O livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, lançado em 1962, contém o conto A terceira margem do rio.
Ao longo desta narrativa curta, vemos a história de um homem que decide abandonar tudo e ir viver, de forma solitária, dentro de uma canoa, no meio de um rio. Esta obra suscita inúmeras questões no leitor, que emocionalmente é tomado por este enredo impactante.
Sumário
O texto se abre com o relato de um personagem anônimo que não consegue compreender o comportamento atípico do pai. É descrita uma família normal, formada pelo pai, mãe, irmão e irmã, que lembra muitas outras presentes nos interiores brasileiros. A rotina do pai, entretanto, destoa das convenções, elemento que desperta a curiosidade do narrador.
O pai resolveu construir uma canoa, sem que ninguém soubesse o motivo. Apesar das dúvidas, a construção prosseguiu. Quando a canoa ficou pronta, ele partiu com ela.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente.
Os parentes e os amigos permanecem à beira da água, a implorar para que o sujeito volte. No entanto, ele continua ali, isolado, em perpetuidade. À medida que o tempo avança, são notáveis os cambios: os cabelos crescem, a pele fica tingida pelo sol, as unhas ficam longas e o corpo emagrece. O pai torna-se praticamente irreconhecível.
O filho, narrador do conto, sente compaixão pelo pai e, em segredo, lhe envia roupas e mantimentos. Na casa, que agora carece do patriarca, a mãe faz o possível para suprir a ausência. Ela busca auxílio do tio para os negócios e contrata um professor particular para os filhos.
Quando a irmã do narrador se preparava para o casamento, a mãe ficou tão angustiada que não permitiu nenhuma festa. Então, quando o primeiro neto chegou ao mundo, a filha foi até a beira do rio, com a intenção de mostrar o bebê ao recém avô, com a esperança de que ele pudesse voltar. Contudo, nada conseguiu desviá-lo do seu objetivo de permanecer na canoa.
Depois que a irmã se casou e teve um filho, ela e o marido se mudaram para longe. Isso deixou a mãe muito triste, então ela se mudou para a casa da filha. O irmão do narrador também decidiu se mudar para a cidade. Porém, o narrador decidiu permanecer ali e testemunhar a escolha de seu pai.
O narrador encontrou coragem para oferecer ao pai que aceitasse deixá-lo tomar o seu lugar na canoa. Ele disse: "Pai, o senhor já fez tudo o que podia. Agora, o senhor vem, e eu, quando quiser, tomarei o seu lugar na canoa!" Essa foi a reviravolta do conto.
Surpreendentemente, o pai aceitou a sugestão do filho. No entanto, desesperado, o rapaz mudou de ideia e fugiu aterrorizado. O final da história deixa ainda muitas questões no ar: o que será de seu pai? O que ocorreu ao rapaz? Por que alguém escolheria viver isolado numa canoa?
O que Você Conhece Sobre Guimarães Rosa?
Nascido em 27 de junho de 1908, na cidade Cordisburgo, Minas Gerais, João Guimarães Rosa foi um ilustre escritor brasileiro. Sua vida foi truncada aos cinquenta e nove anos, quando faleceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de novembro de 1967.
Após formar-se em medicina, Guimarães Rosa passou em um concurso público e tornou-se capitão médico da Força Pública de Minas Gerais. Seu estreito na literatura ocorreu em 1929, quando "O Mistério de Highmore Hall" foi publicado na revista O Cruzeiro.
Em 1934, Guimarães Rosa tornou-se cônsul após realizar um concurso público. Atuou em Hamburgo, Bogotá e Paris, sendo reconhecido como um grande escritor por conta de sua obra-prima Grande sertão: Veredas, que foi publicada em 1956.
Em 6 de agosto de 1963, foi eleito o terceiro ocupante da Cadeira número 2 da Academia Brasileira de Letras: Guimarães Rosa.
Visitar a Casa do Escritor: Uma Experiência Inesquecível
Em 1974, a casa de infância do escritor, localizada em Cordisburgo, Minas Gerais, foi transformada em um museu e aberta para visitação. Por lá, é possível ver artigos pessoais do autor, como roupas, livros, manuscritos, cartas e documentos.
Explorando as Primeiras Estórias
A Hora e a Vez de Augusto Matraga, São Bernardo, A Terra do Mel, O Tronco do Ipê, A Terceira Margem do Rio, entre outros. Esta antologia, Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, reúne 21 contos do autor e é considerada uma obra modernista. Localizados principalmente no interior do Brasil, os contos apresentam lugares não identificados. Dentre os contos presentes na coletânea, estão A Hora e a Vez de Augusto Matraga, São Bernardo, A Terra do Mel, O Tronco do Ipê e A Terceira Margem do Rio.
cintilam à luz do entardecer. À luz do entardecer, as margens da alegria brilham.
Famigerado: Uma Análise
, e a filha do vizinho formaram um grupo de dança. Sorôco, a mãe dele, sua filha e a filha do vizinho estavam prontos para formar um grupo de dança.
bios vermelhos sorriu para mim. A menina sorriu para mim, seus lábios de um vermelho encantador.
tinham um barco. Os irmãos Dagobé possuíam um barco.
é muito bonita. A margem do rio mais próxima à terceira é extremamente atraente.
Pirlimpsquice: O Sete
Nenhum, Nem Uma
A Fatalidade
Sequência Número 10
Reflexão no Espelho
são permanentes; assim, mantenha uma mente aberta. Mantenha uma mente aberta, pois nada na nossa condição é permanente.
todas as noites estava sempre muito feliz. Todas as noites, o cavalo bebia cerveja, e estava sempre radiante de alegria.
e alto, com uma barba curta e cabelos castanhos, saiu do trem. Um rapaz de pele pálida e alta estatura, com uma barba bem curtinha e cabelos castanhos escuros, desceu do trem.
15 Lugares Perfeitos Para Lua de Mel
deu início a uma longa viagem. O intrepido navegante embarcou em uma longa e desafiadora jornada.
Benfeitora de 17 Anos
Darandina: 18
Substância Número 19
, chegou na loja mais cedo do que o esperado Tarantão, o meu chefe, surpreendeu a todos ao chegar à loja antes do previsto.
Cimos da Glória: 21 Dias de Aventura
Um Estudo Aprofundado: A Leitura de José Miguel Wisnik
Na aula quatro da série Grandes Cursos Cultura na TV, o professor doutor José Miguel Wisnik apresenta uma reflexão sobre o conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. A palestra oferece uma leitura detalhada da narrativa curta, apresentando o leitor às questões centrais da obra para que possa desvendá-las.
A Música de Caetano Veloso e Milton Nascimento Inspirada na Literatura
Inspirada no conto misterioso de Guimarães Rosa, "A terceira margem do rio" foi criada por Caetano Veloso e Milton Nascimento. Esta composição foi lançada no CD Circuladô de Caetano Veloso, divulgado em 1991, onde figurou como nona faixa do álbum.
Descubra a letra da música!
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio viu, vi
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
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Nelson Pereira dos Santos: Do Papel para a Tela
Em 1994, Nelson Pereira dos Santos teve o lançamento do seu longa-metragem; inspirado no conto de Guimarães Rosa, foi indicado ao prêmio Urso de Ouro no Festival de Berlim. Contando com um elenco marcante, composto por Ilya São Paulo, Sonjia Saurin, Maria Ribeiro, Barbara Brant e Chico Dias, o filme garantiu boas avaliações da crítica.
Você pode assistir ao filme na íntegra.