando Amaro sai de casa de Joaneira, contrata Dionísia para ser sua empregada. A mulher é a primeira a perceber a paixão entre Amaro e Amélia, ajudando a encobrir os seus encontros secretos.
- Dona Josefa - Depois da gravidez de Amélia, Josefa é a nova aliada do casal. Sendo uma mulher doente e de id
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Sinopse da história
O romance de Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro, revela a hipocrisia moral entre os membros do clero. Enfocando os mandamentos da Igreja Católica e contrastando-os com os comportamentos descritos dos padres, a narrativa gira em torno do relacionamento proibido entre Amaro, um jovem padre chegando à cidade de Leiria, e Amélia, filha da proprietária da pensão que o acolhe.
O elo entre Amaro e Amélia é notável desde que se conheceram, apenas tendo aumentado com o passar do tempo. Eles buscam desviar seus sentimentos um do outro, mas infelizmente, João Eduardo notou a conexão entre os dois e ele é tomado pelo ciúme e ódio ao clero. Incentivado por seus camaradas combatentes do anticlericalismo, ele prepara uma publicação destrutiva, sem identificar ninguém, que aponta todos os vícios e pecados dos padres da região.
Dionísia, a nova empregada de Amaro, se deu conta da paixão do padre pela moça e ajudou-os a manter o relacionamento em segredo. O casal se entregou à paixão, mas Amélia começou a sentir um profundo remorso, afligindo-se com sonhos e visões.
A tragédia se torna inevitável quando Amélia descobre estar grávida de Amaro. Ele, então, a manda para longe e contrata uma "tecedeira de anjos" para realizar o aborto. No entanto, a moça falece durante o parto, chorando pela criança que já estava morta. Desolado, Amaro decide deixar Leiria e seguir adiante como padre.
A Obra O Crime do Padre Amaro: Uma Análise
O Crime do Padre Amaro é uma obra literária de 25 capítulos que retrata a crônica de costumes da fé católica nas regiões portuguesas. A narrativa mostra como os "homens de Deus" afetam o modo de pensar e valores dos fiéis, partindo do objetivo de se auto-beneficiarem.
Eça mostra a cegueira da sociedade, onde os indivíduos não admitem seus próprios erros, porém não hesitam em julgar e condenar os erros dos outros. Através de um narrador onisciente, o leitor tem acesso a todos os pensamentos, sentimentos e desejos das personagens, mostrando que, no fundo, os eclesiásticos não são diferentes dos homens comuns.
Leiria é o cenário escolhido para a ação da história. É um lugar que remete ao Portugal profundo, com uma forte presença da religião e dos costumes locais, onde todos se conhecem e se têm de preocupar com a opinião alheia.
Entre os anos de 1860 e 1870, o enredo do contexto histórico retratava os movimentos de revolta contra o governo da Igreja Católica. Era nítida a manifestação do ódio e da raiva pelas lideranças da Igreja e o modo como elas eram responsáveis pelo governo de Portugal. Assim, o enredo apresentava a justificativa para o sentimento de repulsa popular.
Padre Novo em Leiria
A trama do romance começa com os boatos da chegada de Amaro, que se confirmam com a notícia da morte do antigo padre da Sé de Leiria. O povo da região é a fonte das informações que servem para construir o retrato do protagonista.
Dizia-se que era um homem muito novo, saído apenas do seminário. O seu nome era Amaro Vieira. Atribuía-se a sua escolha a influências políticas, e o jornal de Leiria, A Voz do Distrito, que estava na oposição, falou com amargura, citando o Gólgota, no favoritismo da corte e na reação clerical.
Amaro foi afilhado de uma marquesa, o que lhe deu contatos para deixar a paróquia pobre em que trabalhava e ser transferido para Leiria. Assim, ele procurou Cônego Dias, seu professor de moral no seminário, para pedir que encontrasse uma pensão onde pudesse se acomodar.
No diálogo entre Dias e o coadjutor, fica evidente que ele pretende estabelecer Amaro na casa de Joaneira, para que ele ajude a suportar as despesas da sua amante. Contudo, Dias recusa essa ideia afirmando que "é uma grandíssima calúnia!".
O coadjutor exorta os presentes a prestar atenção ao perigo de reunir Amaro e Amélia sob o mesmo telhado.
Por causa da Ameliazinha é que eu não sei. (...) Sim, pode ser reparado. Uma rapariga nova... Diz que o senhor pároco é ainda novo... Vossa senhoria sabe o que são línguas do mundo.
A possibilidade de Amélia e Amaro desenvolverem um relacionamento ilícito foi sugerida antes mesmo da chegada deste. Parecia que o destino queria uni-los num romance ardente.
No entanto, foi o "infortunado incidente" de Dias que deu lugar às circunstâncias que permitiram a Amaro conhecer e se enamorar por Amélia.
Amaro: Uma Viagem pela Infância e Juventude
Aos seis anos, Amaro foi órfão e foi cuidado pela Marquesa de Alegros, que era patroa de sua mãe. A madrinha achou que a vida eclesiástica era a mais apropriada para o jovem, pois ele era magro e tímido. Ela afirmava que o encanto do menino era estar aninhado ao pé das mulheres, sentindo o calor das saias unidas enquanto ouvia histórias sobre santos.
Apesar de a escolha não ter partido do garoto, ele aceita o destino, pois nunca houve alguém que o consultasse quanto às suas tendências ou vocação.
havia também o desejo de conhecer mulheres. O interesse que ele tinha pelo sexo feminino crescia à medida que o tempo passava. Na verdade, as suas razões para seguir o sacerdócio iam muito além da crença: também havia o seu desejo de conhecer mulheres.
Convinha-lhe aquela profissão em que se cantam bonitas missas, se comem doces finos, se fala baixo com as mulheres, — vivendo entre elas, cochichando, sentindo-lhes o calor penetrante, — e se recebem presentes em bandejas de prata.
Revisando seus anos de formação e o caminho através do seminário, importantes informações foram fornecidas sobre sua conexão com a batina e os esforços para suprimir sua libido.
E já antes de fazer os seus votos desfalecia no desejo de os quebrar.
Proibida Paixão entre Amaro e Amélia
Ao chegar a Leiria, Amaro já havia presenciado uma cena no seminário que o trouxe a mente a uma imagem de uma santa. Então, ao ver Amélia, foi como se visse a mesma cena se repetir. Ela estava ali, forte e alta, com um manto branco por cima de seus ombros e um ramo de alecrim na mão. Uma imagem que lembrava a de uma santa.
Amaro cresceu entre mulheres enquanto Amélia foi "crescendo entre padres”, com a intenção de se tornar freira depois de um desgosto amoroso na adolescência. Este encontro revela, de certa forma, um caráter de predestinação.
Amélia e João Eduardo se conheceram na procissão de Corpus-Christi. Embora tivessem começado um relacionamento, ela não o amava. Em seus pensamentos, via-o como alguém simpático e um potencial bom marido, mas não sentia nada além de seu coração adormecido.
Quando Amaro chegou, o coração de Amélia despertou. Via-se claramente o modo como os dois pensavam um no outro. Amaro entrou no quarto e começou a sentir o tique-tique das botinas de Amélia e o ruído das suas saias engomadas quando ela se despia. Por sua vez, Amélia ouvia os passos nervosos do rapaz, que trazia o capote aos ombros e estava calçado apenas com chinelas, enquanto ele fumava, visivelmente excitado.
À medida que Amaro se prendia ao olhar de Amélia, menos se importava com os seus deveres sacerdotais, permitindo que os seus anseios despertassem.
Ao pé dela, muito fraco, muito langoroso, não lhe lembrava que era padre; o Sacerdócio, Deus, a Sé, o Pecado ficavam embaixo, longe, via-os muito esbatidos do alto do seu enlevo, como de um monte se veem as casas desaparecer no nevoeiro dos vales; e só pensava então na doçura infinita de lhe dar um beijo na brancura do pescoço, ou mordicar-lhe a orelhinha.
Desde a infância, Amélia era devota, e agora ela queria beijar de forma prolongada o altar, o órgão, o missal, os santos e o Céu, pois não conseguia diferenciá-los de Amaro.
Após sua primeira tentativa de se aproximar, o sacerdote é recusado pela amada. Esta, ao invés das "sensações criminosas" e "os terrores do pecado" provocados pela sua presença, prefere a "nome, uma casa, a maternidade" com João Eduardo. Esta rejeição o deixa profundamente desgostoso.
Apesar de Amélia estar "há muito namorada" do padre, ela não conseguia esquecer o desejo de consumar a paixão com Amaro, correndo o risco de se colocar em uma situação complicada. Ela chegou a pedir a Nossa Senhora das Dores, em oração: "faz que ele goste de mim!".
Joaninha Gomes é um lembrete para todos nós sobre o destino que nos espera se temermos o nosso futuro. Ela, que foi amante do padre Abílio, acabou sendo abandonada por ele e humilhada por todos que a cercavam, tendo que sobreviver de miséria em miséria.
Que exemplo, Santo Deus, que exemplo!... E também ela gostava dum padre! Também ela, como outrora a Joaninha, chorava sobre a sua costura quando o Sr., padre Amaro não vinha! Onde a levava aquela paixão? À sorte da Joaninha! A ser a amiga do pároco! E via-se já apontada a dedo, na rua e na Arcada, mais tarde abandonada por ele, com um filho nas entranhas, sem um pedaço de pão!
Amaro, ao contrário, demonstra não temer as consequências divinas, acreditando que era apenas "uma infração às regras, mas não um pecado da alma". Ele vai ainda mais longe, escrevendo em uma carta para sua amada: "Estou cometendo o maior pecado ao te manter nesta incerteza e tortura, pois até mesmo na celebração da missa meu pensamento está sempre contigo”.
João Eduardo e a Batalha Contra o Clero
João Eduardo desenvolve um ciúme intenso ao perceber a frieza da noiva e a atração que ela sentia por Amaro. Isso o leva a rejeitar o padre, bem como toda a classe a que ele pertence.
Amaro não é de confiança, e as intenções e ações dos outros padres também são questionáveis.
Instintivamente porém começou a detestar Amaro. Sempre fora inimigo de padres! Achava-os um "perigo para a civilização e para a liberdade"; supunha-os intrigantes, com hábitos de luxúria.
Chegando à redação da “Voz do Distrito”, Eduardo encontra o proprietário, o Doutor Godinho, que está particularmente hostil ao clero devido à crença de que a moça tinha um relacionamento amoroso com o pároco. Enfurecido pela ofensa à sua honra, Eduardo se dirige ao jornal para confrontar o dono.
Encontrando um apoio na luta contra o clericalismo, Machado de Assis foi incentivado a escrever seu artigo "Modernos Fariseus". Nele, ele discutiu a conduta do Cônego Dias, bem como a atração de Amaro por Amélia, entre outros temas.
Em tudo que cheirar a padre, para baixo! Havendo escândalo, conta-se! Não havendo, inventa-se!
O artigo "Uma Galeria de Fotografias Eclesiásticas" faz referência aos diversos padres de Leiria, sendo que Dias é descrito como "o mestre da imoralidade" e Amaro acusado de "semear na alma da inocente a semente de chamas criminosas".
João Eduardo começou como vencedor, mas foi descoberto como responsável pelo texto que ofendeu o clero. Isso teve consequências severas: foi mal visto e desprezado por todos, mesmo pela sua noiva Amélia, que terminou o noivado. Para evitar mais escândalos, Amaro precisou mudar de casa. No entanto, antes disso, Amélia já havia programado a data do casamento.
A Hipocrisia do Clero e os Seus Vícios
É possível perceber a revolta de João Eduardo e seus companheiros quando a conduta dos padres é mencionada. Desde o início, o narrador deixa claro que essas personagens não aprovam o comportamento do clero, o que é reforçado pela forma como outras personagens apresentam críticas e acusações.
Descobrimos logo no começo que o padre que morreu tinha fama de ser muito guloso. Além disso, também ficamos sabendo que Amaro não conseguiu o cargo por habilidades próprias, mas devido à posição social de sua madrinha, a Marquesa.
Durante a história, é perceptível o desacordo entre as ações e o que é ensinado pelos homens do clero. Por exemplo, nas refeições em que múltiplos membros da igreja estão presentes, eles cometem diversos atos considerados errados, como a ingestão de bebidas alcoólicas, o consumo de alimentos luxuosos, a fofoca, as discussões entre si, a chantagem etc.
O “pecado da carne”, no entanto, é a fraqueza mais grave apresentada pela personagem de Eça de Queirós. O protagonista, que sempre rejeitou o celibato e sonhava em ter uma família, passa a seguir seus sentimentos por Amélia ao descobrir que o padre mais velho, Dias, também tinha um caso às escondidas com Joaneira. A descoberta revela ao jovem que não há nada de errado com o seu amor.
A noite caíra, com uma chuva fina. Amaro não a sentia, caminhando depressa, cheio de uma só ideia deliciosa que o fazia tremer: ser o amante da rapariga, como o cônego era o amante da mãe! Imaginava já a boa vida escandalosa e regalada.
Amaro vê sua fé diminuindo com o passar do tempo, e com isso suas percepções sobre o sacerdócio mudam. Ele passa a acreditar que, desde que a conduta do padre não ofenda os fiéis, ela não afeta a eficácia, a utilidade e a grandiosidade da religião.
O comportamento hipócrita dos membros do clero que violavam as leis que estabeleciam para os fiéis, mas acreditavam que não comprometeria sua fé se mantivessem seus pecados em segredo, é refletido por esse tipo de pensamento.
Amor Consumado e o Medo do Pecado
Amaro foi ficando cada vez mais encantado com Amélia, e já não estava tão certo da importância de guardar a castidade. Assim, ele procurava maneiras de se encontrar com a mulher que amava.
Dionísia, sua empregada, notou a ligação entre eles e aconselhou a casa do sineiro como melhor opção para um senhor eclesiástico que "tem o seu arranjinho", comprovando assim ser um costume tradicional.
A maro convenceu todos de que as visitas quinzenais de Amélia eram para ensinar à filha do sineiro, doente, o modo de rezar.
Durante esse período, Amélia e seu acompanhante estão muito felizes e chegam a sonhar com um futuro juntos. Entretanto, ela começa a ficar preocupada com a possibilidade de que haja algum tipo de punição por parte de alguma força divina.
Amaro é mais devoto do que ela, e ela fica aterrorizada quando o padre cobre seu corpo com o manto da Nossa Senhora e tenta beijá-la. Ela começa a ter pesadelos e alucinações por causa da culpa, e sua condição piora quando ela sonha que a santa está pisando em seu pescoço. Seu colapso nervoso é inevitável.
A moça encontrava-se visivelmente nervosa, fazendo o padre perder a paciência, tornando-se agressivo; por um momento, Amélia achou que ele se assemelhava a um demônio. Contudo, apesar de todas as preocupações quanto ao destino de sua alma e a convicção de que iria para o Inferno, o amor entre os dois era mais forte que qualquer outro sentimento, e se mantiveram juntos.
Nos seus braços, todo o terror do Céu, a mesma ideia do Céu desaparecia; refugiada ali, contra o seu peito, não tinha medo das iras divinas; o desejo, o furor da carne, como um vinho muito alcoólico, davam-lhe uma coragem colérica; era com um brutal desafio ao Céu que se enroscava furiosamente ao seu corpo.
Isolamento na Gravidez e Separação
Amélia descobriu que seus medos tinham se tornado realidade: ela estava grávida do padre. "O castigo de Nossa Senhora tinha chegado", pensou ela. Amaro procurou ajuda no cônego Dias, que respondeu: "Aqui estão as consequências, meu caro amigo".
Amaro queria que Amélia e João Eduardo se casassem rapidamente, para encobrir a verdadeira paternidade da criança, mas o rival desapareceu. Como era de se esperar, mesmo por parte do casal, o término da relação aconteceu de forma abrupta, para evitar um escândalo.
Dionísia estava determinada a descobrir o paradeiro de Amélia, apesar desta se recusar ao casamento, revoltada e desamparada pelo padre.
O quê? Ele punha-a naquele estado e agora queria descartar-se dela e passá-la a outro? Era ela porventura um trapo que se usa e que se atira a um pobre?
Apesar de, inicialmente, a moça ter resistido à ideia do casamento, ela começou a aceitá-la, imaginando o passeio de braço dado com o marido e a criação de um filho. No entanto, o projeto de formar uma família foi infelizmente interrompido por conta da distância entre ela e seu noivo, João, que se encontrava no Brasil.
Amélia irá acompanhá-la, mas ganhará seu sustento ao mesmo tempo. Amaro encontrou uma solução para garantir um futuro melhor para Amélia: convenceu Dona Josefa a levá-la como acompanhante enquanto estivesse se recuperando em uma casa de campo. Ele usou a chantagem e ofereceu sustento para a moça se ela aceitasse a proposta.
Que se ela não consentisse em encobrir a coisa era responsável por uma desgraça... Lembre-se a senhora que está agora com os pés pra cova, que Deus pode chamá-la dum momento a outro, e que se tiver na consciência este peso, não há padre que lhe dê a absolvição!... Lembre-se que morre para aí como um cão!
Ao pensar que o pai da criança era Fernandes, da loja dos panos, Josefa aceitou ajudar a esconder a gravidez. Acreditando que seria recompensada por Deus, ela, no entanto, tratava a mulher com frieza e crueldade.
Enquanto sua mãe e amigas desfrutavam das férias na praia, Amélia ficou sozinha, sentindo saudades de sua juventude e dos seus amores.
Ao visitar a casa de Josefa, o Abade Ferrão escuta a confissão de Amélia sobre as alucinações e pesadelos que a assombram. Ele se esforça para dissipar a ideia de que ela poderia estar sofrendo algum castigo divino e, em vez disso, aconselha-a a seguir o que o seu coração lhe diz ser a coisa certa a fazer.
Essas vozes, se as ouve, e se os seus pecados são grandes, não vêm de detrás da cama, vêm-lhe de si mesma, da sua consciência.
Quando Amaro visita Antônia, ela recusa as suas investidas, resultando na separação definitiva do casal.
A Vida: Nascimento e Fim.
Amaro busca por alguém em quem possa confiar para cuidar de seu bebê quando nascer, pois a criança seria uma evidência do seu "pecado" e poderia denunciá-lo a qualquer momento.
Dionísia aconselhou Carlota, uma "tecedeira de anjos", a matar o bebê ao ser deixado em casa dela. O padre aceitou o plano e remunerou a mulher pelo trabalho.
Amélia, como se pressentindo o sofrimento futuro, tinha pesadelos relacionados ao parto.
Ora era um ser medonho que lhe saltava das entranhas, metade mulher e metade cabra; ora era uma cobra infindável que lhe saía de dentro, durante horas.
A mãe Amélia foi condenada ao nascer de seu filho. Ela chorou e gritou enquanto ele era arrancado de seus braços e, naquela mesma noite, ela se foi. O menino deixado em casa da "tecedeira" também não conseguiu sobreviver. Amaro, que era o único dos três, continuou sua vida como sacerdote.
Ciência versus Religião: Uma Análise Naturalista
Esta obra naturalista cuestiona os princípios e práticas da religião, dando valor à visão científica, ao mesmo tempo que explora os instintos humanos e os seus comportamentos.
Ao examinar Amélia, o médico descobriu que ela estava grávida. Ele lhe deu a notícia com um sorriso e disse: "Parabéns, você vai ser mãe!".
Bem, bem, pequena, não te quero mal por isso. Estás na verdade. A natureza manda conceber, não manda casar. O casamento é uma fórmula administrativa...
Isto contradiz profundamente os princípios da Igreja, que considerava o sexo fora do matrimónio como inaceitável e devia ser punido.
Para o médico, as expressões sexuais são uma parte essencial da existência humana, apenas restringidas pelos padrões da sociedade: "Como naturalista, isso me deixa satisfeito". Portanto, a gravidez de Amélia seria uma evidência da sua teoria.
Após o parto, observamos uma discussão entre o médico e o padre Ferrão, que abordou a tensão entre a ciência e a religião. O doutor expressou suas críticas ao sistema vigente, que obrigava as crianças órfãs a escolherem entre se tornar um sacerdote ou um policial.
E agora, dizia o doutor trinchando o peito do frango, agora que eu introduzi a criança no mundo, os senhores (e quando digo os senhores, quero dizer a Igreja) apoderam-se dele e não o largam até a morte. Por outro lado, ainda que menos sofregamente, o Estado não o perde de vista... E aí começa o desgraçado a sua jornada do berço à sepultura, entre um padre e um cabo de polícia!
Argumenta-se que a religião é imposta às crianças, pois elas são ensinadas a acreditar antes mesmo de terem consciência da vida. Logo, não se trata de uma escolha, mas sim de um imposição.
Pense mais profundamente sobre o ministério eclesiástico e a forma como os sacerdotes jovens são incentivados a seguir os caminhos do sacerdócio, sendo obrigados a negar a sua verdadeira essência.
Em que consiste a educação dum sacerdote? Primo: em o preparar para o celibato e para a virgindade; isto é, para a supressão violenta dos sentimentos mais naturais. Secundo: em evitar todo o conhecimento e toda a ideia que seja capaz de abalar a fé católica; isto é, a supressão forçada do espírito de indagação e de exame, portanto de toda a ciência real e humana...
A obra e o autor parecem ter uma posição significativa em relação à religião católica da época, que é refletida nesta passagem.
A confiança cega é frequentemente considerada como um meio de suprimir os instintos humanos e limitar o progresso e o crescimento da sociedade portuguesa. É uma triste realidade que impedirá a humanidade de avançar.
Ao escrever esta obra, Eça queria desestabilizar os fundamentos da vida social em Portugal. Daremos a entender que mesmo aqueles considerados como "homens de fé", que possuíam uma postura moral superior, eram tão humanos quanto todos os demais.
O autor busca desconstruir a imagem de perfeição dos homens, destacando seus defeitos, e questionar seu papel real na sociedade. Estes são removidos do pedestal onde foram colocados pelas pessoas.
A tragédia ocorre em "O crime do Padre Amaro" porque há uma proibição da Igreja para os votos de castidade. Assim, o que poderia ser considerado uma relação normal entre dois jovens que se conhecem e se apaixonam é encarado como um pecado. O resultado é a tragédia que vemos no filme.
Eça de Queirós mostra que o protagonista é forçado a sufocar o seu anseio e abraçar uma solidão que não deseja. Ele descreve: "Ele estava forçado a silenciar seus desejos e a encarar uma solidão que jamais desejou".
Ele não abdicava voluntariamente a virilidade do seu peito! Tinham-no impelido para o sacerdócio como um boi para o curral!
Ao negar a "santidade" destes padres, a obra evidencia que eles estão dispostos a fazer qualquer coisa para manter a aparência. Isso fica claro no desfecho do envolvimento amoroso entre o casal.
Apesar de Amaro ser sacerdote, Amélia e seu filho são aqueles que pagam com a vida por seu crime. O padre talvez sinta um profundo sofrimento momentâneo, mas tem a oportunidade de continuar seguindo a sua carreira em outro lugar, sem precisar alterar a sua conduta.
Ao visitar Leiria, a obra termina com uma conversa entre ele e o mestre, que parece confirmar que aquilo que ele descobriu durante sua jornada era verdade.
Então junto deles passaram duas senhoras, uma já de cabelos brancos, o ar muito nobre; a outra, uma criaturinha delgada e pálida, de olheiras batidas, os cotovelos agudos colados a uma cinta de esterilidade, pouff enorme no vestido, cuia forte, tacões de palmo.
- Cáspite! disse o cónego baixo, tocando o cotovelo do colega. Hem, seu padre Amaro?... Aquilo é que você queria confessar.
- Já lá vai o tempo, padre-mestre, disse e pároco rindo, já as não confesso senão casadas!
A Relevância do Romance 'O Crime do Padre Amaro' Hoje
O Crime do Padre Amaro é considerado uma das obras mais importantes da Literatura Portuguesa devido às suas histórias de amor proibido. A influência dessa obra atravessou gerações e é notável no imaginário e na cultura do país. A relevância desta história é reforçada pelas constantes representações contemporâneas, que reescrevem o enredo em um contexto mais atual.
Carlos Coelho da Silva: Filme de 2005
Há 130 anos, a obra de Carlos Coelho da Silva foi publicada. E, recentemente, a SIC produziu um filme em parceria com o autor.
A paixão entre Amaro (Jorge Corrula) e Amélia (Soraia Chaves) é o foco da obra cinematográfica, ambientada em um bairro de Lisboa com problemas sociais. Esta adaptação recebeu grande reconhecimento dos críticos e ultrapassou os recordes de bilheteria.
Sam The Kid e Pacman: Música de 2005
"Transformando o Futuro da Alimentação: Tecnologias Influenciando a Forma como Comemos
A trilha sonora do filme foi composta, principalmente, por sons das áreas periféricas da cidade de Lisboa, onde a narrativa se passa. O tema principal foi escrito pelos rappers Sam The Kid e Pacman.
Esta canção trata de um amor impossível, que poderia se passar a qualquer momento ou circunstância. Versos como "Não consigo resistir à tentação se não contares a ninguém" e "Ó meu deus, como pode ser tão bom esse mal que me fazes?" evocam a atração arrebatadora deste amor proibido.
Apesar de ter sido escrito em 1875, o romance em questão é tão relevante para a cultura hip hop e urbana de Portugal que se tornou uma referência. Isso mostra que a obra é atemporal, pois se mantém relevante mesmo após centenas de anos.