Grandes Ensinamentos para Crianças em 5 Contos Comentados


Escrito por Carolina Marcello

As crianças podem se beneficiar de reflexões e ensinamentos quando estes são apresentados através de contos e histórias.

Muitos contos estão cheios de lições, demonstrações, advertências e experiências vividas por seus personagens. Esses ensinamentos são transmitidos por meio de histórias contadas.

Contar histórias educativas para as crianças tem um propósito positivo: melhorar o senso crítico e o olhar observador, bem como ajudar a desenvolver reflexões sobre a vida.

1. Música no Silêncio

Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa.

Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta.

Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir.

Então disse o príncipe:

“Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus…”

E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível.

Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do mestre, pensando:

“Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta…”

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo… mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre.

Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes.

E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam.

Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz.

Pensou: “Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse…”

E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente.

Queria ter certeza de que estava no caminho certo.

Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.

Paciente e respeitosamente o príncipe disse:

“Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite… “

O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:

“Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender as reais necessidades de cada um.

A morte do espírito começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais.

É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano…”

No livro Histórias da Tradição Sufi, da editora Dervish, encontramos esse belo conto, que utiliza a natureza como metáfora para representar sentimentos e reflexões.

Os seres humanos muitas vezes não percebem que fazem parte da natureza e acabam se afastando dela. Dessa forma, não conseguem apreciar o meio ambiente com a devida intensidade e consciência.

O mestre aconselhou ao jovem que passasse algum tempo na floresta, para que pudesse ouvir as vozes que não podem ser percebidas pelos ouvidos, mas sim com o "coração".

O mestre pede ao aprendiz que se conecte consigo próprio meditando enquanto observa a vida pulsar na floresta.

2. Vivendo Feliz

Filó, a joaninha, acordou cedo.

— Que lindo dia! Vou aproveitar para visitar minha tia.

— Alô, tia Matilde. Posso ir aí hoje?

— Venha, Filó. Vou fazer um almoço bem gostoso.

Filó colocou seu vestido amarelo de bolinhas pretas, passou batom cor-de-rosa, calçou os sapatinhos de verniz, pegou o guarda-chuva preto e saiu pela floresta: plecht, plecht...

Andou, andou... e logo encontrou Loreta, a borboleta.

— Que lindo dia!

— E pra que esse guarda-chuva preto, Filó?

— É mesmo! — pensou a joaninha. E foi para casa deixar o guarda-chuva.

De volta à floresta:

— Sapatinhos de verniz? Que exagero! — Disse o sapo Tatá. Hoje nem tem festa na floresta.

— É mesmo! — pensou a joaninha. E foi para casa trocar os sapatinhos.

De volta à floresta:

— Batom cor-de-rosa? Que esquisito! — disse Téo, o grilo falante.

— É mesmo! - disse a joaninha. E foi para casa tirar o batom.

— Vestido amarelo com bolinhas pretas? Que feio! Por que não usa o vermelho? - disse a aranha Filomena.

— É mesmo! - pensou Filó. E foi para casa trocar de vestido.

Cansada da tanto ir e voltar, Filó resmungava pelo caminho. O sol estava tão quente que a joaninha resolveu desistir do passeio.

Chegando em casa, ligou para tia Matilde.

— Titia, vou deixar a visita para outro dia.

— O que aconteceu, Filó? — Ah! Tia Matilde! Acordei cedo, me arrumei bem bonita e saí andando pela floresta. Mas no caminho...

— Lembre-se, Filozinha... gosto de você do jeitinho que você é. Venha amanhã, estarei te esperando com um almoço bem gostoso.

No dia seguinte, Filó acordou de bem com a vida. Colocou seu vestido amarelo de bolinhas pretas, amarrou a fita na cabeça, passou batom cor-de-rosa, calçou seus sapatinhos de verniz, pegou o guarda-chuva preto, saiu andando apressadinha pela floresta, plecht, plecht, plecht... e só parou para descansar no colo gostoso da tia Matilde.

A fábula de Nye Ribeiro é uma ótima maneira de ensinar às crianças sobre o valor da auto-estima. Esta história didática, escrita pela famosa escritora e educadora mineira, passa a mensagem de que todos são capazes de superar obstáculos e alcançar seus objetivos, desde que tenham confiança em si mesmos.

Desde crianças, é necessário que elas entendam que para enfrentar a vida de forma satisfatória é preciso amar-se como verdadeiramente são e não deixar que as opiniões alheias interfiram nos seus objetivos.

A autora criou uma situação lúdica na qual a joaninha é influenciada pelos conselhos dos colegas, e acaba por deixar de fazer aquilo que realmente gostaria, e de estar com alguém que ela considera especial.

Ao chegar ao segundo momento, a Joaninha percebe que deve seguir seus próprios planos de modo que lhe seja confortável e isso a ajudará a ter uma vida mais completa.

3. A Aventura do Menino e do Lobo

Numa colina, acima de um povoado, estava um dia um pastorzinho. Entediado, o menino, para se divertir, começou a gritar para a aldeia lá embaixo:

O lobo! O lobo! O lobo vem vindo!

O truque funcionou. Fez isso três vezes ainda e, a cada vez, os moradores do vilarejo subiram correndo, colina acima, para ajudar o menino a salvar as ovelhas. Quando chegavam ao topo , o garoto caía na risada, e os homens ficaram furiosos, sentindo-se enganados.

Infelizmente para o garoto, num dia cinzento e enevoado o lobo realmente apareceu, e se atirou direto para cima das ovelhas. O menino, a sério desta vez, começou aberrar:

— O lobo está aqui! Acudam! O lobo está aqui!

Ninguém atendeu ao chamado, pois os aldeões pensaram que se tratasse apenas de mais uma das brincadeiras do garoto - e o lobo devorou todas as ovelhas.

O garoto aprendeu tarde demais a lição de que nos mentirosos não se costuma acreditar, mesmo quando eles estão dizendo a verdade.

A história do menino pastor e o lobo, que foi escrita por Esopo, o famoso escritor de fábulas, que viveu na Grécia Antiga no século VI a.C., está presente no livro Fábulas de Esopo, da editora Círculo do Livro.

O menino havia se acostumado a mentir tanto que, quando decidiu contar a verdade, não foi mais acreditado. Todos o viam como se tudo que saísse de sua boca fosse uma mentira, e isso o levou a encontrar-se em muitos apuros.

É fundamental que sejam mostradas de maneira educativa a importância da honestidade e da lealdade. Além disso, é necessário lembrar que a “diversão individual” não deve ser priorizada em detrimento do sofrimento de todos.

Esta curta fábula traz lições significativas que podem ser aplicadas ao longo da vida.

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4. Discernindo o Bem do Mal

Um padeiro queria conhecer um grande mestre e este foi à padaria disfarçado de mendigo. Pegou um pão, começou a comê-lo: o padeiro espancou-o e atirou-o na rua.

- Louco! - disse um discípulo que chegava - Não vê que expulsou o mestre que queria conhecer?

Arrependido, o padeiro foi até a rua e perguntou o que podia fazer para que o perdoasse. O mestre pediu que convidasse a ele e seus discípulos para comer.

O padeiro levou-os até um excelente restaurante e pediu os pratos mais caros.

- Assim distinguimos o homem bom do homem mau - disse o mestre para os discípulos, no meio do almoço. - Este padeiro é capaz de gastar dez moedas de ouro num banquete porque sou célebre, mas é incapaz de dar um pão para alimentar um mendigo com fome.

Publicada no site da Academia Brasileira de Letras, esta pequena narrativa oriental da filosofia sufi traz consigo importantes reflexões sobre solidariedade, soberba e bajulação - ou seja, o ato de favorecer a si mesmo por meio da satisfação dos outros.

Ao saber que o homem passava fome, o padeiro agiu de maneira afrontosa, tratando-o mal e o espancando. Porém, quando descobriu que se tratava de um grande mestre, sentiu-se envergonhado e se desculpou. Em seguida, pagou-lhe um jantar caro como forma de reparação.

O mestre, por possuir extensa sabedoria, vê o padeiro como uma pessoa maliciosa, uma vez que sua atitude deu a entender que ele é desigual para com a pobreza e para com aqueles que ele admirava. O padeiro mostrou-se mesquinho e cruel com os pobres, mas foi generoso com o admirado mestre.

5. O Novo Traje do Rei

Um sujeito, ao fugir de um reino por roubo, decide se instalar em um reino vizinho. Lá chegando, finge ser um alfaiate e consegue um encontro com o rei.

Ao conversar com o rei, o homem diz que inventou uma roupa especial que só pode ser vista por pessoas inteligentes.

O rei era muito fútil e vaidoso, por isso ficou animado e encomendou com o alfaiate um traje assim.

Então foi oferecido ao homem muitas riquezas, tecidos nobres e linhas douradas, que foram encaixotadas e guardadas.

Quando as pessoas passavam no ateliê, o sujeito fingia que costurava, fazendo mímicas e pendurando tecidos imaginados nos cabides.

Demorou meses para terminar sua peça e enquanto isso recebia o pagamento do rei.

Todos que viam o fingido alfaiate costurando nada diziam, pois temiam ser "descobertos" em sua burrice, já que, teoricamente, só os inteligentes conseguiriam ver.

Certo dia, o monarca, já irritado com tanta espera, exige ver o que já tinha sido feito. Ao se deparar com o cabide vazio, o rei também não quis se passar por estúpido e exclamou:

— Que roupas maravilhosas! O seu trabalho está impecável!

Os acompanhantes do rei também elogiaram as roupas e foi decido que seria feito um desfile em público para que o soberano mostrasse seus trajes especiais.

O dia do evento chegou e o rei desfilou para seus súditos com ar arrogante e altivo. Mas uma das crianças, inocente e verdadeira, solta um grito:

— O rei está nu! O rei está nu!

Todos se olharam e já ão puderam mais mentir uns para os outros. Tiveram que concordar com a criança e confessaram que também não enxergavam as vestes.

O rei percebeu a farsa e passou muita vergonha, tentando se cobrir com as mãos. Foi assim que o desfile para exibir a roupa nova do rei foi um fracasso.

"O Conto do Vaidoso" foi criado por Hans Christian Andersen e publicado originalmente em 1837. Esta história acompanha o trajeto de uma pessoa astuta e enganadora que usa a vaidade do outro como seu principal recurso.

Ao contar esta história, podemos trabalhar com as crianças temas como a vaidade, a ostentação e a necessidade de se sentir superior aos outros, bem como a vergonha que surge quando não se consegue parecer melhor do que os outros.

O rei, se achando muito esperto, contratou o alfaiate enganador para fazer um vestido único, porém inexistente. Todos se mantiveram em silêncio, temendo que parecessem tolos ao confessar que não conseguiam ver a peça de roupa.

Metáfora por vezes aplicada ao cotidiano, essa situação ilustra a necessidade de se ter honestidade e sinceridade com o próprio eu e com o meio ao qual se está inserido.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.