A Viuvinha - Um Romance de José de Alencar


Escrito por Sónia Cunha

A obra A Viuvinha, do escritor brasileiro José de Alencar, foi publicada pela primeira vez em 1860. O enredo acontece no Rio de Janeiro do século XIX e é um romance urbano.

Após a trágica perda de seu pai, o bem nascido Jorge viu sua fortuna se esgotar devido às dívidas. Como não encontrou outra saída, ele decidiu simular o próprio suicídio.

Análise da obra

Jorge, oriundo do Rio de Janeiro e filho de uma família de grande prestígio, é o protagonista desta narrativa. Após a morte do seu pai, o rapaz herdou uma grande fortuna. Através de uma carta, ele relata as suas experiências pessoais a sua prima.

Com uma boa situação financeira, Jorge aproveitou os três anos seguintes à morte do pai para se divertir ao máximo. Conquistar mulheres, festas extravagantes, comidas e bebidas de luxo e passar tempo com amigos ricos eram parte de sua rotina diária.

uma oferta de trabalho. O destino deu a Jorge um sinal: uma proposta de emprego. Depois daquela etapa conturbada, chegou a hora de recomeçar.

Levantou-se um dia depois de uma noite de insônia, em que todas as recordações de sua vida desregrada, todas as imagens das mulheres que o haviam seduzido perpassaram como fantasmas pela sua imaginação, atirando-lhe um sorriso de zombaria e de escárnio.

Abriu a janela para aspirar o ar puro e fresco da manhã, que vinha rompendo.

Daí a pouco o sino da igrejinha da Glória começou a repicar alegremente; esse toque argentino, essa voz prazenteira do sino, causou-lhe uma impressão agradável.

Vieram-lhe tentações de ir à missa.

O sino da igreja soou inesperadamente para Jorge e, como que chamando-o, ele se dirigiu até lá. Ao chegar, notou que sua alma estava apaziguada e que havia sentido imenso bem estar, como se algo dentro dele estivesse se recompor das desmedidas do passado.

Naquela manhã, tendo o rapaz a oportunidade de assistir à missa, ele se deparou com uma jovem de quinze anos chamada Carolina, que tinha um rosto gentil e delicado, além de longos cílios e tranças. Foi amor à primeira vista. A garota estava acompanhada de sua mãe, D. Maria.

O amor transformou Jorge, que mudou seus hábitos e passou a viver com muita humildade e simplicidade, deixando de lado o luxo que estava sujeito a ter em virtude da farta herança que recebera. Essa metamorfose foi provocada pelo encontro na igreja e veio para ficar nos breves períodos que se seguiram.

Após um encontro casual na igreja e visitas a casa de Carolina, o casal se casou dois meses depois. A comemoração foi discreta, apenas com alguns amigos presentes e uma celebração simples.

Depois do falecimento do pai, o senhor Almeida assumiu a administração da fortuna da família durante os dois primeiros anos de orfandade. Quando Jorge atingiu a maioridade, passou a ser o responsável pela gestão de seus bens. Cinco anos depois, foi celebrado o casamento.

ele havia lhe deixado uma herança. Antes do grande dia, o senhor Almeida, o ex-tutor de Jorge, solicita uma visita. Ao se encontrarem, ele faz uma surpreendente declaração: deixou uma herança para o rapaz.

- Os seus desvarios de três anos arruinaram a sua fortuna.

- Eu o sei.

- As suas apólices voaram umas após outras e foram consumidas em jantares, prazeres e jogos.

- Resta-me, porém, a minha casa comercial.

- Resta-lhe, continuou o velho, carregando sobre esta palavra, a sua casa comercial, mas três anos de má administração deviam naturalmente ter influído no estado dessa casa. (...) O senhor está pobre!

O rapaz, que estava prestes a se casar com Carolina, imaginava como ficaria surpreso ao descobrir que a herança que lhe seria oferecida lhe traria conforto para seu casamento. Ele desejava abandonar sua vida de exageros e a herança lhe daria a segurança que procurava.

Jorge estava em pânico com a sua recente condição de falido e não sabia o que fazer com um dia de casamento se aproximando. Ele considerou a hipótese de cancelar o evento para não prejudicar a reputação da noiva, mas percebeu que desistir tão próximo do altar seria ainda pior para ela.

Ao escrever a carta para D. Maria, mãe de Carolina, o rapaz teve uma ideia que se mostrava como uma solução para o seu futuro, sem ofender a honra da noiva. Ele resolveu colocá-la em prática.

Finalmente, chegou o casamento. Tinham-se quatro outras pessoas presentes, além dos noivos: Sr. Almeida, D.Maria, um respeitável sacerdote e uma adorável menina. O casamento foi como se esperava, embora o marido apresentasse um ar melancólico durante o dia inteiro.

Naquela noite de núpcias, Jorge ofereceu uma bebida à Carolina e ela logo adormeceu. Enquanto ela se entregava ao sono, ele deixou uma carta para ela e partiu para o destino trágico que havia escolhido. Ele seguiu até o centro do Rio de Janeiro, onde há um lugar conhecido como Obras da Misericórdia, uma espécie de templo do suicídio. Nesse local, muitas pessoas acabavam por tirar a própria vida e deixavam somente uma carta ou bilhete para alguém que amavam.

Assim que Jorge chegou ao local, foi possível ouvir disparos de pistola. Quando os trabalhadores da obra chegaram, depararam-se com um corpo sem vida, cujo rosto estava destruído pelas balas. O que se seguiu foi a descoberta de que o cadáver era de Jorge.

Um dos guardas meteu a mão no bolso da sobrecasaca e achou uma carteira, contendo algumas notas pequenas, e uma carta apenas dobrada, que ele abriu e leu:

"Peço a quem achar o meu corpo o faça enterrar imediatamente, a fim de poupar à minha mulher e aos meus amigos esse horrível espetáculo. Para isso achará na minha carteira o dinheiro que possuo."

Jorge da Silva

5 de setembro de 1844.

Carolina tornou-se conhecida como A Viuvinha, já que seu casamento de um dia terminou com o suicídio de seu marido. No entanto, Jorge não estava realmente morto: ele conseguiu ganhar uma nova identidade e passou a se chamar Carlos, dedicando-se à negociação estrangeira. Cinco anos se passaram desde então.

Carlos decide pagar sua dívida para poder retornar ao lado da amada. Ele segue Carolina para verificar se ela ainda está apaixonada por Jorge, e comprova que sim. Uma das evidências é que, mesmo em sua juventude, ela ainda usa a cor preta como sinal de amor.

Após encontrar coragem e declarar seu amor, Carlos confessou a Carolina que era Jorge, que estava a cortejando. Carolina, leal ao marido, mas conturbada com a declaração, perdoou Carlos e lhe deu nova oportunidade. Os dois, então, uniram-se outra vez, com Carlos expondo seus planos e últimos anos de vida.

Por que o Livro é Tão Interessante?

Esta obra oferece diversas características que poderão cativar o leitor. Algunas delas são: ...............................................................................................................................................................................

Explorando o Humor

José de Alencar é conhecido pelo seu excelente senso de humor, que se manifesta em suas obras literárias. A viuvinha não é exceção. Por exemplo, quando o narrador descreve a profissão de Carlos, podemos encontrar humor na situação.

Há uma profissão, cujo nome é tão vago, tão genérico, que pode abranger tudo. Falo da profissão de negociante.

Quando um moço não quer abraçar alguma profissão trabalhosa, diz-se negociante, isto é, ocupado em tratar dos seus negócios.

Após a revelação da proeza de Jorge, o narrador faz um comentário ácido e mordaz sobre a nova condição do rapaz: ele havia conseguido reduzir a fortuna de seu pai a zero em apenas três anos.

Para um homem habituado aos cômodos da vida, a essa existência da gente rica, que tem a chave de ouro que abre todas as portas, o talismã que vence todos os impossíveis, essa palavra pobre é a desgraça, é mais do que a desgraça, é uma fatalidade.

A narrativa como recurso para envolver o leitor

O narrador do romance dirige-se diretamente ao leitor em algumas passagens, demonstrando ter consciência de que há alguém do outro lado da página.

Mas eu não escrevo um romance, conto-lhe uma história. A verdade dispensa a verossimilhança.

Surpresas no Desenrolar da História

Jorge, o protagonista, é apresentado no início como um 'bon vivant', gastando a herança deixada por seu pai em festas, jogos e mulheres. No entanto, inexplicavelmente, ele decide mudar de vida e tornar-se um homem de bem. Infelizmente, quando já estava quase criando coragem para colocar seus planos em prática, descobre que está pobre e desiste de tudo. Então, ele simula seu próprio suicídio e reencarna como Carlos, um negociante estrangeiro. Após cinco anos de muito trabalho, Carlos consegue reconquistar a vida que tinha e a esposa que tanto desejava.

Cinco Minutos: Referência a um Romance de José de Alencar

"E assim, de mãos dadas, foram caminhando para o ocaso da vida". Ao chegar à última página de A viuvinha, um parágrafo impactante nos chamou a atenção: "Assim, segurando-se mutuamente, eles prosseguiram para a tão esperada e temida aproximação do fim".

Carlota é amiga íntima de Carolina. Elas acham ambas um ponto de semelhança na sua vida; é a felicidade depois de cruéis e terríveis provanças. As nossas famílias se visitam com muita frequência; e posso dizer-lhe que somos uns para os outros a única sociedade.

No romance Cinco Minutos, a protagonista é Carlota, que é supostamente a vizinha e amiga íntima de Carolina. Esta narrativa foi incluída na primeira edição de A viuvinha.

Leia mais

Principais Personagens

A História de Jorge

Aos 16 anos, Jorge perdeu seu pai e herdeiro de uma boa herança. O sr. Almeida, tutor e amigo da família, assumiu a responsabilidade de cuidar do patrimônio do jovem. Uma vez maior de idade, a vida do rapaz mudou completamente com a chegada de mulheres, jogos e festas. Mas, ao frequentar uma missa, ele encontrou um propósito para a sua vida: a menina Carolina.

Como um personagem romântico, Jorge é um homem solitário, que enxerga e idealiza Carolina de forma apaixonada. Ele encarna o amor romântico, com suas características de profundidade, eternidade e superação de dificuldades.

Sr. Sobre Almeida

O antigo tutor de Jorge, amigo do seu falecido pai, foi muito crítico com a conduta social deste, pois ele gastou todo o dinheiro que havia herdado do seu pai, após anos de trabalho árduo. Antes de conhecer Carolina, Jorge usou toda a verba.

A Vida de Carolina

Carolina, de 15 anos, era filha de uma família humilde, mas possuía beleza angelical e pura. Durante uma missa matinal conheceu Jorge, com quem estabeleceu uma relação que foi culminar com o casamento. Esta jovem demonstra como os ideais românticos se mantêm mesmo nas circunstâncias mais extremas. Quando descobre que Jorge ainda estava vivo, apesar de haver sido dada como morto, Carolina o perdoa imediatamente, mostrando como o amor é maior que qualquer dificuldade.

D. A História de Maria

D.Maria, uma mãe zelosa, entrega o futuro de Carolina ao bom partido Jorge, sempre permanecendo ao lado da filha nos bons e nos maus momentos para protegê-la.

Análise do Romantismo no Brasil: Um Olhar sobre o Contexto Histórico

Durante os séculos XVIII e XIX, a Europa foi influenciada pelo movimento do Romantismo.

Durante a primeira fase do movimento modernista brasileiro, o Nacionalismo, houve uma valorização da cultura nacional, com o desejo de libertar-se de Portugal para adquirir a independência. Esta fase foi marcada pelo indianismo, um desejo de criar uma identidade própria autônoma. A segunda fase, a Geração o mal do século, foi caracterizada por uma maior conscientização sobre a sociedade brasileira. Por fim, a terceira fase, o Condoreirismo, teve como tema central a crítica à vida urbana.

Partindo-se de 1850, a segunda fase do Romantismo brasileiro se caracterizou pela centralidade do eu-lírico, enfatizando-se assim as questões íntimas e subjetivas. Nesse período, o pessimismo, a melancolia e a solidão marcaram os escritos, que também se destacaram pela idealização do amor.

Victor Hugo foi o principal exemplo a inspirar a terceira fase do Romantismo. Os autores românticos voltaram a se preocupar com questões políticas, defendendo a liberdade como um dos principais pilares.

José de Alencar é reconhecido como um dos maiores nomes do Romantismo brasileiro, proeminentemente conhecido pelos seus títulos indianistas. No entanto, também se destacou na escrita de romances urbanos, como é o caso de A Viuvinha.

Características principais da Viúva e do Romantismo

Em 1836, Gonçalves de Magalhães deu início ao Romantismo no Brasil com os lançamentos da Revista Niterói e da antologia de poemas Suspiros poéticos e saudades.

Uma das principais características do Romantismo foi a idealização da mulher. É possível observar isso na obra de José de Alencar, que retratou a sua protagonista, Carolina, como uma jovem pura, casta, bela e fiel ao amor do marido mesmo após a sua suposta morte.

Carolina é um protótipo de personagem encontrado nos romances românticos. Ela é uma figura devota ao amor e ao marido, seus ideais são firmes, sendo que espera-se pouca complexidade psicológica por parte dela.

A obra de José de Alencar, A viuvinha, é um clássico exemplar romântico. O movimento literário da época, que fomentava um sentimentalismo exacerbado, é retratado perfeitamente no romance, assim como na linguagem simples e direta usada pelo autor. Esta característica também era pregada pelos românticos da sua geração.

Jorge é um exemplo notável de caráter romântico, tendo seus dramas pessoais como um ponto chave para o movimento. A presença de um grau de egocentrismo faz com que os seus dramas girem a narrativa.

A Viuvinha - Uma Publicação

A história de A viuvinha foi inicialmente divulgada ao público por meio de trechos publicados em folhetins de janeiro a fevereiro de 1857 no Diário do Rio de Janeiro.

Em 1860, a Typ. do Correio Mercantil, localizada no Rio de Janeiro, publicou uma edição de livro que reunia A viuvinha e Cinco minutos, que já era uma segunda edição.

Você Gosta de Ouvir a Viúva?

O romance de José de Alencar está disponível em formato de audiobook.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.