Explicação da Lenda da Cuca (Folclore Brasileiro)


Escrito por Carolina Marcello

A Cuca, que é muito conhecida no folclore brasileiro, tem um lugar de destaque no imaginário de várias gerações. Tornou-se muito popular ao longo dos anos.

A figura de uma bruxa má, que em algumas versões se transforma em um jacaré, foi modificada ao longo dos anos.

Descubra a História da Cuca e suas Adaptações

A Cuca é uma versão feminina do "bicho-papão" e é conhecida por devorar as crianças que não se comportam. O folclorista brasileiro Amadeu Amaral definiu-a como uma "entidade fantástica para amedrontar as crianças".

O Boitatá é uma criatura folclórica brasileira, que, conforme explicado por Câmara Cascudo em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, é usada para aterrorizar as crianças mais inquietas, que não conseguem dormir ou são muito tagarelas. Esta ameaça mítica pode tomar diferentes formas.

Quadro Cuca, de Tarsila do Amaral

A Cuca é uma figura lendária e seu aspecto varia de acordo com a versão de sua história. Normalmente ela é uma bruxa velha e malvada, com garras afiadas e cabelos brancos. Porém, em algumas narrativas ela é descrita como uma corcunda, magra e com cabeça de jacaré ou até mesmo como uma sombra ou fantasma.

Frederico Edelweiss, em seu livro Apontamentos de Folclore, apresenta as descrições mais comuns dessa entidade multifacetada e demonstra que ela possui uma variedade de características.

A sua forma é muito vaga. Aqui é um ente informe que ninguém sabe descrever; ali, uma velha cujo aspecto se aproxima do da bruxa, ou ainda um fantasma impreciso. Aparece e some num abrir e fechar de olhos, carregando nos braços, ou num saco, os meninos que pintam na cama ao invés de dormirem.

A Cuca é um dos mais famosos "terrores da noite" do imaginário infantil, envolvida em mistérios. Em algumas versões, ela é capaz de se transformar em coruja, mariposa e outras criaturas noturnas para escapar ou se aproximar sem que alguém perceba.

A lenda de que, a cada mil anos, uma Cuca nasce de um ovo, mais temível que as anteriores, reverberou na série Cidade Invisível com a associação a borboletas-azuis.

a fada boa da noite é responsável por essa tarefa. A Fada da Noite é uma figura conhecida há muito tempo e que gera temor e fascínio. Ela tem muitos dons peculiarmente associados à noite: conjura feitiços, controla o sono e consegue invadir os sonhos alheios. Esta conexão com a noite é reforçada através das canções de ninar antigas, que continuam sendo usadas para colocar as crianças para dormir e que a responsabilizam por essa tarefa.

Nana, neném

Que a Cuca vem pegar

Papai foi na roça

Mamãe foi trabalhar

As Lendas Mais Conhecidas

A lenda da Cuca é um conto popular que foi contado por gerações e assume formas diferentes ao longo de várias regiões. As obras dedicadas ao folclore brasileiro muitas vezes fazem referência a essa história.

Criações literárias, culturais e artísticas têm tido um grande papel na disseminação do mito. Estas têm contribuído, de forma considerável, para que esse seja amplamente conhecido.

Aventuras no Sítio do Picapau Amarelo

Com certeza, Monteiro Lobato (1882 - 1948) foi um dos principais responsáveis pela divulgação da lenda da Cuca e de outras figuras do folclore brasileiro.

A personagem do Sítio do Picapau Amarelo (1920-1947) é uma grande vilã na Coleção de livros para crianças. Na primeira obra, O Saci (1921), ela aparece como uma bruxa maléfica, com cara e garras de jacaré.

A TV Tupi e a Bandeirantes foram as primeiras emissoras a adaptarem os livros de grande sucesso para a televisão.

Cuca na série infantil Sítio do Pica-pau Amarelo

Em 1977, a Rede Globo desenvolveu seu famoso programa infantil intitulado "Chaves". Esse programa se tornou muito popular na TV, conquistando público de todas as idades. Em 2001, a série foi reintroduzida, trazendo de volta a personagem Chaves como protagonista principal da história.

A versão da Cuca tornou-se um meme nas redes sociais. Seu refrão muito famoso foi gravado pela cantora Cássia Eller. Relembre: "Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai".

Cuidado com a Cuca que a Cuca te pega

E pega daqui e pega de lá

A Cuca é malvada e se fica irritada

A Cuca é zangada, cuidado com ela

Explorando a Cidade Invisível

Lançada na Netflix em fevereiro de 2021, a série nacional de fantasia criada por Carlos Saldanha alcançou um sucesso absoluto na plataforma digital. Ao apresentar importantes figuras do folclore brasileiro, ela conseguiu atrair o público do mundo inteiro.

Inês, conhecida como a Cuca, é o líder de um grupo de seres mitológicos que estão sendo perseguidos por um inimigo desconhecido. Estas lendas em um cenário contemporâneo se tornam humanizadas e vulneráveis, e a Cuca assume o papel de protetora.

Cuca na série Cidade Invisível

A personagem é capaz de controlar as borboletas-azuis e até se transformar numa delas. A sua versão da sombra que vira mariposa, presente no folclore, foi adaptada para essa história brasileira. Embora não seja a lenda mais conhecida, ela é utilizada para contar uma nova versão.

De acordo com a lenda, o pó expelido por essas borboletas teria o poder de provocar o sono ou mesmo a amnésia temporária. Apesar disso, a ciência já desmentiu tal crença. No entanto, em seu enredo, a bruxa usava esses poderes para cegar as pessoas.

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Explorando as Origens da Lenda e o Seu Ambiente Histórico

A lenda da Cuca veio ao Brasil durante o período da colonização, com maior destaque na região de São Paulo. Com o passar do tempo, a fama se espalhou por todo o território nacional.

A lenda da Coca, também conhecida como Santa Coca, é uma parte importante do folclore português. Presente em rimas infantis, cantigas de ninar e nas comemorações religiosas e populares, a figura da Coca está presente há muitos anos na cultura portuguesa.

Em Monção, no Minho, São Jorge é celebrado com a tradicional procissão de Corpus Christi. O costume ainda é mantido e inclui a figura de um dragão que São Jorge derrota durante a procissão.

Festa do Corpo de Deus - Coca em Monção

O nome "coca" ou "coco" era usado para designar um tipo de abóbora usada como castiçais, geralmente decorados com caras assustadoras recortadas nelas. Esta imagem era ligada ao medo de cabeças flutuando, e também se refletia no mito do Coco ou Farricoco, figura masculina.

No Algarve, o disfarce de morte é um costume secular. Uma figura vestida de preto, com um capuz cobrindo o rosto, desfila em procissões como um símbolo da morte. Essa tradição foi trazida para o Brasil, principalmente para São Paulo e Minas Gerais, onde possui grande popularidade até hoje.

Nas manifestações culturais e religiosas, o mito era usado como uma forma de alerta, para guiar o comportamento das gerações mais jovens. A figura da Mala Cuca, presente na cultura espanhola, e elementos da mitologia africana e indígena, também são usados como forma de advertência.

Luís da Câmara Cascudo, ao tratar do tema Geografia dos Mitos Brasileiros, descreveu como os relatos folclóricos são compostos por influências provenientes de diversas fontes.

Neles se resumem espécimens africanos, europeus e ameríndios. Como o fantasma aparece é que se fixa a maior influência, do Coco, informe e demoníaco, da Coca, monstruosa, do Cuco negro, alquebrado e misterioso antropófago. Para uma só entidade vêm as materializações de três assombros seculares, com vestígios nos idiomas angolês e tupi.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.