Explicação da História da Medusa na Mitologia Grega


Escrito por Carolina Marcello

Medusa era uma figura lendária da mitologia grega, uma terrível monstro feminino com cobras entrelaçadas em seus cabelos. Quem ousasse encarar seu olhar seria imediatamente transformado em pedra.

Com o passar dos séculos, o mito de Medusa tornou-se cada vez mais conhecido em várias regiões do planeta. Muitas mídias foram usadas para representar a figura da Medusa, sendo elas a pintura, a escultura, a literatura, a música, etc. Isso fez com que Medusa se tornasse parte de nossa cultura e imaginário coletivo.

A Família Górgona: Medusa e suas Irmãs

As três irmãs, Górgonas, filhas de Fórcis e Ceto, divindades marinhas, eram Euríale, Esteno e Medusa. Apenas Medusa era mortal e seu nome foi derivado do verbo "mandar", significando "aquele que manda". A aparência delas era monstruosa.

"As três górgonas, filhas de Tétis e de Pégaso, eram monstros horrendos, com cabelos de serpentes, olhos de fogo e dentes de bronze". A palavra "górgona" derivou do adjetivo grego "gorgós", que significava "terrível" ou "selvagem". Estas criaturas eram assustadoras até mesmo para os deuses: com serpentes na cabeça, asas douradas e olhos de fogo, eram descritas pela obra Mitologia Grega de Pierre Grimal como "monstros horrendos, com cabelos de serpentes, olhos de fogo e dentes de bronze".

As Górgonas tinham um aspecto pavoroso. Suas cabeças eram envolvidas por serpentes, armadas de grossas presas, parecidas com as de javalis; suas mãos eram de bronze; asas de ouro lhes permitiam voar. Seus olhos faiscavam, e deles saía um olhar tão penetrante que quem o visse se transformava em pedra. Objeto de horror, elas tinham sido relegadas aos limites do mundo, no meio da noite, e ninguém era suficientemente ousado para abordá-las.

As Górgonas, que personificam os medos e os males da humanidade, são vigiadas e protegidas pelas Gréias, suas irmãs. Estas últimas já vieram ao mundo velhas, apenas possuindo um olho que deveria ser dividido. Por isso, as Górgonas precisam permanecer escondidas do resto do mundo.

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A Maldição dos Deuses sobre a Mulher

De acordo com Ovídio, Medusa não era sempre uma górgona. Ela era há muito tempo uma sacerdotisa que trabalhava no templo da deusa Atena. A beleza extraordinária de Medusa chamava a atenção de todos, inclusive de mortais e deuses.

Depois da insistência de Poseidon, o deus dos mares, os dois se tornaram íntimos dentro do templo. O comportamento foi visto como uma falta de respeito ao local sagrado e a mulher foi severamente punida.

Medusa de Caravaggio

Tão furiosa que Atena estava, ela transformou Medusa em uma criatura tão aterrorizante que seus cabelos se tornaram cobras e, se olhasse diretamente para ela, era capaz de petrificar qualquer um. Sabedoria era o que a deusa era mais conhecida por, porém, tamanha ira não conseguiu ficar em segundo plano.

Em algumas narrativas, a mulher foi seduzida pelo deus e, como consequência, seria punida por não ter cumprido seus deveres como sacerdotisa. Por outro lado, há quem conte que ela foi vítima de uma investida de Poseidon, sendo condenada injustamente por um delito que não cometeu.

A Vitória de Perseu sobre Medusa

Nascido da união de Zeus, o semideus Perseu, foi concebido quando a divindade encarnou em uma chuva de ouro para seduzir sua mãe, Dânae, que era mortal. Apesar disso, o pai da moça não aceitou a gravidez inexplicável e colocou-a junto com o recém-nascido em uma pequena embarcação, acreditando que eles naufragassem.

Zeus decidiu proteger Perseu e seu tio e os trouxe até a ilha de Sérifo, regida pelo rei Polidecto. Perseu cresceu como um guerreiro forte e corajoso, gerando medo no rei, que precisava descobrir como se livrar dele. Então, o soberano ordenou que Perseu deveria cortar a cabeça da Medusa e trouxê-la como recompensa.

Perseu com a cabeça da Medusa, estátua de Antonio Canova (1800)

A tarefa assustadora precisou de ajuda divina. Atena deu um escudo de bronze para Perseu, Hades lhe presenteou com um elmo que o tornava invisível e Hermes cedeu as famosas sandálias aladas. Usando a invisibilidade, o herói conseguiu aproximar-se das Gréias e subtrair o olho delas, dando-lhes um sono reparador.

Com as sandálias de Hermes, ele foi capaz de alcançar as Górgonas, que estavam adormecidas. Para evitar o contato visual com Medusa, ele usou o escudo de bronze para ver seu reflexo.

Perseu, famoso na mitologia, cortou a cabeça da Medusa e a usou como arma para se defender dos seus inimigos. Esta famosa cena foi retratada por muitos artistas ao longo dos anos, como Benvenuto Cellini, Antonio Canova e Salvador Dalí.

Medusa, pintura de Peter Paul Rubens (1618)

Ao ser decapitada, de Medusa brotaram dois filhos. O primeiro foi Pégaso, o grandioso cavalo alado, e o segundo foi Crisaor, um gigante que possuía uma espada dourada. Estes eram frutos do encontro antigo entre ela e Poseidon.

Depois de derrotar Atlas e salvar Andrômeda, Perseu entregou a cabeça de Medusa para Atena, que colocou em seu escudo chamado Égide. Com isso, Perseu e Andrômeda se casaram e viveram juntos por muitos anos.

Uma Análise Atual do Mito: Significado e Implicações

A imagem da górgona foi usada para ornamentar escudos, templos e objetos domésticos, como taças de vinho. Esta representação servia como meio de proteção e boa sorte, afastando as forças malignas.

À medida que o tempo passava, novas perspectivas sobre o mito antigo se desenvolveram. Seu conteúdo é uma clara representação do cenário social em que a supremacia masculina imperava, e onde a mulher era submetida a um controle rigoroso no âmbito da sexualidade, o qual era condenado e reprimido.

O mito de Medusa se tornou um símbolo da luta feminista. Sua habilidade de transformar homens em pedra e as várias representações artísticas de seu rosto expressando fúria se tornaram sinônimos de força feminina. Ela não é mais vista como um monstro, mas sim como uma mulher corajosa em busca de justiça pelo que sofreu.

Medusa com a cabeça de Perseu, estátua de Luciano Garbati (2008)

Ao revisitar a história de Medusa através de um olhar contemporâneo, vemos que ela foi vítima de violência sexual por parte de Poseidon, mas no final foi ela quem sofreu as consequências e a punição. Por isso, ela se tornou um símbolo de empoderamento para as mulheres que sobreviveram à violência sexual.

Luciano Garbati subverteu a mensagem de obras célebres ao ilustrar Medusa com a Cabeça de Perseu, demonstrando a força e a resistência das mulheres. Esta nova versão do mito simbolizou a nova era das mulheres.

Em 2020, a estátua foi associada ao movimento #MeToo nos Estados Unidos da América e ganhou destaque internacional ao ser exposta em frente ao Tribunal Criminal de Nova York, promovendo a justiça para as vítimas.

Bibliografia e Referências

  • 1. GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Porto Alegre: L&PM, 2009
  • 2. BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002
  • 3. Dicionário Etimológico da Mitologia Grega (DEMGOL). São Paulo: online, 2013
Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.