A arte românica foi desenvolvida entre o término dos séculos XI e XII, tomando como base o Império Romano, que inspirou o estilo aproximadamente mil anos antes.
O advento da arte românica foi marcado por produções basicamente religiosas, estando estreitamente ligada ao cristianismo. Como consequência do enfraquecimento das cortes, a arte passou a ser encomendada pela igreja, sendo entendida como uma oferenda divina.
1. São Martinho de Mouros, Portugal: Uma Visita à Igreja
Especialmente em construções religiosas - igrejas, mosteiros, conventos e capelas -, a arquitetura românica foi adotada. Entretanto, ela também era empregada em castelos, torres e pontes.
As pedras eram essenciais para a construção de edificações, pois eram usadas para edificar paredes espessas e pilares maciços de sustentação. Muitas dessas construções incluíam o uso de claustros.
As igrejas eram tão imponentes que eram conhecidas como "fortalezas de Deus". O trabalho na construção das obras românicas, geralmente complexas, durava muitos anos, e eram passadas de geração para geração.
Durante o reinado de D.Afonso Henriques, no final do século XI, a arquitetura românica foi difundida por Portugal. Exemplos desse estilo de edificação estão presentes na Igreja de São Martinho de Mouros. Além disso, também há diversas construções que foram dedicadas a esse estilo, como as Sés de Lisboa, do Porto, Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz.
A Igreja de São Martinho de Mouros possui uma planta longitudinal em formato de cruz, com poucas janelas verticais estreitas, que são um forte sinal de sua arquitetura românica.
Além das colunas romanas presentes na porta de entrada, nota-se também a presença de arcos perfeitos horizontais com 180 graus, conhecidos como semicírculos ou arcos plenos. Estes também são encontrados na torre sinaleira, visível na fotografia.
A Basílica de Saint-Sernin na França
Localizada em Toulouse, a Basílica de Saint-Sernin é a maior igreja em estilo românico da França. Construída entre os séculos XI e XIII, ela foi consagrada em maio de 1096, tornando-se um ponto de parada para os peregrinos seguindo o caminho rumo a Santiago de Compostela, portanto, considerada uma igreja de peregrinação.
Durante a Idade Média, as viagens religiosas eram extremamente populares, e as igrejas de peregrinação recebiam uma atenção especial. Uma dessas grandes construções é a Basílica de Saint-Sernin, reconhecida pelo seu projeto arquitetônico único.
Característica da arquitetura românica, a basílica possui planta em formato de cruz. Seus capitéis e tímpanos são esculpidos em pedra, e a abóbada se divide em 12 vãos por arcos duplos. Esta forma de distribuição é típica da arquitetura românica, sendo que a carga do edifício é suportada por paredes espessas.
A Torre Sinaleira Octagonal da Basílica é o único destaque da sua fachada. As janelas e portas são estreitas, todas em forma de arco, em um estilo que remete ao Romano.
A igreja é decorada com pinturas e esculturas, nas suas partes interna e externa, para transmitir aos fiéis - que, em sua maioria, eram analfabetos - a mensagem de fé. No tímpano, feito em mármore, há a cena da ascensão de Cristo, rodeado pelos apóstolos e anjos.
Frontal Altar da Igreja Santa Maria de Mosoll (Espanha)
A produção artística na Idade Média, conhecida como Românica, destacou-se principalmente pelos murais feitos com a técnica do afresco, além da produção abundante de iluminuras e tapeçarias.
As abóbadas das grandes igrejas eram decoradas com enormes pinturas, assim como as paredes laterais da construção.
Como a grande maioria da sociedade era analfabeta, as pinturas românicas tinham uma importância ainda maior, pois serviam de meio para ensinar e transmitir os valores cristãos, além de desempenharem a função decorativa. Assim, eram essenciais para a alfabetização religiosa.
Durante a Idade Média, as pinturas eram predominantemente temáticas religiosas, tais como a criação do mundo, vida de Cristo e dos apóstolos, bem como passagens bíblicas importantes como a arca de Noé. Nessa época, a reprodução de imagens profanas não era culturalmente aceita.
O Altar frontal da Igreja Santa Maria de Mosoll, na Espanha, carrega consigo características marcantes do estilo Românico, como o colorismo e a deformação, que são fundamentais para a pintura neste estilo.
Ao olharmos para a imagem da pintura do altar, notamos que o estilo utilizado se remete à estética romana, pois alguns arcos são usados para enriquecer o visual.
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A Ponte da Paixão (Espanha)
A obra La Viga de la Pasión, criada no primeiro terço do século XIII, é um exemplo típico da pintura românica. A imagem mostrada acima mostra as cenas bíblicas da condenação de Cristo, refletindo o caráter religioso desta arte.
O mural é sumamente colorido, com cores chapadas, seguindo o costume da época. Possui também as figuras alongadas típicas da época românica, assim como a deformação.
Nos quadros daquela época, Jesus era quase sempre o personagem principal, geralmente posicionado no meio e com tamanho aumentado.
A Viga da Paixão é de origem catalã, tendo sido pintada entre 1192 e 1220. Ao observar essa obra, percebemos que os artistas não se preocuparam em criar sombreamentos, iluminação ou imitar a natureza com precisão.
Peças românicas geralmente não são assinadas, pois os artistas que as criaram eram artesãos que não receberam uma educação formal. O ofício era ensinado de maneira informal, de geração a geração, de pais para filhos.
Tímpano da Catedral de Santo Domingo (Espanha)
A escultura românica teve forte ligação à arquitetura, impulsionada pela influência greco-romana, levando os artistas a adornarem frontões, tímpanos, colunas e capitéis.
Após anos de negligência, a escultura românica foi revivida no século XII, atingindo o seu pico de popularidade. Estas obras de arte foram usadas para adornar espaços religiosos como igrejas, mosteiros e conventos.
As esculturas, assim como as pinturas, desempenhavam um importante papel comunicativo, pois ajudavam a divulgar as mensagens da igreja, servindo como um meio de propagar o ideal cristão em uma sociedade iletrada. Além disso, também desempenhavam uma importante função decorativa.
A escultura acima encontra-se alojada num tímpano, uma parede semicircular localizada entre os arcos da porta e as pilastras. Geralmente, as esculturas são colocadas em locais de destaque, de modo que os fiéis consigam ler e interpretar o seu significado.
O tímpano da Igreja de Santo Domingo, situada em Sória (Espanha) foi construído no início do século XII. Projetado para se encaixar nos espaços limitados, esse suntuoso trabalho de escultura românica apresentava figuras deformadas. Localizada na porta principal da igreja, essa obra é um testemunho das técnicas usadas na época.
Ao centro do tímpano está Jesus, segurando um menino, ao seu redor estão quatro anjos, sendo que cada um traz consigo um símbolo que representa um dos evangelistas. A mãe de Jesus, a Virgem Maria, e o profeta Isaías também estão presentes no tímpano.
O arco ostenta quatro camadas, cada uma delas com significados específicos. A primeira mostra 24 músicos do apocalipse, a segunda a matança de inocentes, a terceira a vida da Virgem Maria e a quarta o percurso de Cristo na Terra.
Bernward Doors, Alemanha
As esculturas românicas eram ricas em simbolismo e tinham dimensões grandiosas, muitas vezes sendo feitas em blocos de pedra ou em folhas de bronze.
As esculturas, muito comuns nos portais das igrejas ou entalhadas nas paredes, serviam como uma espécie de divulgação de valores cristãos para a população na época, que era majoritariamente analfabeta.
O bispo Bernward pediu para que fossem esculpidas as famosas portas de Bernward na entrada do templo em 1015. Estas portas são consideradas como um dos mais importantes trabalhos de escultura românica.
Duas folhas de bronze de 4,72 metros de altura estão presentes na entrada da Catedral e contêm 16 painéis com narrativas bíblicas.
As folhas esquerda e direita mostram cenas distintas: do antigo testamento, a criação do homem e o assassinado de Abel; do novo testamento, a anunciação a Maria e a ascensão de Jesus ao céu.
Durante o período Românico eram conhecidos os canteiros ou mestres de imagens. Estes eram responsáveis pela criação das portas de Bernward, assim como por outras obras de arte. No entanto, destacava-se a falta de assinaturas nas peças, pois mais do que um escultor trabalhava em uma mesma obra e as oficinas se movimentavam para realizar trabalhos em diferentes regiões.