Com a Semana de Arte Moderna, mais conhecida como Semana de 22, o Brasil ganhou um momento marcante na sua cena cultural. Esses eventos se tornaram um símbolo da cultura brasileira.
Em fevereiro de 1922, o Theatro Municipal de São Paulo foi palco de um acontecimento que tinha como objetivo apresentar uma nova maneira de produzir e apreciar arte. Esta nova abordagem tinha a estética em sintonia com as tendências europeias, porém tratava de temas nacionais.
Diversos artistas de variadas áreas se juntaram para realizar o evento, sendo alvos de severas críticas na época, mesmo assim, eles contribuíram de forma significativa para a reformulação das artes no país.
O Movimento Modernista na Literatura
1. Vida e Obra de Mário de Andrade (1893-1945)
A obra de Mário de Andrade foi fundamental para a construção de uma identidade nacional que prioriza a diversidade cultural brasileira. Ele foi totalmente responsável por incentivar o reconhecimento dos nossos diversos costumes e tradições.
Mário de Andrade nasceu em São Paulo em 1893 e teve um grande impacto na cena modernista da primeira metade do século XX. Além de escrever, ele também atuou como folclorista e ativista cultural.
Durante a Semana de Arte Moderna, Mário de Andrade teve grande participação. Seu livro Paulicéia Desvairada foi publicado no mesmo ano, apresentando ao mundo seus primeiros poemas modernistas. Na obra, ele traduz de maneira poética a atmosfera agitada e inquieta que marca a cidade de São Paulo.
No livro, encontra-se o poema intitulado como "Paisagem n.º 3".
Paisagem n.º3
Chove?
Sorri uma garoa de cinza,
Muito triste, como um tristemente longo...
A Casa Kosmos não tem impermeáveis em liquidação...
Mas neste Largo do Arouche
Posso abrir o meu guarda-chuva paradoxal,
Este lírico plátano de rendas mar...
Ali em frente... - Mário, põe a máscara!
-Tens razão, minha Loucura, tens razão.
O rei de Tule jogou a taça ao mar...
Os homens passam encharcados...
Os reflexos dos vultos curtos
Mancham o petit-pavé...
As rolas da Normal
Esvoaçam entre os dedos da garoa...
(E si pusesse um verso de Crisfal
No De Profundis?...)
De repente
Um raio de Sol arisco
Risca o chuvisco ao meio.
2. A Vida e Obra de Oswald de Andrade (1890-1954)
Com uma personalidade marcante, Oswald de Andrade foi um dos principais responsáveis pela consolidação do movimento modernista no Brasil. Ele tinha um tom irônico e provocativo que fez muito para impulsionar a modernidade no país.
Em 1909, sua carreira como escritor iniciou-se com uma publicação no jornal Diário Popular. Após isso, ele visitou vários países europeus, onde pôde presenciar a intensa atividade cultural relacionada às vanguardas artísticas, como o cubismo, expressionismo e futurismo.
Após sua volta ao Brasil em 1917, Oswald começou a trabalhar para criar uma arte que estivesse sintonizada com as tendências mais modernas. Como resultado desse esforço, em 1922, ele foi um dos fundadores da Semana de Arte Moderna.
O busca do escritor e agitador cultural era elaborar uma obra que retratasse a história do Brasil vista a partir da perspectiva das pessoas, de forma crítica e irônica, revelando nossa trajetória.
Ao longo de sua carreira literária, ele atuou nos gêneros do romance, poesia e dramaturgia.
Erro de português é um poema que expressa bem a brasilidade presente na obra de seu autor. Com suas palavras, o autor conta sua experiência em relação à língua portuguesa e os problemas que enfrentou ao aprender uma língua que é tão diferente da língua falada no Brasil. O poema, então, mostra a beleza das palavras, mesmo aquelas que são consideradas erradas. O poema ensina que não há nenhuma língua perfeita, e que o erro é parte do processo de aprendizagem.
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
3. A Vida e Obra de Manuel Bandeira (1886-1968)
Manuel Bandeira é um dos mais proeminentes representantes da literatura brasileira. Seu legado como poeta, cronista, professor e tradutor, o consolidou como um dos integrantes da primeira geração de modernistas do país.
Em 1917, sua obra inaugural, A cinzas das horas, um livro de poemas, foi publicado. Quatro anos mais tarde, teve a oportunidade de trocar ideias modernistas sobre literatura com Oswald e Mario de Andrade.
A produção de tal artista é caracterizada por uma escrita informal, verso livre e assuntos corriqueiros, além de reflexões saudosas e de um sentimento de tristeza, o que pode estar relacionado às complicações de saúde, como a tuberculose, que o acompanharam por toda a vida.
Bandeira participou parcialmente da Semana de 22, pois, infelizmente, não conseguiu comparecer no dia em que deveria declamar seu poema "Os sapos".
Em consequência, Ronald de Carvalho assumiu a incumbência. Contudo, o texto não foi bem recebido pelo público, pois contém uma crítica irônica ao conservadorismo e ao movimento parnasiano em evidência na época.
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
A Arte Plástica dos Modernistas
4. A Obra de Anita Malfatti
A contribuição da pintora, desenhista e professora Anita Malfatti para as artes plásticas brasileiras foi extraordinária no início do século XX. Ela deixou um legado marcante que influenciou profundamente a cultura brasileira.
Ela foi pioneira em trazer o modernismo para o Brasil. Foi em 1917, durante uma exposição que ela realizou, que a estética modernista ganhou notoriedade. Antes disso, a artista já tinha visitado a Alemanha entre 1910 e 1914, onde teve contato com essas tendências artísticas.
Antes de Anita, Lasar Segall também havia realizado uma exposição de telas modernistas, porém, ao contrário dela, ele não foi alvo de críticas severas.
Ao ocorrer a Semana de Arte Moderna, a pintora já possuía um trabalho extremamente revolucionário, e ela compareceu ao evento com uma exposição de 20 telas.
A obra de tal artista é caracterizada por sua intensa paleta de cores, distorções nas figuras, traços marcantes, uso não convencional de cores e ênfase na interpretação acima da forma.
A obra O homem amarelo (1917), apresentada durante a Semana, característica da artista, foi interpretada por ela como a figura de um imigrante italiano.
5. Obras de Di Cavalcanti
Di Cavalcanti, ou Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, foi um dos principais nomes do modernismo, tendo participado da concepção da Semana de 22. Sua obra é considerada de grande expressão na história da arte brasileira.
Ao reunir as vanguardas europeias e a valorização de assuntos genuinamente brasileiros, como o povo, nas telas, ele conseguiu apresentar uma abordagem inovadora e retratou tudo de maneira humana e autêntica.
No decurso da Semana de Arte Moderna, destacou-se como um articulador e artista, tendo exposto 12 obras na exposição.
Também criado por ele, o cartaz e o catálogo do evento trazem imagens contrastadas em preto e vermelho.
Di além de pintor também foi caricaturista, jornalista e cenógrafo. Seu legado para a arte brasileira ultrapassou a década de 20, servindo como inspiração para as gerações seguintes.
6. Vida e Obra de Vicente do Rego Monteiro (1899-1970)
O jovem Vicente do Rego Monteiro foi um dos destaques do Movimento Modernista.
Ao nascer em Recife, ele já começou seus estudos em pintura aos 12 anos na Europa. Após retornar ao Brasil em 1917, já era hábil em imaginar a arte de forma moderna. Em 1922, expôs diversas telas na Semana de Arte Moderna.
A obra do pintor é caracterizada pela estética cubista, com sua geometrização e tratamento escultórico das formas humanas. Um exemplo disso é o quadro Pietá (1966), uma releitura da escultura renascentista feita por Michelangelo.
7. A Vida e Obra de Victor Brecheret (1894-1955)
Victor Brecheret é considerado o maior nome do modernismo na área da escultura no Brasil.
Produzindo de forma clara, com linhas singelas e desprezando a replicação precisa da verdade, ele obteve um bom resultado.
Apesar de estar entre muitos modernos artistas, que tiveram treinamento na Europa, ele absorveu e incorporou a suas obras muitos conceitos aprendidos por lá.
Ele participou da Semana de 22 com 12 peças expostas.
Uma obra que se destaca na carreira do artista é Diana Caçadora, criada entre 1929 e 1930. Ela pode ser admirada no Theatro Municipal de São Paulo e foi apresentada durante a Semana de 22.
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Música Modernista
8. Vida e Obra de Villa-Lobos (1887-1959)
Heitor Villa Lobos é uma das figuras mais importantes da música clássica brasileira do século XX. Seu conhecimento musical era vasto, pois, além de compositor, ele também era pianista, violinista, violoncelista e maestro.
Desde a infância, o estudo da música já fazia parte da vida desta pessoa. Aos 6 anos, o pai lhe ensinou clarinete e violoncelo, enquanto a tia contribuiu com aulas de piano. Posteriormente, ela se matriculou no Instituto Nacional de Música para se profissionalizar na área.
Heitor, possuindo uma formação clássica, também teve contato com a música popular. Isso foi essencial para que ele pudesse compor uma obra moderna e inovadora.
Em 1915, Heitor Villa-Lobos começou a se apresentar para o público. Três anos depois, em 1922, ele já estava plenamente alinhado com os ideais modernistas. Em consequência, Villa-Lobos participou da Semana de Arte Moderna, tocando música durante os três dias do evento.
A Orquestra Brasileira Sinfônica apresenta Bachiana nº 2 (Trenzinho do Caipira). Esta bela obra de Villa Lobos foi inspirada pelo som das locomotivas de trem, tornando-se uma das suas composições mais emotivas e expressivas.
9. A Vida da Pianista Guiomar Novaes (1895-1979)
Guiomar Novaes desenvolveu seu amor pela música desde a infância. Aos quatro anos, ela começou a aprender a tocar piano, apenas ouvindo suas irmãs tocar em casa.
Aos seis anos, começou a ter aulas formais e, mais tarde, aprofundou o seu conhecimento com o mestre Luigi Chiaffarelli, um músico italiano.
Aos oito anos, Heitor Villa-Lobos fez sua primeira apresentação pública e, em 1909, mudou-se para a França para continuar seus estudos. Em 1922, ele participou da Semana de Arte Moderna e alcançou sucesso internacional, especialmente ao interpretar obras de Chopin e Schumann. Além disso, Villa-Lobos também divulgou as músicas de seu contemporâneo, que leva o mesmo nome.
