Dirigido por Charlie Kaufman, Estou Pensando em Acabar com Tudo é um filme de drama, suspense psicológico estadunidense lançado em 2020. Esta obra foi inspirada no livro de Iain Reid, canadense, de mesmo nome, publicado em 2016.
Acompanhamos Lucy em sua viagem para a casa dos pais de Jake, seu namorado. A relação entre eles vem apresentando problemas, e Lucy começa a notar as estranhas ocorrências acontecendo no local. Esta intrigante história está disponível para streaming na Netflix.
Cuidado! A partir daqui, haverão spoilers!
Explicação do Final do Filme: O que Aconteceu?
Enfim, Jake decide visitar a antiga escola, ignorando os pedidos de Lucy de retornar para casa. Logo, vemos a jovem avançando pelos corredores, perdida, até que tropeça no zelador do local.
Quando se cruza novamente com seu suposto namorado, eles dão lugar a dois jovens dançarinos que interpretam a famosa peça Oklahoma!. A coreografia tem um desfecho trágico para Jake, que acaba falecendo. Logo em seguida, podemos ver uma versão mais velha dele, agradecendo a um prêmio.
Jake é visto com um DVD da obra Uma Mente Brilhante (2001) algum tempo antes. As suas falas remetem para o célebre discurso de encerramento do filme.
Os pais e Lucy de (inserir nome) estão de volta à plateia, notavelmente envelhecidos. Quando o monólogo é encerrado, o cenário muda para o quarto da juventude de (inserir nome). O espaço está cheio de livros, filmes e quadros, que provavelmente nos darão algumas pistas para compreender a narrativa complexa.
Exigindo um olhar análisico do espectador, Estou Pensando em Acabar com Tudo pede para que pistas sejam procuradas, informações sejam reunidas e que os espaços em branco sejam preenchidos. Em uma entrevista concedida ao Indie Wire em 2020, o diretor desta obra enigmática deu a seguinte explicação:
O filme fala sobre a experiência de alguém que absorve as coisas que vê , sobre o modo como elas se tornam parte de sua psique...
Ao observarmos a ação, percebemos que ela se passa na mente de alguém incapaz de distinguir a realidade do sonho. Estamos acompanhando as alucinações de um homem infeliz e solitário que usa a fantasia como escapatória para não encarar a própria realidade.
Jake, sem qualquer ligação à sociedade, une diversas referências com o objetivo de escrever um romance, criar um amor e traçar um futuro promissor para si mesmo. Contudo, para compreendermos de forma adequada a trama, não é suficiente dizer que tudo aconteceu dentro da sua cabeça.
Jake é o Zelador
O velho zelador que trabalha na escola aparece em diversas cenas do filme, sozinho e descontextualizado. Esta presença frequente nos faz indagar a importância deste homem para a trama que estamos acompanhando.
O motor da ação são as tarefas e rotinas solitárias que Lucy executa, o que influencia a sua mente a produzir fantasias. Como exemplo, o ensaio da peça Oklahoma! por parte dos alunos do local resulta na inspiração para o último encontro entre Lucy e Jake.
Ao assistir à comédia romântica, Jake parece ter se inspirado; pois, depois, ele contou aos pais que conheceu a namorada trabalhando numa lanchonete, o que contradizia o que havia contado anteriormente.
Jake costuma dizer a Lucy que o cinema reformula seus devaneios; o que ele vê reforça essas ideias, transformando-os. Com isso, ele se sente capaz de imaginar e compreender melhor o mundo ao seu redor.
Encho o meu cérebro de mentiras para passar o tempo...
Ele estava tão desapontado com a vida que levava que já não tentava alterar o seu destino. Em vez disso, caía em fantasias e imaginava ter uma namorada.
Imaginar uma versão diferente de si mesmo, como um homem mais jovem bem-sucedido e estável, pode ser mais realista do que ações. Afinal, um pensamento pode ser tão real quanto uma ação.
Nesta obra, o personagem se identifica com Uma Mulher sob Influência (1974), um filme cujo protagonista sofre de desordens mentais e se vê preso em uma espiral descontrolada. Ele consegue enxergar-se nela, nos momentos de solidão e desespero.
A Fantasia de Lucy
Logo no começo do filme, Lucy diz que namora Jake há algumas semanas, mas tem a sensação de que o conhece há mais tempo. Durante a jornada de carro, ela parece confusa e não consegue lembrar a última vez que viajou.
Quando Jake e Lucy se encontram, há uma forte conexão entre eles. A casa dos pais de Jake evoca lembranças da infância de Lucy; ela chega ao ponto de ver sua imagem em uma foto de Jake quando era criança. É como se eles compartilhassem os mesmos pensamentos, praticamente se comunicando por telepatia. É tanta a conexão entre os dois que Lucy chega a dizer que não sabe mais "onde um começa e o outro acaba".
Ao longo da narrativa, a confusão da moça só piora. Jake contribui para a situação, pois o nome que chama a namorada muda constantemente entre Lucy, Lucia, Louisa, e Amy. O mesmo acontece com suas ocupações; ela é alternadamente uma estudante, cientista, poeta, artista visual, garçonete e especialista em cinema.
O zelador misturou referências para criar sua personagem; o poema que ela declama foi escrito por Eva H.D. e, no quarto de Jake, encontramos o livro dela.
Ao olhar para as paredes do quarto, é possível ver os quadros que Lucy pintou para seus sogros, mostrando que aquilo que estamos vendo é fruto da imaginação dela. Esta fantasia nos permite entender as dúvidas que Lucy tem sobre sua identidade e sobre seu passado ao longo do enredo.
Mesmo tendo sido idealizada por Jake, Lucy rejeita o seu parceiro e não consegue ter o final feliz que desejava, mostrando que ele não tem o controle sobre o mundo que criou.
Quando Lucy e o zelador se encontram no corredor da escola, Jake percebe que a alucinação está chegando ao fim. Ele tenta prolongar a viagem, mas a mentira tem um desenlace inevitável.
Durante o diálogo entre os dois, foi descoberta a origem da criação da mulher do zelador. Ele a havia visto em um bar, mas nunca teve oportunidade de falar com ela. Isso o levou a imaginar as possibilidades de uma vida que eles poderiam ter vivido juntos.
A Solitária Busca por um Fim
Desde o início do filme, Lucy fala que a ideia de "acabar com tudo" já se encontrava instalada, como um pensamento antigo, em sua mente, aumentando cada vez mais sua presença.
Durante a viagem de carro, Jake menciona o autor David Foster Wallace para transmitir uma mensagem sombria: o zelador está cogitando tirar a própria vida. Esta informação, aparentemente apenas um fim de relação, é simbolizada pela forma como Foster Wallace morreu: suicídio.
Durante o jantar, testemunhamos o ciclo da vida: a velhice e a morte dos pais do homem. A partir destas memórias, ele ficou ainda mais isolado e desconectado. No passado, ele possuía habilidades notáveis, no entanto, não conseguia se relacionar com outras pessoas. Isto o levou a desenvolver distúrbios mentais e a criar um mundo próprio em sua mente.
O zelador enfrenta a realidade ao entrar no carro. Tremendo e passando mal, ele tem uma retrospectiva de sua vida, como se visse seus momentos de infância projetados numa tela de cinema. O final desta fantasia marca o seu confronto com a realidade.
Sem qualquer traje, ele perseguia um porco por entre os corredores da escola - uma analogia para uma recordação sombria do seu passado: os porcos da fazenda, que mesmo vivos estavam sendo devorados por vermes.
No final do livro de Iain Reid, fica claro que ele morreu de infarte no carro. A cena era repleta de simbolismo e deixava uma mensagem aberta. Porém, quando o seu corpo foi encontrado, confirmou-se a interpretação mais consensual.
Elenco e Personagens
Jessie Buckley como Lucy
Durante o filme, a personagem principal é referida por vários nomes diferentes, como Lucy, Lucia e Amy. A cada momento de narrativa, suas ocupações e interesses também são alterados. Envolvida em segredos, ela parece confusa e fragilizada ao longo da trama.
Jesse Plemons como Jake
Após apenas três semanas de relacionamento, Jake já planejava um futuro ao lado da protagonista. Apesar da frieza dela, ele tentava a todo custo controlar a situação, a fim de impedir que ela partisse e os separasse.
Toni Collette como Suzie
A mãe de Jake é uma presença vigorosa durante o filme, contando histórias do passado do filho que o deixam envergonhado e zangado. No entanto, à medida que o filme avança, percebemos a deterioração da sua saúde. É como se pudéssemos ver a transição da mãe de Jake jovem e cheia de energia para doente e enfraquecida. A expectativa pela futura nora é o que a mantém empolgada.
Ator David Thewlis como Dean
O pai de Jake é gentil, mas também tende a ser indelicado e tem pontos de vista polêmicos. Ao longo da história, vemos que o homem está sofrendo de demência e começando a esquecer todas as coisas de seu meio.
Guy Boyd - Zelador da Escola
O protagonista deste filme possui um trabalho solitário, como zelador de uma escola. Ele é visto se distraindo com filmes e peças de teatro que afetam a narrativa da história.
Informações técnicas do filme
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