Biografia e Principais Obras de Angela Davis


Escrito por Sónia Cunha

Angela Davis é uma mulher negra norte-americana que lidera uma trajetória de luta pela igualdade. Ela é ativista, militante e professora que enfrenta, de forma extraordinária, as forças do racismo e do patriarcado.

No final da década de 60, Angela foi uma participante fundamental do coletivo Black Panthers e tornou-se um ícone para o povo negro, especialmente para as mulheres. Seu nome se tornou significativo na luta por igualdade.

Ao demonstrar seu modo de pensar, ela nos ensina como é possível unir a pesquisa científica com a luta em grupo.

Angela Davis: Uma Jornada Transformadora

Uma jornada inicial

Nascida em 26 de janeiro de 1944 em Birmingham, Alabama (EUA), Angela Yvonne Davis pertencia a uma família de classe média baixa e possuía três irmãs.

arte angela davis

Ela nasceu numa época e local em que a segregação racial era a norma. O estado do Alabama, onde ela cresceu, só criminalizou tal política vinte anos depois de seu nascimento. Tal fato contribuiu de maneira significativa para que ela se tornasse uma mulher combativa e figura de referência na luta pela emancipação dos negros.

Em Birmingham, os contrastes e tensões eram bastante evidentes. No bairro de Angela, a violência era aguda, com assédios racistas perpetrados pelos membros da Ku Klux Klan. Inclusive, houve várias bombas que explodiram, visando a população negra.

Durante um ataque, explosivos foram colocados dentro de uma igreja que era frequentada pelo povo afro-americano. Infelizmente, quatro garotas foram mortas. Essas jovens eram íntimas de Angela e de seus familiares.

Davis cresceu rodeado por um ambiente hostil durante sua infância e adolescência, o que o motivou a se revoltar e começar a lutar contra a opressão. Ele tinha a firme convicção de que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para mudar a sociedade.

A Construção de Anos

No ano seguinte, ele continuou seus estudos na Alemanha, tendo aulas com figuras importantes como Theodor Adorno e Oskar Negt.

Ao regressar ao seu país natal, Susan Sontag matriculou-se na Universidade Brandeis, em Massachusetts, cursando filosofia. Em 1968, ela recebeu seu mestrado pela Universidade da Califórnia e foi posteriormente convidada para atuar como professora assistente naquela instituição.

Durante a Guerra Fria, Angela Davis decidiu integrar o Partido Comunista norte-americano. Como conseqüência de sua afiliação, ela passou a ser vigiada e proibida de lecionar em universidades.

A Influência de Angela Davis na Pantera Negra

Davis aproximou-se da luta antirracista, e conheceu o Partido Black Panthers, juntando-se ao coletivo.

Esta era uma organização socialista e marxista que se dedicava à defesa dos direitos do povo negro, visando acabar com a violência policial e racial. Ela desempenhava algumas ações, como patrulhamento em áreas predominantemente negras para prevenir o genocídio.

Aos poucos, o partido começou a aumentar a sua dimensão e a expandir-se pelo país, constituindo-se como um motivo de preocupação para os praticantes do racismo.

Em uma iniciativa visando desarmar os Panteras Negras, o então Governador da Califórnia, Ronald Reagan, obteve a aprovação da Assembleia Legislativa para uma lei proibindo o porte de armas nas ruas.

A Busca por Liberdade de Angela Davis

Durante o julgamento de três jovens negros acusados do assassinato de um policial, o tribunal foi invadido por membros do Panteras Negras. O confronto entre os ativistas e as forças de segurança resultou na morte de cinco pessoas, entre elas o juiz.

Davis não esteve presente na ocorrência, no entanto, a arma usada foi atribuída a ela. Por isso, ela foi considerada uma figura perigosa e entrou para a lista das dez maiores prioridades de captura do FBI.

Apesar da perseguição que sofreu, Angela conseguiu fugir por dois meses até ser capturada em Nova York, em 1971. Durante a fase de julgamento, ela permaneceu presa por 17 meses, diante de acusações que previam até a pena de morte.

Com sua projeção, relevância e inocência, Angela conquistou o apoio de uma grande parcela da sociedade. Movimentos foram criados com o objetivo de lutar pela sua liberdade, sendo denominados "Free Angela".

Em 1972, o meio cultural deu visibilidade ao caso de Angela com a criação de músicas em sua defesa. A banda Rolling Stones lançou a canção Sweet black angel no álbum Exile on Main St. enquanto John Lennon e Yoko Ono produziram Angela, integrante do disco Some Time in New York City. Estas foram importantes atitudes que deram destaque ao caso.

Em Junho de 1972, a professora e ativista foi inocentada e posteriormente libertada.

Angela Davis em 1972

Angela's Fight Today

Angela Davis tornou-se reconhecida ao defender a resistência antirracista, a luta contra as desigualdades de gênero, e por lutar contra a injustiça nos sistemas carcerários.

A postura ativista da ____ abrange muitas questões, sendo seu posicionamento a favor da liberdade de todos os seres. Durante o período de prisão, ela adotou o vegetarianismo e, atualmente, é vegana. Além disso, ela defende os direitos dos animais, pois acredita que toda forma de vida no planeta deve ser integralmente respeitada.

Davis trata de temas cruciais, tais como a homofobia, transfobia, xenofobia, questões indígenas, aquecimento global e desigualdades provocadas pelo capitalismo.

"O amanhã é uma nova oportunidade para começar de novo". Ele acreditava que cada dia era uma nova chance de recomeçar: "O amanhã é uma oportunidade de se reiniciar".

Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se isso, muda-se a base do capitalismo.

Davis aponta a relevância de mudarmos as bases sobre as quais a sociedade se assenta, lutando incansavelmente contra o racismo e a desigualdade de gênero. Desta forma, podemos tornar a realidade mais inclusiva e equânime.

Hoje, ela é uma famosa professora na Universidade da Califórnia, que trabalha no departamento de estudos feministas e pesquisa o sistema carcerário dos Estados Unidos.

Angela transformou sua vida e história em uma poderosa ferramenta para o bem social, tornando-se alguém a ser admirado e imitado por aqueles lutando por mudanças sociais e revoluções em todos os lugares.

A seguir, encontram-se as palavras usadas por você durante a Marcha das Mulheres que aconteceu em Washington em 2017.

A Visita de Angela Davis ao Brasil

Em 2019, a professora e ativista esteve no Brasil para participar do "Democracia em colapso?" - evento realizado pela editora Boitempo e pelo Sesc São Paulo. O ciclo de palestras contou com a presença dela, que já atuou em várias partes do mundo.

Angela visitou o país para lançar seu livro, Uma autobiografia.

Ela já havia estado no Brasil antes, mas a maioria das suas visitas era à Bahia. Esta foi a primeira vez que ela foi a São Paulo e ao Rio de Janeiro.

Interessante? Leia também

Importância dos Livros de Angela Davis

Quatro obras literárias de Angela Davis foram lançadas no Brasil pela editora Boitempo.

Raça, Classe e Mulheres

Mulheres, raça e classe, publicado no Brasil em 2016, aborda a situação das mulheres ao longo da história e como isso se relacionou à questão racial e de classe social. O livro oferece uma visão geral deste tema.

A autora, em sua obra, é ferrenha defensora do pensamento interseccional para a compreensão dos problemas - ou seja, a maneira como as opressões se cruzam e se combinam.

A Cultura e a Política das Mulheres

Neste livro, a professora junta fatos e informações históricas e estatísticas sobre a condição das mulheres nos Estados Unidos nos últimos anos. Ela apresenta os dados obtidos através de diversos artigos.

No livro de Angela, há um profundo discurso sobre as relações entre Estados Unidos e alguns países da América Central, África e Oriente Médio, e o impacto que essa ligação está tendo nos movimentos sociais, em especial sobre os grupos mais vulneráveis.

Minha Vida - Uma Autobiografia

No livro "Autobiografia", Angela Davis conta sua história e a história da América nos anos 60 e 70. Ela descreve como a cultura e a política foram responsáveis ​​pelo crescimento de sua consciência política e sua participação em atividades de resistência. Ela também reflete sobre o movimento dos direitos civis, o feminismo e a luta dos negros americanos.

Primeiramente publicado em 1974, "Angela Davis - Uma Autobiografia" narra a jornada pessoal da ativista aos 28 anos, logo após sair da prisão. A obra descreve o ambiente racista e violento que oprimia a comunidade negra dos Estados Unidos.

Lutando Pela Liberdade

Neste livro, a professora e ativista apresenta uma coleção de artigos, escritos entre 2013 e 2015, que abordam questões fundamentais sobre a liberdade. Estes textos apresentam importantes reflexões e insights sobre o tema.

A autora nos revela o vínculo histórico entre o movimento negro e feminista norte-americano e outras lutas pela emancipação humana, tais como a destruição do sistema prisional injusto e a luta palestina.

Sónia Cunha
Escrito por Sónia Cunha

É licenciada em História, variante História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003) e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006). Ao longo da carreira profissional, exerceu vários cargos em diferentes áreas, como técnico superior de Conservação e Restauro, assistente a tempo parcial na UPT e professora de História do 3º ciclo e ensino secundário. A arte e as letras sempre foram a sua grande paixão.