Entendendo a Apropriação Cultural
A apropriação cultural acontece quando alguém de uma cultura particular adota elementos de outra que não pertence. Em termos simples, é uma espécie de "tomar emprestado".
Os elementos que compõem a identidade de uma cultura são extremamente variados: vestimentas, penteados, símbolos religiosos, tradições, danças, músicas e comportamentos são algumas das características que revelam um grupo social.
Várias teorias e ativistas têm debatido e problematizado o conceito de diversidade e respeito. Apesar das diferentes percepções existentes, alguns princípios básicos se destacam como fundamentais para a promoção destes valores.
A apropriação cultural representa a transformação de produtos culturais ao serem removidos de seus ambientes originais e recriados em ambientes totalmente diferentes. Essa é uma característica inegável desse tipo de apropriação.
Com nenhum crédito ou reconhecimento dado, esses elementos são vistos como algo somente relacionado à aparência ou diversão.
Qual a diferença entre apropriação e apreciação?
Múltiplos autores destacaram que a apropriação cultural se diferencia de outras ideias, como "apreciação" e "intercâmbio", pelo fato de partir de alguém pertencente a uma cultura dominante.
Esse grupo hegemônico impõe, de maneira estrutural e compartilhada, a discriminação de indivíduos de outros grupos minoritários, ao mesmo tempo em que adota algumas de suas produções culturais.
Em 2016, a filósofa brasileira Djamila Ribeiro escreveu para a revista AzMina um artigo intitulado Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos. Nesse texto, ela abordou a questão da apropriação cultural.
Por que isso é um problema? Porque esvazia de sentido uma cultura com o propósito de mercantilização ao mesmo tempo em que exclui e invisibiliza quem produz. Essa apropriação cultural cínica não se transforma em respeito e em direitos na prática do dia-a-dia.
Ao retirar expressões culturais pertencentes às minorias do seu contexto, provoca-se um apagamento da sua história. Estas são, então, erroneamente percebidas como pertencerem à cultura dominante, que é atribuída ao crédito por algo que não criou.
Portanto, a posição de poder e os privilégios deste suposto grupo são usados para reivindicar algo que não é de acordo com suas próprias tradições e crenças.
"A minha experiência com a pandemia foi desafiadora". Djamila afirmou que a sua experiência durante a pandemia foi desafiadora.
Falar sobre apropriação cultural significa apontar uma questão que envolve um apagamento de quem sempre foi inferiorizado e vê sua cultura ganhando proporções maiores, mas com outro protagonista.
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Explicando 6 Exemplos de Apropriação Cultural
Neste artigo, examinamos a complexidade e a pluralidade da questão da apropriação cultural ao analisar alguns exemplos. Embora alguns casos possam ser mais sutis ou difíceis de reconhecer, muitos outros são bastante óbvios e representam bem essa questão.
1. O Fazer do Preto e Espectáculos de Menestréis
Durante o século XIX, a prática conhecida como blackface se tornou muito popular. Esta envolveu os espetáculos de menestrel, nos quais um ator branco pintava seu rosto com carvão a fim de representar um indivíduo negro.
O menestrel recorria a estereótipos racistas em suas apresentações com a intenção de causar riso no público.
Perceber a gravidade dos preconceitos é essencial, pois o entretenimento supõe alimentar a ignorância e os discursos de ódio contra a população negra.
2. Representação dos Nativos-Americanos nos Faroestes Cinematográficos
Os filmes de faroeste norte-americanos são um dos melhores exemplos de má representação e apropriação cultural. Eles distorcem a realidade histórica ao retratar grupos étnicos de forma reducionista e estereotipada.
Neste gênero de cinema, os nativos-americanos eram exibidos como pessoas perigosas e "selvagens", assustadoras e por quem se deve tomar cuidado.
As narrativas criadas sobre os indivíduos nativos-americanos sempre foram permeadas pelo preconceito e pelo medo, o que resultou no aumento do desconhecimento e da violência.
3. Descobrindo as Raízes do Rock'n'roll
Na década de 50, o Rock'n'roll surgiu nos Estados Unidos da América, tornando-se um gênero musical dominante no mundo todo. A música também foi marcada por inúmeros casos de apropriação ao longo de sua história, tal como o cinema.
Elvis Presley, que é conhecido como o "Pai do Rock", permitiu que ritmos culturais afro-americanos entrassem na música dominante.
Embora tenham sido marginalizados por serem tocados e cantados por artistas negros, os gêneros da música popular acabaram aceitos e valorizados. Elvis Presley assumiu o papel principal e Chuck Berry e Little Richard ficaram como coadjuvantes fundamentais.
4. A Fantasia da Cultura
O Brasil é conhecido por sua apropriação cultural, principalmente durante o carnaval, quando muitos usam identidades e culturas como fantasias.
Muitas vezes, considerado como uma simples brincadeira festiva ou uma homenagem, o que na realidade é um ato inaceitável, pois envolve a redução de um grupo de pessoas a uma caricatura, reflete preconceitos e estereótipos desrespeitosos.
5. A Cultura como Produto ou Tendência
Uma prática muito comum nos setores da beleza e da moda é a apropriação de itens culturais retirados do seu contexto e comercializados em grande escala, sem levar em conta a sua origem ou as tradições que os motivaram.
As marcas, a nível mundial, obtêm lucro ao reproduzir expressões culturais, que prontamente envolvem em produtos. Por vezes, alguns estilistas famosos são acusados de avançar em padrões tradicionais de povos indígenas sem sequer se inteirarem do verdadeiro significado deles.
6. Adereços como símbolos religiosos
Essa circunstância é comum em todo o mundo e tem desencadeado polêmicas profundas. Ocorre quando a cultura de grupos marginalizados é apropriada pelos grupos hegemônicos, através de símbolos religiosos de sua própria crença.
Muitos símbolos ligados às crenças religiosas e outras expressões culturais são vistos como itens decorativos que adicionam beleza aos ambientes.
Muitos artefatos de plumagem indígena, normalmente associados a cerimônias e rituais, são usados como adereços. O bindi, um símbolo do hinduísmo, também foi incorporado em maquilhagens de pessoas que não entendem o seu significado real. Esta tendência continua bem visível.
No Brasil, o uso de dreadlocks ou turbantes por diversas pessoas é comum, apesar de muitos desconhecerem o contexto histórico e cultural relacionado a esses adereços.