Durante o final do século XVIII, a Europa viveu intensas transformações políticas, sociais e culturais, que deram origem ao movimento Romântico. Esse período, marcado por um espírito de oposição e contestação, foi marcado por manifestações artísticas, literárias e filosóficas.
A partir da Ilustração, o foco passou a ser o indivíduo e suas emoções, ao contrário do racionalismo anterior. Esta mudança repercutiu em muitas áreas da vida cotidiana, modificando a maneira de criar e encarar o mundo. No entanto, isso às vezes provocou uma exacerbação ou idealização em relação aos sentimentos.
A abolição da escravidão e a independência do Brasil serviram de inspiração à corrente que tomou o nosso país. Essas transformações impulsionaram o processo de renovação que vinha acontecendo.
1. A Vida de Gonçalves de Magalhães
Gonçalves de Magalhães (1811 — 1882) foi o primeiro a introduzir o romantismo no Brasil. O autor carioca, que era médico, diplomata e escritor, teve a oportunidade de conhecer o movimento durante seu período na Europa, trazendo as influências para o nosso território.
Em 1836, lançou-se o livro Suspiros poéticos e saudades, que foi o marco inicial da literatura romântica brasileira, apesar de não ter sido bem recebido pelos críticos.
Nos versos de Castro Alves, o nacionalismo da época ganhava força, tornando-se ainda mais intenso depois da Independência, declarada em 1822.
Gonçalves de Magalhães, assim como outros autores de sua época, abordou a figura do indígena em suas obras. Embora os relatos sejam de caráter ficcional, eles representam a tentativa de encontrar elementos que definam a identidade brasileira de forma autônoma.
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2. Obras de Álvares de Azevedo
Ícone do ultra-romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo (1831-1852) liderou a segunda geração do modernismo nacional. O talentoso escritor de São Paulo, contribuiu com obras e estilo inovador para a literatura, sendo reconhecido como um grande poeta.
Nesta fase posterior, o movimento era marcado por uma intensa subjetividade. Os textos eram permeados por sentimentos profundos, bem como por emoções sombrias, como a solidão, o sofrimento e a necessidade de fugir da realidade.
O autor lidou com muitas questões relacionadas à saúde, incluindo a tuberculose, o que aumentou seu pessimismo e sua obsessão com a morte. Infelizmente, essa narrativa biográfica foi interrompida precocemente já que ele faleceu aos 20 anos.
Lira dos Vinte Anos, obra conhecida do autor, foi publicada em 1853, após a sua morte. Esta tornou-se uma grande influência na poesia do gênero.
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
(Trecho do poema Lembranças de morrer)
3. A Vida e Obra de Casimiro de Abreu
Casimiro de Abreu (1839 - 1860), parte da segunda geração do movimento, foi um poeta, romancista e dramaturgo carioca. Durante sua juventude, ele residiu em Portugal.
Durante a sua estadia lá, ele teve oportunidade de conhecer vários autores contemporâneos e escreveu grande parte dos seus trabalhos. Seus poemas estão marcados pela celebração da sua terra natal, desejando saudades dos parentes que deixou para trás.
Após a sua morte, a coletânea poética Primaveras, lançada em sua homenagem, obteve grande sucesso entre a crítica. Ela se tornou, então, uma referência importante para o público brasileiro e português.
4. A Vida de José de Alencar
O escritor cearense José de Alencar (1829-1877) exerceu um importante papel na história da literatura brasileira, mas defendeu a manutenção da escravidão e posicionou-se contra a abolição.
A obra de José de Alencar é destacada como grande impulsionadora do romance nacional brasileiro, que buscava colocar em destaque a realidade brasileira. Entre os seus principais livros, encontramos o famoso "O Guarani" (1857) e "Iracema" (1865), também conhecidos como obras indigenistas.
Ressalta-se que esses romances, tendo a população indígena brasileira como foco, não eram tratados de maneira objetiva ou realista. Pelo contrário, havia uma idealização de tais grupos, ao invés de um conhecimento verídico sobre suas reais vivências.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela, e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta.
(Trecho do romance Iracema)
5. A Vida e a Obra de Gonçalves Dias
Gonçalves Dias (1823 — 1864) foi uma figura fundamental do movimento indianista, ou seja, centrado na figura do índio. Ele foi parte da tradição indianista.
Durante o seu período europeu, o maranhense, que é jornalista e advogado, passou a se dedicar à carreira literária. Seus escritos líricos eram influenciados pela saudade que ele sentia pelo Brasil, refletindo a sua sensação de exílio.
No seu célebre Poema do Exílio, seus famosos versos descrevem a beleza das paisagens nacionais, apontando os elementos únicos e inesquecíveis de sua fauna e flora.
6. O Poeta Castro Alves
Castro Alves (1847 — 1871) fazia parte da terceira geração romântica e é até hoje lembrado por sua poesia permeada por preocupações sociais. Como baiano, sua obra literária tem como marca a defesa dos direitos humanos.
Ele foi considerado um dos mais importantes autores do seu tempo, destacando-se por expressar, por meio de suas obras, as atrocidades e desigualdades sofridas pelos escravizados.
Em 1870, Castro Alves publicou seu poema mais importante: O Navio Negreiro, dividido em seis partes. Esta obra descreve uma dolorosa jornada marítima rumo ao Brasil. Anos mais tarde, foi reunida em um livro de poesias intitulado Os Escravos.
7. A Fabulosa Maria Firmina dos Reis
Nascida no Maranhão, Maria Firmina dos Reis (1822 — 1917) foi uma pioneira: a primeira romancista afro-descendente no Brasil. Sua mãe, Leonor Felipa, era uma mulher escravizada, enquanto seu pai era um comerciante local.
Precedendo Castro Alves, Chica da Silva foi uma importante lutadora abolicionista. A contemporânea do Romantismo escreveu sobre o tema em uma época em que a questão ainda era bastante debatida.
Úrsula (1859), obra de Joaquim Manuel de Macedo, é inovadora por sua ênfase na reflexão sobre a condição da mulher negra no Brasil. Esta é a primeira vez que temos um olhar feminino sobre a negritude na literatura nacional.
Assim, Maria Firmina dos Reis não só torna os cidadãos negros objeto de discurso na época, mas também os considera sujeitos, autores que podem contribuir com suas próprias experiências.
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras.
(Trecho do romance Úrsula)
8. A Obra de Junqueira Freire
Junqueira Freire, um autor baiano pertencente à segura geração do Romantismo (1832-1855), foi destacado no campo da poesia. Seus versos foram caracterizados por temas religiosos, sociais e filosóficos, bem como por reflexões sobre as nuances do amor.
A pedido da família, aos 19 anos ele ingressou na Ordem dos Monges Beneditinos, sem sentir vocação para isso. Nessa época, começou a registrar em sua escrita as inquietações que vivenciava.
Junqueira Freire, um dos principais representantes do ultrarromantismo brasileiro, expressou sua infelicidade e revolta pelo destino que lhe foi imposto, não aceitando o caminho do celibato e o afastamento da vida em um mosteiro.
Inspirações do claustro (1866), obra marcante de sua carreira, era composta de criações realizadas durante aquela época. Obteve autorização para sair do mosteiro, no entanto, faleceu pouco tempo depois, em decorrência de uma complicação cardíaca.
Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra — esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.
(Trecho do poema Morte)
9. Biografia de Fagundes Varela
Fagundes Varela (1841 – 1875) foi um escritor e boêmio carioca que faz parte da geração ultrarromântica. Seu trabalho se concentra principalmente na descrição da natureza, adotando um estilo bucólico.
Igualmente aos de seus coetâneos, o poeta escrevia sobre sentimentos desfavoráveis como melancolia, pessimismo, desejo de evadir a realidade e preocupação com a morte. Todavia, a sua poesia já evidenciou conteúdos sociais e políticos, aproximando-o da geração posterior.
Muitos acadêmicos classificam Augusto dos Anjos como um poeta de transição e críticos reconhecem que ele assimila elementos da diversas fases do Romantismo. Seu livro mais famoso, Cantos e Fantasias (1865), contém um poema profundamente tocante a respeito de seu filho falecido, intitulado "Cântico do Calvário".
10. A Vida e Obra de Joaquim Manuel de Macedo
Joaquim Manuel de Macedo, carioca famoso por suas atividades como escritor, médico e político, foi um grande destaque no cenário brasileiro. Ele se destacou como romancista, poeta e dramaturgo, e viveu entre 1820 e 1882.
A obra de Joaquim Manuel de Macedo, frequentemente definida como sentimentalista, alcançou grande popularidade, transformando-se em um dos mais importantes êxitos literários da sua época. O seu maior trabalho, A Moreninha (1844) é considerado o ponto de partida para o romance brasileiro, com destaque para a descrição da sociedade do seu tempo.
A narrativa se concentra, especialmente, nos costumes da burguesia, relata a idealização do amor entre um estudante de medicina e uma cativante garota de apenas 14 anos.
Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam: mas, ao sentirem passos, voaram e pousando não muito longe, em um arbusto, começaram a beijar-se com ternura: e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina!...
Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era pejo.
(Trecho do romance A Moreninha)
11. A Obra de Machado de Assis
Machado de Assis (1839 — 1908) é considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira, devido à sua capacidade de introduzir o Realismo em contextos nacionais. Seus temas universais e características inovadoras possibilitaram que ele se tornasse um escritor atemporal, ainda conquistando novos leitores.
Antes de alcançar seu estilo realista, a produção literária de Machado de Assis foi fortemente influenciada pelo Romantismo, mostrando as principais características desta terceira fase do movimento artístico.
Nos seus primeiros trabalhos, Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874) e Histórias da Meia-noite (1873), a influência de Lev Tolstoi é visível.
12. A Vida de Manuel Antônio de Almeida
Manuel Antônio de Almeida (1830 - 1861) foi um médico e educador carioca que se destacou como escritor romântico da primeira geração. Embora tenha publicado apenas uma obra durante a sua vida, também se dedicou ao jornalismo, assinando crônicas, artigos e críticas.
Ao contrário da maioria das obras da época, que se preocupavam mais com as classes mais altas, Memórias de um Sargento de Milícias traz o olhar para as classes sociais mais baixas. Publicada em 1852 e 1853 em capítulos no jornal Correio Mercantil, a obra aborda a malandragem carioca retratando com fidelidade os costumes da época.
O livro é caracterizado por um tom humorístico e funciona como uma crônica de costumes da sociedade urbana da época. Ele também expressa elementos do movimento realista, que ganharia popularidade anos depois.
Até então indiferente ao que se passava em torno de si, parecia agora participar da vida, de tudo que a cercava; gastava horas inteiras a contemplar o céu, como se só agora tivesse reparado que ele era azul e belo, que o sol o iluminava de dia, que se recamava de estrelas à noite.
(Trecho da novela Memórias de um Sargento de Milícias)
13. A Beleza de Narcisa Amália
Narcisa Amália (1852 - 1924) é um nome frequentemente ignorado quando falamos de escritores daquele período. Ela foi a primeira mulher a se tornar uma jornalista profissional em nosso país. Além disso, foi também tradutora e escreveu muitos trabalhos de opinião que mostravam seu profundo senso social.
Em suas obras, ele abordava temas variados, mas principalmente os direitos das mulheres e das pessoas escravizadas. Assim, defendia uma postura republicana.
A obra de Cláudio Manoel da Costa reflete a procura de uma identidade nacional, focada em elementos típicos brasileiros. Isso é bastante perceptível em Nebulosas (1872), seu único livro publicado, que trata de temas como a natureza e os sentimentos.
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.
(Trecho do poema Por que sou forte)
14. A Vida e Obra de Bernardo Guimarães
O nome de Bernardo Guimarães (1825 — 1884) é conhecido por sua contribuição ao movimento abolicionista. Além disso, ele foi jornalista, magistrado e escritor mineiro. Na literatura, ficou conhecido por suas poesias, algumas consideradas obscenas na época, mas especialmente por seus romances.
Suas obras, como A Voz do Pajé (1860), O Ermitão do Muquém (1864) e O Índio Afonso (1872), apresentavam a tendência indianista popular na época. No entanto, seu maior sucesso foi, sem dúvida, o romance A Escrava Isaura (1875).
O livro, que retrata as violências e abusos sofridos por uma jovem escravizada, foi um grande sucesso entre os leitores contemporâneos, contribuindo para a sensibilização da sociedade brasileira em relação à brutalidade dos atos escravistas. Desde então, ganhou inúmeras adaptações posteriores.
15. O Legado de Franklin Távora
Franklin Távora (1842 — 1888) foi um destaque na literatura brasileira como advogado, político e escritor cearense. É considerado o precursos do regionalismo nordestino e possuía características tanto românticas quanto realistas em suas obras.
Cabeleira (1876) é seu romance mais famoso, com o protagonista sendo um cangaceiro, cujas ações são influenciadas pelo comportamento agressivo e transgressor de seu pai.
A obra oferece ao leitor um retrato minucioso da vida no Nordeste, repleto de referências populares e expressões típicas da região. A linguagem usada é de fácil compreensão.
Cabeleira podia ter vinte e dois anos. A natureza o havia dotado com vigorosas formas. Sua fronte era estreita, os olhos pretos e lânguidos; o nariz pouco desenvolvido, os lábios delgados como os de um menino. É de notar que a fisionomia deste mancebo, velho na prática do crime, tinha uma expressão de insinuante e jovial candidez.
(Trecho do romance Cabeleira)