Análise Detalhada do Teto da Capela Sistina


Escrito por Carolina Marcello

A Capela Sistina é famosa por abrigar uma das obras mais emblemáticas da Renascença Italiana: o magnífico teto.

Michelangelo Buonarroti (1475-1564) pintou as obras usando a técnica afresco, a pedido de Papa Júlio II (1443-1513).

Michelangelo, um grande escultor, aceitou com relutância o convite do Papa para realizar trabalhos artísticos.

Em 1508, o artista começou a trabalhar sozinho, e quatro anos depois, em 1512, concluiu um impressionante feito: deitado, realizou toda a obra.

Examinando as Pinturas do Teto

O teto está dividido em nove painéis que representam as cenas do livro do Gênesis. Esta escolha de um tema bíblico sugere uma ligação entre o princípio da humanidade e a vinda de Cristo, que não é explicitamente representada na composição.

Teto da Capela Sistina

Desenhos e esculturas têm grande relevância para a obra de um artista. Esta é uma das áreas em que Michelangelo se destaca, pois ele possui grande domínio na representação e no conhecimento da anatomia humana, como é refletido em suas imagens.

Figuras robustas, vigorosas e poderosas são predominantes, no entanto também possuem uma beleza única. Seus corpos musculosos são contorcidos de uma forma quase impossível, conferindo movimento e energia à toda a composição.

Na Itália da época, a arte clássica estava se renascendo, a filosofia grega era redescoberta e o humanismo romano era revitalizado. Essa renovação artística refletia diretamente o momento histórico vivido na Itália, e logo se espalharia por toda a Europa.

À medida que a Idade Moderna se aproximava, uma nova Europa emergia. O foco mudava do mundo medieval para o homem, tornando-o o centro da atenção.

O início da história da criação é retratado nos nove painéis. O primeiro apresenta a luz sendo separada das trevas, o segundo exibe a criação do sol, da lua e dos planetas e o terceiro mostra a terra sendo dividida do mar.

A Origem de Adão

O quarto painel, uma das imagens mais famosas, apresenta a criação de Adão. Ele está deitado, parecendo estar com preguiça, e parece convidar Deus a fazer um último esforço para tocar seus dedos e dar-lhe a vida.

A figura de Adão é inversamente proporcional a Deus, que se mostra cheio de movimento e energia. Até mesmo os seus cabelos são agitados por uma leve brisa que não se consegue ver.

Com o braço esquerdo, Deus carrega a figura de Eva. Ela caminha junto a Adão, aguardando ansiosamente a centelha da vida que lhe será concedida.

Criação de Adão

No quinto painel (e central), é representada a criação de Eva. No sexto, a expulsão de Adão e Eva do paraíso. O sétimo painel traz o sacrifício de Noé. No oitavo, é mostrado o dilúvio universal e, por fim, no nono e último, está presente a embriaguez de Noé.

Ao ao redor dos painéis, encontramos a representação alternada de Profetas (Zacarias, Joel, Isaías, Ezequiel, Daniel, Jeremias e Jonas) e Sibilas (Délfica, Eritrea, Cumana, Pérsica e Líbica). Essa associação entre cristianismo e paganismo, foi identificada por alguns historiadores como uma forma sutil de crítica da Igreja por parte do artista.

Painéis são enfeitados por elementos arquitetônicos realistas, com figuras escultóricas pintadas. Algumas figuras sentam-se, outras estão recostadas nessas estruturas artificiais. Há interação entre elas e os elementos arquitetônicos.

Em cada um dos quatro cantos do teto existe a imagem de alguma das grandes salvações de Israel.

Neste quadro, vemos vinte figuras masculinas nuas sentadas, denominadas "Ignudi" pela própria mão do artista, espalhadas de forma harmoniosa pelo centro da composição.

Afresco na Capela Sistina representando figuras masculinas nuas

Cinco dos nove painéis do teto da igreja possuem figuras que os rodeiam: "embriaguez de Noé", "sacrifício de Noé", "criação de Eva", "separação da terra do mar" e "separação da luz e da escuridão".

Embora se desconheça o significado exato e o motivo pelo qual foram incluídos, é fato que há elementos presentes.

O Julgamento Final

Vinte anos após ter concluído a pintura da Capela Sistina, Michelangelo voltou para realizar O Juízo Final (1536-1541) um afresco na parede do altar.

Michelangelo foi contratado pelo Papa Clemente VII (1478- 1534). No entanto, sua obra só teve início após a morte deste Papa, durante o pontificado de Paulo III (1468- 1549).

Em contraste com a vivacidade, a cadência e a energia pulsante dos afrescos do teto, a representação do Juízo Final é sombria. A obra conta com trezentos e noventa e um corpos, originalmente retratados de forma nua (incluindo a Virgem).

O Juízo Final

O Cristo temível, que domina a composição, se destaca no céu que se rasgou. Os anjos, embaixo, anunciam o Juízo Final, tocando suas trombetas.

Cristo e a Virgem olham para o lado, ocultando o destino que aguarda aqueles que não se arrependerem de seus pecados: o caos, a miséria, o sofrimento. Estes infelizes estarão destinados ao inferno.

São Bartolomeu é retratado segurando uma faca de sacrifício na mão esquerda e a sua própria pele esfolada na mão direita.

Muitos pensam que o Michelangelo se retratou como o santo, tendo o seu rosto distorto e desfigurado representando sua alma supliciada. É possível que este seja uma metáfora para seu tormento interior.

São Bartolomeu

A contextualização cultural e política de época influenciou as diferenças entre as pinturas do teto e da parede do altar.

Nos anos da Reforma, a Europa sofria de uma crise espiritual e política. Esta composição parece funcionar como um aviso aos inimigos da Igreja: não terão perdão pois Cristo é implacável.

Ao longo dos anos, houve muita controvérsia em torno da obra, devido às figuras retratadas sem roupas. Muitos acusaram a Igreja de hipocrisia e a obra foi considerada um escândalo.

Há mais de duas décadas, os críticos da obra têm propagado a notícia de que a Igreja estava incorporando algo obsceno em um de seus principais edifícios, promovendo que as pinturas sejam destruídas.

O Papa Clemente VII (1478-1534) estava preocupado com o pior cenário possível, então ele solicitou que Daniele da Volterra repintasse algumas das obras de Michelangelo. A intenção era preservar a obra original, impossibilitando sua destruição. Esse serviço foi realizado no ano da morte do artista, no ano 1534.

Restauração de Trabalhos

Intervenções de restauração na Capela Sistina, realizadas nos anos de 1980 e 1994, visando à limpeza dos afrescos, permitiram a descoberta de um lado de Michelangelo que não havia sido notado anteriormente, embora de forma não intencional.

Apreciando apenas a forma e o desenho, por muito tempo Michelangelo foi subestimado. No entanto, com a limpeza de séculos de sujeira e fumo de velas, foram reveladas as vivas cores da sua obra, acentuando ainda mais a sua genialidade.

O artista foi comprovado não só ser um mestre em desenho e escultura, mas também na utilização de cores, rivalizando com o grande Leonardo Da Vinci.

Restauração

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A Célebre Capela Sistina

A Capela Sistina, construída entre os anos de 1473 e 1481, é parte do Palácio Apostólico localizado no Vaticano. Seu projeto foi inspirado no Templo de Salomão, sendo usada pelo Papa para suas missas e pelo Conclave para a eleição de um novo líder da Igreja Católica.

Durante a Renascença italiana, a Capela foi usada como oficina por alguns dos mais renomados artistas daquele período, entre eles Michelangelo, Rafael, Bernini e Botticelli.

Ao mencionar o nome da Capela Sistina, é impossível não lembrar dos seus grandiosos afrescos do teto e altar desenvolvidos por Michelangelo.

Imagem do teto da Capela Sistina

Obras de Michelangelo Buonarotti

Michelangelo (1475-1564) já é considerado, mesmo em vida, o maior gênio da arte da Renascença. É um dos maiores ícones de todos os tempos.

Apesar de ser visto como alguém difícil de lidar, sua genialidade foi reconhecida quando ainda era jovem. Foi então que Domenico Ghirlandaio o aceitou em sua oficina, e, aos quinze anos, Lourenço II de Médici o protegeu.

Michelangelo é amplamente conhecido como um humanista, com grande interesse pela herança clássica. Esta preocupação se refletia em suas obras, que se centravam na imagem humana como seu principal meio de expressão. Isso é bem evidente também nas suas esculturas.

Carolina Marcello
Escrito por Carolina Marcello

Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e possui mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela mesma instituição. Durante os estudos universitários, foi co-fundadora do Grupo de Estudos Lusófonos da faculdade e uma das editoras da revista da mesma, que se dedica às literaturas de língua portuguesa.