Origem, Características, Poetas e Poemas da Literatura de Cordel


Escrito por Sónia Cunha

A literatura de cordel reúne diversos elementos: escrita, oralidade e xilogravura. Essa manifestação artística se destaca por combinar tais elementos.

A expressão cultural brasileira, típica do nordeste, é proveniente de regiões como a Paraíba, Pernambuco, Pará, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará.

Folhetos tradicionalmente vendidos em feiras populares são usados para esse tipo de literatura.

Onde surgiu a literatura de cordel?

literatura de cordel

A partir do século XII, a literatura de cordel teve origem em Portugal com o trovadorismo medieval, sendo uma das heranças lusitanas que preservamos até hoje.

Durante essa época, artistas que contavam histórias por meio de canções eram muito populares, visto que a maioria das pessoas eram analfabetas. A oralidade se tornou então uma importante forma de passar conhecimento e lazer para as pessoas.

No século XV e XVI, durante o Renascimento, foi criada a prensa, que possibilitou a impressão mais ágil e em maior quantidade dos textos em papel.

Com o passar dos anos, as narrativas contadas pelos trovadores passaram a ser registradas em folhetos e expostas nas ruas por meio de cordas - denominados de cordéis. As peças de teatro também eram impressas nestes livretos, como é o caso das obras do português Gil Vicente.

Com a chegada dos portugueses ao Brasil, a prática da literatura em cordel se instalou no nordeste. No século XVIII essa expressão cultural se tornou ainda mais sólida no país.

Os repentistas são fundamentais para a disseminação do cordel. Eles cantam de forma semelhante aos trovadores de antigamente, narrando histórias rimadas em locais públicos.

Aspectos do Cordel Nordestino

O cordel nordestino tem o hábito de contar histórias com uma linguagem coloquial e irreverente. É uma forma de expressão que se utiliza da simplicidade e da linguagem regional, a qual torna mais acessível a compreensão para o público em geral.

Análise das Recorrências nos Cordéis Literários

As narrativas costumam retratar histórias incríveis específicas da região e situações cotidianas, bem como lendas folclóricas, assuntos políticos, sociais, religiosos e profanos.

Explorando a Xilogravura no Cordel

" "Aprendendo a Escrever Melhor

Os folhetos contam histórias ilustradas de forma artística, geralmente recorrendo à técnica da xilogravura. Esta técnica consiste na impressão de desenhos sobre a página, dando vida ao texto.

O método consiste em entalhar uma matriz de madeira, aplicar uma fina camada de tinta nela e, em seguida, transferir o desenho para um papel ao carimbar a matriz.

As xilogravuras são uma característica marcante dos folhetos de cordel, e possuem uma estética única, com fortes contrastes, formas simplificadas, uso expressivo da cor preta e, frequentemente, a presença dos veios da madeira.

Explorando a Oralidade, a Métrica e a Rima no Cordel

A oralidade desempenha um papel fundamental na literatura de cordel. É através da declamação que o cordelista transmite ao público sua mensagem de forma plena e completa.

O cordelista é alguém que precisa de muita criatividade, técnica e sagacidade para ser competente em seu ofício. Esta manifestação popular e coloquial exige o uso de versos e rimas, além de uma métrica específica.

A Poesia Popular dos Poemas de Cordel

Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Zeca Baleiro, entre outros. Os artistas de cordel no Nordeste brasileiro têm grande destaque na região. Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Zeca Baleiro são alguns dos nomes mais conhecidos desta arte.

  • 1. Apolônio Alves dos Santos
  • 2. Cego Aderaldo
  • 3. Firmino Teixeira do Amaral
  • 4. João Ferreira de Lima
  • 5. João Martins de Athayde
  • 6. Manoel Monteiro
  • 7. Leandro Gomes de Barros
  • 8. José Alves Sobrinho
  • 9. Homero do Rego Barros
  • 10. Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva)
  • 11. Téo Azevedo
  • 12. Gonçalo Ferreira da Silva

Descubra a história e a importância de dois poetas, bem como um poema exemplar de cada um.

Vida de Leandro Gomes de Barros (1865-1918)

No século XIX, Leandro Gomes de Barros foi considerado o melhor dos poetas populares. Como reconhecimento, o dia de seu aniversário, 19 de novembro, foi adotado como o "Dia do cordelista" em homenagem a este grande artista.

Ariano Suassuna se inspirou nas obras O dinheiro, O testamento do cachorro e O cavalo que defecava dinheiro para compor O auto da compadecida.

O mal e o sofrimento

Se eu conversasse com Deus

Iria lhe perguntar:

Por que é que sofremos tanto

Quando viemos pra cá?

Que dívida é essa

Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também

Como é que ele é feito

Que não dorme, que não come

E assim vive satisfeito.

Por que foi que ele não fez

A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes

E outros que sofrem tanto?

Nascemos do mesmo jeito,

Moramos no mesmo canto.

Quem foi temperar o choro

E acabou salgando o pranto?

Vida e Obra de Patativa do Assaré (1909-2002)

Nascido numa família de escassos recursos no Ceará, Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, foi um importante poeta popular e literário de cordel. Sua vida era marcada pelo trabalho na roça.

Ele nunca se afastou de sua terra natal, mesmo com o sucesso obtido a partir de sua arte.

Aproveite e leia mais poemas de literatura de cordel!

, são peculiares. Todas as obras de Marco Aurélio são notáveis pelo seu caráter singular.

Pra quem nasceu pra viver

não há pregação que sirva

pra quem nasceu pra morrer

carece crer noutra vida

e se não fosse o sermão

seria a lei do cão

com passagem só de ida.

Eu mesmo nunca reclamo

da vida que se me deu

não assinei promissória

meu prazo não se venceu

enquanto vivo estiver

faço meus queréquequé

bem longe de quem morreu.

Se você for de igreja

me perdoe a petulância

não acredito no céu

pode ser ignorância

mas eu prefiro viver

sem mais fortuna querer

do que essa extravagância.

Menino, prepare a vida

chega de notícia ruim

esse mundo tá lotado

de quem quer chegar no fim

pois eu mesmo quero é mais

quem quiser olhe pra trás

e se esqueça lá de mim.

, é um livro lindo e interessante. O lindo e interessante livro "A Magia das Chuvas", de Dalinha Catunda, desperta o interesse dos leitores.

Quando as torres do nascente

No céu começam a subir,

O nordestino se alegra,

Fica feliz a sorrir.

É sinal que a chuva esperada

Não vai demorar a cair.

Quando o céu escurece,

O povo agradecido,

Aumenta as suas preces.

De oração em oração

Vê a chuva molhar o chão

Que de umidade carece.

É água pra todo lado,

É muito sapo a coaxar,

Vegetação vestindo verde,

É o inverno a chegar.

É a esperança brotando,

No chão do meu Ceará.

O agricultor com a enxada

Cantarola pelo caminho.

A rolinha acasalada

Na árvore ajeita seu ninho.

O gado pasta com gosto,

Gorjeiam os passarinhos.

É tempo de alegria,

É tempo de plantação,

Mais um pouco na panela,

Fartura de milho e feijão

É inverno e vida nova,

Chegando ao meu sertão.

Só sabe, mesmo, da alegria,

Da água molhando o chão,

Quem, como eu, já morou

Lá pras bandas do sertão,

E viu a seca inclemente

Queimando o seu torrão.

, é um dos mais conhecidos romances brasileiros. Um dos romances brasileiros mais reconhecidos é Apego de Tangedor, de Jessier Quirino.

Vaqueiro que é bom vaqueiro

Cabôco trabalhador

Se apega pela boiada

Na vida de tangedor

Pulum boi, puluma vaca

Véve naquela fuzaca

Num causo grande de amor.

Com Nena de Zé de Shell

E com a vaquinha Amarela

Divide sua paixão

Chama na xinxa a donzela

Bem distante da cancela

Pra não se ver traição.

Adoece de avexo

Vendo o patrão sem amor

Negociar a boiada

Mode comprar um trator

Chora no pé da cancela

Vendo a vaquinha Amarela

Saindo pro matador.

Conteúdo interessante

Tipos de Poética na Literatura de Cordel e o Processo de Criação de um Cordel

Para se criar um cordel, é necessário seguir algumas diretrizes. Esta literatura é composta por versos rimados, com possibilidade de serem escritos de diferentes formas. Algumas delas são:

  • (10 sílabas)
  • Quadra – estrofe contendo 4 versos
  • Sextilha – estrofe contendo 6 versos
  • Septilha – estrofe contendo 7 versos
  • Oitava – estrofe contendo 8 versos
  • Quadrão – estrofe com 8 versos, nos quais os 3 primeiros rimam entre si, o 4º e o 8º da mesma forma rimam entre si, assim como o 5º, 6º e 7º.
  • Décima – estrofe contendo 10 versos
  • Martelo – estrofes feitas com decassílabos (10 sílabas)

Ao elaborar seu poema, por que não aproveitar para criar um zine de cordel? Complemente com ilustrações em xilogravura ou desenhos em tinta preta para tornar a experiência ainda mais divertida. Esta é uma ótima atividade para crianças e adolescentes!

Explorando a Literatura de Cordel e a Xilogravura

J. Borges é extremamente relevante para a literatura de cordel, principalmente por seus trabalhos em xilogravura. Para saber mais sobre esta forma artística, leia a matéria abaixo.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.