A arte e a cultura são formas vitais de expressar as mensagens mais prementes da nossa sociedade e da nossa política. Estas mensagens são retratadas de forma crítica, de acordo com a realidade com que nos deparamos. Angela Davis, a famosa militante dos direitos civis norte-americanos, proferiu uma afirmação de grande relevância: “Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista".
Com o intuito de proporcionar uma reflexão sobre temas importantes da atualidade, selecionamos 20 filmes nacionais e internacionais que todo mundo deveria assistir. Acreditamos que o cinema pode ser usado como um veículo para chamar a atenção para assuntos importantes.
Vá em Frente!
Em 2017, o diretor Jordan Peele lançou o filme Corra!, que conquistou a atenção de todo o mundo. O longa-metragem de terror e suspense conta a história de Chris, um fotógrafo que manifesta preocupação ao se preparar para conhecer os pais da namorada, Rose.
Embora Rose e seus familiares sejam brancos, Chris teme que possa sofrer alguma discriminação por lá. Quando visita a casa deles, todos o recebem com amabilidade, mas seus comportamentos revelam que algo está errado. Por isso, seu melhor amigo lhe recomenda que não vá.
A história aterradora é uma metáfora que reflete o poder do ódio e da opressão presentes na sociedade, mesmo que se encontre escondido, não tornando-se menos perigoso.
A Busca por Igualdade: A História de Selma
Ava DuVernay dirigiu o drama biográfico de 2014 que retrata um período importante na história dos Estados Unidos da América e na luta pelos direitos civis dos cidadãos afro-americanos: as marchas de Selma a Montgomery.
Em 1965, os protestos levaram à conquista de uma lei que garantia o direito ao voto. Anteriormente, havia medidas discriminatórias e segregacionistas no sistema de registro eleitoral.
O filme acompanha Martin Luther King Jr. em sua jornada enquanto ele encontra o Presidente Lyndon B. Johnson em discussão sobre o tema, segue para o Alabama ao lado de militantes como Hosea Williams e John Lewis, e lutando por direitos civis.
Iniciando a partir deste local, eles começaram uma viagem que culminou na capital do estado, marcando um grande progresso na luta pela igualdade e contra a discriminação. Para celebrar os 50 anos destes protestos, foi lançado o filme.
Invasão à Klan
Ron Stallworth, cuja história real foi contada em 2018 na comédia dramática do célebre diretor Spike Lee, ingressou nas forças policiais na década de 70 — uma época em que as pessoas negras ainda sofriam desigualdade e discriminação.
Nos Estados Unidos da América, uma atmosfera de segregação racial profunda era notável naquela época. A Ku Klux Klan, um grupo de supremacistas brancos, estava ativamente envolvido em atos de terror e violência, perseguindo e assassinando indivíduos afro-americanos.
Stallworth usou sua posição na polícia para realizar uma investigação que parecia impossível: infiltrar-se na Klan para desbaratar seus planos. O filme capta mensagens históricas e sociais, assim como apresenta heróis que contribuem para a luta antirracista.
Doze Anos de Escravidão
Em 2013, Steve McQueen dirigiu o drama épico de teor histórico que ganhou o Oscar de Melhor Filme. A história se baseia na autobiografia de Solomon Northup, um violinista que foi sequestrado e vendido como escravo em 1841.
Durante 12 anos, o protagonista é compelido a trabalhar numa plantação de algodão em Nova Orleães. Neste ambiente, ele presencia e sofre inúmeras formas de violência e opressão, que são próprias do sistema escravocrata, que é extremamente cruel e insensível.
O drama vivido por Solomon nos convida a pensar sobre a tragédia vivenciada pela população negra e suas repercussões ainda presentes no nosso cotidiano. Esperamos que desse modo, sua libertação se concretize e possamos celebrar sua reunião com a família.
Celebrando o Preto
Lançado em 2012, o filme brasileiro de ação e aventura foi dirigido por Marcos Felipe, Marcial Renato e Daniel Mattos.
Um projeto de cinema independente conta a história de um jovem que, após se envolver na ousada tentativa de roubar um objeto histórico de grande valor, precisa lutar por sua liberdade.
O protagonista é perseguido pelo antigo patrão e seu gangue, e durante essa estranha aventura, ele começa a perceber que ela tem algo a ver com a lenda do primeiro escravo brasileiro a conquistar a liberdade.
A Vanguarda da Revolução: Os Panteras Negras
Lançado em 2015, o documentário de Stanley Nelson Jr. relata a história do Partido dos Panteras Negras, um dos mais importantes movimentos de resistência afro-americana. Escrito e dirigido pelo cineasta, o filme busca contar a história destes lutadores.
Em 1966, o grupo revolucionário foi formado na Califórnia com o objetivo de combater a brutalidade policial contra a população negra. Para isso, eles patrulhavam as ruas.
Os Panteras Negras, que se mobilizaram contra a opressão e a segregação, foram pioneiros na luta por uma sociedade mais igualitária. No entanto, foram considerados perigosos pelo governo. Esse filme revive o percurso deste grupo, através de entrevistas com antigos membros e documentários feitos na época.
A Purpura Cor
Dirigido por Steven Spielberg, o drama de 1985 foi baseado na obra epistolar homônima da escritora e feminista norte-americana Alice Walker.
O filme, situado no início do século XX, é protagonizado por Celie, uma jovem de 14 anos que vive sofrendo abusos do pai e é obrigada a se casar com um homem muito mais velho.
Esta narrativa emocionante retrata os numerosos desafios enfrentados em consequência da exclusão e discriminação, como racismo, violência, sexismo e pobreza. A Cor Púrpura deixou sua marca no cinema global, além de transmitir uma mensagem inspiradora de resistência e união feminina.
Malcolm X: Uma Biografia
Dirigido e escrito por Arnold Perl, o filme de 1992 é baseado na biografia de Malcolm X -- uma das figuras mais notáveis nos movimentos dos direitos civis nos Estados Unidos. Malcolm X criou a Organização da Unidade Afro-Americana e foi um dos fundadores dos Panteras Negras. Sua vida foi repleta de lutas que, infelizmente, terminou de forma trágica.
A trama do longa-metragem abrange os principais momentos da vida do protagonista, desde seus crimes à sua conversão ao islamismo e seu envolvimento com a religião. Sua estadia na prisão foi um dos períodos mais importantes, já que foi aí que ele se converteu.
À medida que os anos se passavam, ele passou a se concentrar em questões políticas relacionadas ao racismo e à exploração das classes mais pobres, tornando-se um ativo promotor de consciência e mudança social.
Contos Interligados
Dirigido por Tate Taylor e baseado na obra homônima de Kathryn Stockett, o drama de 2011 se passa no Mississippi na década de 70. A trama acompanha as vidas de Aibileen e Minny, duas amigas que trabalham como empregadas domésticas.
Por dedicarem suas vidas ao cuidado das casas e famílias privilegiadas, essas trabalhadoras são frequentemente vítimas de preconceitos e discriminação racial por parte dos seus patrões.
Eugenia, uma jovem branca com sonhos de se tornar escritora, começa a prestar atenção nos relatos das pessoas ao seu redor. Ao reconhecer a visão delas sobre o mundo, ela decide escrever um livro a partir desse novo ponto de vista.
Preto Fica, Branco Sai
Em 2014, o filme de drama brasileiro dirigido por Adirley Queirós foi lançado. Situado na cidade de Brasília, o enredo aborda a vida de dois homens, Marquim e Sartana, que foram vítimas de uma ação policial violenta durante uma festa.
Como resultado do acidente, um deles passou a viver na cadeira de rodas e o outro teve que amputar a perna, sofrendo uma realidade de exclusão e deficiência física. O filme, caracterizado pela crítica social, ganha um novo contorno com a adição do terceiro personagem, Cravalanças, e a abordagem da ficção científica.
Ao chegar de uma época futura, o homem investiga o ocorrido naquela noite em busca de evidenciar o racismo estrutural e sistêmico que permeia a sociedade brasileira.
Aja Corretamente
1989 foi um ano marcante para a obra de Spike Lee, pois foi quando seu filme de comédia dramática foi lançado. Ele escreveu, dirigiu e atuou nele, e mesmo décadas mais tarde, continua sendo um grande sucesso.
O cenário de uma pizaria no bairro de Brooklyn, em Nova Iorque, serve de palco às tensões raciais presentes naquele lugar. É aí que a família italiana, dona do comércio, mostra uma atitude discriminatória, apesar de a maioria dos moradores serem afro-americanos.
Ao interpretar o personagem Mookie, Lee precisa lidar com os preconceitos existentes. Quando uma discussão acesa surge entre as pessoas, a polícia chega e mata um jovem negro na frente de todos. Esta atitude brutal da autoridade tem sido um tópico recorrente na atualidade e acaba por desencadear uma série de motins e revoltas sociais.
O Mississippi em Chamas
Em 1988, Alan Parker dirigiu o filme de drama e suspense que se tornou um clássico. Ele foi inspirado nos eventos trágicos ocorridos em 1964, no Mississippi. Três ativistas jovens desapareceram e foram brutalmente assassinados na época.
Na busca pela verdade acerca de um incêndio ocorrido em uma igreja afro-americana da região, James Earl Chaney, Andrew Goodman e Michael Schwerner desapareceram. O filme acompanha a investigação pela polícia, que revelou a realidade de racismo existente, suscitando assim tensões com a KKK.
Embora o longa-metragem seja relevante, é preciso lembrar que a história não foi desenrolada exatamente da forma como ela é contada. Na verdade, os agentes policiais se mostraram passivos e coniventes com os crimes, o que foi retratado de modo divergente no filme.
Você Não É Meu Preto
Dirigido por Raoul Peck, o documentário francês-americano de 2016 é baseado na obra do romancista James Baldwin. A narrativa é feita por Samuel L. Jackson.
A obra cinematográfica traça a trajetória, o desfecho e as convicções de alguns amigos próximos do autor que se destacaram na luta pelos direitos humanos, tais como Martin Luther King, Malcom X e Medgar Evers.
O documentário Eu não sou seu negro, disponível na plataforma Netflix, aborda temas relevantes sobre a resistência e consciência negra ainda presentes na nossa sociedade. O filme nos traz à reflexão e discussão, visando sensibilizar o público para o entendimento da realidade em que vivemos e os preconceitos existentes.
A Décima Terceira
Dirigido por Ava DuVernay, o documentário norte-americano de 2016 foi rapidamente aprovado pelo público internacional após sua distribuição pela Netflix.
Esse filme é essencial para compreendermos o sistema prisional nos EUA e as raízes profundas que tem nos tempos da escravidão, da segregação e da opressão sofrida pelos cidadãos afro-americanos. O seu foco principal é sobre a 13ª emenda à Constituição, que permite o trabalho forçado (praticamente a escravidão) para aqueles que estão presos.
O documentário 13th examina problemas urgentes e contemporâneos, tais como o racismo, a pobreza e as decisões políticas segregadoras que contribuíram para o encarceramento em larga escala de pessoas negras. Aprofunda o motivo que esteve na base das medidas políticas e ainda as suas consequências no nosso tempo.
Visite o Fantástico Mundo de Bacurau
O aclamado filme brasileiro Bacurau (2019) combina elementos de diversos gêneros cinematográficos, tais como drama, fantasia, ficção científica, faroeste e terror. Tal obra vem sendo alvo de inúmeras discussões nos últimos tempos.
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles são os responsáveis pela direção e roteiro do longa-metragem. Ele conta a história de uma cidadezinha situada no sertão do nordeste brasileiro, que enfrenta a falta de água potável e a ameaça de invasores. A comunidade precisa se unir para se defender.
Bacurau foi produzido para pensar temas estruturais como desigualdades étnicas e de classe, corrupção e a ausência de apoio à população. Esta narrativa sobre a revolta popular também faz um comentário sobre a realidade histórica e contemporânea do Brasil.
O Que a Rua Beale Teria a Dizer?
O drama romântico de 2018 “If Beale Street Could Talk” foi dirigido por Barry Jenkins e é baseado na obra homônima de James Baldwin. Ambientado na década de 70, a trama acompanha o destino de um jovem casal após um momento decisivo de suas vidas.
Quando Alonzo protegeu a mulher, Clementine, contra o assédio de um homem branco, os moradores reagiram com ódio. Infelizmente, foi preso injustamente, acusado de algo que não fez, com o intuito de atingi-lo.
Grávida, Clementine precisa lutar para provar a inocência de seu marido num sistema marcado por discriminação. Para superar essa situação, ela precisa enfrentar o sistema carcerário norte-americano com unhas e dentes.
Batalhando pela Justiça
O filme de drama de 2019, dirigido por Destin Daniel Cretton, relata a história emocionante de Walter McMillian, um homem inocente que foi injustamente condenado ao corredor da morte.
Bryan Stevenson, um jovem advogado, aceitou voluntariamente o caso de uma mulher acusada de violência. A acusação era baseada exclusivamente no testemunho confuso de um criminoso. Seguindo a batalha judicial de Stevenson, ficou provado que ela era inocente.
Stevenson conta sua narrativa a partir de suas memórias, que foram reunidas numa obra homônima. Atualmente, ele permanece dedicado ao seu trabalho como advogado e ativista pela justiça social.
Liberdade com Django
Depois que o vínculo entre os dois se fortaleceu, eles empreenderam uma jornada para salvar a esposa de Django, mantida em uma condição de servidão por um malvado fazendeiro.
Esta história de vingança, heroísmo e coragem convida os espectadores a refletirem sobre assuntos sérios como a escravidão, a injustiça social e a violência racial.
Amor Completo
Baseado na biografia dos Loving, o filme de drama histórico de Jeff Nichols de 2016 conta a história de Mildred e Richard.
O casal alcançou fama quando, na década de 50, seu relacionamento desafiou as leis racistas que impediam casais inter-raciais nos Estados Unidos da América.
Ao desrespeitarem as normas da Virgínia, eles fizeram uma viagem até Washington a fim de se casarem. No entanto, ao regressarem, foram presos e banidos do estado que habitavam, não podendo retornar durante 25 anos.
Ó Pai, Escuta!
Monique Gardenberg dirigiu a comédia musical brasileira de 2007, que foi baseada em um texto escrito por Márcio Meirelles.
No final do Carnaval, Dona Joana, síndica religiosa do cortiço localizado em Salvador, enfurecida com o clima de festa, optou por cortar a água do local. Consequentemente, todos os moradores se viram obrigados a se unir para encontrar uma solução para o problema.
A longa-metragem aborda questões essenciais sobre a realidade brasileira, tais como as desigualdades sociais e a discriminação racial, revelando o cenário da vida baiana.
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