Publicado em 1953, Fahrenheit 451 é um romance de ficção científica do escritor norte-americano Ray Bradbury.
Neste romance, é retratada uma realidade distópica onde os bombeiros têm a tarefa de queimar livros - uma forma de proteger a cultura de suprimir o pensamento crítico e autodeterminação dos indivíduos.
Esta obra aponta uma crítica acerba ao autoritarismo e à desconfiança em relação ao conhecimento, que foram amplamente observados durante o nazismo. Estes fatos foram significativos para a configuração da década de 50 após a II Guerra Mundial.
Em 1966, François Truffaut adaptou a história para o cinema, tornando-a amplamente conhecida.
Atenção: este artigo contém informações que podem estragar a experiência de leitura para aqueles que ainda não terminaram o livro!
Análise e Resumo de Fahrenheit 451
Como um clássico da literatura e do cinema, Fahrenheit 451 foi responsável por traçar um diálogo cada vez mais forte com o mundo atual, apresentando uma história bastante absurda.
No momento em que o mundo sofria as conseqüências da Segunda Guerra Mundial e a censura produzia seus efeitos na sociedade, Ray Bradbury escreveu sua obra.
A narrativa segue Guy Montag, um bombeiro cujo trabalho é incendiar livros. Ele é parte de uma corporação estatal que vigia, fiscaliza e destrói esses objetos, pois estes eram considerados prejudiciais à população, causando insatisfação e inatividade.
O título de Fahrenheit 451 faz uma referência ao simbolismo presente na narrativa. Esta temperatura (233 graus celsius) é a temperatura necessária para incendiar papel.
O número 451 é exibido no uniforme dos bombeiros, acompanhado do desenho de uma salamandra. Na mitologia, considera-se que esse animal possui ligação com o fogo.
O livro está dividido em três seções.
A Magia da Lareira e a Salamandra: Parte 1
O desenrolar da história revela o despertar da consciência do protagonista Guy Montag. Apesar de inicialmente aceitar seu trabalho como funcionário do governo, que cumpre ordens sem contestar, aos poucos ele desenvolve um caráter crítico, passando a questionar a realidade em que vive.
Quando Guy conhece Clarisse, um novo mundo se abre para ele. Ela é uma jovem com o sonho de ser professora que o faz questionar sobre vida e felicidade. Esta personagem desperta nele um desejo de mudança que anteriormente estava adormecido.
É vital compreender o meio em que esta população vive, pois tudo está sob vigilância. A única fonte de diversão é o que é transmitido nos televisores, que exibem programas vazios e simplistas, com o convite ao público para participar.
Mildred, esposa de Montag, é uma telespectadora manipulada e frágil que consome remédios para dormir, preocupada apenas com as aparências. Esta situação desperta em Montag uma grande irritação com a vida vazia e superficial que ele leva. Ele conclui que a vida de Mildred é futil e sem sentido.
O protagonista nunca esquecerá a cena: uma senhora se recusando a se separar de sua biblioteca, mesmo que ao seu redor tudo estivesse em chamas. Ela se recusava a ceder ao destino, pois era incapaz de se imaginar sem aquelas obras literárias. Infelizmente, a mulher não resistiu às chamas e morreu junto aos seus livros.
Montag se pergunta o que poderia haver de tão especial na leitura para que ele a escondesse e a levasse para sua casa. Antes de realizar uma queima, ele resolveu ler um trecho de um livro e, fascinado com a experiência, resolveu guardá-lo.
Depois disso, ele começou a guardar alguns livros, o que o colocaria em perigo, dado que o Capitão Beatty, o seu superior, se tornou suspeito.
Peneirando a Areia: Parte Dois
Em busca de conhecimento, o bombeiro encontrou Sr. Faber, um professor extremamente erudito que lhe mostrou a importância de ler livros. Juntos, desenvolveram um plano para melhorar o funcionamento do corpo de bombeiros.
Ao retornar para casa, Montag encontra a esposa com algumas amigas tendo conversas pouco profundas. Como não conseguiu conter-se, ele tomou um dos livros e leu uma passagem dela, esperando que elas pudessem notar a falta de significado em suas vidas. Por fim, ele as expulsou de sua casa.
No dia seguinte, chegando ao trabalho, ele estava pronto para implementar seus planos. Contudo, seu superior o enfrentou quando chegou.
Logo em seguida, os bombeiros receberam uma denúncia anônima, e foram até o endereço indicado. Para o espanto de Montag, a casa pertencia a ele mesmo, e ele concluiu que Mildred havia feito a denúncia.
Incêndio Brilhante (Terceira Parte)
Guy Montag é forçado a queimar sua habitação, e Beatty consegue apreender o receptor de áudio que estava instalado em seu ouvido, conectando-o ao Sr. Faber.
Beatty ameaçou Sr. Faber, falando que o mataria. Quando Montag ouviu isso, sua ira aumentou e ele apontou o lança chamas diretamente para seu chefe, incendiando-o.
O protagonista conseguiu escapar e partiu em busca do Sr. Faber. Recebendo uma sugestão do velho amigo, ele seguiu a linha de trem para encontrar outros professores que haviam sido alvos de perseguições.
Montag embrenhou-se na mata e avistou um grupo de pessoas reunidas em torno de uma fogueira para se aquecer. Isso o fez perceber o grande poder benéfico que o fogo poderia trazer.
O grupo de professores discutia sobre seu comprometimento em ler muitos livros a fim de armazenar conhecimento e reescrever as obras literárias. No meio de uma guerra na cidade, o ex-bombeiro iniciava sua nova jornada.
Personagens Centrais
- Guy Montag: protagonista e bombeiro cuja missão é destruir livros, mas que acaba percebendo a importância da leitura.
- Clarisse McClellan: jovem que instiga Montag a questionar sua vida e seu trabalho.
- Mildred Montag: esposa de Montag, fútil e manipulada pelo sistema.
- Senhor Faber: professor que mostra a Montag uma nova maneira de enxergar a realidade e valorizar a literatura.
- Capitão Beatty: chefe dos bombeiros que simboliza o retrocesso e o desprezo pelo conhecimento.
- Granger: intelectual que lidera os professores fugitivos que preservam os livros memorizando-os.
- Sabujo: cachorro mecânico programado para caçar e matar intelectuais que têm livros, personagem exclusiva da obra literária.
Análise de Fahrenheit 451
Esta narrativa se propõe a explorar o universo da literatura usando a metalinguagem como ferramenta. É uma obra literária que gira em torno do tema de literatura.
Este livro mostra a paixão que as pessoas têm pelos livros e a importância do conhecimento para a sociedade. Ele pode ser usado como um meio de mudar o mundo para melhor.
Nesta obra, há uma alusão à censura que existia na Alemanha nazista e em outros regimes totalitários, bem como às consequências que esses regimes possam ter em outros países. Em seu discurso, a obra deixa uma mensagem para que as pessoas se preparem para os horrores que estão por vir.
Durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), o governo censurou livros, músicas, filmes e outras manifestações artísticas.
Fahrenheit 451 é um clássico que mantém vivas as discussões sobre os temas relevantes abordados e estimula o pensamento crítico.
Transformando Histórias para o Grande Ecrã
Fahrenheit 451, de François Truffaut
Após a adaptação para cinema do conto do bombeiro que provocava incêndios em livros, em 1966, François Truffaut dirigiu o icônico filme. Estrelado por Oskar Werner e Julie Christie nos principais papéis, a produção possui grande projeção até hoje.
O filme apresenta de forma fiél a narrativa contada na história. Uma cena que destaca isso é quando Montag e Clarisse conversam.
Fahrenheit 451, um Filme de Ramin Bahrani
Em 2018, a HBO produziu uma nova versão audiovisual da história com a direção de Ramin Bahrani. O papel principal, de Guy Montag, foi interpretado por Michael B. Jordan, conhecido por seu papel em Pantera Negra.
Essa versão apresenta um mundo cheio de tecnologia moderna, mas a crítica considerou-a como inferior à obra literária e ao filme de Truffaut. Segue o trailer para dar uma olhada:
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A Vida e Obra de Ray Bradbury
Ray Douglas Bradbury, um dos maiores escritores americanos, nasceu em 22 de agosto de 1920 no estado de Illinois, nos Estados Unidos.
Sem ter concluído o ensino superior, Ray conseguiu alcançar o sucesso como escritor de ficção científica por meio do seu estudo autodidata.
Em 1942, The Lake foi publicada e marcou o início de um estilo de escrita singular, unindo suspense e ficção científica.
Em 1947, Ray Bradbury escreveu uma coleção de contos intitulada Dark Carnival. Três anos mais tarde, ele lançou The Martian Chronicles, um livro que o catapultou para o topo dos nomes importantes da literatura de ficção científica dos Estados Unidos.
Fahrenheit 451 foi sem dúvida a obra mais conhecida do autor; no entanto, ele produziu cerca de trinta livros, além de contos e poemas.
Bradbury empregou seu talento em produções audiovisuais, incluindo animações e contribuições para a TV.
Em 6 de junho de 2012, o escritor faleceu na Califórnia aos 91 anos. A família não divulgou a causa de sua morte.