Contos de Fadas Infantis Comentados para Dormir: 13 Histórias


Escrito por Carolina Marcello

1. O Sono Encantado da Bela

Era uma vez um rei e uma rainha. Dia após dia eles diziam um para o outro: “Oh, se pelo menos pudéssemos ter um filho!” Mas nada acontecia. Um dia, quando a rainha tomava banho, uma rã saiu da água, rastejou para a borda e disse: “Seu desejo será realizado. Antes que se passe um ano, dará à luz a uma filha”. A previsão da rã se realizou e a rainha deu à luz a uma menina muito bonita.

Para comemorar, o rei fez um grande banquete e chamou muitos convidados. Vieram treze feiticeiras do reino, mas, como só haviam doze pratos de ouro, uma feiticeira ficou de fora. Vingativa, a feiticeira que foi deixada de lado decidiu se vingar e praguejou: “Quando a filha do rei fizer quinze anos, espetará o dedo numa agulha e cairá morta!”

Uma das feiticeiras que ouviu a maldição, no entanto, foi a tempo de abrandá-la e disse: “A filha do rei não morrerá, cairá num sono profundo que durará cem anos.”

O rei, tentando proteger a filha, fez desaparecer todas as agulhas do reino, apenas uma restou. Conforme previsto, um belo dia, aos quinze anos, a princesa espetou o dedo na agulha que restava e caiu em sono profundo.

Muitos anos se passaram e uma série de príncipes tentaram resgatar a princesa do sono profundo sem sucesso. Até que um dia, um corajoso príncipe, motivado a reverter o feitiço, foi ao encontro da bela princesa.

Quando finalmente conseguiu entrar no quarto onde a princesa dormia, curvou-se e beijou-a. Justo nessa ocasião, o prazo de cem anos havia se esgotado, tendo ele sido enfim bem-sucedido. Foi dessa forma que a princesa despertou.

O casamento dos dois foi celebrado com muita pomba e os dois apaixonados viveram felizes para sempre.

O conto de fadas da Bela Adormecida contém muitos significados. Por exemplo, a figura do pai é associada à de um protetor. Ele tenta defender sua filha de tudo o que possa causar-lhe dano, apesar de que, às vezes, isso parece impossível.

A feiticeira, por sua vez, apresentou sua própria vingança, desejando devolver o mal que lhe foi feito. Por ela ter sido desconsiderada, ela lançou uma terrível maldição sobre o rei e sua filha, que não tinha nada a ver com a situação.

O valente príncipe, cujo nome não é mencionado, salva a princesa que era a maior vítima do feitiço. Ele nos lembra que não devemos desistir, mesmo que os demais já tenham tentado e falhado. Que devemos ter resiliência e buscar aquilo que desejamos.

A protagonista possui uma postura passiva, dependendo de uma figura masculina para ser salva. Esse recurso frequente em contos de fadas tem sido criticado por muitos espectadores contemporâneos.

O amor é descrito como o responsável por trazer a vida nova à bela princesa, libertando-a do seu sono profundo.

A versão mais comum da história de A bela adormecida foi criada pelos irmãos Grimm, no entanto, foram inspirados por versões mais antigas. Charles Perrault também compilou uma edição em 1697, intitulada A bela adormecida no bosque, que passou a ser bem conhecida.

A história curta conhecida como Sol, Lua e Tália, escrita por Giambattista Basile em 1636, teve diversas releituras. De acordo com a versão original, Tália acidentalmente espeta uma farpa na unha e morre. Porém, mesmo assim, o rei que a vê dormindo profundamente, se apaixona instantaneamente por ela, apesar dele próprio estar casado.

Ele e Tália têm um relacionamento amoroso, que resulta na criação de dois filhos, Sol e Lua. Por sorte, um deles, chupando o dedo da mãe, conseguiu remover a farpa que a mantinha adormecida e, assim, ela despertou.

Ao descobrir que o rei teve um caso e dois filhos bastardos, a rainha ficou furiosa e preparou uma armadilha para assassinar a mulher. No entanto, o plano não saiu conforme o esperado e foi a própria rainha quem acabou sendo morta na armadilha que havia preparado para Tália. Por fim, a história termina com o rei, Tália, Sol e Lua felizes para sempre.

Na narrativa de Perrault, assim que o príncipe se ajoelha diante da bela adormecida, ela acorda e os dois se apaixonam. Eles têm dois filhos, uma menina chamada Aurora e um menino chamado Dia. A grande vilã desse conto é a mãe do príncipe. Quando ele é convocado para a guerra, ela fica encarregada dos cuidados com a nora e os netos, porém, com ciúmes, planeja matar a família. No entanto, antes que consiga colocar seu plano em ação, é impedida por uma camareira bondosa que avisa a bela do perigo.

2. A Beleza e a Besta

Era uma vez um rico negociante que vivia com os seus seis filhos. As suas filhas eram muito bonitas, a caçula principalmente despertava grande admiração. Quando era pequena, só a chamavam “a bela menina”. Assim foi que o nome Bela pegou - o que deixava as suas irmãs muito enciumadas.

Essa caçula, além de ser mais bela que as irmãs, era também melhor que elas. As duas mais velhas se orgulhavam muito de ser ricas, só gostavam da companhia de gente da nobreza e zombavam da caçula, que ocupava a maior parte de ser tempo lendo bons livros.

De repente, o negociante perdeu a sua fortuna. Só lhe restou uma pequena casa no campo, bem longe da cidade. E assim a família se mudou.

Já instalados em sua casa no campo, o negociante e as três filhas se ocupavam lavrando a terra. Bela levantava às quatro horas da madrugada e se apressava em limpar a casa e preparar o café da manhã para a família.

Depois de um ano levando essa vida, o negociante recebeu a notícia de que um navio trazia mercadorias suas e foi correndo para a cidade ver se conseguia fazer algum negócio. As filhas pediram da cidade presentes caros ao pai, Bela, no entanto, pediu que ele trouxesse apenas uma rosa.

No regresso à casa, o negociante sentiu fome, ficou preso numa nevasca e descobriu um grande palácio para se abrigar durante a noite. No jardim do palácio recolheu a rosa para levar para Bela. No dia a seguir, a Fera, uma criatura horrível dona do palácio, condenou o invasor à morte pelo furto da rosa.

Após descobrir que o negociante tinha filhas, a Fera propôs que uma delas trocasse de lugar com o pai e morresse em seu nome. Bela, quando soube dessa possibilidade, se voluntariou rapidamente para trocar de lugar com o pai.

Após muita relutância do pai, Bela ocupou o seu lugar. Fechada no palácio com a Fera, Bela foi conhecendo aquele monstro terrível e cada vez mais se afeiçoou a ele porque foi conhecendo o seu interior.

“Muitos homens são mais monstruosos e gosto mais do senhor com essa aparência que daqueles que, por trás de uma aparência de homens, escondem um coração falso, corrompido, ingrato”. Com o passar do tempo, Bela foi perdendo o medo que tinha e a Fera foi se aproximando da bela moça.

Bela começou a olhar para a Fera com outros olhos e concluiu que “não era a beleza, nem a inteligência de um marido que fazem uma mulher feliz. É o caráter, a virtude, a bondade. A Fera tem todas essas boas qualidades. Não o amo; mas tenho por ele estima, amizade e gratidão. Quero casar com ele para fazê-lo feliz.”

E foi assim que a Bela decidiu se casar com a Fera e, ao dizer o sim, a criatura terrível se transformou em um belo príncipe que, na verdade, estava preso em um corpo horrível graças a um encantamento de uma fada má.

Depois do casamento, ambos viveram felizes para sempre.

Duas personagens com origens e traços bem distintos estão presentes no conto de Bela e a Fera. É necessária uma adaptação mútua para que elas possam viver juntas e experimentar o amor.

Esta história é um exemplo clássico de amor romântico e comprova que o ser humano pode transcender a aparência para se apaixonar pela essência efêmera do seu parceiro.

Muitos pesquisadores acreditam que a história foi usada para sutilmente ensinar às jovens mulheres cujos casamentos foram arranjados com homens mais velhos ou desagradáveis, a procurar nas suas relações características affetivas que as motivassem a amar. Esta prática foi nomeada como "Educação sentimental”.

A história tem como intuito transmitir a mensagem de que aparência não é tudo. O amor descrito aqui encontra-se baseado na gratidão e admiração, mais do que na paixão. O verdadeiramente importante é a inteligência, o respeito e a bondade do marido.

No início do século II d.C, Apuleio de Madaura publicou O asno de ouro, onde é narrada a história de Eros e Psique. Nessa versão, Psique é raptada por bandidos no dia do seu casamento. Apesar da descrição de seus raptores como "feras", a heroína subsequentemente desenvolve compaixão por eles.

A mais conhecida e próxima versão da qual temos conhecimento foi publicada por Madame de Beaumont em 1756.

3. A História de João e Maria

Era uma vez dois irmãos: João e Maria. Nunca havia muito o que comer na casa deles já que o pai dos dois, um lenhador, passava por enorme dificuldade. Como não havia comida para todos, a madrasta, uma mulher má, sugeriu ao pai das crianças que os meninos fossem abandonados na floresta.

O pai, que não gostou nada do plano a princípio, acabou aceitando a ideia da mulher porque não viu outra hipótese. João e Maria ouviram a conversa dos adultos e, enquanto Maria se desesperou, João pensou numa maneira de resolver o problema.

No dia a seguir, enquanto seguiam para a floresta, João foi espalhando pedrinhas brilhantes pelo caminho de modo a marcar o regresso para casa. Foi assim que os irmãos conseguiram voltar para a casa pela primeira vez depois de serem abandonados. O pai ficou radiante ao vê-los, já a madrasta ficou furiosa.

A história voltou a se repetir e João planejou o mesmo para se livrar do abandono outra vez e foi espalhando migalhas de pão pelo caminho. Dessa vez, os irmãos não conseguiram regressar porque as migalhas foram comidas por animais.

Os dois encontraram, enfim, no meio da floresta, uma casa cheia de doces que pertencia a uma bruxa. Famintos, eles devoraram bolos, chocolates, tudo o que havia. A bruxa acabou por prender os dois irmãos: João ficou numa gaiola para ser engordado antes de ser devorado, e Maria passou a fazer os trabalhos domésticos.

A bruxa, que era meio cega, todos os dias pedia para apalpar o dedo do menino para ver se ele já tinha engordado o suficiente para ser devorado. Esperto, João sempre oferecia um graveto para a bruxa apalpar no lugar do dedo e assim ia garantindo mais dias de vida.

Numa oportunidade pontual, Maria conseguiu finalmente empurrar a bruxa para dentro do forno e libertar o irmão.

Os dois encontraram então o caminho de casa e, quando chegaram lá, descobriram que a madrasta havia morrido e que o pai estava profundamente arrependido da decisão que tomou. Foi assim que a família se reuniu novamente e foram todos felizes para sempre.

Contada desde a Idade Média, a história de João e Maria é um tributo ao valor e ao espírito de independência das crianças. É também uma homenagem à união entre irmãos, que juntos são capazes de enfrentar e superar qualquer adversidade.

Raramente vemos em contos de fadas a solidariedade entre irmãos, no entanto, este é um deles.

A história de As crianças e o bicho-papão foi contada pela primeira vez pelos irmãos Grimm. Sua versão foi posteriormente aprimorada por Engelbert Humperdinck, em 1893. Estas versões retratam os irmãos, destemidos, vencendo as dificuldades impostas pela vida.

A narrativa mostra que, quando estamos sob ameaça, não devemos nos perder em desespero. É preciso agir com cautela, como fez João, deixando pistas que o permitiram regresso à segurança sem precisar de ajuda.

O conto de João e Maria aborda a difícil questão do abandono infantil, enfatizando a desilusão das crianças que se sentem desamparadas.

A diferença entre os sexos dos irmãos remete ao equilíbrio entre yin e yan, que simboliza a complementaridade. Maria é mais tímida, enquanto João é mais ousado. A junção de seus traços característicos cria as forças necessárias para que eles consigam sobreviver.

A força de vontade de João e Maria é impressionante, e elas lutam com determinação contra as dificuldades criadas pelos adultos. Estas crianças possuem uma maturidade que supera a dos adultos.

A história de João e Maria nos ensina sobre a importância do perdão, visto que eles perdoaram seu pai arrependido por sua ação influenciada pela madrasta.

4. A História dos Três Porquinhos

Era uma vez três irmãos porquinhos, que viviam com a mãe e tinham personalidades muito diferentes. Enquanto dois porquinhos eram preguiçosos e não ajudavam no serviço doméstico, o terceiro porquinho fazia tudo o que podia para ajudar.

Um dia, os porquinhos, que já estavam grandes o suficiente, saíram de casa para construírem as próprias vidas. Cada porquinho usou uma estratégia distinta para construir a sua própria casa.

O primeiro, preguiçoso, ergueu uma casa de palha, que não deu quase trabalho para ser levantada. O segundo, seguindo o exemplo do primeiro, construiu uma casa de madeira depressa, para também poder ir brincar logo. O terceiro, precavido, demorou mais e fez uma casa com tijolos, muito mais resistente.

Enquanto os dois primeiros porquinhos brincavam sem se preocuparem com o dia de amanhã, o terceiro seguia com a sua construção de vento em popa.

Até que, um belo dia, apareceu um lobo mau. Ele foi para a casa do primeiro porquinho, assoprou, e a construção foi imediatamente para os ares. O porquinho por sorte conseguiu se refugiar na casa ao lado, feita de madeira.

Quando o lobo chegou na segunda casa, a de madeira, também assoprou e as paredes voaram rapidamente. Os dois porquinhos foram procurar abrigo, então, na casa do terceiro. Como as paredes eram de tijolos, nada aconteceu mesmo com todo o assopro do lobo.

No dia a seguir, motivado a comer os porquinhos, o lobo voltou e tentou entrar pela casa resistente através da lareira. O precavido, já imaginando que isso poderia acontecer, deixou um caldeirão escaldante bem debaixo da lareira, o que garantiu a sobrevivência dos três irmãozinhos.

A lenda antiga nos mostra que devemos prestar atenção ao futuro, agir com cautela e nos prepararmos para enfrentar os desafios. Enquanto os dois porquinhos preguiçosos se divertiam sem pensar nas consequências, o terceiro teve a sabedoria de adiar o seu prazer, para construir uma casa mais firme e resistente.

A história do terceiro porquinho vem nos ensinar que é necessário planejar para os dias piores e pensar além do que está diretamente à nossa frente. O fato de ele ter feito isso salvou os outros porquinhos, que eram mais imediatistas.

A persistência do terceiro porquinho mostra a importância de mantermos nossas crenças, mesmo quando todos ao nosso redor estão se divertindo. Devido a essa resiliência, a família porquinho conseguiu ter um lar confortável e seguro.

O conto dos Três porquinhos ganhou popularidade a partir do ano 1.000 d.C., contudo, foi em 1890 que a história foi compilada por Joseph Jacobs e tornou-se conhecida mundialmente. Não se sabe quem foi o primeiro autor da narrativa.

5. A História de Cinderela

Era uma vez Cinderela, uma menina órfã que era criada pela madrasta. Tanto a madrasta, uma mulher má, como as suas duas filhas, tratavam Cinderela com desdém e usavam todas as oportunidades que tinham para humilhar a jovem.

Um belo dia o rei da região ofereceu um baile para que o príncipe pudesse encontrar a futura esposa e instruiu que todas as mulheres solteiras do reino comparecessem.

Com a ajuda de uma fada madrinha, Cinderela arrumou um belo vestido para frequentar o baile. A sua única condição era que a moça voltasse para casa antes da meia-noite. O príncipe, ao ver a bela Cinderela, caiu logo de amores. Os dois chegaram a dançar juntos e conversaram durante toda a noite

Cinderela, percebendo que o seu horário estava terminando, saiu correndo para casa, perdendo acidentalmente um dos sapatos de cristal que usava.

De volta à rotina, a moça continuou com a vida terrível que levava antes. Já o príncipe, não desistiu de procurar a bela amada pedindo na região que todas as mulheres experimentassem o tal sapato de cristal que ficou com ele.

Quando o príncipe tocou na casa de Cinderela, a madrasta a trancou no sótão e fez de tudo para que o rapaz se convencesse que uma das suas duas filhas era a tal moça: mas de nada adiantou. Finalmente o príncipe percebeu que havia mais alguém em casa e exigiu que todos comparecessem à sala. Ao ver a bela moça imediatamente a reconheceu e, quando Cinderela experimentou o sapato, o seu pé cabia perfeitamente.

O príncipe e Cinderela então se casaram e viveram felizes para sempre.

O conto de Cinderela começa de maneira triste, abordando o tema do abandono e da negligência familiar. A protagonista é vítima de relações abusivas por parte de sua madrasta, tendo seu sofrimento silenciado. Esta é a trama por trás da famosa história da Gata Borralheira.

O amor mostra-se como a força regeneradora na história de Cinderela. Quando o príncipe chega, a sua sorte finalmente muda para melhor. Com o amor a guiá-la, Cinderela é capaz de escapar da terrível situação em que se encontrava.

A personagem Cinderela é um símbolo de esperança e força, retratando a necessidade de persistência para superar as dificuldades. Contos de fada transmitem uma mensagem de que dias melhores chegarão e é essencial resistir às adversidades da vida.

A história de Cinderela foi registrada pela primeira vez na China, em 860 A.C., e desde então se espalhou para várias partes. Na Grécia Antiga já existia uma narrativa similar, que se tornou muito popular no século XVII devido ao escritor italiano Giambattista Basile. Charles Perrault e os irmãos Grimm também contribuíram para a difusão desta história através de suas versões.

6. A História de Pinóquio

Era uma vez um senhor solitário chamado Gepeto. O seu grande hobby era trabalhar com madeira e, para ter companhia, resolveu inventar um boneco articulado que chamou de Pinóquio.

Dias depois de inventar a peça, durante a noite, uma fada azul passou pelo quarto e deu vida ao boneco, que passou a andar e a falar. Pinóquio se tornou, assim, uma companhia para Gepeto, que passou a tratar o boneco como um filho.

Assim que pode, Gepeto matriculou Pinóquio numa escola. Foi lá, através da convivência com as outras crianças, que Pinóquio percebeu que não era bem um menino como os outros.

O boneco de madeira tinha um grande amigo, o Grilo Falante, que o acompanhava sempre e dizia o caminho correto que caminho Pinóquio deveria seguir, não se deixando levar pelas suas tentações.

O boneco de madeira, que costumava ser muito arteiro, tinha por hábito mentir. Cada vez que Pinóquio mentia o seu nariz de madeira crescia, denunciando o comportamento errado.

Contestador, Pinóquio deu muito trabalho ao pai Gepeto, por causa da sua imaturidade e do seu comportamento desafiador. Mas graças ao grilo falante, que era no fundo a consciência do boneco, Pinóquio foi tomando decisões cada vez mais sábias.

Gepeto e Pinóquio viveram uma longa vida cheia de alegrias partilhadas.

A famosa fábula de Pinóquio tem como objetivo ensinar às crianças, especialmente aquelas mais novas, que mentir é errado. Muitas vezes, a vontade de mentir é algo natural, principalmente durante os primeiros anos da infância, mas a história do boneco alerta essas crianças para as consequências de seguir o caminho da desonestidade.

Gepeto e Pinóquio mostram a importância das relações familiares de amor e apoio, sejam elas entre membros de uma família de sangue ou entre aqueles que são considerados como membros de uma família.

Gepeto é um personagem que reflete a entrega incondicional dos adultos para com as crianças, demonstrando a sua paciência inesgotável mesmo diante dos erros mais graves que elas cometem. Ele é a figura que orienta Pinóquio e nunca deixa de apoiá-lo, mesmo quando o boneco se mete em complicações.

Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini (1826-1890), foi o criador da famosa história de Pinóquio. Aos 55 anos de idade, ele começou a publicar as aventuras desta personagem em uma revista infantil, em fascículos. Pinóquio é um dos poucos contos de fadas que tem uma origem conhecida.

7. A Pequena Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma bela menina que vivia com a mãe e nutria profundo carinho pela avó - e a avó por ela. Um dia a vovó adoeceu e a mãe de Chapeuzinho perguntou se a menina não poderia levar uma cesta para a casa da avó, para que a senhora pudesse se alimentar.

Chapeuzinho prontamente respondeu que sim e foi levar a encomenda para a casa da avó, que ficava distante, na floresta.

A meio do caminho, a menina foi interrompida pelo lobo, que com muita lábia puxou conversa e conseguiu descobrir, através da própria Chapeuzinho, para onde a menina ia.

Esperto, o lobo sugeriu outro percurso e fez um atalho para chegar antes da menina na casa da avó.

Assim que entrou na casa da velhinha, o lobo a devorou e ocupou o seu lugar se disfarçando. Quando Chapeuzinho chegou, não conseguiu perceber que era o lobo, e não a avó, que estava na cama.

Chapeuzinho então perguntou:

- Ó avó, que orelhas grandes você tem!

- É para melhor te escutar!

- Ó avó, que olhos grandes você tem!

- É para melhor te enxergar!

- Ó avó, que mãos grandes você tem!

- É para melhor te agarrar!

- Ó avó, que boca grande, assustadora, você tem!

- É para melhor te comer!”

Charles Perrault contava a Chapeuzinho Vermelha de forma trágica, com a avó e a menina sendo devoradas pelo lobo. Por outro lado, na versão dos irmãos Grimm, o final é feliz, pois surge um caçador que mata o lobo e salva ambas.

A curiosa Chapeuzinho Vermelho foi confrontada com a difícil decisão de desobedecer à sua mãe e escolher um caminho diferente. Porém, apesar de mostrar-se madura, ela caiu no conto do lobo que ocultava sua verdadeira identidade.

O lobo é símbolo de grande crueldade, violência e frieza de quem mente sem o menor pudor para conseguir o que deseja.

A fábula de Chapeuzinho Vermelho ensina uma importante lição: não confiar em estranhos, e ser obediente. É uma mensagem importante para as crianças pequenas, alertando-as sobre o fato de que neste mundo podem existir pessoas mal intencionadas.

Durante a Idade Média, o conto de fada da Chapeuzinho Vermelho era transmitido de forma oral pelos camponeses europeus. Entretanto, foi somente em 1697, quando Charles Perrault publicou a versão mais conhecida, que a história se tornou popular. Ao longo dos anos, a narrativa passou por várias alterações para torná-la menos assustadora para as crianças.

8. A Princesa e a Ervilha Mágica

Era uma vez um príncipe que desejava conhecer uma princesa de verdade. O rapaz andou pelo mundo inteiro a procura de uma princesa assim verdadeira, mas não encontrou nenhuma, havia sempre alguma coisa que não estava muito certa.

Uma noite, uma tempestade terrível desabou sobre o reino. Inesperadamente, ouviu-se uma batida no portão da cidade, e o rei em pessoa foi abri-lo. Havia uma princesa parada lá fora, debaixo daquele aguaceiro. A água escorria pelo seu cabelo e pelas suas roupas. Ela insistiu que era uma verdadeira princesa.

“Bem, isso é o que vamos ver, daqui a pouco!” pensou a rainha. Não disse uma palavra, mas foi direto ao quarto, desfez a cama toda e pôs uma ervilha sobre o estrado. Sobre a ervilha empilhou vinte colchões e depois estendeu mais vinte edredons dos mais fofos por cima dos colchões. Foi ali que a princesa dormiu aquela noite.

De manhã, todos perguntaram como ela havia dormido. “Ah, pessimamente!” respondeu a princesa. “Mal consegui pregar o olho a noite inteira! Sabe Deus o que havia naquela cama! Era uma coisa tão dura que fiquei toda cheia de manchas pretas e azuis. É realmente medonho.”

Então, é claro, todos puderam ver que ela era realmente uma princesa, porque tinha sentido a ervilha através de vinte colchões e vinte edredons. Só uma verdadeira princesa podia ter a pele assim tão sensível.

Diante disso, o príncipe se casou com ela, pois agora sabia que tinha uma princesa de verdade.

Durante a infância, o rapaz da Dinamarca ouviu a história eternizada por Hans Christian Andersen. Esta trazia algo bastante incomum para os contos de fadas: duas personagens femininas fortes, que romperam com o estereótipo de mulher frágil e que necessita de ser salva.

A princesa, que toca à porta do castelo durante uma tempestade, é uma personagem ativa e resoluta. Ela quer provar sua condição real a todos que a rodeiam, e, consciente dos perigos da situação, ela vai até lá sozinha, ainda que a tempestade metaforicamente represente um grande risco.

A rainha, mãe do príncipe, desafia a princesa para que possa conhecer realmente sua essência. Esta personagem feminina é outra figura importante desta narrativa.

A sagacidade da futura sogra é tamanha que ela inventou o desafio da ervilha, colocando-a embaixo de vinte colchões e vinte edredons.

A ervilha é a prova da autenticidade da princesa, evidenciando sua percepção superior aos seus súditos.

Duas mulheres, uma mais velha e outra mais jovem, são consideradas exemplos de coragem, cada uma de forma diferente.

O príncipe desempenha um papel fundamental na história, buscando uma parceira. No entanto, são as personagens femininas que fornecem as principais indicações para a trama, mostrando-se absolutamente essenciais.

9. A Bela Branca de Neve e os Sete Anões

Era uma vez uma rainha que costurava perto de uma janela aberta. Ela bordava enquanto a neve caía do lado de fora e, ao espetar o dedo numa agulha, disse: “Quem me dera ter uma filha tão alva como a neve, encarnada como o sangue e cujo rosto fosse emoldurado de preto como o ébano!”

Quando nasceu o bebê, a rainha viu na filha todas as características que tinha desejado. Infelizmente ela faleceu pouco tempo depois do nascimento do bebê e o rei se casou com uma princesa muito vaidosa, que morria de ciúmes da Branca de Neve pela sua beleza.

A madrasta sempre perguntava para um espelho mágico que possuía: “Espelho, espelho meu, existe alguma mulher mais bela do que eu?”. Até que, certo dia, o espelho respondeu que havia, sim, e dentro da própria casa: era a enteada.

Furiosa, a madrasta contratou um caçador para assassinar a menina. Na hora de cometer o crime, arrependido, o caçador desistiu do acordo e apenas abandonou Branca de Neve na floresta.

Branca de Neve encontrou então uma pequena casinha, onde viviam sete anões que trabalhavam como mineiros numa montanha. E ali a jovem se estabeleceu, colaborando com as tarefas domésticas.

Um belo dia, a madrasta descobriu através do espelho que Branca de Neve afinal não estava morta e se encarregou pessoalmente de tratar do assunto.

Vestida de camponesa e disfarçada de velha, ela ofereceu à jovem uma bela maçã. Sem saber que estava envenenada, Branca de Neve devorou a fruta e caiu em sono profundo.

O destino da Branca de Neve só mudou anos mais tarde, quando passou pela região um príncipe. Ao ver a moça dormindo, o príncipe se apaixonou profundamente por ela.

Sem saber o que fazer para despertá-la, o príncipe pediu então para os criados carregarem a caixa transparente onde Branca de Neve dormia. Um deles tropeçou pelo caminho e um pedaço da maçã caiu da boca da moça, fazendo com que ela acordasse finalmente do sono profundo a que havia sido condenada.

Os dois então se apaixonaram, casaram e viveram felizes para sempre.

O conto de fadas "Branca de Neve" é um dos clássicos do folclore alemão. Esta história aborda assuntos profundos para as crianças de uma forma acessível. Ela trata da questão da orfandade, da negligência parental que permitiu a maldade e da rivalidade feminina - a madrasta não suporta ter sua beleza ameaçada por outra mulher, especialmente quando se trata de sua própria família.

A Branca de Neve é um exemplo de superação. Ela consegue se reinventar em um ambiente totalmente desconhecido e adaptar-se à vida na floresta, encontrando companhia em criaturas que nunca havia visto antes.

A Branca de Neve estabeleceu um forte laço de família com os anões, na qual encontrou o amor e o acolhimento que lhe foi negado em sua casa de origem.

Nos contos de fada, nos lembramos que as pessoas mais significativas em nossas vidas nem sempre são aquelas com quem temos laços sanguíneos, mas aquelas com quem estabelecemos uma conexão diária.

10. A História do Patinho Feio

Era uma vez uma pata que estava instalada em seu ninho. Chegada a hora, tinha de chocar os seus patinhos, mas era um trabalho tão lento que ela estava à beira da exaustão. Finalmente os ovos racharam, um a um – crec, crec – e todas as gemas tinham ganhado vida e estavam apontando a cabeça para fora.

“Quen, quen!” disse a mãe pata, e os pequeninos saíram a toda pressa com os seus passinhos curtos, para bisbilhotar sob as folhas verdes.

Bem, agora estão todos chocados, eu espero...” – e levantou-se do ninho – “não, não todos. O maior ovo ainda está aqui. Gostaria de saber quanto tempo isto vai levar. Não posso ficar aqui a vida toda.” E voltou a se acomodar no ninho.

Finalmente o ovo grande começou a rachar. Ouviu-se um piadinho vindo do filhote quando levou um trambolhão, parecendo muito feio e muito grande. A pata deu uma olhada e disse: “Misericórdia! Mas que patinho enorme! Nenhum dos outros se parece nada com ele.”

No primeiro passeio da ninhada, os outros patos que estavam por lá olhavam para eles e diziam, alto: “Vejam só! Que figura é aquele patinho! Não vamos conseguir suportá-lo.” E um dos patos imediatamente voou para cima dele e lhe bicou o pescoço.

“Deixe-o em paz”, disse a mãe. “Não está fazendo mal nenhum.”

“Pode ser, mas é tão desajeitado e estranho”, disse o pato que o bicara. “Simplesmente vai ter de ser expulso.”

“Que lindos filhos você tem, minha querida!” disse a pata velha. “Menos aquele ali, que parece ter alguma coisa de errado. Só espero que você possa fazer alguma coisa para melhorá-lo.”

“Os outros patinhos são encantadores”, disse a pata velha. “Sintam-se em casa, meus queridos” E assim eles ficaram à vontade, mas o pobre patinho que tinha sido o último a se safar do ovo e parecia tão feio levou bicadas, empurrões e caçoadas tanto de patos quanto de galinhas.

“O grande paspalhão!” todos cacarejavam. O pobre patinho não sabia para onde se virar. Estava realmente perturbado por ser tão feio e virar o alvo das chacotas do terreiro.

Assim foi o primeiro dia, e a partir de então as coisas só pioraram. Todo o mundo passou a maltratar o pobre patinho. Até os seus próprios irmãos e irmãs o tratavam mal e diziam: “Oh, sua criatura feia, o gato podia pegar você!” A sua mãe dizia que preferia que ele não existisse. Os patos o mordiam, as galinhas o bicavam e a criada que vinha dar comida às aves o chutava.

Finalmente ele fugiu. Já longe de casa topou com patos selvagens: “Você é extremamente feio”, disseram os patos selvagens, “mas isso não tem importância, desde que não tente se casar com alguém de nossa família.”

Quando já tinha passado dois dias inteiros lá, apareceu um par de gansos selvagens. Fazia pouco tempo que tinham saído do ovo e eram muito brincalhões. “Olhe aqui, meu chapa”, disse um deles ao patinho. “Você é tão feio que vamos com a sua cara. Topa ir conosco e virar uma ave migratória?” Mas o patinho se recusou a ir.

Certa tarde houve um lindo poente e um majestoso bando de aves emergiu de repente dos arbustos. O patinho nunca vira aves tão bonitas, de um branco deslumbrante e com longos, graciosos pescoços. Eram cisnes. Ao vê-los subirem cada vez mais alto no ar, o patinho teve uma sensação estranha. Deu vários rodopios na água e esticou o pescoço na direção deles, soltando um grito tão estridente e estranho que ele mesmo ficou assustado ao ouvi-lo.

“Vou voar até aquelas aves. Talvez me matem a bicadas por ousar me aproximar delas, feio como sou. Mas não faz mal. Melhor ser morto por elas que mordido pelos patos, bicado pelas galinhas, chutado pela criada que dá comida às aves.”

Voou até a água e nadou em direção aos belos cisnes. Quando o avistaram, eles foram depressa a seu encontro com as asas estendidas. “Sim, matem-me, matem-me”, gritou a pobre ave, e abaixou a cabeça, esperando a morte. Mas o que descobriu ele na clara superfície da água, sob si? Viu a sua própria imagem, e não era mais uma ave desengonçada, cinzenta e desagradável de se ver – não, ele também era um cisne!

Agora ele se sentia realmente satisfeito por ter passado por tanto sofrimento e adversidade. Isso o ajudava a valorizar toda a felicidade e beleza que o envolviam... Os três grandes cisnes nadaram em torno do recém-chegado e lhe deram batidinhas no pescoço com os seus bicos.

Algumas criancinhas chegaram ao jardim e jogaram pão e grãos na água. A mais nova exclamou: “Há um cisne novo!” As outras crianças ficaram encantadas e gritaram: “Sim, há um cisne novo!” E todas bateram palmas, dançaram e saíram correndo para buscar os seus pais. Migalhas de pão e bolo foram jogadas na água, e todos diziam: “O novo é o mais bonito de todos. É tão jovem e elegante.” E os cisnes velhos faziam mesuras para ele.

Ele se sentiu muito humilde, e enfiou a cabeça sob a asa – ele mesmo mal sabia por quê. Estava muito feliz, mas nem um pouquinho orgulhoso, pois um bom coração nunca é orgulhoso. Pensou no quanto fora desprezado e perseguido, e agora todos diziam que era a mais bonita de todas as aves. Então ele encrespou as penas, ergueu o pescoço esguio e deleitou-se do fundo de seu coração. “Nunca sonhei com tal felicidade quando era um patinho feio.”

O patinho feio é um conto que encoraja aqueles que se sentem deslocados, isolados e diferentes. É uma história de esperança, mostrando como é possível aceitar a si mesmo mesmo não se encaixando no grupo. É um caminho longo, mas que pode ser feito.

O patinho era frequentemente alvo de humilhações, o que o deixava com um sentimento de inadequação e baixa autoestima. Sua condição é muito compreensível, pois muitas crianças sentem que não estão à altura dos seus colegas de classe. Portanto, é fácil para elas identificarem-se com o patinho.

O último a sair da casca, o herói desta história é reconhecido como mais frágil, porém o mais novo a encontrar a ninhada. Apesar de seu desconhecido destino, o protagonista desde o ovo sentiu que era diferente. Tal como em muitos contos de fadas, o caçula acaba sendo o protagonista da história.

O conto de fadas nos ensina sobre a inclusão social, bem como a capacidade de mudança individual e coletiva. É um tema importante que tem sido refletido por obras literárias ao longo dos anos.

A história celebra a força do mais vulnerável e mostra a importância da resistência, da audácia, da necessidade de mantermos nossa fortaleza mesmo quando enfrentamos um ambiente adversário.

Muitas críticas são direcionadas ao conto, pois alega uma hierarquia social: os cisnes são vistos como dotados de beleza e nobreza, enquanto os patos seriam pouco considerados.

Apesar de ter vencido todas as adversidades, quando se descobre que o patinho realmente é um membro da realeza dos cisnes, ele não se torna vaidoso e não diminui os que o cercam. Isso porque possui um coração bondoso.

A história do Patinho Feio foi tornada popular por Hans Christian Andersen. Ele próprio conhecia todas as adversidades que vinha enfrentando, já que veio de uma família humilde e, mesmo assim, conseguiu se tornar reconhecido na aristocracia literária, mesmo lutando contra os preconceitos de seus pares.

Durante toda a sua vida, Andersen foi alvo de muitas críticas, mas nos últimos anos seu trabalho foi amplamente reconhecido.

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11. A História de Rapunzel

Era uma vez um homem e uma mulher que desejavam um filho havia muitos anos, mas sem sucesso.

Um dia a mulher pressentiu que Deus ia satisfazer o seu desejo. Nos fundos da casa em que moravam havia uma janelinha que dava para um esplêndido jardim, cheio de lindas flores e verduras. Era cercado por um muro alto, e ninguém ousava entrar ali porque pertencia a uma poderosa feiticeira temida por todos nas redondezas.

Um dia a mulher estava à janela, olhando para o jardim. Os seus olhos foram atraídos para um certo canteiro, que estava plantado com o mais viçoso rapunzel, um tipo de alface. Parecia tão fresco e verde que ela foi tomada pela ânsia de colhê-lo. Simplesmente tinha de conseguir um pouco para a sua próxima refeição.

A cada dia o seu desejo crescia, e ela começou a se consumir, pois sabia que nunca conseguiria um pouco daquele rapunzel. Vendo o quanto estava pálida e infeliz, o seu marido lhe perguntou: “O que está acontecendo, querida esposa?” “Se eu não conseguir um pouco daquele rapunzel do jardim atrás da nossa casa, vou morrer”, ela respondeu.

O marido, que a amava muito, pensou: “Em vez de deixar a minha mulher morrer, é melhor ir buscar um pouco daquele rapunzel, custe o que custar.”

Ao cair da noite, ele subiu no muro e pulou no jardim da feiticeira, arrancou correndo um punhado de rapunzel e levou-o para a mulher. No mesmo instante ela fez uma salada, que comeu com voracidade. O rapunzel era tão gostoso, mas tão gostoso, que no dia seguinte o seu apetite por ele ficou três vezes maior. O homem não viu outro jeito de sossegar a mulher senão voltar ao jardim para pegar mais.

Ao cair da noite lá estava ele de novo, mas depois que pulou o muro o pavor tomou conta dele, pois ali estava a feiticeira, bem à sua frente. “Como ousa entrar no meu jardim às escondidas e pegar o meu rapunzel como um ladrão barato?” ela perguntou com um olhar furioso. “Ainda se arrependerá por isso.”

“Oh, por favor”, ele respondeu, “tenha misericórdia! Só fiz isso porque fui obrigado. A minha mulher avistou o seu rapunzel pela janela. O seu desejo de comê-lo foi tão grande que ela disse que morreria se eu não lhe conseguisse um pouco.”

A raiva da feiticeira arrefeceu e ela disse ao homem: “Se o que disse é verdade, vou deixá-lo levar tanto rapunzel quanto quiser. Mas com uma condição: terá de me entregar a criança quando a sua mulher der à luz. Cuidarei dela como uma mãe, e não lhe faltará nada.”

Como estava apavorado, o homem concordou com tudo. Quando chegou o momento da entrega, a feiticeira apareceu pontualmente, deu à criança o nome Rapunzel e a levou embora.

Rapunzel era a menina mais bonita do mundo. Ao completar doze anos, a feiticeira a levou para a floresta e a trancou numa torre que não tinha escadas nem porta. Sempre que queria entrar, a feiticeira se plantava no pé da torre e chamava: “Rapunzel, Rapunzel! Jogue as suas tranças.”

Alguns anos mais tarde, aconteceu que o filho de um rei estava atravessando a floresta a cavalo. Passou bem junto à torre e ouviu uma voz tão bela que parou para escutar. Era Rapunzel, que, inteiramente sozinha na torre, passava os seus dias a cantar doces melodias para si mesma. O príncipe quis subir para vê-la e deu a volta na torre à procura de uma porta, mas não achou nenhuma e a voz de Rapunzel ficou no seu coração.

Certa vez, quando estava escondido atrás de uma árvore, viu a feiticeira chegar à torre e ouviu-a chamando: “Rapunzel, Rapunzel! Jogue as suas tranças.” Rapunzel jogou as tranças e a feiticeira subiu até ela. “Se é por essa escada que se sobe até o alto da torre, gostaria de tentar a minha sorte nela também”. E no dia seguinte, quando mal começava a escurecer, o príncipe foi até a torre e chamou.

A princípio, ao ver um homem entrar pela janela, Rapunzel ficou apavorada, especialmente porque nunca tinha visto um. Mas o príncipe começou a falar de uma maneira gentil e lhe contou que ficara tão comovido com a sua voz que não teria tido paz se não pusesse os olhos nela. Logo Rapunzel perdeu o medo, e quando o príncipe, que era jovem e bonito, perguntou se ela queria se casar com ele, ela aceitou.

“Quero ir embora daqui com você, mas não sei como sair desta torre. Cada vez que vier me visitar, traga uma meada de seda, e trançarei uma escada. Quando estiver pronta, descerei e poderá me levar em seu cavalo.”

Os dois combinaram que ele viria visitá-la toda noite, pois durante o dia a velha estava lá. Um belo dia, Rapunzel deixou escapar um comentário que fez com que a feiticeira descobrisse que um príncipe visitava a menina as escondidas durante a noite.

Furiosa, a feiticeira cortou o cabelo de Rapunzel e enviou a pobre moça para o deserto. O príncipe, por sua vez, foi punido com a cegueira.

O príncipe vagou de um lado para outro em sua desgraça por muitos anos e finalmente chegou ao deserto onde Rapunzel mal conseguia sobreviver com os gêmeos – um menino e uma menina – que dera à luz.

Ouvindo uma voz que lhe soou familiar, o príncipe a seguiu. Quando se aproximou o bastante da pessoa que cantava, Rapunzel o reconheceu. Enlaçou-o com os braços, e chorou. Duas dessas lágrimas caíram nos olhos do príncipe, e de repente ele passou a ver como antes, claramente.

O príncipe voltou para o seu reino com Rapunzel e os dois filhos e lá houve grande comemoração. Viveram felizes e alegres por muitos e muitos anos.

A história de Rapunzel pode ser dividida em duas partes. Na primeira, somos apresentados ao casal que deseja ter um filho e à transgressão cometida pelo pai ao roubar do jardim da feiticeira. Por fim, esse ato resulta na punição do marido por se arriscar a invadir o perigoso quintal.

O príncipe, como segundo transgressor, escalou o muro da torre para libertar Rapunzel. Por sua transgressão, foi punido pela feiticeira que o deixou cego.

Alguns acadêmicos acreditam que a história de Rapunzel seja inspirada na lenda de Santa Bárbara, cujo pai a isolou numa torre por não querer se casar com nenhum dos pretendentes.

Em 1636, Giambattista Basile publicou a primeira versão literária do conto de fada intitulada A donzela da torre. Mais tarde, os irmãos Grimm também lançaram uma edição de Rapunzel que contribuiu para a sua popularização.

O mito de Rapunzel remonta à um comportamento cultural de adultos (principalmente pais) que prendem suas filhas para protegê-las do contato com outros homens que podem ter intenções malignas. Embora a origem desta história seja desconhecida, ela retrata o empoderamento feminino em meio a um contexto de segregação.

O amor revela-se como algo regenerador para Rapunzel, dando-lhe a possibilidade de sair da torre e alcançar a liberdade.

12. A Aventura de João e o Pé de Feijão

Era uma vez uma pobre viúva que tinha apenas um filho, chamado João, e uma vaca chamada Branca Leitosa. A única coisa que garantia o seu sustento era o leite que a vaca dava toda manhã e que eles levavam ao mercado e vendiam. Uma manhã, porém, Branca Leitosa não deu leite nenhum, e os dois não sabiam o que fazer. “O que vamos fazer? O que vamos fazer?” perguntava a viúva, torcendo as mãos.

Disse João: “Hoje é dia de feira, daqui a pouco vou vender Branca Leitosa e aí veremos o que fazer.” Assim, ele pegou a vaca pelo cabresto e lá se foi. Não tinha ido longe quando encontrou um homem de jeito engraçado, que lhe disse: “Bom dia, João. Para onde está indo?”

“Vou à feira vender esta vaca aqui.”

“Ah, você parece mesmo o tipo de sujeito que nasceu para vender vacas”, disse o homem. “Será que sabe quantos feijões fazem cinco?” “Dois em cada mão e um na sua boca”, respondeu João, esperto como o quê.

“Está certo”, disse o homem. “E aqui estão os feijões”, continuou, tirando do bolso vários feijões esquisitos. “Já que é tão esperto”, disse, “não me importo de fazer uma barganha contigo – sua vaca por estes feijões. Se os plantar à noite, de manhã terão crescido até o céu.”

“Verdade?” disse João. “Não diga!” “Sim, é verdade, e se isso não acontecer pode pegar sua vaca de volta.” “Certo”, disse João, entregando o cabresto de Branca Leitosa ao sujeito e enfiando os feijões no bolso

Quando soube que João vendeu a vaca por meia dúzia de feijões mágicos, sua mãe esbravejou: “Será que você foi tão tolo, tão bobalhão e idiota a ponto de entregar a minha Branca Leitosa, a melhor vaca leiteira da paróquia, e além disso carne da melhor qualidade, em troca de um punhado de reles feijões? Tome! Tome! Tome! E quanto a seus preciosos feijões aqui, vou jogá-los pela janela. Agora, já para a cama. Por esta noite, não tomará nenhuma sopa, não engolirá nenhuma migalha.”

Assim João subiu a escada até o seu quartinho no sótão, triste e sentido, é claro, tanto por causa da mãe quanto pela perda do jantar. Finalmente caiu no sono.

Quando acordou, o quarto parecia muito engraçado. O sol batia em parte dele, mas todo o resto estava bastante escuro, sombrio. João pulou da cama, vestiu-se e foi à janela. E o que você pensa que ele viu? Ora, os feijões que sua mãe jogara no jardim pela janela tinham brotado num grande pé de feijão, que subia, subia, subia até chegar ao céu. No fim das contas, o homem tinha falado a verdade.

João subiu e subiu e subiu e subiu e subiu e subiu e subiu até que por fim chegou ao céu.

Lá viu um ogro enorme, que colecionava ovos de ouro, e durante um cochilo roubou alguns daqueles ovos que atirou pelo pé de feijão e caíram no quintal da sua mãe.

Depois foi descendo e descendo até que finalmente chegou em casa e contou tudo à mãe. Mostrando-lhe o saco de ouro, disse: “Está vendo, mãe, eu não estava certo quanto aos feijões? São mágicos mesmo, como pode ver.”

Por algum tempo, viveram daquele ouro, mas um belo dia ele acabou. João resolveu então arriscar a sorte mais uma vez no alto do pé de feijão. Assim, numa bela manhã, acordou cedo e subiu no pé de feijão. Subiu, subiu, subiu, subiu, subiu, subiu, e não satisfeito de roubar mais ovos de ouro pôs-se a furtar a própria galinha dourada.

Atrevido, ele ainda subir mais uma vez no pé de feijão, dessa vez para furtar a harpa dourada. Só que João foi visto e o ogro correu atrás dele em direção ao pé de feijão. Ia João descendo o pé a pressa com o ogro atrás quando gritou: “Mãe! Mãe! Traga-me um machado, traga-me um machado.”

E a mãe veio correndo com o machado na mão. Ao chegar no pé de feijão, porém, ficou paralisada de pavor, pois dali viu o ogro com as suas pernas já atravessando as nuvens.

Mas João pulou no chão e agarrou o machado. Deu uma machadada tal no pé de feijão que o partiu em dois. Sentindo o pé de feijão balançar e estremecer, o ogro parou para ver o que estava acontecendo. Nesse momento João deu outra machadada e o pé de feijão acabou de se partir e começou a vir abaixo. Então o ogro despencou e quebrou a cabeça enquanto o pé de feijão desmoronava. João mostrou à mãe a harpa dourada, e assim, exibindo a harpa e vendendo os ovos de ouro, ele e a sua mãe viveram felizes para sempre.

Há muitos momentos de simbolismo forte na história de João e o pé de feijão. Por exemplo, no início da narrativa, quando a vaca para de dar leite, muitos psicólogos interpretam isso como a criança tendo que se desapegar da mãe, pois ela já não é capaz de fornecer o leite materno.

O protagonista João é visto como uma figura ao mesmo tempo ingênua e astuta. Ele acredita na palavra de um desconhecido ao trocar uma vaca por feijões mágicos, mostrando seu despreparo para negociações, o que o torna fácil alvo para armadilhas. Por outro lado, ele também se mostra esperto ao roubar os ovos de ouro (e depois a galinha e a harpa) escalando o pé de feijão.

Destacando sua bravura, ele subiu no pé gigante várias vezes, enfrentando o perigo desconhecido. Mesmo sendo desonesto, sua coragem foi gratificada com a sorte rica que ele e sua mãe alcançaram com os ovos de ouro.

Original dentre os contos de fadas, na versão mais conhecida de João e o pé de feijão há uma conclusão diferente da usual: ao invés do tradicional casamento entre o protagonista e o final felizes para sempre, o protagonista permanece vivendo com sua mãe e sendo muito feliz.

Benjamin Tabart foi o primeiro a registrar, por meio de escrita, a história que era contada oralmente. Sua versão foi publicada em 1807.

13. O Rei Sapo: Uma História de Coragem e Fé

Era uma vez um rei que tinha filhas muito belas. A mais nova era tão bonita que até o sol, que já vira tanta coisa, ficava maravilhado quando seu rosto brilhava.

Havia uma floresta densa, escura, perto do castelo do rei, e nela tinha uma fonte. Quando fazia muito calor, a filha do rei ia para a mata e se sentava à beira da fonte fresca. Para não se entediar, levava sua bola de ouro, para jogá-la no ar e pegá-la. Era sua brincadeira favorita.

Um dia, quando a princesa estendeu as mãos para apanhar a bola de ouro, ela escapou, caiu no chão e rolou direto para a água. A princesa seguiu a bola com os olhos, mas ela desapareceu naquela fonte tão funda que nem se conseguia ver o fundo. Os olhos da princesa ficaram marejados de lágrimas, e ela se pôs a chorar cada vez mais alto, incapaz de se conter. Uma voz interrompeu seu choro e gritou: “O que aconteceu, princesa? Até as pedras chorariam, se pudessem ouvi-la.”, disse o sapo.

“Estou chorando porque minha bola de ouro caiu na fonte.” “Fique sossegada e pare de chorar”, disse o sapo. “Acho que posso ajudá-la, mas o que vai me dar se eu apanhar seu brinquedinho?” “Tudo que quiser, querido sapo”, ela respondeu. “Meus vestidos, minhas pérolas e minhas joias, até a coroa de ouro que estou usando.” O sapo respondeu: “Não quero seus vestidos, suas pérolas e joias ou sua coroa de ouro. Mas se prometer gostar de mim e deixar que eu seja seu companheiro e brinque com você, que fique do seu lado na mesa e coma do seu pratinho de ouro, beba do seu copinho e durma na sua caminha, se me prometer tudo isto, mergulharei na fonte e trarei de volta sua bola de ouro.” “Ah, sim”, disse ela. “Darei tudo o que quiser desde que traga aquela bola de volta para mim.” Enquanto isso, porém, não parava de pensar: “Que disparates esse sapo estúpido está dizendo! Lá está ele na água, coaxando sem parar com todos os outros sapos. Como poderia alguém querê-lo como companheiro?” Uma vez que a princesa lhe deu sua palavra, o sapo enfiou a cabeça na água e afundou na fonte. Passado algum tempo, apareceu de volta chapinhando com a bola na boca e atirou-a no capim. Quando a princesa viu o lindo brinquedo na sua frente, ficou radiante. Pegou-o e saiu correndo com ele.

No dia seguinte, a princesa sentou-se para jantar com o rei e alguns cortesãos. Estava entretida, comendo em seu pratinho de ouro, quando ouviu alguma coisa se arrastando pela escada de mármore acima, ploc, plac, ploc, plac. Ao chegar no alto da escada, a coisa bateu à porta e chamou: “Princesa, princesa caçula, deixe-me entrar!”

A princesa correu até a porta para ver quem estava ali. Ao abrir, viu o sapo bem na sua frente. Apavorada, bateu a porta com toda força e voltou à mesa. O rei, ao assistir a situação, perguntou o que aconteceu:

“Oh, querido pai, ontem quando eu estava brincando junto à fonte minha bolinha de ouro caiu na água. Chorei tanto que o sapo foi buscá-la para mim. E, como ele insistiu, prometi que poderia se tornar meu companheiro. Nunca pensei que ele seria capaz de sair da água. Agora está aí fora e quer entrar para ficar comigo.”

O rei declarou: “Se fez uma promessa, então tem de cumpri-la. Vá e deixe-o entrar.”

A princesa foi abrir a porta. O sapo pulou para dentro da sala e seguiu-a até que ela chegou à sua cadeira. Então ele exclamou: “Erga-me e ponha-me do seu lado.” A princesa hesitou, mas o rei ordenou que obedecesse.

A princesa fez o que ele mandou, mas era óbvio que não estava feliz com aquilo. Finalmente o sapo disse: “Já comi bastante e estou cansado. Leve-me para o seu quarto e dobre a colcha de seda em sua caminha.”

A princesa começou a chorar, com medo do sapo viscoso. O rei se zangou e disse: “Não deveria desdenhar alguém que a ajudou quando estava em dificuldade.”

Já no quarto, exasperada com aquilo, a princesa pegou o sapo e o atirou com toda força contra a parede. “Descanse agora, sapo asqueroso!”

Quando o sapo caiu no chão, não era mais um sapo, mas um príncipe com olhos bonitos e brilhantes. Por ordem do pai da princesa, tornou-se o querido companheiro e marido dela. Contou-lhe que uma bruxa malvada lançara um feitiço sobre ele e que somente a princesa poderia libertá-lo. Planejaram partir no dia seguinte para o reino dele e foram felizes para sempre.

Esta história de "A Princesa e o Sapo" tem muitas similaridades com outros contos conhecidos, como "A Bela e a Fera". Neles, a ligação entre uma linda princesa e um animal pretendente é muito forte e fala de um amor verdadeiro.

A princípio, a princesa não pensa nas consequências de perder a sua bola favorita. Sua preocupação primordial é com a sua satisfação imediata. Assim, para recuperar o seu objeto de desejo, ela faz o que for necessário, mesmo que isso signifique dizer "sim" ao sapo.

A princesa fica surpresa quando conta a sua história ao rei e descobre que ele não a defende. Em vez disso, o rei usa a ocasião para transmitir a ela alguns valores fundamentais, como honrar a nossa palavra e reconhecer a ajuda recebida em tempos de dificuldade.

Nos contos de fada, muitas vezes a princesa aceita a condição animal do seu parceiro e se conforma - e é nesse momento que ele se torna um príncipe. No entanto, nesta história, o surpreendente final acontece apenas quando ela se revolta e expressa com sinceridade o seu sentimento de nojo.

Inicialmente mimada e imatura, a princesa eventualmente é recompensada por sua rebeldia e habilidade de estabelecer limites.

Os contos de fadas presentes no livro Contos de fadas: edição comentada e ilustrada foram retirados e adaptados pela editora Zahar, sob a curadoria de Maria Tatar, publicado em 2013.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.