Clarice Lispector (1925-1977) é reconhecida como uma das maiores escritoras da literatura brasileira, sendo famosa por suas frases icônicas que ainda ressoam dentro de nós.
Retiradas de romances, crônicas, contos e poemas, essas frases são como pequenas cápsulas de sabedoria que adornam as obras e proporcionam ao leitor uma amostra da singular habilidade da autora.
Explorando a Identidade
É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.
A questão da identidade e nossa busca incessante por descobrir quem realmente somos são tratadas na frase acima, retirada do romance A paixão segundo G.H.
É necessário ter coragem para embarcar nessa aventura de se perder. É um exercício extremamente difícil aceitar encontrar-se novamente e partir para a jornada, se desviando da rota e se perdendo novamente - muitas vezes.
Às vezes é mais simples buscar uma mentira transitória para viver do que se arriscar a se deparar com o vazio. O processo é tão difícil que torna essa escolha ainda mais fácil.
Reflexão sobre o Inexpressável
A minha vida, a mais verdadeira, é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique.
A passagem de A hora da estrela destaca a dificuldade em expressar o que se passa em seu íntimo, dada a escassez de palavras capazes de identificar seu mundo interior e sua identidade.
Sentimos frequentemente o desejo de expressar o que sentimos, mas percebemos que não existem palavras o bastante para traduzir nossos sentimentos. Tentamos nos comunicar, porém muitas vezes não é possível descrever adequadamente a profundidade do que queremos expor.
A sensação de que às vezes não há como expressar o que sentimos é captada neste trecho.
A Arte de Escrever
Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.
Rodrigo, narrador de A paixão segundo G.H., tem consciência de que escrever é algo difícil e trabalhoso para ele, especialmente porque tem que lidar com a trágica história de Macabéia. Dando voz e vida a este drama, ele tem experimentado um forte sentimento de dor.
Na sua jornada, Rodrigo reconhece suas limitações e dificuldades. Por esse motivo, ele usa a frase "Preciso me sentir acompanhado" para descrever o que precisa para continuar produzindo.
A presença de outro é como uma bengala que nos ajuda a prosseguir, apesar das nossas dúvidas e incertezas.
Aprenda mais
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- A Vida e Obra de Clarice Lispector
- Análise de 6 Poemas de Clarice Lispector
A Ilusão de Facilidade na Escrita
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
Rodrigo, o narrador do livro A hora da estrela, convida o leitor a descobrir as engrenagens por trás da sua escrita. Venha e visite o seu escritório para conhecer melhor as causas e motivações que movem a sua inspiração literária.
Embora pareça casual e simples, Rodrigo sublinha que o processo de escrita exige muito empenho para que o fluxo das palavras seja natural. Quem lê percebe que a simplicidade da redação é uma verdadeira "bênção".
O trabalho intenso que a escrita exige fica invisível para o leitor, que só vê o resultado final. No entanto, muitas vezes não se tem ideia da quantidade de esforço necessária para produzir uma obra.
A Dificuldade da Escrita
Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
O narrador do conto Restos de carnaval se expressa desanimado em relação à sua escrita. O esforço que tem feito para produzir seu texto o exauriu, deixando-o sem força.
Escrever é mergulhar corajosamente na própria alma, ainda que isso possa ser doloroso.
Enfrentando as Dúvidas e Hesitações
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Em A hora da estrela, o trecho é um exemplo de meta-escrita: uma forma de escrita que reflete sobre as questões essenciais da composição literária. Nesta passagem, o autor se pergunta sobre o motivo para escrever.
Rodrigo reconhece que o processo de escrita é difícil e o obriga a explorar seus próprios pensamentos - mas também sabe que só assim ele pode avançar.
Ele chega à conclusão de que, devido ao seu estado interno de inquietação, deve expressar seus pensamentos através da escrita.
Reflexão sobre o Livre-Arbítrio
O mistério do destino humano é que somos fatais, mas temos a liberdade de cumprir ou não o nosso fatal: de nós depende realizarmos o nosso destino fatal.
Em A paixão segundo G.H., Rodrigo se questiona sobre a vida e o destino. O trecho descrito é apenas um dos muitos em que o narrador expõe seu pensamento a respeito dos assuntos.
Ao ler esta breve passagem, nos vemos diante da reflexão sobre a nossa capacidade de escolha e determinação do nosso próprio destino. O nosso livre-arbítrio nos permite refletir sobre a nossa liberdade de decidir o que fazer com o nosso caminho.
Acreditando que existe um destino pré-definido para nossas vidas, fica a cargo de nós escolher o que faremos entre o início e o fim que nos foi designado. É nessa jornada que encontraremos o propósito e alegria que nos guiarão ao seu destino final.
Explorando a Felicidade
Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.
Neste trecho do conto Felicidade Clandestina, o narrador se debate entre o desejo de encontrar a contentamento e o entendimento de que, para ele, a felicidade sempre será, de alguma maneira, subversiva.
O narrador tinha consciência de que ele estava tendo dificuldade em encontrar a felicidade, então ele aceitou que ele mesmo estava criando barreiras para conseguir atingi-la.
Ele sentia algo, algo que não conseguia explicar. Era como se já soubesse o que o destino lhe reservava: felicidade como uma coisa etérea, que escapava das suas mãos assim que ele a alcançava. Não tinha explicação lógica, mas ele confiava naquele pressentimento.
Reflexões sobre o Destino
Ela os ouvia e surpreendia-se com a própria coragem em continuar. Mas não era coragem. Era o dom. E a grande vocação para um destino.
Ao longo de "Preciosidade", a protagonista enfrenta profundos desafios, e, mesmo com medo, ela decidiu seguir adiante. Esta frase no conto é uma verdadeira "pérola de delicadeza".
Aqui é suposto que haja um caminho pré-determinado e que ela se aventure decidida para aquilo.
O narrador descreve o que nós chamamos de coragem como um "dom" - uma tranquilidade de saber que há um destino e que seu caminho seguirá esse destino, independentemente do que possa acontecer.
Reflexões sobre o Pecado
O pecado me atrai, o que é proibido me fascina.
Muitos de nós nos identificamos com o trecho da obra A hora da estrela.
Aquilo que não é permitido por princípios morais, éticos ou religiosos nos desperta ainda maior interesse e fascínio do que aquilo que desconhecemos.
O fato de estarmos impedidos de fazer algo nos estimula a querer saber exatamente o que estamos sendo privados.
A Vida de Clarice Lispector
Nascida em 10 de dezembro de 1925 em Tchetchelnik, Ucrânia, Clarice Lispector foi filha de Pinkouss e Mania e irmã de duas garotas, Leia e Tania. Uma das mais importantes figuras da literatura brasileira, ela se destacou por seu trabalho incrível e marcante.
A família de Clarice decidiu imigrar para o Brasil, pois já lá residiam seus tios e primos. A mudança foi motivada pelo antissemitismo presente no país de origem.
Clarice e seus pais chegaram em Maceió a bordo de um navio. Seu pai trabalhou junto ao cunhado nos primeiros anos, mas em 1929, decidiram mudar-se para o Recife e iniciar uma vida mais independente.
Aos nove anos, a morte da mãe de Clarice provocou uma mudança iminente. A família decidiu-se mudar para o Rio de Janeiro.
Em seu tempo na Universidade de Direito no Rio de Janeiro, Clarice conheceu Maury Gurgel Valente. Os dois logo começaram a namorar e, depois de algum tempo, decidiram se casar. O casal teve dois filhos, Pedro e Paulo.
Clarice foi extremamente bem-sucedida com sua obra literária. Ela publicou romances, crônicas, contos, poemas e uma série de colunas em jornais da época, sendo reconhecida tanto pelo público quanto pela crítica. Ao longo de sua carreira, Clarice recebeu diversos prêmios.
Em 1977, infelizmente Clarice faleceu vítima de um câncer no ovário, um dia antes de comemorar seu aniversário.